José Ortega y Gasset: "Yo soy yo y mi circunstancia". Liberdade e destino. A vida é isto, o que não é pouco.
domingo, 30 de setembro de 2012
Marcelo Rebelo de Sousa...
...explica aquilo que me parece ser óbvio para qualquer pessoa. O Governo tem de reconquistar a iniciativa política e, nessa medida, a remodelação governamental é uma peça importante nesse puzzle. Mas por si só não chega. É preciso dar primazia à política e ao combate político. Como frisa João Gonçalves, "o Governo tem a obrigação política e moral de redescrever o seu registo de actuação política".
sábado, 29 de setembro de 2012
Regras de convivência
Ao cuidado da Comissão de Coordenação da Coligação:
O CDS, putos traquinas, aproveitam sempre, como quem não quer a coisa, para ir dando umas palmadas nos colegas do PSD. O PSD, meninos bem comportados, que tenha notado nunca pregam umas rasteiras nos colegas do CDS. Mais, de forma incompreensível, comem e calam. Pelos vistos, anda tudo ocupado com assuntos mais importantes do que o dia a dia politico-partidário. Subitamente, os deputados do PSD (e não apenas eles) são todos tecnocratas e ninguém quer sujar os dedos com minudências de natureza politico-partidária.
O alvo desta vez foi António Borges. As palmadas, refira-se, são inteiramente merecidas, mas não é isso que está em causa. O que está aqui em discussão é o facto de o CDS sistematicamente -- repito, sistematicamente -- se sentir livre para criticar em público figuras do PSD. O que está aqui em causa é o facto de o CDS não cumprir um silêncio disciplinado em relação às intervenções de membros do PSD, por mais infelizes que sejam. A leitura alternativa, que não acredito que corresponda à realidade, é que Paulo Portas não controla os seus mais próximos colaboradores. Ora, se não é disso que se trata, o que espera o líder do CDS para exigir contenção verbal às suas tropas? Em sentido contrário, se isso não acontecer, o que espera o PSD para começar a dar uns tiros de dissuasão em algumas figuras do CDS?
É este o caminho que o CDS quer trilhar? Se a resposta for afirmativa, o que espera o PSD para responder?
O CDS, putos traquinas, aproveitam sempre, como quem não quer a coisa, para ir dando umas palmadas nos colegas do PSD. O PSD, meninos bem comportados, que tenha notado nunca pregam umas rasteiras nos colegas do CDS. Mais, de forma incompreensível, comem e calam. Pelos vistos, anda tudo ocupado com assuntos mais importantes do que o dia a dia politico-partidário. Subitamente, os deputados do PSD (e não apenas eles) são todos tecnocratas e ninguém quer sujar os dedos com minudências de natureza politico-partidária.
O alvo desta vez foi António Borges. As palmadas, refira-se, são inteiramente merecidas, mas não é isso que está em causa. O que está aqui em discussão é o facto de o CDS sistematicamente -- repito, sistematicamente -- se sentir livre para criticar em público figuras do PSD. O que está aqui em causa é o facto de o CDS não cumprir um silêncio disciplinado em relação às intervenções de membros do PSD, por mais infelizes que sejam. A leitura alternativa, que não acredito que corresponda à realidade, é que Paulo Portas não controla os seus mais próximos colaboradores. Ora, se não é disso que se trata, o que espera o líder do CDS para exigir contenção verbal às suas tropas? Em sentido contrário, se isso não acontecer, o que espera o PSD para começar a dar uns tiros de dissuasão em algumas figuras do CDS?
É este o caminho que o CDS quer trilhar? Se a resposta for afirmativa, o que espera o PSD para responder?
Problema deontológico
Faria de Oliveira, em entrevista ao Diário de Notícias (supl. Dinheiro Vivo), afirma que por razões de ordem deontológica, enquanto chairman da Caixa Geral de Depósitos, não se deve pronunciar sobre a eventual privatização do banco público. Lidas as suas não-respostas -- repito, por motivos de natureza deontológica -- interrogo-me se ficou alguma coisa por (não) dizer...
Despesa pública vs. dívida
"Nós [Portugal] não temos um problema de despesa. Nem Portugal tem, à entrada da crise e agora, indicadores de nível de despesa pública que sejam maiores do que a generalidade dos países europeus. Portugal tem em 2011 um nível de despesa pública no PIB de 48,9%. A média da União a 27 é 49,1% e da Zona Euro é 49,4%. (Fonte: Eurostat.) (...) É evidente que temos uma crise de endividamento global que atingiu os níveis que atingiu pela forma como o euro foi construído. Em moeda própria, nunca Portugal teria os níveis que tem. O endividamento é muito maior no sector privado que no público. Dois terços da dívida externa é privada", disse Fernando Medina, ex-secretário de Estado no Governo de José Sócrates e actualmente deputado do PS (Jornal de Negócios, supl. Weekend, 28.9.2012: 7).
Estas linhas explicam, em larga medida, a análise e a posição do PS. É por isso que o PS é tão resistente ao corte na despesa. Afinal, Portugal não tem, na sua visão, um problema de despesa. De certo modo contra a sua vontade, Medina apenas está disponível para reconhecer que se tem um problema de dívida, mas também aqui com atenuantes. Em primeiro lugar, o problema de endividamento não é culpa nossa, mas sim do euro. E em segundo, o endividamento é sobretudo privado. Moral da história?
Está tudo bem, portanto...
Estas linhas explicam, em larga medida, a análise e a posição do PS. É por isso que o PS é tão resistente ao corte na despesa. Afinal, Portugal não tem, na sua visão, um problema de despesa. De certo modo contra a sua vontade, Medina apenas está disponível para reconhecer que se tem um problema de dívida, mas também aqui com atenuantes. Em primeiro lugar, o problema de endividamento não é culpa nossa, mas sim do euro. E em segundo, o endividamento é sobretudo privado. Moral da história?
Está tudo bem, portanto...
Uma, duas, três vezes... [1]
António Borges tem uma capacidade notável para intervir de forma a prejudicar aquilo que defende. A partir de hoje não me parece que tenha muitas condições para continuar a prestar serviços de consultoria ao Governo. E se pensava em vir a ser ministro, bom...
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Não vende ilusões? Are you kidding me? [2]
"É preciso arrepiar caminho", diz António José Seguro. Certo. Mas qual a alternativa? O que propõe em concreto?
Não vende ilusões? Are you kidding me? [1]
Claro que António José Seguro não vende ilusões. É por isso que o líder do PS afirma que os próximos tempos serão de dificuldades, mas não arrisca dizer mais do que isso. Sempre vago e superficial. Dão-se alvíssaras a quem souber o paradeiro das medidas difíceis propostas por António José Seguro para resolver a nossa actual situação.
Não vende ilusões? Oh common, give me a break...!
Fundações
Carlos Zorrinho entende que a montanha pariu um rato, referindo-se à decisão anunciada pelo Governo sobre o corte de apoios públicos às fundações. Talvez tenha razão. Mas já agora avivem-me a memória, se faz favor. No Governo de José Sócrates, do qual Zorrinho fazia parte, a montanha pariu o quê? Nada, absolutamente nada, não foi?
Uma nova relação
Quer Marques Mendes e quer qualquer pessoa de bom senso que tenha votado em Pedro Passos Coelho.
Speakers' Corner
Fernando Ulrich e Ricardo Salgado falam que se farta sobre a situação política e económica em Portugal. Não há semana em que não expressem a sua opinião sobre os mais variados temas da actualidade. Pelo andar da carruagem, um destes dias ainda teremos um programa televisivo semanal com os dois no papel de comentadores. Naturalmente, Fernando Ulrich e Ricardo Salgado não têm qualquer limitação quanto à sua liberdade de expressão. Isto dito, alguma parcimónia nas suas intervenções públicas talvez não fosse uma má opção. É que a banalização em curso das suas intervenções torna menos valiosa a sua intervenção pública quando ela for realmente necessária.
Negociar um resgate com Espanha...
...é outra conversa. A escala é outra. Espero que o governo espanhol consiga condições muito vantajosas. Cá estaremos depois para exigir igualdade de tratamento. Igualmente importante. Um clube de resgatados envolvendo Espanha é igualmente outra conversa. A escala é outra...
Sim, mas como?
"É preciso adaptar o memorando à realidade e não adaptar a realidade ao memorando", defendeu António José Seguro. Um bom sound bite, sem dúvida, mas é apenas disso que se trata. Infelizmente, por razões diversas, o líder do PS nunca vai para além de breves declarações superficiais. Nunca concretiza, ou especifica, nada. É sempre tudo muito vago e pouco preciso. Se existe uma alternativa, concreta e real, o PS nunca é capaz de a evidenciar.
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
O que se tem passado ao longo...
...desta semana confirma aquilo que aqui escrevi. Paulo Portas era suposto ter estado durante toda a semana em Nova Iorque. Tanto quanto julgo saber, retido em Lisboa no âmbito da elaboração do OE para 2013, o ministro dos Negócios Estrangeiros acabou por não ir à sessão de abertura da 67ª sessão da Assembleia Geral da ONU. Ainda que esta semana de certo modo seja 'anormal' e mesmo tendo em conta que Paulo Portas tem tido um bom desempenho como MNE, parece-me evidente que ele não pode continuar nessa função ao longo desta legislatura e que na remodelação governamental deveria transitar para vice-PM ou ministro da Presidência. Mais. A sua presença em Lisboa mostra como o Conselho de Coordenação da Coligação foi uma encenação para inglês ver. O problema entre PSD e CDS nunca esteve no plano partidário, mas sim no governamental. E é por isso que Paulo Portas tem de ser chamado a assumir outro tipo de responsabilidades políticas.
Cegueira
Como é possível que em tempos de tantos sacrifícios a iniciativa legislativa do PSD e do CDS preveja uma redução de apenas -- repito, apenas -- 20% no montante das subvenções dos partidos políticos e campanhas eleitorais?
Não era importante de um ponto de vista político e simbólico dar um exemplo único com um corte de enorme impacto? Aqui o PSD e o CDS não podem argumentar que há forças de bloqueio. Aqui apenas depende de si e de mais ninguém e cortam apenas 20%? Alguém consegue perceber isto?
E o PS alinha nisto? Num corte desta dimensão sem significado político?
Não era importante de um ponto de vista político e simbólico dar um exemplo único com um corte de enorme impacto? Aqui o PSD e o CDS não podem argumentar que há forças de bloqueio. Aqui apenas depende de si e de mais ninguém e cortam apenas 20%? Alguém consegue perceber isto?
E o PS alinha nisto? Num corte desta dimensão sem significado político?
Leituras
1. António Costa, "Um ponto de não-retorno" (Diário Económico, 27.9.2012).
2. Pedro Santos Guerreiro, "O Orçamento que não queremos querer" (Jornal de Negócios, 27.9.2012).
2. Pedro Santos Guerreiro, "O Orçamento que não queremos querer" (Jornal de Negócios, 27.9.2012).
Expliquem-me uma coisa...
...se faz favor. Nos hipermercados, nas lojas gourmet, onde quer que seja, não se vendem uns pacotinhos de 250 gramas de bom senso em pó para misturar no café ou no chá? Ou será que está esgotado?
Santa paciência, tanto disparate.
Santa paciência, tanto disparate.
A estratégia
Paulo Pedroso colocou em votação no seu blogue a pergunta "a estratégia do Governo para 2013 deve ser":
1. Continuar a actual política de austeridade, se necessário indo além da troika.
2. Moderar a política de austeridade, se necessário renegociando com a troika prazos e condições.
3. Abandonar a política de austeridade, se necessário denunciando o acordo com a troika.
Duvido que a primeira opção tenha muitos votos. A última terá mais votos, seguramente, mas qualquer pessoa que pense um pouco tenderá a rejeitá-la de imediato. Suponho que o grosso das pessoas, pelo menos no arco que vai do PS ao PSD, escolherá a segunda opção. Esta hipótese, recorde-se, é aquela que anda mais próximo das posições de António José Seguro. O líder do PS, como se sabe, defendia que era necessário mais tempo. Julgo, posso estar enganado, que nunca disse exactamente quanto tempo adicional seria necessário na sua opinião. E julgo, igualmente (e também aqui posso estar enganado), que nunca foi muito explícito sobre que condições queria renegociar. O meu ponto, muito simples, é que esta segunda opção parece ser apenas uma questão de bom senso, mas é mais complexa do que possa parecer. É preciso saber, por exemplo, [1] o que queremos renegociar em termos de prazos e condições, mas também [2] se temos capacidade para renegociar o que quer que seja.
