José Ortega y Gasset: "Yo soy yo y mi circunstancia". Liberdade e destino. A vida é isto, o que não é pouco.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Um rumo diferente
Aprovado o OE para 2013, alguém conhece as alternativas e as propostas do PS? Alguém conhece o OE sombra do PS?
Em termos concretos e objectivos, o que faria o PS de diferente, alguém sabe?
Dão-se alvíssaras a quem souber a resposta.
Em termos concretos e objectivos, o que faria o PS de diferente, alguém sabe?
Dão-se alvíssaras a quem souber a resposta.
Taxa sobre as PPP
Tando como pano de fundo a aprovação do Orçamento Geral do Estado para 2013, lembrei-me da nova taxa sobre as PPP que o António José Seguro anunciou que iria submeter ao Parlamento. O PS já se comprometeu com uma data concreta para a sua apresentação?
Uma nódoa [1]
A ser fidedigna a transcrição das palavras de Ehud Gol, embaixador de Israel em Lisboa, proferidas numa conferência esta semana, então não vejo como o MNE as possa ignorar . Repito, se o relato da jornalista é fiel (Público), nesse caso parecem-me inadmissíveis as observações que fez em público. Ehud Gol não pode dizer numa conferência que Portugal tem de "assumir responsabilidades pelo seu passado", ou afirmar que não percebe as razões que levam Portugal a optar por ser apenas observador numa task force qualquer. Gol pode ter as opiniões que quiser, mas não pode, ou não deve, expressá-las publicamente. Um embaixador não tem que fazer reparos à política interna ou externa do país em que está a prestar funções. Por motivos óbvios.
Aparentemente, hoje em dia, somos todos comentadores, desde o CEO de um banco ao mais cinzento embaixador. A tradicional contenção verbal, pelos vistos, entrou em desuso.
Aparentemente, hoje em dia, somos todos comentadores, desde o CEO de um banco ao mais cinzento embaixador. A tradicional contenção verbal, pelos vistos, entrou em desuso.
O não-comentador político [2]
Fernando Ulrich voltou a dar um ar de sua graça e afirmou que Portugal aguenta mais austeridade. Mais uma intervenção muito oportuna, como se percebe.
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Loja dos 300
"Propostas e alternativas não nos faltam", disse António José Seguro.
Na verdade, faltam e muito. São, aliás, mais escassas do que água no deserto. Esse é o grande problema de Seguro. O líder do PS tem muito pouco para oferecer aos portugueses no domínio das alternativas. Por isso resta-lhe a demagogia e esconder as medidas duras que teria de tomar se estivesse no Governo. É pouco, muito pouco, para quem se quer afirmar como uma alternativa credível.
Na verdade, faltam e muito. São, aliás, mais escassas do que água no deserto. Esse é o grande problema de Seguro. O líder do PS tem muito pouco para oferecer aos portugueses no domínio das alternativas. Por isso resta-lhe a demagogia e esconder as medidas duras que teria de tomar se estivesse no Governo. É pouco, muito pouco, para quem se quer afirmar como uma alternativa credível.
Refundação [5]
"O Governo não está a preparar nenhum segundo resgate, que isto fique bem claro", disse Pedro Passos Coelho. Certo, não está a preparar, mas admite essa hipótese, quanto mais não seja para tentar tirar espaço de manobra ao PS, recorrendo a velhas tácticas políticas mais gastas do que algumas solas de sapatos.
Sejamos claros. Se não está a preparar, então que nem mencione essa hipótese. Já não há paciência para tanta contradição, tanto avanço e tanto recuo. Tanta inconsistência, tanta descoordenação. Organizem-se de uma vez por todas, caramba.
Sejamos claros. Se não está a preparar, então que nem mencione essa hipótese. Já não há paciência para tanta contradição, tanto avanço e tanto recuo. Tanta inconsistência, tanta descoordenação. Organizem-se de uma vez por todas, caramba.
Os interesses da senhora Merkel
"Precisamos de ter um Governo e um Primeiro-Ministro com voz na Europa, que defenda os interesses de Portugal na Europa e que não defenda os interesses da senhora Merkel", disse António José Seguro.
Francisco Louçã não teria dito de forma diferente. O PS, pelos vistos, quer disputar o terreno da demagogia com o Bloco de Esquerda. É uma opção.
Isto dito, fica mal ao líder do maior partido da oposição fazer este tipo de acusação populista e sem qualquer sentido. Fica-lhe mal, ponto.
Francisco Louçã não teria dito de forma diferente. O PS, pelos vistos, quer disputar o terreno da demagogia com o Bloco de Esquerda. É uma opção.
Isto dito, fica mal ao líder do maior partido da oposição fazer este tipo de acusação populista e sem qualquer sentido. Fica-lhe mal, ponto.
Taxas de juro
Olhando para a intervenção de Pedro Passos Coelho podemos deduzir que a alteração das taxas de juro não será uma das prioridades numa eventual renegociação do programa de ajustamento?
O bater das asas de uma borboleta no Porto...
...pode provocar uma tempestade em Lisboa e em Luanda. Lembram-se disto?
O assunto não teve grande atenção da parte da comunicação social portuguesa, mas isso não quer dizer que não tenha tido possivelmente repercussões de natureza política ou diplomática. Se voltar a acontecer algo semelhante, ficará sem resposta da parte de Luanda?
Duvido. Aposto, aliás, que isso foi devidamente comunicado a Lisboa.
O assunto não teve grande atenção da parte da comunicação social portuguesa, mas isso não quer dizer que não tenha tido possivelmente repercussões de natureza política ou diplomática. Se voltar a acontecer algo semelhante, ficará sem resposta da parte de Luanda?
Duvido. Aposto, aliás, que isso foi devidamente comunicado a Lisboa.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Refundação [4]
Esquizofrenia política: No sábado, Miguel Relvas diz-nos que faltam 20 meses para acabar o programa de ajustamento. Na segunda-feira, Pedro Passos Coelho abre a porta a um eventual segundo resgate.
Não percebo nada disto.
Não percebo nada disto.
Refundação [3]
As críticas de Marcelo Rebelo de Sousa à proposta de Pedro Passos Coelho de "refundação do memorando de entendimento" não têm sentido. Posso considerar que esta proposta não terá resultados substantivos, mas de qualquer modo tem lógica tanto estratégica como tacticamente.
