quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Um homem de fé

João Cardoso Rosas (JCR) começa a tornar-se num caso de estudo. Em Julho de 2007 dizia sem pestanejar que "o PS de Sócrates restaurou a credibilidade das instituições e encetou um processo reformista consequente". Em Junho de 2009 ainda referia que "no consulado de Sócrates, a esquerda que está no PS, embora mantendo o liberalismo, afastou-se do seu socialismo. Esta mudança foi interessante e permitiu ao PS uma grande vitória eleitoral, assim como uma governação reformista e modernizadora". São conhecidas as caras e os nomes deste consulado que, segundo JCR, "restaurou a credibilidade das instituições e encetou um processo reformista consequente", e que foi responsável por "uma governação reformista e modernizadora". Além de Sócrates, naturalmente, o seu braço direito era Pedro Silva Pereira. Parte da sua equipa -- oriunda do seu gabinete, seus ex-ministros e ex-secretários de Estado -- encontra-se desde 2011 no Parlamento. Curiosamente, JCR interroga-se sobre "o que estão lá a fazer" os "fiéis de Sócrates na primeira fila" da bancada parlamentar do PS. JCR compreende, naturalmente, a perplexidade dos portugueses perante tal facto, e pergunta: "Não há nenhuma empresa que os contrate, nenhuma universidade que os queira?". Confesso que não se percebe a ingratidão de JCR perante aquela que era a equipa maravilha…
Mas falemos também de Pedro Passos Coelho, segundo JCR. Em Abril de 2010 dizia que "Passos Coelho tem desde há muito um discurso liberal (…) interessante e inovador no contexto português. PPC é um típico liberal de direita, na medida em que defende as liberdades individuais e a minimização da intromissão do Estado na vida das pessoas, tanto em termos económicos como em termos sociais e culturais". Certo. Em Julho de 2011 acrescentava que "o Governo é certamente liberal em termos económicos. (…) O Governo continua a ser liberal em relação ao modo como vê as restantes funções do Estado, especialmente na área social. (…) Note-se, no entanto, que este não é um Governo que advogue a versão mais extremada do liberalismo anti-igualitário a que se chama "libertarismo". (…) Na verdade, a visão dominante no Governo é mais liberal-conservadora do que libertarista. O liberalismo deste Governo fica reduzido à esfera económica e social e é conjugado com uma postura conservadora em matéria de costumes, tal como defende o CDS".
Não era a 'escola' liberal que JCR perfilhava, como se percebe, mas ainda assim era "interessante e inovador", de matriz essencialmente "liberal-conservadora", mas longe da "versão mais extremada do liberalismo anti-igualitário".
Entretanto, a opinião de JCR sobre Passos Coelho, tal como acontecera em relação a Sócrates, mudou drasticamente. Hoje, o liberalismo-conservador deu lugar a uma caricatura. O liberalismo de Passos serve "apenas para atacar os direitos dos trabalhadores em nome da liberdade económica, (…) [e] também para defender os interesses do capital". Ou seja, o discurso liberal "interessante e inovador" de Passos Coelho, tal como aconteceu com Sócrates, é uma profunda desilusão para JCR, embora por razões distintas. Aqui chegados, um conselho da minha parte: fixem bem as caras dos assessores, ministros e ex-ministros de Passos Coelho. Quando chegar o momento JCR provavelmente também perguntará o que estão a fazer na primeira fila da bancada parlamentar do PSD…
Uma coisa é certa. Apesar das desilusões políticas que vai acumulando, JCR é um homem de fé, uma vez mais disposto a apostar -- no bom sentido, evidentemente -- num novo cavalo. Será desta, ou não há duas sem três?