domingo, 3 de fevereiro de 2013

Costa e a luta pela imposição de uma narrativa

António Costa, por estes dias, procura assegurar a imposição da sua narrativa. A argumentação que legitima a sua posição é muito simples: o PS não está unido e este problema interno gera um problema de afirmação na sociedade portuguesa (DN, 3.2.2013: 2). A batalha é desigual. António José Seguro, claro está, não pode refutar -- ou terá de o fazer com especial cuidado -- a narrativa que Costa anda a propagar, caso contrário supostamente estará a contribuir para a divisão interna, o tal problema interno que os críticos apontam como estando na origem da crise de afirmação do PS.
O argumento de Costa, porém, não resiste a dois segundos de escrutínio. Alguém acredita verdadeiramente que uma bancada parlamentar liderada por Pedro Silva Pereira contribuiria para a afirmação do PS? Alguém acredita que a repescagem das viúvas de José Socrates seria bem vista pelos portugueses e que contribuiria para a afirmação do PS na sociedade portuguesa? Alguém acredita que outro líder do PS faria, no essencial, melhor do que Seguro nesta altura?
Por outro lado, a preocupação com a inclusão é válida apenas para as viúvas de Sócrates? Valerá a pena lembrar a forma como foi recebida a eventual integração de Manuel Maria Carrilho na direcção do Laboratório de Ideias? Porque motivo deverá ser selectivo o esforço de unidade e incluir apenas as viúvas de Sócrates?
Não haja dúvidas sobre aquilo que está em curso: mercearia política, pura e dura. Nada mais do que lugares e quotas de influência. António Costa bem pode tentar maquilhar as suas intenções, mas elas são muito claras. São legítimas, naturalmente, mas não são isentas de interesse político pessoal.
Estamos perante um jogo de soma nula e a afirmação da liderança de Seguro implica que outros perderão quota de poder. Costa nada mais está a fazer do que a tentar preservar a sua quota de poder e de influência no seio do PS. A narrativa serve apenas para legitimar e assegurar os seus fins. É a vida.