Julgo que não tem muito sentido e não tem adesão à realidade dizer que a proposta do Primeiro-Ministro abre a porta ao PS para se desvincular do programa de ajustamento. António José Seguro sabe que precisa de algo um pouco mais substantivo do que isso...
Julgo que não tem muito sentido e não tem adesão à realidade dizer que a proposta do Primeiro-Ministro abre a porta ao PS para se desvincular do programa de ajustamento. António José Seguro sabe que precisa de algo um pouco mais substantivo do que isso...
A solução adiada
"If you keep piling austerity programme on austerity programme for a sufficiently large number of years, then the policy might eventually work. But that’s a politically unrealistic proposition. Portugal, for example, is already cutting subsistence payments for very poor people to meet the agreed deficit targets.
I believe therefore that crisis resolution still has to happen, but I see no evidence that we are getting there, not even in small steps. I do not expect any change in this situation even after the German elections. Since the crisis is not going to resolve itself, I cannot see any fundamental change in the situation – except that the ECB has removed the risk of accidents in the short term."
Wolgang Munchau, "Crutches prop up euro, but it’s still lame" (Financial Times, 29.10.2012).
I believe therefore that crisis resolution still has to happen, but I see no evidence that we are getting there, not even in small steps. I do not expect any change in this situation even after the German elections. Since the crisis is not going to resolve itself, I cannot see any fundamental change in the situation – except that the ECB has removed the risk of accidents in the short term."
Wolgang Munchau, "Crutches prop up euro, but it’s still lame" (Financial Times, 29.10.2012).
domingo, 28 de outubro de 2012
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [9]
O Governo de transição da Guiné-Bissau exigiu "uma explicação clara e justificada" de Lisboa sobre "a expedição terrorista do capitão Pansau Intchama ", antes de "ser forçado a rever as suas relações com Portugal".
Isto é uma delícia e mais um sinal do desespero que paira em Bissau. Rever as relações com Portugal? Quais relações se Portugal não reconhece o Governo de transição como legítimo?
Adiante. Fernando Vaz nada manda. Dabana Walna, sim, manda alguma coisa, tendo em conta que é o homem de mão de António Indjai, e é aqui que está o verdadeiro centro de poder e de decisão.
É claro que o Governo oriundo do golpe de Estado de Abril gostaria que Portugal lhe prestasse explicações. Era um passo, ainda que indirecto, no seu reconhecimento por Portugal enquanto interlocutor.
Sejamos claros. O Governo de transição -- transição essa que há muito descarrilou no calendário -- não quer seguramente agravar mais ainda a sua relação com Portugal e com a CPLP. Se o fizer será a própria CEDEAO/ECOWAS quem lhe tirará o tapete.
Tudo isto não passa de fumaça e de actos de gente desesperada.
Isto é uma delícia e mais um sinal do desespero que paira em Bissau. Rever as relações com Portugal? Quais relações se Portugal não reconhece o Governo de transição como legítimo?
Adiante. Fernando Vaz nada manda. Dabana Walna, sim, manda alguma coisa, tendo em conta que é o homem de mão de António Indjai, e é aqui que está o verdadeiro centro de poder e de decisão.
É claro que o Governo oriundo do golpe de Estado de Abril gostaria que Portugal lhe prestasse explicações. Era um passo, ainda que indirecto, no seu reconhecimento por Portugal enquanto interlocutor.
Sejamos claros. O Governo de transição -- transição essa que há muito descarrilou no calendário -- não quer seguramente agravar mais ainda a sua relação com Portugal e com a CPLP. Se o fizer será a própria CEDEAO/ECOWAS quem lhe tirará o tapete.
Tudo isto não passa de fumaça e de actos de gente desesperada.
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [8]
Esta foto (via DC) vale por mil palavras. As actuais autoridades militares da Guiné-Bissau, julgo que num trecho do percurso até à prisão, envolvem Pansau Intchama na bandeira portuguesa, num gesto gratuito e infantil para o associar a Portugal. Patético. Esperemos que a integridade física de Intchama não esteja em causa e que não haja confissões arrancadas sob tortura física. Como referi num pequeno apontamento à Radio France Internationale, importa ouvir Intchama para perceber exactamente o que se passou. Isto dito, a estabilidade na Guiné-Bissau continua assente em fundações muito frágeis. A encenação montada pelos golpistas de Abril e que a foto mostra revela bem o desespero que se vive por estes dias em Bissau.
"Amigos da Coesão"
Pedro Passos Coelho anunciou que no dia 13 de Novembro se vai realizar, em Bruxelas, uma nova cimeira do grupo "Amigos da Coesão". Trata-se de um tema seguir com muita atenção, uma vez que é do interesse nacional que estamos a falar.
Assinale-se, já agora, por mera curiosidade, que Pedro Passos Coelho revelou ontem que teve a iniciativa, em conjunto com o Primeiro-Ministro polaco, Donald Tusk, de promover esta cimeira adicional. Muito claramente, ao fazer esta revelação, o Governo está a procurar responder aos críticos que o acusam de falta de iniciativa no plano europeu.
Assinale-se, já agora, por mera curiosidade, que Pedro Passos Coelho revelou ontem que teve a iniciativa, em conjunto com o Primeiro-Ministro polaco, Donald Tusk, de promover esta cimeira adicional. Muito claramente, ao fazer esta revelação, o Governo está a procurar responder aos críticos que o acusam de falta de iniciativa no plano europeu.
Refundação [1]
Pedro Passos Coelho afirma que até 2014 vai realizar-se uma reforma do Estado que constituirá "uma refundação do memorando de entendimento" e defendeu que o PS deve estar comprometido com esse processo.
Uma dúvida: Houve conversas prévias entre o Governo e o PS, ou o convite para a "refundação" foi feito, desta forma, na praça pública?
Se houve conversas prévias e o líder do PS não excluiu de imediato qualquer negociação, então assumo que o assunto é minimamente sério. Caso contrário, esta intervenção limita-se apenas -- e legitimamente -- a tentar encostar o PS às cordas. Jogo político, pura e simplesmente.
