Depois da moção de censura do PEV, o PCP decidiu endereçar "convites para a realização a curto prazo de encontros com organizações sociais, com o PEV, o Bloco de Esquerda e a Intervenção Democrática". A exclusão do PS era o dado mais evidente e um erro que o Bloco de Esquerda decidiu corrigir de imediato. Assim, o BE propôs a discussão de um programa de governo de esquerda com o PS e o PCP.
Com esta iniciativa o BE quer encostar António José Seguro às cordas, julgando que com isso obrigará o PS a assumir uma posição que terá custos políticos e eleitorais. Talvez. Na prática, porém, o Bloco mantém aquela que sempre foi a sua estratégia e que nas últimas eleições legislativas começou a revelar sinais de fadiga. O BE poderá ganhar alguns votos, sem dúvida, mas com isso empurra o PS para os braços de terceiros e auto-marginaliza-se, uma vez mais, de qualquer solução governativa. Dito de outra maneira, o Bloco ganhará eventualmente alguns votos, mas o custo será de natureza estratégica, uma vez que fecha a porta -- porventura em definitivo -- a um eventual entendimento com o PS. É certo que as probabilidades de um entendimento com o PS eram diminutas, mas será o BE quem assumirá a responsabilidade política por, uma vez mais, fechar essa porta. Nada que me tire o sono, na verdade.
P.S. -- Com ou sem eleições legislativas antecipadas, a possibilidade de se regressar a uma fórmula de Bloco Central vai ressurgindo no horizonte.