O Governo e o PS que não tenham dúvidas: Pedro Passos Coelho vai assistir a uma crescente pressão para renegociar e vai ter de explicar de forma muito convincente porque não quer, ou porque não pode. António José Seguro, enquanto alternativa de governo e de modo a assumir uma posição minimamente credível, terá de explicar exactamente o que quer renegociar e porque pensa que será possível.
Adicionalmente, importa também reflectir sobre as vantagens e as desvantagens -- sim, não serão seguramente apenas vantagens -- de se moderar a austeridade e de se renegociar prazos e condições. Dito de outra maneira, quais as vantagens e as desvantagens de se abandonar a política do bom aluno e, consequentemente, de Portugal se afastar da Alemanha?
Estas questões a preto e branco, tal como sabe Paulo Pedroso, escondem muitos tons de cinzento. Mas isso não lhes retira relevância, apenas aconselha prudência nas respostas.
1. Continuar a actual política de austeridade, se necessário indo além da troika.
2. Moderar a política de austeridade, se necessário renegociando com a troika prazos e condições.
3. Abandonar a política de austeridade, se necessário denunciando o acordo com a troika.
Duvido que a primeira opção tenha muitos votos. A última terá mais votos, seguramente, mas qualquer pessoa que pense um pouco tenderá a rejeitá-la de imediato. Suponho que o grosso das pessoas, pelo menos no arco que vai do PS ao PSD, escolherá a segunda opção. Esta hipótese, recorde-se, é aquela que anda mais próximo das posições de António José Seguro. O líder do PS, como se sabe, defendia que era necessário mais tempo. Julgo, posso estar enganado, que nunca disse exactamente quanto tempo adicional seria necessário na sua opinião. E julgo, igualmente (e também aqui posso estar enganado), que nunca foi muito explícito sobre que condições queria renegociar. O meu ponto, muito simples, é que esta segunda opção parece ser apenas uma questão de bom senso, mas é mais complexa do que possa parecer. É preciso saber, por exemplo, [1] o que queremos renegociar em termos de prazos e condições, mas também [2] se temos capacidade para renegociar o que quer que seja.
O Governo e o PS que não tenham dúvidas: Pedro Passos Coelho vai assistir a uma crescente pressão para renegociar e vai ter de explicar de forma muito convincente porque não quer, ou porque não pode. António José Seguro, enquanto alternativa de governo e de modo a assumir uma posição minimamente credível, terá de explicar exactamente o que quer renegociar e porque pensa que será possível.
Adicionalmente, importa também reflectir sobre as vantagens e as desvantagens -- sim, não serão seguramente apenas vantagens -- de se moderar a austeridade e de se renegociar prazos e condições. Dito de outra maneira, quais as vantagens e as desvantagens de se abandonar a política do bom aluno e, consequentemente, de Portugal se afastar da Alemanha?
Estas questões a preto e branco, tal como sabe Paulo Pedroso, escondem muitos tons de cinzento. Mas isso não lhes retira relevância, apenas aconselha prudência nas respostas.
Fora da corrida
Tranquilizem-me, uma vez mais, por favor: Cândida Almeida alguma vez esteve realmente na corrida para a sucessão de Pinto Monteiro?
O Primeiro-Ministro e o Presidente da República, mesmo nos seus dias menos lúcidos, nunca cometeriam tal disparate. Não, pois não?
O Primeiro-Ministro e o Presidente da República, mesmo nos seus dias menos lúcidos, nunca cometeriam tal disparate. Não, pois não?
Portugal é a próxima Grécia?
Pedro Passos Coelho defendeu que, apesar de não poder ser subestimada, "a corrente em que o navio português foi posto", há "ventos favoráveis a soprar" nas suas velas.
Em contraste com o optimismo oficial e inevitável do Primeiro-Ministro -- se ele não acredita, quem acreditará? -- lembrei-me de um pequeno artigo pessimista de Edward Harrison publicado muito antes dos acontecimentos recentes e cuja leitura recomendo vivamente.
Em contraste com o optimismo oficial e inevitável do Primeiro-Ministro -- se ele não acredita, quem acreditará? -- lembrei-me de um pequeno artigo pessimista de Edward Harrison publicado muito antes dos acontecimentos recentes e cuja leitura recomendo vivamente.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
É preciso atacar a crise nas suas múltiplas frentes
A lição substantiva que retiro da manifestação de 15 de Setembro, aliás como da manifestação de 12 de Março de 2011, aponta para o crescente distanciamento dos cidadãos relativamente ao sistema político. Na verdade, não é uma lição, mas antes o confirmar de um problema político grave que no fundo todos sabemos existir. O BE e o PCP podem absorver parte deste descontentamento, mas não haja ilusões. O problema é estrutural e não será com o placebo do voto de protesto circunstancial que se resolve.
Totalmente imerso na gestão do programa de ajustamento, o Governo não tem qualquer agenda para a frente política e em particular para combater este crescente distanciamento entre os cidadãos e o sistema político. No entanto, essa agenda política deveria existir. Diria até que deveria ser prioritária. O Governo tem de ter uma estratégia que procure conferir ao cidadão o poder político que ele sente não ter. E isso passa por criar círculos uninominais e permitir a candidatura de cidadãos independentes ao Parlamento, e em paralelo valorizar o papel dos deputados, reduzindo o seu número e proibindo, salvo circunstâncias excepcionais, a sua substituição a meio de uma legislatura, ou a sua permanência no cargo sem ser em exclusivo.
Bem sei que a troika não se preocupa com isto. Mas o Governo deveria preocupar-se, por razões várias. Se Pedro Passos Coelho tiver a coragem e a sensibilidade política para atacar de frente esta questão, estou certo que não lhe faltará apoio político junto dos cidadãos. Se assim entender, o Primeiro-Ministro que proponha eventualmente um referendo. É preciso reaproximar o sistema político e os cidadãos, com o intuito de conferir legitimidade renovada à nossa vida colectiva. Se Passos Coelho não fizer, é muito possível que outros o façam por si. É regra lembrar que a política tem horror ao vácuo. Tenha ou não, a alternativa passa por continuar neste caminho sem retorno de apodrecimento do sistema político e partidário, algo que manifestamente não me parece ser uma solução aceitável.
Nesta matéria...
...o PSD devia aprender com o CDS: não se comentam processos judiciais em curso. Ponto.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Boas medidas, mal comunicadas
Às vezes parece que o Governo faz de propósito para dificultar a sua própria vida. Não se compreende que seja publicada no Diário da República a decisão de extinção, de redução ou cessação de apoios financeiros públicos às fundações e que depois não seja devidamente preparada a divulgação da decisão final em termos de comunicação.
Tudo isto é tornado público -- e estamos perante algo que tem o apoio da opinião pública -- sem que, por exemplo, se diga quanto é que o Estado vai poupar. Ora, mais do que saber quais as fundações extintas, ou quais é que viram os seus apoios cortados, era importante quantificar a poupança. O Governo, pelos vistos, não se preocupa em capitalizar o seu próprio trabalho.
É claro que os cortes quase que parecem ter sido feitos com regra e esquadro. Mais. Os cortes poderiam, porventura, ter ido mais longe. É sempre difícil agradar a gregos e a troianos, bem sei. De qualquer modo, aquilo que vale a pena salientar é que este Governo meteu as mãos à obra sobre um assunto que sucessivos governos optaram por ignorar. Houve, finalmente, uma primeira tentativa no sentido de disciplinar o sector das fundações. Aplaudo o Governo por isso. Mas, repito, era lógico e normal que o Governo nos dissesse quanto é que o Estado afinal vai poupar com esta medida. Confirmam-se os números avançados anteriormente que apontavam para 140 milhões de euros? Mais? Menos?
Numa altura em que se pedem tantos sacrifícios aos portugueses, era importante mostrar aquilo que está a ser feito no âmbito da redução da despesa. Bem sei que nada percebo de comunicação política, mas isto é apenas bom senso.
Tudo isto é tornado público -- e estamos perante algo que tem o apoio da opinião pública -- sem que, por exemplo, se diga quanto é que o Estado vai poupar. Ora, mais do que saber quais as fundações extintas, ou quais é que viram os seus apoios cortados, era importante quantificar a poupança. O Governo, pelos vistos, não se preocupa em capitalizar o seu próprio trabalho.
É claro que os cortes quase que parecem ter sido feitos com regra e esquadro. Mais. Os cortes poderiam, porventura, ter ido mais longe. É sempre difícil agradar a gregos e a troianos, bem sei. De qualquer modo, aquilo que vale a pena salientar é que este Governo meteu as mãos à obra sobre um assunto que sucessivos governos optaram por ignorar. Houve, finalmente, uma primeira tentativa no sentido de disciplinar o sector das fundações. Aplaudo o Governo por isso. Mas, repito, era lógico e normal que o Governo nos dissesse quanto é que o Estado afinal vai poupar com esta medida. Confirmam-se os números avançados anteriormente que apontavam para 140 milhões de euros? Mais? Menos?
Numa altura em que se pedem tantos sacrifícios aos portugueses, era importante mostrar aquilo que está a ser feito no âmbito da redução da despesa. Bem sei que nada percebo de comunicação política, mas isto é apenas bom senso.
Leituras
1. António Costa, "Vai longe a libertação da economia" (Diário Económico, 25.9.2012).
2. Pedro Santos Guerreiro, "As verdades que agora nos dirão" (Jornal de Negócios, 25.9.2012).
2. Pedro Santos Guerreiro, "As verdades que agora nos dirão" (Jornal de Negócios, 25.9.2012).
Expectável?
"Seria no mínimo expectável que o PS que é responsável pelas metas de consolidação orçamental que foram negociadas com a troika, o PS que é o responsável pelo excesso de endividamento que nos levou a esta situação, o PS que é o maior partido da oposição, seria expectável que também colocasse em cima da mesa propostas que visassem consolidar as contas públicas de uma forma alternativa àquela que o Governo tinha identificado há uma semana atrás", disse Jorge Moreira da Silva.
Por mera coincidência, o Diário de Notícias lembrava ontem as cinco propostas de António José Seguro. Como se nota imediatamente, não há uma única medida que mexa no rendimento das pessoas, como se isso fosse possível. As cinco propostas são:
1. Recapitalização das PME, alocando três mil milhões de euros do fundo de recapitalização da banca.
2. Descer o IVA da restauração de 23% para 13%.
3. Combustíveis low cost.
4. Taxar as PPP.
5. Eurobonds.
É com estas cinco propostas que o PS se quer credibilizar como alternativa? Como é que o PS cumpriria as metas acordadas com a troika?
Bom, sobre isso nem uma palavra concreta e palpável.
Por mera coincidência, o Diário de Notícias lembrava ontem as cinco propostas de António José Seguro. Como se nota imediatamente, não há uma única medida que mexa no rendimento das pessoas, como se isso fosse possível. As cinco propostas são:
1. Recapitalização das PME, alocando três mil milhões de euros do fundo de recapitalização da banca.
2. Descer o IVA da restauração de 23% para 13%.
3. Combustíveis low cost.
4. Taxar as PPP.
5. Eurobonds.
É com estas cinco propostas que o PS se quer credibilizar como alternativa? Como é que o PS cumpriria as metas acordadas com a troika?
Bom, sobre isso nem uma palavra concreta e palpável.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Não é preciso ser um génio...
...para perceber que se as previsões não forem realistas em 2013 teremos uma nova derrapagem. E não é igualmente necessário ser um génio para perceber que a continuação do programa da austeridade em 2013, nos mesmos termos de 2012, implicará uma vez mais uma contracção significativa do consumo.
A solução?
De momento, nenhuma. Isto é um ciclo infernal. Mas a manter-se esta trajectória, é possível que em 2013 possamos revisitar a tendência de 2012, i.e. derrapagem nas contas. Regressamos sempre à questão da narrativa oficial e da realidade. E regressamos sempre à necessidade de fazer sentir à Alemanha que esta política de austeridade arrisca-se a matar o doente com a cura.
A solução?
De momento, nenhuma. Isto é um ciclo infernal. Mas a manter-se esta trajectória, é possível que em 2013 possamos revisitar a tendência de 2012, i.e. derrapagem nas contas. Regressamos sempre à questão da narrativa oficial e da realidade. E regressamos sempre à necessidade de fazer sentir à Alemanha que esta política de austeridade arrisca-se a matar o doente com a cura.