Algo me diz que António José Seguro, com as limitações que se conhecem no seu espaço de manobra político interno, em circunstância alguma aceitaria refundar o que quer que seja, mesmo que o Presidente actuasse como mediador. Aliás, se houve contactos prévios parece-me altamente provável que o líder do PS tenha manifestado de imediato a sua indisponibilidade para negociar.
Uma dúvida: Houve conversas prévias entre o Governo e o PS, ou o convite para a "refundação" foi feito, desta forma, na praça pública?
Se houve conversas prévias e o líder do PS não excluiu de imediato qualquer negociação, então assumo que o assunto é minimamente sério. Caso contrário, esta intervenção limita-se apenas -- e legitimamente -- a tentar encostar o PS às cordas. Jogo político, pura e simplesmente.
Algo me diz que António José Seguro, com as limitações que se conhecem no seu espaço de manobra político interno, em circunstância alguma aceitaria refundar o que quer que seja, mesmo que o Presidente actuasse como mediador. Aliás, se houve contactos prévios parece-me altamente provável que o líder do PS tenha manifestado de imediato a sua indisponibilidade para negociar.
sábado, 27 de outubro de 2012
Ser proactivo, no momento possível
Paulo Portas pediu que Portugal seja proactivo, "sem ser beligerante", "quer política, quer tecnicamente", nas negociações com a troika na próxima avaliação, a sexta, que terá lugar em Novembro.
Esta intervenção de Paulo Portas é muito interessante. Tal significa que o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) reconhece que até aqui Portugal não o tem sido. Este reconhecimento é uma novidade, uma vez que pela primeira vez um membro do Governo admite descolar, ainda que parcialmente, da estratégia do bom aluno. Adicionalmente, interpreto estas palavras como uma admissão de culpa (na parte política) e uma crítica a Vítor Gaspar (na componente técnica). Mais importante e aquilo que é essencial: Portas sinaliza uma eventual alteração de curso táctico.
"Nós também lemos, também ouvimos, também sabemos as evoluções no pensamento internacional sobre os programas de ajustamento. E por isso reafirmo aqui que considero importantes e amigas as declarações da senhora directora-geral do Fundo Monetário Internacional", afirmou o MNE, referindo-se às declarações de Christine Lagarde. Ora, admitindo que possa estar a preparar-se um ajustamento de táctica, ou mesmo até de estratégia, importa definir muito claramente os objectivos.
Aparentemente, o Governo continua a não querer mais tempo, aliás em sentido contrário ao que foi sugerido por Lagarde. O alvo serão as taxas de juro?
Não sei.
Independentemente de se avançar na renegociação das taxas de juro, serão seleccionados outros temas?
Julgo que sim. Parece-me que Governo se está a preparar para fazer frente à troika noutras matérias. O valor do IRC de 10%, por exemplo, e que o FMI alega desconhecer, por agora. O valor do IRC, recorde-se, foi um dos pontos de enorme divergência entre a Irlanda e a União Europeia e no próprio seio da União Europeia.
Não haja dúvidas. A margem de manobra de Portugal está seguramente a aumentar. Numa leitura rápida, encontro três motivos para isso. Primeiro, Portugal tudo tem feito de acordo com as recomendações da troika. A estratégia do bom aluno confere algum espaço de manobra a Portugal, espaço esse que não tinha anteriormente. (By the way, é curioso comparar o apelo à proactividade de Portas com a inexistência de espaço de manobra negocial de Gaspar, o homem da maratona...) Segundo, intervenções como a de Christine Lagarde, bem como as posições assumidas recentemente pelo FMI, abriram uma brecha na ortodoxia oficial e poderão permitir a abertura de algum espaço para a política e a negociação. Terceiro, a capacidade negocial da troika diminui à medida que sucessivas tranches do empréstimo vão sendo transferidas. Dito de outro maneira, à medida que a cenoura diminui, de igual modo diminui também o bastão. Tudo somado, Portugal tem espaço para, hipoteticamente, assumir uma nova postura. Veremos, a seu tempo, quais os resultados alcançados pela proactividade.
Quer isto dizer que o Governo finalmente começa a ajustar a narrativa oficial à realidade?
A confirmar-se são excelentes notícias, como é óbvio.
Esta intervenção de Paulo Portas é muito interessante. Tal significa que o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) reconhece que até aqui Portugal não o tem sido. Este reconhecimento é uma novidade, uma vez que pela primeira vez um membro do Governo admite descolar, ainda que parcialmente, da estratégia do bom aluno. Adicionalmente, interpreto estas palavras como uma admissão de culpa (na parte política) e uma crítica a Vítor Gaspar (na componente técnica). Mais importante e aquilo que é essencial: Portas sinaliza uma eventual alteração de curso táctico.
"Nós também lemos, também ouvimos, também sabemos as evoluções no pensamento internacional sobre os programas de ajustamento. E por isso reafirmo aqui que considero importantes e amigas as declarações da senhora directora-geral do Fundo Monetário Internacional", afirmou o MNE, referindo-se às declarações de Christine Lagarde. Ora, admitindo que possa estar a preparar-se um ajustamento de táctica, ou mesmo até de estratégia, importa definir muito claramente os objectivos.
Aparentemente, o Governo continua a não querer mais tempo, aliás em sentido contrário ao que foi sugerido por Lagarde. O alvo serão as taxas de juro?
Não sei.
Independentemente de se avançar na renegociação das taxas de juro, serão seleccionados outros temas?
Julgo que sim. Parece-me que Governo se está a preparar para fazer frente à troika noutras matérias. O valor do IRC de 10%, por exemplo, e que o FMI alega desconhecer, por agora. O valor do IRC, recorde-se, foi um dos pontos de enorme divergência entre a Irlanda e a União Europeia e no próprio seio da União Europeia.
