1. Vítor Ângelo, antigo secretário-geral adjunto das Nações Unidas para a Paz e Segurança, alertou para a necessidade de se não deixar caír a Guiné-Bissau no esquecimento. O alerta compreende-se, mas não me parece ser o risco principal neste momento. Julgo que foi dito algo mais importante, mas que o entrevistador não deu o devido destaque: "é preciso que o Brasil tenha um papel muito mais activo no quadro da CPLP e também no quadro das Nações Unidas na tentativa de resolução dos problemas da Guiné-Bissau" (Rádio Vaticano, 6.8.2012). Vítor Ângelo toca em algo que tem passado à margem do olhar dos analistas, i.e. o pouco empenho diplomático do Brasil nesta questão, apesar de a embaixadora brasileira, Maria Luiza Viotti, presidir à Comissão de Configuração para a Manutenção da Paz na Guiné-Bissau. Ora, admitindo que Viotti poderá estar de partida de Nova Iorque, o alerta talvez se perceba ainda melhor.
2. A estratégia de penetração política e económica brasileira em África não passa despercebida. Contudo, o Brasil terá que repensar a sua abordagem se quiser ser realmente um parceiro estratégico de países como Angola e Moçambique. Os parceiros estratégicos apoiam-se uns aos outros nos bons e nos maus momentos. A forma como Brasília se tem empenhado, de forma pouco relevante, na gestão da crise na Guiné-Bissau seguramente que não tem sido ignorada em Luanda. Aparentemente, o Brasil procura evitar confrontos diplomáticos com a Nigéria e a CEDEAO/ECOWAS, tendo como pano de fundo a situação na Guiné-Bissau, uma vez que isso colide com a sua estratégia global de penetração no continente africano e na África Ocidental em particular. Acontece que há alturas em que é necessário fazer escolhas. Tão simples como isto.