Alerta amarelo
Paulo Portas estará toda a semana em Nova Iorque. Activar imediatamente, em serviço permanente, a Comissão de Coordenação da Coligação.
Tantas certezas absolutas
Também gostava de ter tantas certezas absolutas como Bruno Proença. A minha idade (apenas 43 anos, atenção...), porém, cada vez mais me desincentiva de exercícios dessa natureza. Ao contrário de Bruno Proença, cada vez tenho mais dúvidas e quanto mais sei, menos tenho a certeza de alguma coisa.
Diz Bruno Proença: "Neste momento [o Governo], não passa de um conjunto de ministros mortos-vivos sem capacidade para reformar o país." "O Governo acabou antes de começar a existir." "A partir daqui, resta tentar aplicar as medidas da 'troika' o melhor possível porque o Executivo já não tem crédito para avançar com reformas próprias."
Juro que gostava de ter esta convicção, esta certeza inabalável, para fazer este tipo de declarações absolutamente seguras. Não tenho, porém, o seu grau de confiança a analisar o futuro. Nem o futuro, nem o passado, já agora.
Regresso sempre a Ortega y Gasset: "Yo soy yo y mi circunstancia."
Diz Bruno Proença: "Neste momento [o Governo], não passa de um conjunto de ministros mortos-vivos sem capacidade para reformar o país." "O Governo acabou antes de começar a existir." "A partir daqui, resta tentar aplicar as medidas da 'troika' o melhor possível porque o Executivo já não tem crédito para avançar com reformas próprias."
Juro que gostava de ter esta convicção, esta certeza inabalável, para fazer este tipo de declarações absolutamente seguras. Não tenho, porém, o seu grau de confiança a analisar o futuro. Nem o futuro, nem o passado, já agora.
Regresso sempre a Ortega y Gasset: "Yo soy yo y mi circunstancia."
António Capucho...
...hoje deu uma entrevista a que órgão da comunicação social? Não me digam que esteve de folga?
Lições
Administrar um Estado democrático não é a mesma coisa que gerir uma empresa. Um bom gestor não é necessariamente um bom ministro ou primeiro-ministro. Num Estado democrático a eficácia e a eficiência não são os únicos critérios que devem presidir aos processos de decisão. A legitimidade de uma medida, ainda que seja menos eficaz ou eficiente, é crucial. Olhar para os processos de decisão de um Estado democrático a partir de critérios meramente tecnocráticos é meio caminho andado para o desastre.
Uma não-novidade
Marcelo Rebelo de Sousa 'revela' que Pedro Passos Coelho tomou a decisão de recuar nas alterações à TSU antes do Conselho de Estado. Evidentemente. Alguém acha que o Primeiro-Ministro chegou ao Conselho de Estado e só durante a reunião, em função do que ouviu, é que decidiu alterar a sua posição?
Essa mudança de posição tinha sido óbvia durante a reunião com os parceiros sociais. Quanto muito, durante o Conselho de Estado, Passos Coelho assumiu explicitamente o recuo anterior.
A 'rua'
Qual foi o impacto da 'rua' na decisão de Pedro Passos Coelho de recuar quanto às alterações na TSU?
Muito provavelmente nunca saberemos. Uma coisa, porém, é certa. Os observadores de Esquerda tenderão a valorizar o papel da 'rua' e os de Direita a fazer o contrário.
Muito provavelmente nunca saberemos. Uma coisa, porém, é certa. Os observadores de Esquerda tenderão a valorizar o papel da 'rua' e os de Direita a fazer o contrário.
domingo, 23 de setembro de 2012
O pior dos argumentos
O Governo não se pode demitir, ou ser demitido, porque Portugal na actual conjuntura não pode ter eleições legislativas antecipadas.
Ainda que possa existir um pequeno fundo de verdade nesta afirmação, trata-se de um argumento que não pode, ou não deve, ser utilizado por aqueles que defendem a legitimidade do Governo. Isto porque está implícito nesta linha argumentação, ainda que involuntariamente, que o Governo apenas é tolerado porque as circunstâncias não permitem outros cenários. Decorre desta observação que estamos perante um Governo diminuído, cuja legitimidade está corroída e que apenas as circunstâncias salvam de uma destituição.
Sejamos claros, em democracia há sempre -- repito, sempre -- espaço para realizar eleições. Nada, ou quase nada, tem prioridade perante a realização de eleições.
Se não foram convocadas eleições antecipadas foi porque a crise política não era suficientemente grave e porque, por diversas razões, os players não as quiseram nesta altura. Nessa medida, o Governo tem total legitimidade, decorrente aliás de eleições legislativas recentemente realizadas.
Portugal não poderia ter eleições legislativas antecipadas nesta altura?
Claro que podia.
Portugal não poderia ter eleições legislativas antecipadas nesta altura?
Claro que podia.
Ponto de viragem
Ao longo deste e do mandato anterior do Presidente da República, o dever de reserva sobre o conteúdo das reuniões do Conselho de Estado foi sempre mantido, tanto quanto tenho conhecimento. O que se debatia no Conselho de Estado ficava no Conselho de Estado. Desta vez, porém, a comunicação social descreve parte do que se passou. Naturalmente não contesto o direito de informar, nem que o conteúdo das reuniões do Conselho de Estado constitui matéria de interesse noticioso. Lamento, isso sim, que haja conselheiros que violem o sigilo com que estão comprometidos e que não saibam estar à altura das circunstâncias.
Desta vez ficámos a conhecer -- assumindo que o relato não está manipulado -- fragmentos do que se passou na última reunião do Conselho de Estado. Infelizmente, é muito provável que possamos pagar um preço elevado por isso. Na próxima reunião é possível que alguns conselheiros tenham um cuidado que desta vez não tiveram com aquilo que dizem e que não digam de forma tão livre aquilo que pensam. O Presidente, por sua vez, sabe que a partir de agora o Conselho de Estado deixou de estar blindado e que o que se passa nas suas reuniões pode saltar cá para fora.
Ficámos melhor?
Desta vez ficámos a conhecer -- assumindo que o relato não está manipulado -- fragmentos do que se passou na última reunião do Conselho de Estado. Infelizmente, é muito provável que possamos pagar um preço elevado por isso. Na próxima reunião é possível que alguns conselheiros tenham um cuidado que desta vez não tiveram com aquilo que dizem e que não digam de forma tão livre aquilo que pensam. O Presidente, por sua vez, sabe que a partir de agora o Conselho de Estado deixou de estar blindado e que o que se passa nas suas reuniões pode saltar cá para fora.
Ficámos melhor?
sábado, 22 de setembro de 2012
The tail that does NOT wag the dog
Francisco Louçã convidou todas as forças políticas da oposição para uma convergência na apresentação de uma moção de censura ao Governo.
Comentário?
O Bloco de Esquerda gostava tanto, mas tanto mesmo, de mandar no PS.
Comentário?
O Bloco de Esquerda gostava tanto, mas tanto mesmo, de mandar no PS.
Leituras
1. Pedro Correia, "Mais democracia, mais cidadania" (Forte Apache, 22.9.2012).
2. Tavares Moreira, "Contas externas" (Quarta República, 22.9.2012).
3. Paulo Pinto Mascarenhas, "Descubra as diferenças" (ABC do PPM, 22.9.2012).
2. Tavares Moreira, "Contas externas" (Quarta República, 22.9.2012).
3. Paulo Pinto Mascarenhas, "Descubra as diferenças" (ABC do PPM, 22.9.2012).
Oito horas
A reunião do Conselho de Estado, como se sabe, perdeu parte da sua relevância e urgência ao longo desta semana, mas mesmo assim durou oito longas horas. Grosso modo, o tempo equivalente a quatro maratonas...
Terá terminado por exaustão, ou alguém foi repondo as garrafas de água e os pratos com bolos secos?
Oito horas de conversa e, em larga medida, o assunto estava antecipadamente arrumado. Imagine-se se não estivesse.
Moral da história?
Constato que Aníbal Cavaco Silva convoca com pouca frequência o Conselho de Estado. Nos períodos entre as reuniões do Conselho de Estado, aparentemente os seus membros vão tomando nota dos assuntos que querem abordar no próximo encontro com o Presidente da República. Ainda por cima todos têm imensa coisa para dizer e para desabafar, e ninguém prescinde de o fazer. O resultado é um engarrafamento de oito longas horas e uma enorme fome no final. Felizmente existe o micro-ondas para aquecer o jantar.
P.S. -- Senhor Presidente, queira V. Excia. por favor marcar reuniões regulares e com maior frequência do Conselho de Estado de modo a evitar estes autênticos testes de resistência física. Se necessário, crie uma comissão de acompanhamento, ou um secretariado de apoio ao Conselho de Estado. Sugere-se igualmente a contratação de serviço de catering para o jantar, ou em alternativa, se não houver orçamento para isso, que um assessor passe a ir ao McDonald's num instante comprar hamburgueres para os senhores conselheiros. Austeridade, sim; dieta forçada, não.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Formas pouco subtis de deslegitimação
"As pessoas votaram sobretudo contra Sócrates. Não votaram por Passos Coelho", diz o filósofo-sol José Gil em entrevista publicada no Jornal de Negócios.
Não sei como é que José Gil sabe tantos detalhes de natureza sociológica sobre o modo como se processou o sentido de voto dos portugueses em 2011. Imagino que deve ter tido acesso, muito provavelmente, a um estudo científico não publicado -- não liguem à contradição -- e possivelmente por traduzir ainda. Não se trata de conversa de café, de certeza absoluta, porque o homem da não-inscrição prima por análises um pouco mais sofisticadas do que isso. Conversa de taxista também não é porque a Anabela Mota Ribeiro, tanto quanto me lembro, não costuma entrevistar o mexilhão para o Jornal de Negócios.
O filósofo-sol tem toda a razão em especificar que as "pessoas" votaram em Passos Coelho, mas não era bem isso que queriam fazer. Já todas as outras "pessoas" votaram de forma consciente e deliberada. Quem votou no BE, PCP, PS (e no CDS, pronto, estou a ser democrata) sabia muito bem o que estava a fazer. As "pessoas" que votaram no PSD é que foi um pouco sem querer. Por mim, os boletins de voto deviam passar a ter no verso um campo para observações em que cada uma das "pessoas" deveria mencionar, por imperativo de consciência, as suas objecções à sua própria escolha. Esses votos, aliás, só deviam contar metade. A democracia não-inscrita é assim. Há votos de primeira e votos de segunda. Há líderes eleitos cuja legitimidade democrática é indiscutível, e depois há os outros, cuja legitimidade está ferida de morte porque, no fundo, as "pessoas" não os escolheram de verdade.
Leituras
1. Francisco Teixeira, "António Capucho" (União de Facto, 21.9.2012).
2. Bruno Faria Lopes, "Uma medida impossível de vender, mas que deveria obrigar a pensar" (i, 21.9.2012).
2. Bruno Faria Lopes, "Uma medida impossível de vender, mas que deveria obrigar a pensar" (i, 21.9.2012).
Game over
"Foram anunciadas medidas muito duras e, portanto, temos que compreender, de facto [os protestos de rua]. Mas nenhuma medida, até este momento, foi aprovada", afirmou Aníbal Cavaco Silva. "Não podemos deixar de ouvir o país", acrescentou o Presidente da República.
Não há, portanto, qualquer dúvida que as alterações à TSU, tal como inicialmente propostas pelo Governo, estão politicamente mortas. Veremos qual vai ser a alternativa.
Não há, portanto, qualquer dúvida que as alterações à TSU, tal como inicialmente propostas pelo Governo, estão politicamente mortas. Veremos qual vai ser a alternativa.
Get your act together
Aparentemente, apesar de alguns sinais que ainda persistem de desorientação estratégica, o Governo começa a conquistar alguma serenidade. Boas notícias, portanto.
A demissão
Pedro Passos Coelho equacionou a possibilidade de se demitir. O interesse nacional acabou por prevalecer. Ainda bem.
Uma dúvida
Se a crise política em curso ocorre a nível governamental, a que propósito é que se responde no plano partidário?