Não haja dúvidas. A margem de manobra de Portugal está seguramente a aumentar. Numa leitura rápida, encontro três motivos para isso. Primeiro, Portugal tudo tem feito de acordo com as recomendações da troika. A estratégia do bom aluno confere algum espaço de manobra a Portugal, espaço esse que não tinha anteriormente. (By the way, é curioso comparar o apelo à proactividade de Portas com a inexistência de espaço de manobra negocial de Gaspar, o homem da maratona...) Segundo, intervenções como a de Christine Lagarde, bem como as posições assumidas recentemente pelo FMI, abriram uma brecha na ortodoxia oficial e poderão permitir a abertura de algum espaço para a política e a negociação. Terceiro, a capacidade negocial da troika diminui à medida que sucessivas tranches do empréstimo vão sendo transferidas. Dito de outro maneira, à medida que a cenoura diminui, de igual modo diminui também o bastão. Tudo somado, Portugal tem espaço para, hipoteticamente, assumir uma nova postura. Veremos, a seu tempo, quais os resultados alcançados pela proactividade.
Quer isto dizer que o Governo finalmente começa a ajustar a narrativa oficial à realidade?
A confirmar-se são excelentes notícias, como é óbvio.
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [7]
Pansau Intchama terá sido capturado. Com um pouco de sorte, talvez se consiga saber com maior rigor o que aconteceu no dia 21 de Outubro, i.e. [1] se Intchama agiu por conta própria ou por conta de outrém, e [2] se foi um contragolpe de Estado como defende o Governo de transição, ou se tudo não passou de uma inventona, como alega Carlos Gomes Júnior. Esperemos, portanto, que a integridade física de Intchama não esteja em causa e que não haja confissões arrancadas sob tortura física.
Contagem decrescente
"Faltam 20 meses para acabar o programa de ajustamento", disse Miguel Relvas.
Aqui está um bom exemplo como a forma por vezes pode ser tão importante como a substância. A capacidade de comunicação, de facto, é fundamental. Evidentemente, tal não substitui a substância, mas faz uma enorme diferença. Ao colocar a questão desta maneira, Relvas salienta a meta e uma impõe uma contagem decrescente. Vítor Gaspar, por exemplo, salientava hoje que Portugal está "a dois terços da maratona" em vez de destacar que falta apenas um terço da maratona.
É claro que o caminho a percorrer nesses 20 meses continua a ser um problema, mas essa é outra questão.
Aqui está um bom exemplo como a forma por vezes pode ser tão importante como a substância. A capacidade de comunicação, de facto, é fundamental. Evidentemente, tal não substitui a substância, mas faz uma enorme diferença. Ao colocar a questão desta maneira, Relvas salienta a meta e uma impõe uma contagem decrescente. Vítor Gaspar, por exemplo, salientava hoje que Portugal está "a dois terços da maratona" em vez de destacar que falta apenas um terço da maratona.
É claro que o caminho a percorrer nesses 20 meses continua a ser um problema, mas essa é outra questão.
A maratona
Prosseguindo com a imagem e a comparação entre a maratona e o ajustamento, faltou a Vítor Gaspar acrescentar que no final só haverá um vencedor e pelo caminho ficarão diversos desistentes. É certo que muitos chegarão ao final da prova, mas alguns terminarão completamente exaustos, porventura a necessitar de assistência médica. Isto dito, apenas um atleta tirará enormes dividendos da prova (prémio financeiro, sponsors, reconhecimento público, etc.). Se tudo correr bem na implementação do programa de ajustamento -- esperemos que sim, mas temo que não -- Vítor Gaspar será o grande vencedor da maratona. Quais serão os seus dividendos?
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Politicamente incorrecto
Nunca me revi na sua agenda político-ideológica, no seu estilo de intervenção, ou na sua linguagem. Não alinho, por isso, com a tese politicamente correcta de que o Parlamento ficou mais pobre sem Francisco Louçã.
Uma UE a três níveis
"The euro crisis is changing the shape of the EU. As the countries in the eurozone seek to strengthen it by centralising economic policy making, three tiers are emerging within the union. The countries committed to further integration may set up new institutions. (...) At the core of the new structure, the 17 eurozone countries will submit national budgets and some economic policies to the control of EU institutions. This first tier will probably – as France and Germany are proposing – have its own budget, separate from the EU budget, to help countries that suffer economic shocks or are introducing painful structural reforms. The eurozone will be steered by regular meetings of its finance ministers and heads of government. A new body of members of the European parliament from eurozone countries and national parliamentarians from those states is likely to hold leaders to account.
A second tier, consisting of countries that aspire to join the euro, is already known as "eurozone plus". This group, which includes Poland, will accept much of the same supervision of budgetary and economic policy as the first tier. It will also join eurozone members in the banking union, which will start with centralised supervision and later extend to deposit insurance and resolution regimes.
The third tier will consist of the UK and a few others that do not wish to give up any more economic sovereignty."
Charles Grant, "A three-tier EU puts single market at risk" (Financial Times, 26.10.2012).
A second tier, consisting of countries that aspire to join the euro, is already known as "eurozone plus". This group, which includes Poland, will accept much of the same supervision of budgetary and economic policy as the first tier. It will also join eurozone members in the banking union, which will start with centralised supervision and later extend to deposit insurance and resolution regimes.
The third tier will consist of the UK and a few others that do not wish to give up any more economic sovereignty."
Charles Grant, "A three-tier EU puts single market at risk" (Financial Times, 26.10.2012).
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [6]
O porta-voz do Governo de transição da Guiné-Bissau, Fernando Vaz, considerou hoje "vergonhosas" as declarações do Primeiro-Ministro e do Presidente de Cabo Verde. E acrescenta: "Perguntamos se a independência de Cabo Verde é verdade e de que país é que veio. Terá vindo de Portugal?"
O desespero de Fernando Vaz é evidente na forma insultuosa como se dirige ao PM e PR de Cabo Verde. O clima de final de festa é indisfarçável. Boas notícias, portanto.
P.S. -- Entretanto, pelos vistos, a Amnistia Internacional também estará sob controlo de Portugal. Mais. Um destes dias até a CEDEAO/ECOWAS estará ao serviço de Portugal. Fernando Vaz é um incompreendido.
O desespero de Fernando Vaz é evidente na forma insultuosa como se dirige ao PM e PR de Cabo Verde. O clima de final de festa é indisfarçável. Boas notícias, portanto.
P.S. -- Entretanto, pelos vistos, a Amnistia Internacional também estará sob controlo de Portugal. Mais. Um destes dias até a CEDEAO/ECOWAS estará ao serviço de Portugal. Fernando Vaz é um incompreendido.
