domingo, 26 de agosto de 2012

The march of folly

A faceta imediatista na escrita dos blogues significa que nem sempre se respeita a devida prudência. Muitas vezes o bom senso ditaria que se aguardasse mais algum tempo antes de se opinar, não só para se ter mais distanciamento em relação aos factos, mas também para se ter maior informação sobre eles. Isto dito, a graça não seria a mesma se se escrevesse apenas quando já não restassem dúvidas. O prazer de manter um blogue em que se escreve sobre a actividade política resulta precisamente desta reacção imediata aos factos, num exercício de trapézio que de vez em quando pode falhar.
Esta conversa toda vem a propósito do dossier RTP, pois claro. Poderia ter começado de pior maneira?
Duvido. O modo como se iniciou a discussão pública sobre o futuro da RTP foi um desastre, ao ponto de me parecer neste momento que o processo estará politicamente morto. Sendo um pouco mais optimista diria que estará moribundo ainda antes do tiro de partida oficial.
Será que estou a revelar falta de distanciamento em relação aos acontecimentos das últimas 48 horas?
Muito honestamente, não sei. O que sei é que a intervenção de António Borges, conjugada com a reacção do CDS, parece-me ter sido mortal para qualquer alteração significativa na RTP. Subitamente, a juntar às críticas mais do que esperadas de BE, PCP e PS, eis que surge o CDS em clara divergência com o PSD. Ou seja, o PSD vai ter que suar muito para convencer a opinião pública de que não está isolado nesta matéria e que a sua proposta, seja ela qual for, é equilibrada e corresponde ao interesse público.
A opinião pública, refira-se, assiste a isto sem qualquer intervenção do Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho ou do ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares Miguel Relvas. No imediato surge como bombeiro de serviço José Pedro Aguiar-Branco que manifestamente não é a pessoa indicada para este combate político. Entretanto, em parte fruto de uma campanha mais do que esperada envolvendo interesses vários, vai-se instalando na opinião pública a percepção de que a(s) proposta(s) na calha não salvaguardam o interesse comum. Ora, uma vez criado este caldo, experimentem agora alterá-lo...
É claro que a percepção de que estamos perante uma nova PPP também não ajuda, tal como não ajuda o facto de os portugueses ficarem a saber que continuarão a ter que pagar a taxa audiovisual, ainda por cima sem ser líquido qual é o risco do futuro operador privado. Também aqui me parece que vai ser muito difícil conquistar os corações e as mentes da opinião pública.
No meio disto tudo, se o Presidente da República decidir manifestar dúvidas publicamente, algo que não sei se fará, mas que não excluo, então diria que será cheque-mate garantido a qualquer alteração estrutural na RTP.
Chegados a este ponto, qual era mesmo a intenção do Governo, manter tudo na mesma, ou alterar o mínimo possível?
Se a intenção era mexer mesmo a sério na RTP, como se deduz da intervenção de António Borges, então a abordagem não poderia ter sido mais contraproducente. É a vida.

P.S. -- O título deste post corresponde a um dos livros de Barbara Tuchman.