Uma voz sensata
"Houve eleições há um ano em Portugal, essa maioria está legitimada para governar, tem de se entender, sob pena de não atenderem aos interesses do país. O país precisa de estabilidade", disse Luís Amado. Uma crise política entre os partidos da coligação do Governo neste momento seria uma "irresponsabilidade", referiu igualmente o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
Isto é tudo tão óbvio que entra pelos olhos dentro. Dito isto, não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Nos últimos 15 dias o Governo estoirou estupidamente grande parte do seu capital político. O desafio, a partir de agora, é ultrapassar a crise política, custe o que custar. O caminho?
Recuar na TSU (em curso), encontrar um ponto de equilíbrio na coligação e, para esse feito (mas não só), remodelar o Governo. A remodelação governamental, espero, não deve ser um exercício tecnocrático, mas sim político. Se não houver gente no Governo a pensar estratégia política não será seguramente o conselho de coordenação da coligação que a salvará da próxima crise.
Isto é tudo tão óbvio que entra pelos olhos dentro. Dito isto, não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Nos últimos 15 dias o Governo estoirou estupidamente grande parte do seu capital político. O desafio, a partir de agora, é ultrapassar a crise política, custe o que custar. O caminho?
Recuar na TSU (em curso), encontrar um ponto de equilíbrio na coligação e, para esse feito (mas não só), remodelar o Governo. A remodelação governamental, espero, não deve ser um exercício tecnocrático, mas sim político. Se não houver gente no Governo a pensar estratégia política não será seguramente o conselho de coordenação da coligação que a salvará da próxima crise.
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Uma mão cheia de nada [2]
As direcções do PSD e do CDS decidiram criar um conselho de coordenação da coligação. Em suma, o PSD não sabia o que fazer, ou como reagir, para além da convocatória formal dos órgãos do partido. No final, a montanha pariu um rato e, goste-se ou não, de momento o desnorte político do PSD é impossível de disfarçar.
Uma perda de tempo
Tudo isto me parece um exercício politicamente inócuo e incompreensível do ponto de vista da opinião pública. Acresce que a ausência de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas transforma o encontro numa encenação sem substância.
Ou será que estou a ver mal?
Uma mão cheia de nada [1]
"A nossa alternativa já não é apenas uma alternativa de Governo. É também uma alternativa de regeneração do regime democrático", disse António José Seguro.
Infelizmente, ficou por concretizar no que consistiria essa regeneração. Não convém, aliás, ser muito detalhado porque se o fosse perderia votos e, eventualmente, o controlo do PS. Fiquemos, portanto, pelo sound bite. Soa bem e não compromete ninguém.
Infelizmente, ficou por concretizar no que consistiria essa regeneração. Não convém, aliás, ser muito detalhado porque se o fosse perderia votos e, eventualmente, o controlo do PS. Fiquemos, portanto, pelo sound bite. Soa bem e não compromete ninguém.
Um acordo parlamentar?
José Pacheco Pereira afirma que era benéfico para Portugal que a coligação governamental fosse substituída por um "acordo parlamentar" com incidência no memorando da troika. Ou seja, se é esta a opinião de Pacheco Pereira, nesse caso já sabemos que o Governo deve fazer tudo menos isso.
Pingue-pongue político
A comissão política do PSD transferiu para o CDS a responsabilidade pelo êxito ou pelo fracasso da coligação. Como é óbvio, o PSD está a colocar o CDS entre a espada e a parede. Ou seja, o PSD quer que o CDS também pague um preço pela crise política. Se chover molham-se todos?
A reunião
Algo me diz que o encontro de Vítor Gaspar com Wolfgang Schaeuble em Berlim terá sido muito mais importante do que aquilo que foi narrado na comunicação social portuguesa. No mínimo, Gaspar terá sondado Schaeuble para perceber em que medida Portugal tem espaço para rever algumas das medidas anunciadas pelo Governo português, como por exemplo as alterações na TSU. Adicionalmente, o desembolso da próxima tranche em Outubro terá também sido motivo de conversa. Estou a especular, obviamente, mas Gaspar não foi a Berlim para dizer apenas as banalidades que foram proferidas para os jornalistas ouvirem.
Wishful thinking
José Medeiros Ferreira considera que o actual Governo está esgotado. É claro que não se trata de análise política, mas de um desejo. De um desejo e de um gesto de fidelidade política. Medeiros Ferreira apoia sempre Soares, mesmo nos erros políticos, como se sabe.
Inacreditável
Impressionante e preocupante ao mesmo tempo. No momento mais difícil do PSD nos últimos 15 meses, o PS consegue a proeza impossível de mesmo assim descer nas intenções de voto. O partido dos brancos/nulos é quem muito beneficia com o descontentamento dos eleitores, algo que não deixa de ser também politicamente relevante. O PSD atravessa um mau momento, mas nada está perdido. A procissão ainda vai no adro.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Podia ter sido evitado, mas não foi
"Admito que se podia ter sido mais previdente", reconhece João Cravinho. O antigo ministro de António Guterres reconhece igualmente que ocorreram "erros graves" na previsão de tráfego -- "monumentalmente errada" -- na concessão ferroviária da Fertagus. Mais. Admite, que esse "erro podia ter sido evitado".
O resultado?
O Estado português pagou 250 milhões de euros nas PPP ferroviárias por falhar previsões de tráfego. Dito de outra maneira, nós contribuintes e cidadãos pagámos 250 milhões de euros porque Cravinho, utilizando as suas palavras, não foi prudente e previdente, como era a sua obrigação, o que o levou a cometer um erro que era evitável.
O mais espantoso é que a sua carreira política não terminou nessa altura. Seguiu-se o regresso ao Parlamento e depois o salto para o BERD. Mais. Apesar de tudo isto, a comunicação social continua a dar-lhe tempo de antena. Repito: só nas PPP ferroviárias foram 250 milhões de euros.
P.S. -- Quanto a PPP, falta o resto, cuja conta não desaparecerá por milagre.
O resultado?
O Estado português pagou 250 milhões de euros nas PPP ferroviárias por falhar previsões de tráfego. Dito de outra maneira, nós contribuintes e cidadãos pagámos 250 milhões de euros porque Cravinho, utilizando as suas palavras, não foi prudente e previdente, como era a sua obrigação, o que o levou a cometer um erro que era evitável.
O mais espantoso é que a sua carreira política não terminou nessa altura. Seguiu-se o regresso ao Parlamento e depois o salto para o BERD. Mais. Apesar de tudo isto, a comunicação social continua a dar-lhe tempo de antena. Repito: só nas PPP ferroviárias foram 250 milhões de euros.
P.S. -- Quanto a PPP, falta o resto, cuja conta não desaparecerá por milagre.
As coisas são como são
O PS não apresenta uma proposta, uma solução, que lhe possa tirar um voto. Na narrativa do PS não há espaço para más notícias. A austeridade é uma palavra maldita. Com o PS, aparentemente, não se cobrava impostos, não se cumpria o que foi acordado com a troika. O PS esconde dos portugueses o que faria para cumprir os compromissos assumidos interna e externamente. O PS joga com o silêncio e a omissão. Assim sendo, parece-me claro que, por agora pelo menos, o PS não merece o voto dos portugueses.
Leituras
1. Pedro Correia, "A importância de ter memória" (Delito de Opinião, 19.9.2012).
2. António Costa, "Há austeridade e austeridade" (Diário Económico, 19.9.2012).
2. António Costa, "Há austeridade e austeridade" (Diário Económico, 19.9.2012).
Um exemplo típico...
... de confusão entre coerência e soberba. De um ponto de vista institucional não lhe fica bem a sua atitude. Mas, enfim, ninguém perde um segundo de sono com isso. Siga.
Wait and see [3]
Passos recua e negoceia nova versão da TSU, afirma o Diário de Notícias. A confirmar-se poderá ser uma boa notícia. Em breve saberemos se, de facto, estamos perante um primeiro passo para resolver a crise instalada, ou se Pedro Passos Coelho continua a resistir a alterações significativas. Dito de outra maneira, nos próximos dias saberemos se o recuo é verdadeiramente substantivo. Dificilmente será eficaz se não o for. Em todo o caso, parece-me indiscutível que as coisas estão a mexer nos bastidores. Com um pouco de bom senso e de pragmatismo, estou certo que se encontrará uma fórmula que permita manter a estabilidade política e social.
Faltam ministros para o combate político
Nem tudo, felizmente, é negativo nas crises políticas. Momentos como o actual são uma oportunidade única para observar a reacção e a resposta de pessoas e procedimentos. As crises expõem os pontos fracos e fortes do Governo, algo que não seria possível testar numa situação de normalidade.
Ora, uma das lições a retirar desta crise é que Pedro Passos Coelho está politicamente desacompanhado. Nos dias mais difíceis os ministros desapareceram do radar. Houve uma única excepção, que tenha notado: José Pedro Aguiar-Branco. O ministro da Defesa foi o único que, apesar de não ser particularmente eficaz, não se encolheu e foi à luta em defesa do Governo. Fica, portanto, a lição: Quando ocorrer uma nova crise, e ela ocorrerá, mais tarde ou mais cedo, uma vez mais o Primeiro-Ministro não terá ministros para o acompanhar e apoiar no combate político. Algo a ter em conta igualmente na futura remodelação governamental.
Ora, uma das lições a retirar desta crise é que Pedro Passos Coelho está politicamente desacompanhado. Nos dias mais difíceis os ministros desapareceram do radar. Houve uma única excepção, que tenha notado: José Pedro Aguiar-Branco. O ministro da Defesa foi o único que, apesar de não ser particularmente eficaz, não se encolheu e foi à luta em defesa do Governo. Fica, portanto, a lição: Quando ocorrer uma nova crise, e ela ocorrerá, mais tarde ou mais cedo, uma vez mais o Primeiro-Ministro não terá ministros para o acompanhar e apoiar no combate político. Algo a ter em conta igualmente na futura remodelação governamental.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Sem recurso a eleições antecipadas
Mário Soares considera que o Governo de Pedro Passos Coelho está "moribundo" e sugere que o Presidente da República nomeie um novo Governo sem recurso a eleições antecipadas.
Um comentário?
Enfim, não há muito para dizer. A liberdade de expressão inclui também o direito ao disparate. Soares, de vez em quando, gosta de mostrar que não prescinde dos seus direitos.
Um comentário?
Enfim, não há muito para dizer. A liberdade de expressão inclui também o direito ao disparate. Soares, de vez em quando, gosta de mostrar que não prescinde dos seus direitos.
Um país sem rumo
Filipe de Botton, a alma gémea de Alexandre Relvas, decidiu envolver-se no combate político ao afirmar que Portugal é hoje um país sem rumo. Tem todo o direito e toda a legitimidade para o fazer, naturalmente. Mas que fique registado em acta, para memória futura a sua opinião. Aparentemente, não aproveitou a oportunidade para esclarecer qual o rumo que propunha. Azar nosso.
Wait and see [2]
Segundo o Jornal de Negócios, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas reuniram-se ontem à tarde, imagino que para começar a colar os cacos e a desenhar uma saída para o impasse instalado. Não sei se o tema da remodelação esteve em cima da mesa, mas mais tarde ou mais cedo terá de estar.
Em tempos de guerra...
...não se limpam armas? O PSD está empenhado em garantir que o CDS não passará pelos pingos de chuva sem se molhar?
Um Governo minoritário?
A edição do Público de hoje afirma que "no interior do PSD e do Governo, há a noção de que a coligação pode romper, passando o CDS a dar apenas apoio ao Governo na Assembleia da República e negociando parlamentarmente medida a medida". Na semana passada, recordo, o Público já lançara esta hipótese que supostamente teria sido defendida no interior do CDS.
Na notícia de hoje não percebi muito bem se se recicla apenas a informação da semana passada, ou se agora essa hipótese também tem apoiantes no PSD. Seja como for, devo dizer que duvido muito -- em bom rigor, não acredito nada -- que tal hipótese tenha pernas para andar. Nem discuto se seria aconselhável. Pura e simplesmente, parece-me inviável.
Acresce que se lançam estas hipóteses para o ar sem se parar um segundo para pensar se tal cenário passaria no crivo de Belém. Depois da experiência minoritária de José Sócrates, estou absolutamente convencido que o Presidente da República mais facilmente convocaria novas eleições do que daria posse a um novo Governo minoritário. Não estou a dizer que tal é impossível, mas parece-me muito improvável.
Na notícia de hoje não percebi muito bem se se recicla apenas a informação da semana passada, ou se agora essa hipótese também tem apoiantes no PSD. Seja como for, devo dizer que duvido muito -- em bom rigor, não acredito nada -- que tal hipótese tenha pernas para andar. Nem discuto se seria aconselhável. Pura e simplesmente, parece-me inviável.