Em guerra
Mário Soares está em missão oficial. O ex-Presidente tudo fará para atacar o Governo, sobretudo na comunicação social. Soares que andou com Sócrates ao colo, e que até já elogiou Passos Coelho, agora não desperdiça uma oportunidade para dar uma ferroada no Governo. O mesmo Soares voltará a elogiar Passos Coelho se a direcção do vento mudar. É a vida.
Sempre a despropósito
As críticas de José Junqueiro às decisões do Governo são sempre infelizes na forma e no conteúdo. Cada tiro, cada melro. Desta vez o deputado histórico do PS, afirmou que "não se entende" uma remodelação governamental "em plena discussão do orçamento", considerou que a mesma reforça a "imagem de instabilidade" do Governo, e aproveitou ainda para destacar que o Executivo "aumentou".
Confesso que não sei o que é mais ridículo, se o acentuar de que o Governo aumentou, muito simplesmente porque há mais um secretário de Estado, se o frisar que a remodelação veio reforçar a imagem de instabilidade do Governo. Tudo isto é muito pobre, tudo muito pequenino. Não é por aqui, seguramente, que passa a afirmação do PS enquanto alternativa.
Confesso que não sei o que é mais ridículo, se o acentuar de que o Governo aumentou, muito simplesmente porque há mais um secretário de Estado, se o frisar que a remodelação veio reforçar a imagem de instabilidade do Governo. Tudo isto é muito pobre, tudo muito pequenino. Não é por aqui, seguramente, que passa a afirmação do PS enquanto alternativa.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Apesar dos sinais de fadiga...
...mantém-se o rumo (#43, p. 26). Eis Darwin e a teoria da selecção natural aplicada ao programa de ajustamento...
Grandes problemas
"O orçamento vai ter grandes problemas de execução e um grande efeito recessivo", presidente do Santander Totta, António Vieira Monteiro.
Nem uma escolha cuidadosa das palavras esconde o facto de que Vieira Monteiro não acredita na possibilidade de o Orçamento do Estado para 2013 poder vir a ser cumprido com êxito. Ninguém, absolutamente ninguém, acredita nisso. Tudo se resume a ganhar tempo. No fundo, estamos perante uma estratégia que assenta no desespero e na impotência.
Nem uma escolha cuidadosa das palavras esconde o facto de que Vieira Monteiro não acredita na possibilidade de o Orçamento do Estado para 2013 poder vir a ser cumprido com êxito. Ninguém, absolutamente ninguém, acredita nisso. Tudo se resume a ganhar tempo. No fundo, estamos perante uma estratégia que assenta no desespero e na impotência.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
A capacidade de aceitar
"Os caminhos começam a ser menos evidentes para as pessoas -- antes, os desafios eram tão graves que era mais fácil entender e aceitar o que era necessário fazer. Tendo passado mais tempo, as pessoas estão a sofrer mais e a capacidade de aceitar sacrifícios é menor. É mais difícil manter a coesão social. A identificação das soluções entendíveis e aceitáveis é mais difícil", disse Fernando Ulrich.
Não concordo, no essencial, com a explicação de Ulrich. Não é o desgaste que justifica a erosão da capacidade de aceitar. O que se perdeu, a partir de Setembro, foi a relação de confiança e é isso que está a ser mortal.
Não concordo, no essencial, com a explicação de Ulrich. Não é o desgaste que justifica a erosão da capacidade de aceitar. O que se perdeu, a partir de Setembro, foi a relação de confiança e é isso que está a ser mortal.
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [5]
Ainda bem que a CEDEAO/ECOWAS tem uma força militar -- a ECOMIB -- na Guiné-Bissau. Sem ela porventura por esta altura já teriam ocorrido tentativas de golpe de Estado, espancamentos e, quem sabe, invasões de sedes partidárias por militares. Felizmente, com a ECOMIB no terreno, nada disso tem acontecido na Guiné-Bissau. A transição política tem corrido às mil maravilhas.
Um timing certeiro
"É enganador tentar dizer aos portugueses que existe uma margem de manobra negocial que não existe", disse Vítor Gaspar na Comissão de Orçamento e Finanças. Azar dos azares, o ministro faz estas afirmações no dia em que se fica a saber que o Governo grego chegou a acordo com a missão da troika para estender o seu prazo de cumprimento do programa de ajustamento económico e financeiro.
Dito de outra maneira, Gaspar vem alertar -- sempre a estratégia do medo -- que Portugal ficou no "limite de tolerância" da troika, no dia em que o limite de tolerância da troika em relação à Grécia foi, uma vez mais, revisto.
Dito de outra maneira, Gaspar vem alertar -- sempre a estratégia do medo -- que Portugal ficou no "limite de tolerância" da troika, no dia em que o limite de tolerância da troika em relação à Grécia foi, uma vez mais, revisto.
Quando será o regresso aos mercados?
Klaus Regling, que preside ao fundo europeu de resgate, acredita que os países sob assistência poderão financiar-se integralmente por si próprios a partir de finais de 2014.
Em suma, a tese de que regressaremos aos mercados em Setembro de 2013, que Vítor Gaspar repete de forma exaustiva, deve ser consumida com moderação.
Em suma, a tese de que regressaremos aos mercados em Setembro de 2013, que Vítor Gaspar repete de forma exaustiva, deve ser consumida com moderação.
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [4]
Iancuba Indjai e Silvestre Alves foram detidos e espancados por militares das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Há inúmeras testemunhas que confirmam a sua detenção e, se houvesse vontade política (e militar), de certeza absoluta que não seria difícil identificar (e prender) os agressores. Porém, o ministro da Defesa nem se pronuncia sobre o assunto e o Governo limita-se a condenar o seu espancamento, exortando -- em abstracto e como Pilatos -- os órgãos competentes a prosseguirem com a investigação.
O respeitinho é muito bonito, naturalmente. Se a Guiné-Bissau fosse um Estado de direito nesse mesmo dia haveria dirigentes militares exonerados. O CEMGFA, António Indjai, por exemplo. O próprio ministro da Defesa seria chamado a retirar consequências políticas dos acontecimentos.
Infelizmente, a Guiné-Bissau não é um Estado de direito e o Governo de transição sabe isso melhor do que ninguém.
