O título poderia ser, aliás, a metamorfose. Longe vão os tempos -- na verdade nem vão assim tão longe... -- em que António José Seguro defendia mais tempo e menos juros. A "forma suja", digamos assim. Agora, o PS já não quer mais tempo, nem mais dinheiro, antes exigindo um regresso aos mercados de forma limpa.
Perante um sucesso do Governo que se começa a adivinhar, tal como um náufrago, o PS agarra-se ao que pode para tentar sobreviver. O PSD e o CDS se estivessem na oposição muito provavelmente fariam o mesmo, que isso fique bem claro.
António José Seguro sabe que o vento não sopra a seu favor, independentemente do que digam, por agora, as sondagens. O líder do PS sabe que o tempo político entrou em contagem decrescente. Porém, tal como a vitória nas autárquicas, um êxito eleitoral nas próximas eleições europeias não resolve o seu problema central, i.e. não acelera o calendário político. Ora, sem eleições legislativas antecipadas, a vitória do PS não é garantida. Já aqui escrevi em inúmeras ocasiões que não excluo a possibilidade de Pedro Passos Coelho ganhar as eleições legislativas em 2015. Não é um resultado garantido, evidentemente, mas também não é impossível, ao contrário do que pensam, por agora, muitos observadores.
Voltamos sempre ao momento em que, perante circunstâncias muito complicadas, Seguro possivelmente cometeu o erro estratégico que definiu o seu futuro político. A cada dia que passa, o líder do PS sente que o chão lhe está a fugir. Seguro está completamente perdido e sem estratégia. A exigência legítima, mas politicamente inconsequente, de um regresso aos mercados de forma limpa é apenas um primeiro sintoma visível desse desnorte.