Acresce que se lançam estas hipóteses para o ar sem se parar um segundo para pensar se tal cenário passaria no crivo de Belém. Depois da experiência minoritária de José Sócrates, estou absolutamente convencido que o Presidente da República mais facilmente convocaria novas eleições do que daria posse a um novo Governo minoritário. Não estou a dizer que tal é impossível, mas parece-me muito improvável.
Wait and see [1]
Governo deverá recuar na TSU durante Conselho de Estado, refere o Diário Económico. Veremos se se confirma e qual é a fórmula do recuo. A confirmar-se, então estaremos perante um primeiro passo que poderá permitir resolver a crise instalada. Mas falta o resto. E o resto é a remodelação do Governo e a resolução da crise na coligação. Ou seja, a remodelação terá de servir para recalibrar a relação com o CDS. Paulo Portas não pode continuar como ministro dos Negócios Estrangeiros. O pecado original tem de ser reparado, i.e. Portas tem de assumir uma pasta a 'doer', de preferência vice-PM, ou ministro da Presidência (o que resolve o problema da grelha de incentivos de que aqui falei). Caso contrário o Governo será sempre instável.
As notícias sobre a minha morte...
...são manifestamente exageradas, terá dito um dia Mark Twain. De facto, como nota Luis Novaes Tito -- e aproveito para agradecer as palavras simpáticas --, o ocaso dos blogues já foi decretado inúmeras vezes, mas eles insistem em não desaparecer.
Comecei a blogar em Junho 2003 e durante muito tempo mantive um blogue individual. A determinada altura cansei-me e fiz uma pausa. Depois experimentei participar em blogues colectivos. Não é a mesma coisa. Nada contra, mas não é o registo em que me sinto mais confortável. Experimentei o Facebook. Desisti. Não gosto. Experimentei o Twitter. Gosto, mais ou menos. Regressei ao blogue individual. É, muito claramente, a minha onda.
Em retrospectiva, umas vezes acerta-se, outras erra-se e, de vez em quando, escrevem-se alguns disparates. Felizmente, em nove anos de escrita em blogues, há apenas um assunto sobre o qual escrevi e que me arrependo. Há assuntos sobre os quais escrevi e que hoje não escreveria, ou que escreveria de forma diferente. Mas há um único assunto sobre o qual escrevi de que me arrependo. Ossos do ofício.
Regressando à decadência dos blogues, ou da blogosfera política, acho que é puro engano. Neste último mês, tal como sempre aconteceu desde 2003, encontro na blogosfera ângulos de leitura e análises interessantes, bem como uma pluralidade de opiniões.
É claro que os blogues não são um fenómeno de massas e o público é quantitativamente limitado. Mas isso interessa-me muito pouco. Diria, aliás, que é uma característica que me agrada. Afinal, tal como os entendo, os blogues são apenas uma forma de intervenção no espaço público e um hobby. Nada mais.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Nada a perder?
Vejo nos blogues e na comunicação social algumas intervenções segundo as quais PSD e CDS não têm nada a ganhar em estimular uma crise política porque os dois pagarão um preço severo se houver eleições antecipadas. Ou seja, a punição eleitoral será simétrica e devastadora para os dois partidos.
Parece-me que estão a ver mal o filme. Não é de todo seguro para mim que o PSD não seja punido de forma desproporcional, e que o CDS acabe por ser relativamente poupado pelo eleitorado. As sondagens, aliás, confirmam que a queda de popularidade tem sido notória no caso do PSD, mas o mesmo não se passa com o CDS.
Ora, isto significa que os dois partidos não têm necessariamente interesses convergentes na manutenção da coligação. Não estou a dizer que o CDS pretende derrubar o Governo. O que estou a dizer é que, do ponto de vista do CDS, a queda do Governo não é necessariamente um drama.
É claro que estamos no domínio das hipóteses e, no final, o saldo pode não ser exactamente aquele que o CDS esperava. Mas, dito isto, parece-me evidente que uma crise política apresenta maiores riscos para o PSD do que para o CDS.
Esta conversa toda para salientar que a grelha de incentivos é diferente. Pedro Passos Coelho não tem qualquer interesse em precipitar novas eleições legislativas. O PSD, nesta fase, precisa de tempo. Já o CDS encara a possibilidade de novas eleições como um risco, claro, mas não como uma fatalidade.
Consequentemente, a forma como um e outro se comportam na actualidade é diferente. O CDS pode assumir o papel de parceiro endiabrado. O PSD, porém, tem assumir a função de parceiro responsável. Consequentemente o PSD tem de suportar todas as diabruras do CDS, por muito que isso lhe custe.
Leituras
1. Pedro Santos Guerreiro, "Esta história não acaba assim" (Jornal de Negócios, 17.9.2012).
2. António Costa, "Governo perdeu o País, o País pode perder a 'troika'" (Diário Económico, 17.9.2012).
2. António Costa, "Governo perdeu o País, o País pode perder a 'troika'" (Diário Económico, 17.9.2012).
Delírio
António Capucho considera que poderá vir a ser necessário um governo de salvação nacional, mas sem Pedro Passos Coelho (ver jornal i). O antigo conselheiro de Estado continua a revelar problemas de digestão mal resolvidos. Nada que o tempo não resolva.
Uma dúvida
Quem são os conselheiros de Pedro Passos Coelho? Quem pensa, com ele, estratégia política, dentro e fora do Governo? Há um grupo ou uma estrutura de reflexão, ainda que informal, que se reuna regularmente?
Qual a finalidade?
Algo me diz que, ao convocar os seus principais órgãos dirigentes, o PSD -- e Pedro Passos Coelho, uma vez que tal não sucederia sem o seu aval -- poderá ter acrescentado mais um erro à lista de erros dos últimos dias. Em vez de desvalorizar a atitude do CDS, o PSD fez o contrário. E ao entrar por esse caminho, a não ser que se prepare para recuar na TSU, aceitou as regras de um jogo em que só pode perder. Enquanto principal partido da coligação, o PSD não pode adoptar uma estratégia de guerrilha com o CDS. Isto porque uma escalada na crise nacional e na crise na coligação -- levando eventualmente ao lançamento da bomba atómica da dissolução do Governo -- não serve os seus interesses. Se serve, não estou a ver como.
Tanto quanto consigo perceber, é do interesse do PSD exactamente o contrário, i.e. desactivar a crise e regressar se possível à normalidade. Ora, repito, a não ser que se prepare para recuar na TSU, não vejo em que medida é que a convocação dos principais órgãos dirigentes do PSD se insere numa estratégia de pacificação política.
Confesso que não percebo. Falha minha, porventura.
Remodelação
Está instalada a percepção de que é necessária -- urgente? -- uma remodelação governamental. Este consenso aponta para a substituição de alguns ministros e secretários de Estado, bem como para alguns ajustamentos quanto à orgânica do Governo em pelo menos dois ministérios.
Pessoalmente julgo que tão ou mais importante do que isso é a necessidade de uma remodelação -- recomposição, reformulação, your choice -- do gabinete do Primeiro-Ministro. Há qualquer coisa que não funciona. Não sei exactamente o quê, se se trata da equipa na sua actual forma ou de procedimentos, mas os resultados dos últimos dias não deixam margem para dúvidas.
Pessoalmente julgo que tão ou mais importante do que isso é a necessidade de uma remodelação -- recomposição, reformulação, your choice -- do gabinete do Primeiro-Ministro. Há qualquer coisa que não funciona. Não sei exactamente o quê, se se trata da equipa na sua actual forma ou de procedimentos, mas os resultados dos últimos dias não deixam margem para dúvidas.
domingo, 16 de setembro de 2012
Confiança
Na pequena estória, são inevitáveis os juízos de valor sobre o comportamento de Paulo Portas e de Pedro Passos Coelho, um em relação ao outro, bem como sobre a atitude de Passos Coelho em relação a António José Seguro, informando-o apenas uma hora antes de anunciar medidas com impacto sísmico. Passos Coelho, recorde-se, que no passado se queixou da forma como José Sócrates se comportou em relação a si, aparentemente decidiu fazer a mesma coisa em relação ao actual líder do PS.
No quadro mais vasto, todavia, esta pequena estória não passa de espuma. O que fica de substantivo desta última semana e pouco é um rombo irrecuperável na relação de confiança entre Passos Coelho e Portas. A relação poderia não ser muito boa, não sei, mas a partir de agora é estritamente formal e institucional. Uma péssima notícia e a crise ainda não terminou...
No quadro mais vasto, todavia, esta pequena estória não passa de espuma. O que fica de substantivo desta última semana e pouco é um rombo irrecuperável na relação de confiança entre Passos Coelho e Portas. A relação poderia não ser muito boa, não sei, mas a partir de agora é estritamente formal e institucional. Uma péssima notícia e a crise ainda não terminou...
Interrogo-me se Pedro Passos Coelho...
...ainda continua a pensar que foi boa ideia 'dar' a Paulo Portas, tal como ele queria, a pasta dos Negócios Estrangeiros?
A coligação...
...está ligada à máquina. Quem diria que seria necessária respiração assistida ao fim de pouco mais de um ano de Governo?
Recuar não é nenhum drama
Recuar na questão da TSU não é nenhuma tragédia política. Aliás, tanto quanto possível, Pedro Passos Coelho até pode sair por cima de tudo isto. Para isso tem de dizer aos portugueses que não foi insensível ao que se passou nos últimos dias e que, preferindo outra solução, em nome de um bem superior e de um consenso mínimo nacional, de forma humilde e democrática, optou por aceitar trilhar outro caminho. Caminho esse que previamente assegurara ter um base de apoio político minimamente consistente. O PS reclamaria por certo uma vitória estrondosa (na verdade seria péssimo para o PS), mas aposto que ao mesmo tempo não faltariam elogios, merecidos, ao pragmatismo de Passos Coelho. Ainda vai a tempo, se prevalecer o bom senso.
As alternativas [2]
Regresso à questão das alternativas. Seria importante, diria até que é uma questão de interesse nacional, conhecer as alternativas propostas pelo CDS. Há alternativas e temos de as discutir conjuntamente: Governo, Parlamento, parceiros sociais, e cidadãos.
Também não existiam alternativas à construção do novo aeroporto na Ota, recordam-se?
Também não existiam alternativas à construção do novo aeroporto na Ota, recordam-se?
sábado, 15 de setembro de 2012
Saber ler as manifestações
Espero que o Primeiro-Ministro saiba tirar as devidas ilacções das manifestações de hoje. Ele e os restantes intervenientes políticos. Sem demagogias e com muito bom senso.
Mais rápido do que a própria sombra
A nossa imprensa é o máximo. É por isso que deve ser consumida com moderação, caso contrário pode fazer mal à saúde. O CDS saiu do Governo (Público de ontem) e voltou a entrar (Expresso de hoje) no espaço de 24 horas. Tudo tão rápido que nem houve tempo para qualquer crise política. Um luxo ao alcance apenas do parceiro mais pequeno de uma coligação.
Um tiro no escuro
O PS está preparado para governar, esclarecia ontem Eurico Brilhante Dias. Está preparadíssimo, digo eu. Nós é que, por culpa nossa, desconhecemos as propostas do PS para nos tirar do atoleiro em que o PS nos meteu. Seria uma espécie de reinício, depois de uma curta interrupção, com os suspeitos do costume. Isto dito, tenho uma pequena dúvida que não me sai da cabeça: Se na primeira vez correu mal, o que leva alguém a pensar que na segunda correria melhor?
Sejamos claros. O PS está a anos-luz de estar preparado para ser o que quer que seja. O partido ainda nem se conseguiu livrar dos acólitos de Sócrates e quer ser alternativa?
É com o actual Governo que temos de nos entender e de encontrar soluções e alternativas. Custe o que custar, como diria alguém...
Sejamos claros. O PS está a anos-luz de estar preparado para ser o que quer que seja. O partido ainda nem se conseguiu livrar dos acólitos de Sócrates e quer ser alternativa?
É com o actual Governo que temos de nos entender e de encontrar soluções e alternativas. Custe o que custar, como diria alguém...
Não me quero tornar...
...repetitivo, armado em treinador de bancada, mas repito aquilo que ando a dizer há largos dias: É urgente resolver o hiato, que todos os dias cresce, entre a narrativa oficial e a realidade.