[Adenda]
Algumas palavras sobre a actual situação na Guiné-Bissau (West Africa Democracy Radio, 23.10.2012).
O respeitinho é muito bonito, naturalmente. Se a Guiné-Bissau fosse um Estado de direito nesse mesmo dia haveria dirigentes militares exonerados. O CEMGFA, António Indjai, por exemplo. O próprio ministro da Defesa seria chamado a retirar consequências políticas dos acontecimentos.
Infelizmente, a Guiné-Bissau não é um Estado de direito e o Governo de transição sabe isso melhor do que ninguém.
[Adenda]
Algumas palavras sobre a actual situação na Guiné-Bissau (West Africa Democracy Radio, 23.10.2012).
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Tiro no próprio pé
Ironia das ironias, Pedro Santos Guerreiro (PSG) começa por reclamar para si -- de forma hábil -- um estatuto de isenção. Assumamos o pior sobre si, arrumemos de imediato essa questão -- diz ao leitor de modo inteligente e desarmante -- e passemos à substância. Não resiste, porém, de certa forma fugindo à substância, em salientar que João Duque "não percebe o conflito de interesses em que se vê envolvido, por receber remuneração do candidato [Impresa] que favorece no concurso".
Bom, mas não é essa também a sua situação? Receber remuneração da parte que defende? Não percebe também ele o conflito entre o seu estatuto de director de um jornal da Cofina, precisamente uma das partes que perde com os termos do concurso proposto por João Duque, e o editorial que escreve?
Perceber, percebe, mas Pedro Santos Guerreiro espera que a sua credibilidade -- repetidamente demonstrada ao longo dos anos -- o coloque à margem de qualquer suspeição relativamente a um eventual conflito de interesses. Porém, ainda que assim seja, o conflito de interesses está presente também no seu caso. É um facto.
Não lhe fica bem, por isso, falar no conflito de interesses de João Duque quando ele próprio tem, na matéria em que escreve, um óbvio conflito de interesses. Tal como não vejo nenhuma razão para assumir o pior em relação a PSG, de igual modo não vislumbro também nenhum motivo para ter como ponto de partida qualquer suspeição em relação a João Duque -- ainda que, note-se, se possa criticar a sua decisão.
Se é para assumir que à mulher de César não basta ser séria, é igualmente necessário parecer, nesse caso ou comem todos pelo mesmo prato, ou então mais vale estar quieto. A natureza humana é igual para todos.
P.S. -- Em bom rigor, o artigo de PSG teria passado muito bem sem a referência despropositada, no contexto, ao suposto conflito de interesses de João Duque. O que está em causa, a tal substância que PSG queria discutir (embora depois se tenha perdido pelo caminho com as suspeições sobre conflitos de interesses), é a forma como João Duque contorna os obstáculos que lhe são impostos pela lei. Mesmo que não houvesse conflito de interesses, o 'problema' criado pela lei e pela decisão de João Duque continuaria a existir.
Bom, mas não é essa também a sua situação? Receber remuneração da parte que defende? Não percebe também ele o conflito entre o seu estatuto de director de um jornal da Cofina, precisamente uma das partes que perde com os termos do concurso proposto por João Duque, e o editorial que escreve?
Perceber, percebe, mas Pedro Santos Guerreiro espera que a sua credibilidade -- repetidamente demonstrada ao longo dos anos -- o coloque à margem de qualquer suspeição relativamente a um eventual conflito de interesses. Porém, ainda que assim seja, o conflito de interesses está presente também no seu caso. É um facto.
Não lhe fica bem, por isso, falar no conflito de interesses de João Duque quando ele próprio tem, na matéria em que escreve, um óbvio conflito de interesses. Tal como não vejo nenhuma razão para assumir o pior em relação a PSG, de igual modo não vislumbro também nenhum motivo para ter como ponto de partida qualquer suspeição em relação a João Duque -- ainda que, note-se, se possa criticar a sua decisão.
Se é para assumir que à mulher de César não basta ser séria, é igualmente necessário parecer, nesse caso ou comem todos pelo mesmo prato, ou então mais vale estar quieto. A natureza humana é igual para todos.
P.S. -- Em bom rigor, o artigo de PSG teria passado muito bem sem a referência despropositada, no contexto, ao suposto conflito de interesses de João Duque. O que está em causa, a tal substância que PSG queria discutir (embora depois se tenha perdido pelo caminho com as suspeições sobre conflitos de interesses), é a forma como João Duque contorna os obstáculos que lhe são impostos pela lei. Mesmo que não houvesse conflito de interesses, o 'problema' criado pela lei e pela decisão de João Duque continuaria a existir.
Reajustar o ajustamento
"Quero deixar muito claro, foi a Comissão Europeia que propôs -- com o apoio do FMI, mas foi uma proposta da Comissão Europeia -- que fosse dado mais um ano a Portugal para atingir as metas da consolidação orçamental", afirmou José Manuel Durão Barroso.
O presidente da Comissão Europeia salientou que prolongar o período de ajustamento de Portugal, Grécia e Irlanda "pode atrasar o regresso desses países aos mercados e pode eventualmente requerer financiamento adicional".
Evidentemente, o reajustamento do ajustamento pode ter as consequências salientadas por Durão Barroso. Mas ninguém tem a certeza absoluta. De igual modo, Durão Barroso poderia ter salientado que a ausência de um reajustamento pode ter resultados contra-producentes, a diversos níveis.
Optou-se, como sempre, pela táctica do medo e não por destacar as vantagens do rumo actual.
O presidente da Comissão Europeia salientou que prolongar o período de ajustamento de Portugal, Grécia e Irlanda "pode atrasar o regresso desses países aos mercados e pode eventualmente requerer financiamento adicional".
Evidentemente, o reajustamento do ajustamento pode ter as consequências salientadas por Durão Barroso. Mas ninguém tem a certeza absoluta. De igual modo, Durão Barroso poderia ter salientado que a ausência de um reajustamento pode ter resultados contra-producentes, a diversos níveis.
Optou-se, como sempre, pela táctica do medo e não por destacar as vantagens do rumo actual.
