Ocasionalmente alguém observa que Portugal tem diplomacia mas não tem política externa. Deixemos de lado, por uma questão prática, a parte conceptual inerente a esta discussão. Confesso que não sei o que querem dizer, entre outras razões porque nunca se alongam muito para além desta suposta constatação de um facto. Em todo o caso, lembro-me logo de Tucídides: "the strong do what they can and the weak suffer what they must". Visto deste prisma, há mais de dois mil anos que alguém constatou que aqueles que têm menos recursos de poder têm de se adaptar, na medida do possível e com autonomia de decisão limitada, às circunstâncias e aos equilíbrios de poder. Dito de outra maneira, a política externa é um luxo disponível apenas para um círculo restrito de actores. Aos restantes sobra apenas, ou sobretudo, a diplomacia...
É claro que a nossa política externa -- com os recursos de poder existentes -- poderia ser diferente num ou noutro ponto. Não contesto isso. Mas, no essencial, deveria e poderia ser muito diferente?
Talvez um destes dias um dos teorizadores do vácuo arranje algum tempo para se dedicar ao tema de forma minimamente detalhada, nos explique por que motivo não temos política externa e como é que ela poderia ser caso existisse.