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Convite irrecusável
O Presidente da República Aníbal Cavaco Silva convidou o ministro das Finanças Vítor Gaspar para a reunião do Conselho de Estado. Há convites que mais parecem convocatórias para ir a tribunal...
A voz do Presidente
Como seria normal, multiplicam-se os apelos à intervenção do Presidente da República. Concordo. Com o que não concordo é que o Presidente, neste momento, deva desde já fazer ouvir publicamente a sua voz. A não ser que o Presidente disponha de dados que desconheço, julgo que tem muito tempo para falar. Este é um momento de trabalho de bastidores e não de intervenções públicas sem substância ou mal preparadas.
Leituras
1. Pinho Cardão, "As medidas do Governo e Kant: não basta a razão pura, um juízo moral é necessário" (Quarta República, 14.9.2012).
2. Tavares Moreira, "Guerra da TSU: não haverá alternativa? Ora vejamos..." (Quarta República, 14.9.2012).
3. Helena Garrido, "Políticos, precisam-se" (Jornal de Negócios, 14.9.2012).
4. António Costa, "Passos tem a chave da crise política" (Diário Económico, 14.9.2012).
2. Tavares Moreira, "Guerra da TSU: não haverá alternativa? Ora vejamos..." (Quarta República, 14.9.2012).
3. Helena Garrido, "Políticos, precisam-se" (Jornal de Negócios, 14.9.2012).
4. António Costa, "Passos tem a chave da crise política" (Diário Económico, 14.9.2012).
As alternativas
Na entrevista de ontem de Pedro Passos Coelho houve uma questão que não foi colocada (se foi colocada não reparei). Julgo que Vítor Gaspar também não o explicitou nas suas recentes intervenções. É, porventura, a questão crucial, ainda que Passos Coelho, por agora, recuse recuar nas medidas. Sejamos claros: Recuará, se prevalecer o bom senso, e se as circunstâncias a isso o obrigarem. Os custos políticos é que, entretanto, vão subindo.
E a questão crucial, a pergunta que vale um milhão de euros, é esta: Na altura em que Vítor Gaspar decidiu que seria na TSU que o Governo iria mexer, quais foram as alternativas que ficaram pelo caminho? Havia alternativas, i.e. foram tidas em conta outras opções, correcto?
Igualmente importante: Por que motivo foram abandonadas? Quais eram os prós e os contras?
Conhecidas as alternativas, mais tarde ou mais cedo António José Seguro terá de dizer qual dessas opções, do seu ponto de vista, é a mais aceitável. A menos má, digamos. O PS não poderá seguramente dizer que nenhuma é aceitável, sem pagar um preço político por isso.
É fundamental conhecer os estudos que sustentaram a decisão de mexer na TSU, mas também, insisto, as alternativas. Este é o ponto de partida para ultrapassar o actual impasse político. Caso contrário estaremos a perder tempo precioso e a situação política continuará a degradar-se num caminho sem retorno.
Em suma: O Governo importa-se de divulgar quais eram as alternativas às alterações na TSU?
Os deputados do PSD devem votar contra o OE?
Já aqui fiz referência à entrevista de Manuela Ferreira Leite e ao facto de, aqui e ali, ter feito algumas observações com que concordei. É claro que Ferreira Leite faz sempre questão de recordar por que motivo é um desastre político. O seu apelo à insurreição dos deputados do PSD é, no mínimo, cómica. Que saiba, a votação de um Orçamento do Estado (OE) não é uma matéria de consciência. Acresce que ainda por cima as alterações à TSU constavam do programa eleitoral do PSD. Não há, por isso, qualquer legitimidade política que permita aos deputados furar a disciplina de voto. Isto não quer dizer que os deputados não possam, ou não devam, manifestar a sua discordância nas próximas semanas. Isto dito, se Pedro Passos Coelho insistir em alterar a correlação das contribuições dos trabalhadores e das empresas -- espero que o bom senso acabe por triunfar -- nesse caso os deputados não têm outra alternativa senão, mesmo assim, votar a favor do OE para 2013 e adicionar a tradicional declaração de voto.
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Medo
Dezenas ou centenas de milhar de trabalhadores precários. Dezenas ou centenas de milhar de trabalhadores que auferem o salário mínimo. Cerca de 16% de desempregados. Dezenas ou centenas de milhar de pessoas cujas contas bancárias têm pouco valor.
Pedro Passos Coelho acha que estas pessoas têm medo se financeiramente Portugal for ao fundo? O que é estes portugueses têm a perder em não aceitar um aumento de 7% da TSU?
Leituras
1. Luís Rosa, "É preciso travar a engorda do porco" (i, 13.9.2012).
2. Tavares Moreira, "Austeridade: a questão económica e a questão orçamental" (Quarta República, 13.9.2012).
2. Tavares Moreira, "Austeridade: a questão económica e a questão orçamental" (Quarta República, 13.9.2012).
Liberdade e massa crítica
Alguém me poderia fazer o favor de lembrar, no período entre 2005 e 2011, altura em que José Sócrates foi Primeiro-Ministro, quem é que no PS ousou manifestar discordância em público?
Julgo que consigo contar os nomes todos com os dedos de uma mão.
No PSD, contudo, a discordância manifesta-se sem medo de retaliações e sem calculismos. Não por todos, obviamente. Mas mesmo assim por um número significativo de simpatizantes e de militantes. Isto é uma força ou uma fraqueza?
Uma força, claro. Se o PS tivesse mostrado a mesma independência e a mesma liberdade de espírito em relação a José Sócrates, em vez da subserviência em que mergulhou, o tempo e o dinheiro que nós teríamos poupado com disparates que hoje estamos a pagar muito caro.
É por isso que não me incomodam nada as intervenções críticas em relação ao Governo oriundas do PSD ou da sua periferia, independentemente das suas motivações. Estas constituem uma enorme e valiosa massa crítica. Ao Governo apenas se pede que saiba tirar partido dela.
E o PS, o que propõe?
Gostemos ou não das medidas anunciadas nos últimos dias, a verdade é que o Governo apresentou um caminho para 2013. Não faz nenhum favor, note-se. Foi eleito para isso.
Isto dito, o PS bate no peito, rejeita as soluções propostas pelo Governo, mas nada apresenta como alternativa de forma detalhada e quantificada. É pouco e pouco credível. Como seria um OE para 2013 desenhado pelo PS? Quais as soluções? Onde é que o PS cortaria?
É isso que nós, cidadãos, gostaríamos de saber. Caso contrário, podemos não gostar das medidas do Governo, mas será com este Governo que nos teremos de entender.
Isto dito, o PS bate no peito, rejeita as soluções propostas pelo Governo, mas nada apresenta como alternativa de forma detalhada e quantificada. É pouco e pouco credível. Como seria um OE para 2013 desenhado pelo PS? Quais as soluções? Onde é que o PS cortaria?
É isso que nós, cidadãos, gostaríamos de saber. Caso contrário, podemos não gostar das medidas do Governo, mas será com este Governo que nos teremos de entender.
Caro Pedro,
Um conselho amigo de alguém que votou em ti em 2011 e que, se as eleições legislativas fossem hoje, apesar de alguns erros cometidos no último ano, voltava a votar em ti. Na entrevista que vais conceder logo à noite, começa a preparar o terreno para recuares. Nunca te esqueças: When you're in a hole, stop digging.
Um abraço,
Paulo
Um abraço,
Paulo
Um enigma
Tenho evitado pronunciar-me sobre o CDS. O desejo político que aqui proferi, aparentemente, não aconteceu. Se não aconteceu é grave. O CDS é parceiro de coligação e não um mero apêndice que assina por baixo tudo o que lhe puserem à frente. Se aconteceu é grave de igual modo, porque nesse caso o CDS estava a par de tudo, mas está a fazer um jogo duplo inadmissível, com um pé dentro e outro de fora. Veremos o que acontece depois das reuniões dos órgãos sociais do CDS. Veremos qual é a realidade à medida que surgir mais informação.
Nunca na minha vida...
...me passou pela cabeça que alguma vez poderia estar de acordo com Manuela Ferreira Leite. A vida prega-nos partidas quando menos esperamos. Mas essa concordância aconteceu, por diversas vezes, enquanto escutava a sua entrevista à TVI24. É a vida.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Algo não testado
Vítor Gaspar, Outubro de 2011:
"A redução da TSU funciona muito bem no quadro dos modelos que se usam na universidade, mas ainda não foi usada deliberadamente por nenhum país para ganhar competitividade. É algo não testado".
Repito, algo não testado, como o próprio reconhece. Porém, de forma imprudente, revelando uma total falta de bom senso, Gaspar quer agora testar algo que terá resultados imprevisíveis. Se, infelizmente, Pedro Passos Coelho não colocar um travão nisto, nesse caso espero que o faça o Presidente da República. Afinal, para alguma coisa servirá a eleição directa do PR e a legitimidade que daí decorre. Aníbal Cavaco Silva teve um primeiro mandato para esquecer. Espero que do segundo se possa fazer um balanço mais positivo. E este poderá vir a ser o momento que o marcará.
"A redução da TSU funciona muito bem no quadro dos modelos que se usam na universidade, mas ainda não foi usada deliberadamente por nenhum país para ganhar competitividade. É algo não testado".
Repito, algo não testado, como o próprio reconhece. Porém, de forma imprudente, revelando uma total falta de bom senso, Gaspar quer agora testar algo que terá resultados imprevisíveis. Se, infelizmente, Pedro Passos Coelho não colocar um travão nisto, nesse caso espero que o faça o Presidente da República. Afinal, para alguma coisa servirá a eleição directa do PR e a legitimidade que daí decorre. Aníbal Cavaco Silva teve um primeiro mandato para esquecer. Espero que do segundo se possa fazer um balanço mais positivo. E este poderá vir a ser o momento que o marcará.
A porta de entrada é também a porta de saída
Vítor Gaspar insiste e reafirma que as alterações na TSU não foram impostas pela troika. Ainda bem. Assim há maior margem de manobra para recuar. Não sei quem se lembrou de mexer na TSU nas actuais circunstâncias, mas há uma coisa que sei. O Primeiro-Ministro é Pedro Passos Coelho e não Vítor Gaspar. Passos Coelho tem apenas de mandar Gaspar refazer as medidas e encontrar novas soluções. Se ele não gostar tem bom remédio.
Leituras
1. Pedro Santos Guerreiro, "As espadas" (Jornal de Negócios, 12.9.2012).
2. Luís Aguiar-Conraria, "Precisarão de ajuda profissional?" (A Destreza das Dúvidas, 11.9.2012).
2. Luís Aguiar-Conraria, "Precisarão de ajuda profissional?" (A Destreza das Dúvidas, 11.9.2012).
Caro Pedro,
Um conselho amigo de alguém que votou em ti em 2011 e que, se as eleições legislativas fossem hoje, apesar de alguns erros cometidos no último ano, voltava a votar em ti.
Dá um passo atrás para depois dares dois em frente. Não mexas no equilíbrio existente entre as contribuições dos trabalhadores e das empresas. É isto, em particular, que está a envenenar tudo. Refaz as medidas. Refaz os cálculos. Encontra outra solução. Preserva a tua base de apoio político e social. Sem ela estás politicamente morto. Preserva um entendimento mínimo na sociedade portuguesa. Sem ele estás condenado ao fracasso. Não te esqueças, em circunstância alguma, que ninguém vence uma guerra contra tudo e contra todos. A teimosia pode ser uma virtude, mas acredita em mim quando te digo que neste caso é suicídio.
O problema não está em nos pedires mais sacrifícios. O problema são os sacrifícios que nos estás a pedir e que nos parecem injustos, imprudentes e com consequências imprevisíveis. Recua, Pedro. Não será nenhuma tragédia política. Não te afundes neste caminho sem retorno em que te estás a meter e que, de caminho, nos leva a todos contigo para o abismo.
Um abraço,
Paulo
Dá um passo atrás para depois dares dois em frente. Não mexas no equilíbrio existente entre as contribuições dos trabalhadores e das empresas. É isto, em particular, que está a envenenar tudo. Refaz as medidas. Refaz os cálculos. Encontra outra solução. Preserva a tua base de apoio político e social. Sem ela estás politicamente morto. Preserva um entendimento mínimo na sociedade portuguesa. Sem ele estás condenado ao fracasso. Não te esqueças, em circunstância alguma, que ninguém vence uma guerra contra tudo e contra todos. A teimosia pode ser uma virtude, mas acredita em mim quando te digo que neste caso é suicídio.
