Justino Pinto de Andrade vale seguramente muito mais como político do que como analista. Como líder do Bloco Democrático não lhe contesto o seu valor, como analista vale pouco ou nada. Na verdade, a jornalista do Público não recolheu o seu depoimento por ele ser analista. Era certo e sabido que o seu testemunho seria negativo. Testemunhos obtidos em regime de cherry picking, e mau jornalismo, em suma. Se indagasse a opinião de um 'analista' oriundo da UNITA o teor das suas declarações seria semelhante ao de Pinto de Andrade. Um analista do MPLA iria em sentido contrário, mas ao MPLA o Público não está interessado em dar palco comunicacional.
Adiante. Há muito tempo que a oposição angolana gostaria de envolver Portugal na política interna do seu país. Não faltam exemplos de críticas a Portugal por subserviência e alinhamento. (Recentemente foi na Guiné-Bissau que Portugal foi acusado de estar alinhado com Carlos Gomes Júnior. Não me surpreenderia se a RENAMO fizesse acusações semelhantes, à medida que as relações bilaterais se aprofundam.) A interferência no jogo político interno de Estados soberanos é uma linha que Portugal deve evitar ultrapassar a todo custo, no caso de Angola ou de outro Estado qualquer. Não creio que haja muito a criticar nesse capítulo.
Mas regressemos à 'análise' de Pinto de Andrade. O que diz é apenas wishful thinking partidário. Se um dia, por hipótese, a UNITA ou o Bloco Democrático ganhassem as eleições, as relações entre Angola e Portugal seriam exactamente iguais. Por uma simples razão. Os laços históricos, políticos e económicos a isso os obrigavam. É o que a História nos demonstra repetidamente.
Cada macaco no seu galho. Ao Governo de Portugal compete preservar e promover as relações com o Governo angolano, o actual ou outro no futuro. Ao Bloco Democrático compete ganhar eleições. Ao 'analista' Pinto de Andrade compete fazer análise imparcial. À jornalista Ana Dias Cordeiro compete fazer jornalismo de forma isenta.