Plano A
Se, de facto, as previsões do Governo "não têm grande credibilidade", como defende Augusto Mateus -- infelizmente, estou tentado a concordar com ele --, nesse caso o Plano B, na verdade, é um Plano A. As previsões até poderão ter alguma credibilidade, não sabemos (e sejamos simpáticos), mas a exigência de um Plano B revela, no mínimo dos mínimos, uma desconfiança muito relevante do ponto de vista político.
Berlim, capital da UE...
"Berlin is increasingly the de facto capital of the EU. Of course the EU’s main institutions – the commission and the council – are still based in Brussels. But the key decisions are increasingly made in Berlin.
Will Greece have to leave the euro? Ultimately, it will be Germany’s call. Will politicians support further bailouts for southern Europe? The vital debates will take place in the Bundestag in Berlin – not in the European parliament. Who does the International Monetary Fund call about the euro crisis? The most important conversations take place with the German government and the European Central Bank in Frankfurt – not the European Commission.
This shift in power from Brussels to Berlin has been accelerated by the euro crisis. Naturally, the German chancellor Angela Merkel still has to go to summits in Brussels and strike deals. She was there only last week. But the euro crisis means that Ms Merkel is now incomparably the most important leader at the table".
Gideon Rachman, "Welcome to Berlin, Europe’s new capital" (Financial Times, 23.10.2012).
Will Greece have to leave the euro? Ultimately, it will be Germany’s call. Will politicians support further bailouts for southern Europe? The vital debates will take place in the Bundestag in Berlin – not in the European parliament. Who does the International Monetary Fund call about the euro crisis? The most important conversations take place with the German government and the European Central Bank in Frankfurt – not the European Commission.
This shift in power from Brussels to Berlin has been accelerated by the euro crisis. Naturally, the German chancellor Angela Merkel still has to go to summits in Brussels and strike deals. She was there only last week. But the euro crisis means that Ms Merkel is now incomparably the most important leader at the table".
Gideon Rachman, "Welcome to Berlin, Europe’s new capital" (Financial Times, 23.10.2012).
Poderemos aceitar?
Claro que não poderemos aceitar, mas a verdade é que as coisas são como são, pelo menos por agora. Façamos um resumo. No passado Sábado surgiu uma notícia no semanário Expresso em que se divulgava que Pedro Passos Coelho foi escutado fortuitamente no âmbito do processo 'Monte Branco'. Mesmo não tendo conseguido saber mais nada, a não ser aquilo que a fonte selectivamente lhe quis dizer, o Expresso entendeu fazer o jogo de terceiros. O jornal poderia ter adiado a notícia até saber mais detalhes, mas a tentação era demasiado grande. A cacha foi mais importante do que a vontade de informar.
As fontes, claro, sabem com o que contam. Conhecem a gula dos meios de comunicação social e sabem que estes muitas vezes estão dispostos a sacrificar muita coisa por uma cacha.
Adiante. Pedro Passos Coelho condenou de imediato a violação do segredo de justiça. Curiosamente, caro Paulo Pedroso, não houve um único líder partidário que tenha abandonado a sua zona de conforto para condenar igualmente o sucedido. Todos ficaram a ver o que dava a história e se eventualmente poderiam tirar algum dividendo. Ou então, sendo um pouco mais simpático, como não era um deles, nenhum sentiu a necessidade de expressar solidariedade.
Se isto não são vistas curtas, o que será?
As fontes, claro, sabem com o que contam. Conhecem a gula dos meios de comunicação social e sabem que estes muitas vezes estão dispostos a sacrificar muita coisa por uma cacha.
Adiante. Pedro Passos Coelho condenou de imediato a violação do segredo de justiça. Curiosamente, caro Paulo Pedroso, não houve um único líder partidário que tenha abandonado a sua zona de conforto para condenar igualmente o sucedido. Todos ficaram a ver o que dava a história e se eventualmente poderiam tirar algum dividendo. Ou então, sendo um pouco mais simpático, como não era um deles, nenhum sentiu a necessidade de expressar solidariedade.
Se isto não são vistas curtas, o que será?
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [3]
Algumas palavras sobre a actual situação na Guiné-Bissau (Deutsche Welle, 22.10.2012).
Perspectivas financeiras, 2014-2010
"Germany is planning to warn Britain that it will seek to cancel next month’s European budget summit if David Cameron, the prime minister, insists that he will veto any deal other than a total freeze on spending.
Angela Merkel, Germany’s chancellor, does not believe there is any point in holding the budget summit to agree on a seven-year framework for EU spending if Britain intends to veto any deal, say people close to the negotiations" (Financial Times, 22.10.2012).
Angela Merkel, Germany’s chancellor, does not believe there is any point in holding the budget summit to agree on a seven-year framework for EU spending if Britain intends to veto any deal, say people close to the negotiations" (Financial Times, 22.10.2012).
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [2]
Algumas notas breves a reter sobre os acontecimentos de ontem e de hoje na Guiné-Bissau:
1. Ficou claro que o poder político esteve sempre nas mãos dos militares e de António Indjai em particular. O Governo de transição foi uma ficção tolerada por conveniência das partes.
2. A ECOMIB não tem qualquer influência ou capacidade de controlo dos acontecimentos na Guiné-Bissau. Algo que ONU e o Conselho de Segurança não poderão deixar de ter em conta.
3. Numa altura em que há fortes rumores de que Kumba Ialá poderá assumir amanhã a presidência da Guiné-Bissau, a comunidade internacional encontra-se uma vez mais confrontada com a necessidade de escolher entre o péssimo e o menos mau.
4. Os acontecimentos em curso de certo modo jogam a favor da posição portuguesa. Se a frente internacional corria o risco de se começar a desmoronar, com os acontecimentos de ontem e hoje, Portugal ganha acrescida margem de manobra.
5. Isto dito, por motivos que são amplamente conhecidos, Paulo Portas neste momento está focado quase em exclusivo na situação interna e o SENEC, pura e simplesmente, não existe.
[Adenda]
6. A CPLP vai reunir-se para analisar os acontecimentos? E na ONU, Portugal vai procurar, de novo, ver se o Conselho de Segurança emite uma resolução ou, o mais provável, uma declaração?
7. A janela da ONU está quase a fechar-se. O mandato português para o Conselho de Segurança da ONU termina em Dezembro, o que significa que Portugal perde força política nesse plano.