O problema não está em nos pedires mais sacrifícios. O problema são os sacrifícios que nos estás a pedir e que nos parecem injustos, imprudentes e com consequências imprevisíveis. Recua, Pedro. Não será nenhuma tragédia política. Não te afundes neste caminho sem retorno em que te estás a meter e que, de caminho, nos leva a todos contigo para o abismo.
Um abraço,
Paulo
terça-feira, 11 de setembro de 2012
No dia em que os portugueses...
...ficaram a conhecer mais medidas de austeridade, a juntar às que Pedro Passos Coelho já tinha anunciado na semana passada, José Junqueiro, sem qualquer noção do ridículo, opta por se concentrar na politiquice mais inócua e mais pateta possível. Santa paciência.
É impressão minha...
... ou a coligação que sustenta o Governo neste momento não existe? Há outra forma de interpretar o silêncio de Paulo Portas?
Emergência
Pedro Passos Coelho precisa de recuar e de abandonar o caminho suicida em que se meteu. O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, poderia dar uma ajuda, se faz favor?
Há um sentimento de revolta...
...que vai ser muito difícil de controlar e que engloba o próprio eleitorado do PSD. É muito significativo que quase não haja uma intervenção pública em defesa de Pedro Passos Coelho. As pessoas sabiam que 2013 seria um ano difícil e estavam à espera de medidas duras. Mas a percepção de que as medidas anunciadas são injustas e beneficiam as (grandes) empresas em detrimento dos trabalhadores em geral é mortal. Tal como é mortal a percepção de que há aqui uma teimosia do Primeiro-Ministro que não tem sentido do ponto de vista do bem comum.
Vítor Gaspar e Passos Coelho têm muito que explicar.
Vítor Gaspar e Passos Coelho têm muito que explicar.
Um elefante numa loja de cristais
Um dos artistas que nos mandou para o jardim das tabuletas, olha agora para a campa e, com a maior das latas, diz-nos que a sua firma vai protestar contra os sujeitos que fizeram o arranjo de flores que está em cima da campa.
Será que não tem um pingo de vergonha na cara?
Será que não tem um pingo de vergonha na cara?
Alerta amarelo
Na sexta-feira havia jogo de futebol entre o Luxemburgo e Portugal. Quinze minutos antes do início da partida levámos com o martelo-pilão. Hoje é a vez de Portugal jogar com o Azerbaijão. Temo o pior. Não me refiro ao jogo.
Comentários
O Presidente da República, o Primeiro-Ministro e os ministros, regra geral, recusam comentar questões de política nacional/interna no estrangeiro. Como posição de princípio, parece-me uma orientação acertada.
No caso de Miguel Relvas, porém, neste momento ocorre exactamente o contrário. Em Portugal limita ao mínimo possível as suas intervenções públicas e no estrangeiro, aparentemente, diz aquilo que deveria dizer em Lisboa (I, II e III). Um sinal inequívoco da sua actual fragilidade política. Ou seja, em vez de a combater, Miguel Relvas parece apostado em reforçar essa fragilidade. Confesso que é para mim um mistério como é que um político com a sua enorme experiência não percebe isto.
No caso de Miguel Relvas, porém, neste momento ocorre exactamente o contrário. Em Portugal limita ao mínimo possível as suas intervenções públicas e no estrangeiro, aparentemente, diz aquilo que deveria dizer em Lisboa (I, II e III). Um sinal inequívoco da sua actual fragilidade política. Ou seja, em vez de a combater, Miguel Relvas parece apostado em reforçar essa fragilidade. Confesso que é para mim um mistério como é que um político com a sua enorme experiência não percebe isto.
A memória é curta, mas não tanto
O responsável pela nossa actual situação tem um nome e um rosto. Não está cá, mas deixou a conta por pagar. Convém lembrar, ciclicamente. Tal como convém lembrar quem, no PS, foi conivente com o desastre, e agora, como a Fénix, pretende ressurgir das cinzas como se não tivesse tido responsabilidade, por acção ou por omissão, no descalabro.
Um caso de estudo...
...sobre aquilo que não deve ser feito. Se Pedro Passos Coelho tem uma estratégia de comunicação para as redes sociais, confesso que a desconheço. Começo pelos blogues. Passos Coelho tinha especial atenção aos blogues antes das eleições. Chegou, aliás, a organizar diversos encontros com bloggers. Ganhou as eleições e deixou cair, pura e simplesmente, essa vertente da sua comunicação política. No Twitter, tanto quanto sei, sucedeu o mesmo: em Junho de 2011, Passos Coelho desistiu de utilizar este canal. No Facebook o panorama, embora com ligeiras nuances, não difere muito: colocando de parte o texto de sábado, em 2012 Passos Coelho tinha colocado uma -- uma! -- mensagem. Curiosamente, lembrou-se -- ou alguém se lembrou em seu nome -- de colocar a segunda mensagem de 2012 no pior momento...
Tudo isto revela amadorismo e porventura também falta de meios. Mas mais do que isso, mostra que não há qualquer estratégia comunicacional minimamente pensada e coordenada nas redes sociais. Algo me diz que noutras vertentes da comunicação o panorama é igualmente desolador. Inevitavelmente, se Passos Coelho não preenche o espaço, alguém o fará por si e contra si. É a vida.
Tudo isto revela amadorismo e porventura também falta de meios. Mas mais do que isso, mostra que não há qualquer estratégia comunicacional minimamente pensada e coordenada nas redes sociais. Algo me diz que noutras vertentes da comunicação o panorama é igualmente desolador. Inevitavelmente, se Passos Coelho não preenche o espaço, alguém o fará por si e contra si. É a vida.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Juro que não percebo
Mas o problema pode ser apenas meu. Como é que se pode dizer no discurso do Pontal que 2013 "será o ano da inversão da actividade económica" e depois anunciar medidas tão duras? Como é que as duas intervenções se articulam?
Inside job
Aparentemente, alguém dentro do Governo decidiu trabalhar contra o Governo e, como bónus, minar a confiança interna, porventura entre os dois partidos da coligação. O Governo tomou posse em Junho de 2011 e já acontece disto, como se fosse final de ciclo...
Com muita pena minha...
...receio que o diagnóstico de António Costa possa estar correcto. Pedro Passos Coelho dará uma entrevista esta semana e poderá aproveitar para explicar algumas coisas. Por exemplo, por que motivo insiste em não querer mais tempo? Essa posição continua a ser razoável, tendo em conta que as metas do défice para 2012 não serão alcançadas?
Será o PS capaz...
...de apresentar, no devido momento, um OE alternativo? O seu protesto seria muito mais credível se, em vez de apenas criticar, apresentasse propostas concretas para fazer face às actuais circunstâncias. É que o problema é mesmo este que André Couto destaca a negrito.
Sondagens e arredores
Deduzo que o PSD nas próximas sondagens vai levar uma valente pancada. Já o CDS é uma incógnita. Mas, nesta altura, uma queda nas sondagens, mesmo que significativa, não é particularmente grave. Excepto se houver eleições antecipadas, ainda há muito tempo no ciclo político em curso. O que significa que, em teoria, o PSD tem ainda tempo para apresentar os resultados práticos das duras medidas de austeridade. É com isso, aliás, que conta Pedro Passos Coelho. Vencida a crise, o Primeiro-Ministro espera chegar a 2015 com outros cenários e com outros indicadores.
Em suma, as sondagens não são motivo para pânico ou alarme. Dito isto, aquilo que verdadeiramente me preocupa é a questão da narrativa oficial vs. realidade. Este crescente distanciamento entre o rumo político e a realidade começa a tornar-se num problema sério. E este problema, a manter-se, arrasará com os planos de Passos Coelho.
Em suma, as sondagens não são motivo para pânico ou alarme. Dito isto, aquilo que verdadeiramente me preocupa é a questão da narrativa oficial vs. realidade. Este crescente distanciamento entre o rumo político e a realidade começa a tornar-se num problema sério. E este problema, a manter-se, arrasará com os planos de Passos Coelho.
Razão e emoção
A razão diz que nada disto tem relevância. Como qualquer pessoa, Pedro Passos Coelho tem direito a alguns momentos de lazer. A emoção diz que isto é mortal. O timing, pelo menos. Passos Coelho anuncia medidas que vão mexer muito com vida dos portugueses e a seguir, como se nada tivesse acontecido, vai divertir-se.
É claro que o tempo perdoa tudo, ou quase tudo, e que até 2015 há muito tempo para as pessoas digerirem o que se passou em 2012 e em 2013, sobretudo se tudo correr bem. Um grande se, como é óbvio. É por isso que me parece que 7 de Setembro foi 'o' momento.
Infelizmente para todos nós, receio muito o que possa vir a acontecer em 2013. Oxalá esteja enganado.
É claro que o tempo perdoa tudo, ou quase tudo, e que até 2015 há muito tempo para as pessoas digerirem o que se passou em 2012 e em 2013, sobretudo se tudo correr bem. Um grande se, como é óbvio. É por isso que me parece que 7 de Setembro foi 'o' momento.
Infelizmente para todos nós, receio muito o que possa vir a acontecer em 2013. Oxalá esteja enganado.
domingo, 9 de setembro de 2012
Prioridades?
"Quando o PS for Governo voltará a existir um serviço público que se seja prestado por uma televisão pública", disse o líder do PS.
Juro que gostava de saber por que motivo António José Seguro, tão afirmativo em relação à RTP, não foi capaz de fazer uma declaração semelhante -- i.e. no sentido da reposição do statu quo ante -- dizendo que quando o PS fosse Governo voltaria a instaurar o equilíbrio existente, antes das medidas anunciadas por Passos Coelho, entre as contribuições dos trabalhadores e das empresas.
Juro que gostava de saber por que motivo António José Seguro, tão afirmativo em relação à RTP, não foi capaz de fazer uma declaração semelhante -- i.e. no sentido da reposição do statu quo ante -- dizendo que quando o PS fosse Governo voltaria a instaurar o equilíbrio existente, antes das medidas anunciadas por Passos Coelho, entre as contribuições dos trabalhadores e das empresas.
Arte ou ciência?
A capacidade de intervenção política no momento 'certo' pode fazer toda a diferença. Veja-se o caso de António José Seguro e a pressão de que foi alvo para se pronunciar sobre a posição do PS relativamente ao Orçamento do Estado (OE) para 2013.
Seguro recusou pronunciar-se antes de conhecer o OE. Na verdade, o líder do PS apenas queria ganhar tempo. Entretanto as medidas anunciadas por Pedro Passos Coelho reformularam os dados da equação e a decisão de Seguro passou a ter de ser tomada num contexto diferente.
Se Seguro tivesse desde logo dito que o PS se iria abster, agora tinha de dar voltas e mais voltas para explicar a abstenção, ou para explicar a sua mudança de voto. Ao não se pronunciar, Seguro livrou-se de tudo isso.
Não sei se é uma arte ou uma ciência. O que sei é que o controlo do tempo político é essencial.
É impressão minha...
...ou quase 48 horas depois das medidas anunciadas por Pedro Passos Coelho, o líder do PS ainda nada disse sobre as mesmas? Nunca interrompas o teu inimigo enquanto está a cometer um erro?
[Adenda]
Como era previsível...
[Adenda]
Como era previsível...
sábado, 8 de setembro de 2012
O desafio
Numa primeira observação, e salvo leitura posterior mais amadurecida, vejo na solução anunciada por Pedro Passos Coelho um desafio, com diferentes nuances, ao PS, ao CDS, ao Tribunal Constitucional e ao Presidente. É obra.
Uma dúvida
Releio as palavras proferidas pelo Presidente da República na sua intervenção pública de ontem. De seguida releio as medidas anunciadas pelo Primeiro-Ministro. Fico com uma dúvida. Quando é que o Governo informou a Presidência sobre as medidas que seriam anunciadas algumas horas depois da intervenção de Aníbal Cavaco Silva? Dito de outra maneira, quando disse o que disse, o Presidente já tinha sido informado do que Pedro Passos Coelho iria anunciar ao final da tarde?
A resposta a esta questão, porventura, é mais importante do que se possa pensar.
A resposta a esta questão, porventura, é mais importante do que se possa pensar.
Um problema com a narrativa oficial
Já aqui o afirmei e volto a afirmar. Há um problema de desajustamento, nesta fase, entre a narrativa oficial do Governo e a realidade. O problema tenderá a agravar-se, como é óbvio, se nada for feito para o resolver.
O momento
Sem ter o benefício de olhar para os factos com alguma distância, nesta altura tenho a percepção que este poderá ter sido o momento que definiu o destino de Pedro Passos Coelho. Resta saber em que direcção. Independentemente do resultado, parece-me que este foi 'o' momento em que Passos Coelho jogou o seu futuro nas mãos dos deuses.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Martelo-pilão a tomar balanço
Pedro Passos Coelho vai anunciar novas medidas de austeridade para equilibrar as contas públicas.
Com Paulo Portas no Brasil, espero tudo tenha sido previamente preparado entre o PSD e o CDS e que desta vez não haja comentários e fugas de informação que coloquem grãos de areia na coligação.
Com Paulo Portas no Brasil, espero tudo tenha sido previamente preparado entre o PSD e o CDS e que desta vez não haja comentários e fugas de informação que coloquem grãos de areia na coligação.
Notícias de Frankfurt [2]
Como seria natural, o PS procura tirar dividendos da decisão do BCE. Faz parte do jogo político, claro. Em todo o caso, o grande beneficiário da decisão do BCE será sempre o Governo.
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quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Notícias de Frankfurt [1]
O Banco Central Europeu revelou que os países sob ajuda externa, como Portugal, também poderão beneficiar do novo programa de compra de dívida, mas apenas quando estiverem a recuperar o acesso ao mercado.
Uma boa notícia, portanto.
Uma boa notícia, portanto.
Erros de previsão
O Governo, como já se sabe, falhou na previsão do défice em 2012. António José Seguro aproveitou de imediato a oportunidade para salientar que "o Governo não acertou uma". "O Governo falhou em toda a linha", disse o líder socialista. Acontece que o PS também falhou. Talvez valha a pena recordar que António José Seguro, em Novembro de 2011, considerava que Pedro Passos Coelho tinha margem de manobra para rever algumas das medidas de austeridade. O PS, convém lembrar, o mesmo PS que agora acusa o Governo de falhar em toda a linha, há menos de um ano entendia que o Governo tinha margem para cortar um em vez de dois subsídios. Havia folga no OE para 2012, havia uma almofada, dizia convictamente António José Seguro. Ou seja, se o OE para 2012 tivesse seguido a proposta do PS, o erro de previsão teria sido ainda maior.
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Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço
O jornal Público, dirigido por Bárbara Reis, tem insistido de forma incompreensível e injustificável em não tomar uma posição sobre os artigos de Manuel Loff de que Rui Ramos foi alvo. O mesmo jornal Público até hoje não esclareceu se as "práticas inaceitáveis na utilização de trabalho alheio", denunciadas pelo provedor do leitor, José Queirós, a 19 de Agosto – repito, a 19 de Agosto – tiveram alguma consequência prática.
O Público tem-se refugiado num silêncio que me abstenho de qualificar, mas que me causa a pior das impressões, a vários níveis. No meio disto, o jornal tem a suprema lata de exigir explicações ao Governo, no caso sobre a RTP. Diz o Público no editorial que "quando houver tempo, talvez alguém no Governo se digne explicar". É preciso ter lata. Um jornal que na sua relação com os seus leitores não cumpre regras básicas de accountability, esse mesmo jornal exige a terceiros aquilo que não pratica. Com um track record destes e perante tal hipocrisia, é suposto levar o jornal a sério?
O Público tem-se refugiado num silêncio que me abstenho de qualificar, mas que me causa a pior das impressões, a vários níveis. No meio disto, o jornal tem a suprema lata de exigir explicações ao Governo, no caso sobre a RTP. Diz o Público no editorial que "quando houver tempo, talvez alguém no Governo se digne explicar". É preciso ter lata. Um jornal que na sua relação com os seus leitores não cumpre regras básicas de accountability, esse mesmo jornal exige a terceiros aquilo que não pratica. Com um track record destes e perante tal hipocrisia, é suposto levar o jornal a sério?
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quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Na mouche [11]
Faço minhas as palavras de José Manuel Fernandes. Naturalmente, fico muito surpreendido por ver que a entrevista é co-assinada por São José Almeida...
O mesmo caminho
O secretário-geral do PS, António José Seguro, propôs à troika a criação de um envelope financeiro de três mil milhões de euros (parte do dinheiro de 12 mil milhões de euros destinado à recapitalização da banca) para apoio às pequenas e médias empresas, o desbloqueamento dos fundos comunitários e a descida do IVA da restauração de 23% para a taxa intermédia de 13%.
Não vejo razão nenhuma para que as propostas do PS não tenham a melhor atenção da troika e do Governo. Mas não haja ilusões. Nada disto configura "um outro caminho", como o PS afirma. Trata-se, isso sim, de meros ajustes no mesmo caminho. Nada disto altera o essencial, i.e. o programa em curso com vista ao ajustamento dos desequilíbrios macroeconómicos da economia portuguesa e de aumento do seu potencial de crescimento, baseado em três pilares: consolidação orçamental, estabilidade do sistema financeiro e transformação estrutural da economia portuguesa.
Não vejo razão nenhuma para que as propostas do PS não tenham a melhor atenção da troika e do Governo. Mas não haja ilusões. Nada disto configura "um outro caminho", como o PS afirma. Trata-se, isso sim, de meros ajustes no mesmo caminho. Nada disto altera o essencial, i.e. o programa em curso com vista ao ajustamento dos desequilíbrios macroeconómicos da economia portuguesa e de aumento do seu potencial de crescimento, baseado em três pilares: consolidação orçamental, estabilidade do sistema financeiro e transformação estrutural da economia portuguesa.
Governação condicionada
Ao contrário de Francisco Proença de Carvalho, não creio que o Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, entre outros, pense que "mais impostos vão resolver alguma coisa". Vejo nas suas palavras o reconhecimento implícito que a decisão final não está nas suas mãos. Ou não está apenas nas suas mãos. E é por isso que ele mantém todas as opções em aberto. Não é ele, apenas, quem decide. Será Passos Coelho quem irá anunciar as decisões tomadas, mas há outros players que também contam e que ele não pode deixar de ter em linha de conta. Por alguma razão se reconhece que nós estamos a viver sob governação condicionada...
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Um caminho arriscado
O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, afirmou que ninguém no Governo – seja independente, do CDS ou do PSD – deseja sobrecarregar os portugueses com mais impostos, mas argumentou que nesta altura nenhuma decisão pode ser excluída.
Estas declarações surgem um dia depois de o deputado do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, ter dito à saída da reunião com a troika que "não há espaço para alterar, do ponto de vista de agravamento das condições fiscais, o que está já previsto no memorando de entendimento".
Parece-me evidente que está em curso uma guerra política, neste caso pouco surda, entre PSD e CDS sobre como responder aos desvios que estão a ocorrer no programa acordado com a troika. PSD e CDS procuram condicionar-se mutuamente e esse conflito já deixou de se efectuar apenas nos bastidores. Trata-se de um jogo com riscos políticos evidentes e que nunca deveria ter saltado para o espaço público. Infelizmente as coisas são como são e as declarações de Adolfo Mesquita Nunes acabaram por se tornar num desafio público à autoridade do Primeiro-Ministro. Não é ainda um conflito directo e público entre Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Esperemos que a coisa não chegue a esse nível. Seria mau sinal. Mas é evidente que Adolfo Mesquita Nunes não disse o que disse sem o aval de Paulo Portas e Passos Coelho entendeu que as declarações não poderiam ficar sem resposta.
Tudo isto é péssimo, por diversas razões. É óbvio que a coligação, mais tarde ou mais cedo, seria testada e é óbvio também que os dois parceiros de coligação terão de se entender. A opinião pública não compreenderia que PSD e CDS não fossem capazes de se entender, em nome do interesse nacional, nas actuais circunstâncias tão difíceis, deixando de lado os seus calculismos de natureza meramente partidária. Em suma, talvez não fosse má ideia ter algum recato nas declarações públicas. No final será mais fácil ceder se ninguém perder a face. E quanto mais se fala mais difícil se torna o recuo. É a vida.
Parece-me evidente que está em curso uma guerra política, neste caso pouco surda, entre PSD e CDS sobre como responder aos desvios que estão a ocorrer no programa acordado com a troika. PSD e CDS procuram condicionar-se mutuamente e esse conflito já deixou de se efectuar apenas nos bastidores. Trata-se de um jogo com riscos políticos evidentes e que nunca deveria ter saltado para o espaço público. Infelizmente as coisas são como são e as declarações de Adolfo Mesquita Nunes acabaram por se tornar num desafio público à autoridade do Primeiro-Ministro. Não é ainda um conflito directo e público entre Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Esperemos que a coisa não chegue a esse nível. Seria mau sinal. Mas é evidente que Adolfo Mesquita Nunes não disse o que disse sem o aval de Paulo Portas e Passos Coelho entendeu que as declarações não poderiam ficar sem resposta.
Tudo isto é péssimo, por diversas razões. É óbvio que a coligação, mais tarde ou mais cedo, seria testada e é óbvio também que os dois parceiros de coligação terão de se entender. A opinião pública não compreenderia que PSD e CDS não fossem capazes de se entender, em nome do interesse nacional, nas actuais circunstâncias tão difíceis, deixando de lado os seus calculismos de natureza meramente partidária. Em suma, talvez não fosse má ideia ter algum recato nas declarações públicas. No final será mais fácil ceder se ninguém perder a face. E quanto mais se fala mais difícil se torna o recuo. É a vida.
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Política sem políticos?
Alguém conhece um regime democrático sem políticos profissionais? Acham que estaríamos melhor sem eles? Porquê?
Os políticos amadores não acabavam por se tornar profissionais ao fim de algum tempo? Como é que isso se evitava, assumindo que tal era aconselhável? E seria legítimo impedir alguém de abraçar uma carreira, incluindo a partidária? Com que legitimidade, ou argumentação?
A política está reservada apenas a quem tem bens de família? Não? Nesse caso os políticos profissionais têm que ser remunerados e que ocupar funções de natureza, digamos, partidária?
Quando é que vamos crescer e assumir que a democracia tem custos, incluindo financeiros? Custos esses que, na verdade, nem podem ser vistos desse prisma simplista?
Quando é que vamos crescer e perceber que os políticos, como qualquer profissional noutra actividade, vai ganhando experiência e competência com o tempo? E que para isso têm de começar em algum lado e de ir construindo as suas carreiras políticas e partidárias?
Há assessores com menos de 30 anos? Mas o que é que isso interessa? São profissionais de segunda em função da sua idade? Era capaz de apostar que há assessores sub-30 profissionalmente melhores do que alguns com 40 ou 50 anos e que supostamente terão currículos profissionais muito superiores.
Enfim, temos esta tendência para andar a discutir peanuts. A mim, por exemplo, interessava-me muito mais discutir e analisar o motivo porque muitas pessoas nunca aceitariam desempenhar funções de natureza política. Isso, sim, era interessante discutir. O que é que afasta da actividade política pessoas cuja competência e qualidade é reconhecida? Os salários? A pressão mediática? As condições de trabalho? O que fazer para alterar a situação, assumindo que deve ser alterada?
Isso, sim, era capaz de ser uma discussão interessante e importante.
O verdadeiro homem da troika
Schaeuble: Portugal shows euro rescue is working
The example of Portugal shows that the euro zone's economic adjustment programs are working as the Southern European country will swing to a primary surplus in 2013, Germany's Finance Minister Wolfgang Schaeuble said on Monday.
Schaeuble added that Greece, where the economic reform program attached to its double-bailout has stalled, should not be the only measure of performance for the currency union's ability to fight its sovereign debt crisis (Reuters, 3.9.2012).
Eis a nossa apólice. A Alemanha necessita de um exemplo de sucesso. Ainda que não seja muito, sempre nos dá algum espaço de manobra.
The example of Portugal shows that the euro zone's economic adjustment programs are working as the Southern European country will swing to a primary surplus in 2013, Germany's Finance Minister Wolfgang Schaeuble said on Monday.
Schaeuble added that Greece, where the economic reform program attached to its double-bailout has stalled, should not be the only measure of performance for the currency union's ability to fight its sovereign debt crisis (Reuters, 3.9.2012).
Eis a nossa apólice. A Alemanha necessita de um exemplo de sucesso. Ainda que não seja muito, sempre nos dá algum espaço de manobra.
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