5. Isto dito, por motivos que são amplamente conhecidos, Paulo Portas neste momento está focado quase em exclusivo na situação interna e o SENEC, pura e simplesmente, não existe.
[Adenda]
6. A CPLP vai reunir-se para analisar os acontecimentos? E na ONU, Portugal vai procurar, de novo, ver se o Conselho de Segurança emite uma resolução ou, o mais provável, uma declaração?
7. A janela da ONU está quase a fechar-se. O mandato português para o Conselho de Segurança da ONU termina em Dezembro, o que significa que Portugal perde força política nesse plano.
Uma mancha de crude que alastra imparavelmente
José Maria Ricciardi ainda não aprendeu que, independentemente da sua licitude e regularidade, há determinadas conversas que hoje em dia não se pode ter ao telefone em Portugal. É uma triste realidade, mas é a que temos. O direito de resposta poderá atenuar posteriormente o efeito negativo de uma notícia, mas nunca o fará na totalidade. Cito uma imagem utilizada, em tempos, por Assunção Esteves: "Como nos acidentes com crude no mar, há sempre uma parte da mancha poluente que não consegue ser recolhida, e fica a semear os seus danos".
Não sei se se pode resumir a conversa a um simples "protesto ou desabafo", como alega Ricciardi. Vamos admitir que sim, até prova em contrário. O crude, contudo, já fez danos e, como de costume, os responsáveis por isso nem sujaram as mãos.
Não sei se se pode resumir a conversa a um simples "protesto ou desabafo", como alega Ricciardi. Vamos admitir que sim, até prova em contrário. O crude, contudo, já fez danos e, como de costume, os responsáveis por isso nem sujaram as mãos.
A destruição de duas ilusões
"The banking union destroys two illusions that accompanied the creation of the euro -- one held in the eurozone itself, one outside. The first was that a minimalist monetary union would be sustainable. The outsiders succumbed to the illusion of a false menu choice: the ability to pick and choose areas of European integration to take part in. It turned out that remaining inside the EU but outside the eurozone was still not a sustainable biosphere.
As time goes on, the eurozone will usurp the EU. It will have its own banking union, its own budget, its own political union and, ultimately, its own single market -- something that is not legally possible now. The fundamental reason why Britain is now headed for a probable exit, or at least for marginalisation, is not a eurosceptic prime minister but the decision taken 15 years ago not to join the euro.
The banking union and its various cousins constitute the biggest act of political integration in Europe since the creation of the European Economic Community 55 years ago. I believe that they will be even bigger than the euro itself because they are a significant encroachment on national sovereignty on several levels".
Wolfgang Munchau, "Banking union will not end Europe's crisis" (Financial Times, 22.10.2012).
As time goes on, the eurozone will usurp the EU. It will have its own banking union, its own budget, its own political union and, ultimately, its own single market -- something that is not legally possible now. The fundamental reason why Britain is now headed for a probable exit, or at least for marginalisation, is not a eurosceptic prime minister but the decision taken 15 years ago not to join the euro.
The banking union and its various cousins constitute the biggest act of political integration in Europe since the creation of the European Economic Community 55 years ago. I believe that they will be even bigger than the euro itself because they are a significant encroachment on national sovereignty on several levels".
Wolfgang Munchau, "Banking union will not end Europe's crisis" (Financial Times, 22.10.2012).
domingo, 21 de outubro de 2012
Momento malucos do riso
Segundo o jornal Correio da Manhã, a escuta em que Pedro Passos Coelho foi apanhado é irrelevante do ponto de vista penal. Contudo, prepare-se caro leitor, o DCIAP decidiu transcrever a conversa para que não ficassem dúvidas da boa-fé do Primeiro-Ministro.
Confesso que me surpreende esta réstia de dúvida que aparentemente pairava no ar. É que pessoalmente não tinha dúvidas sobre a boa-fé do PM, uma vez que Cândida Almeida já nos tinha assegurado "olhos nos olhos" que "o nosso país não é corrupto, os nossos políticos não são corruptos, os nossos dirigentes não são corruptos".
Mas estamos a fazer história. Olhem bem para o big picture: agora também se transcrevem conversas sem relevância penal. The big brother is always watching you. Em nome da boa-fé, claro.
Confesso que me surpreende esta réstia de dúvida que aparentemente pairava no ar. É que pessoalmente não tinha dúvidas sobre a boa-fé do PM, uma vez que Cândida Almeida já nos tinha assegurado "olhos nos olhos" que "o nosso país não é corrupto, os nossos políticos não são corruptos, os nossos dirigentes não são corruptos".
Mas estamos a fazer história. Olhem bem para o big picture: agora também se transcrevem conversas sem relevância penal. The big brother is always watching you. Em nome da boa-fé, claro.
Guiné-Bissau: Notícia sempre por maus motivos [1]
No início de Julho, numa curta entrevista telefónica para o serviço em português da rádio pública alemã, Deutsche Welle, a jornalista Helena Ferro Gouveia perguntou-me se poderíamos ter um novo golpe de Estado na Guiné-Bissau. Não hesitei um segundo na resposta: "Sim. Penso que a situação pode ser de aparente normalidade à superfície, mas no fundo é mais instável do que o Governo e a liderança militar querem fazer crer."
Uma primeira tentativa fracassada de golpe de Estado ocorreu esta madrugada. Os detalhes e os objectivos são ainda pouco claros, mas era evidente que seria apenas uma questão de tempo até que as armas se voltassem a ouvir em Bissau. Provavelmente não será a última vez, infelizmente.
O resultado positivo destes acontecimentos, assumindo que a lição foi assimilada?
Ficou claro para o Primeiro-Ministro de transição e, sobretudo, para o CEMGFA António Indjai, bem como para a CEDEAO/ECOWAS, caso ainda fosse necessário, que é urgente encontrar uma solução de compromisso.
Uma primeira tentativa fracassada de golpe de Estado ocorreu esta madrugada. Os detalhes e os objectivos são ainda pouco claros, mas era evidente que seria apenas uma questão de tempo até que as armas se voltassem a ouvir em Bissau. Provavelmente não será a última vez, infelizmente.
O resultado positivo destes acontecimentos, assumindo que a lição foi assimilada?
Ficou claro para o Primeiro-Ministro de transição e, sobretudo, para o CEMGFA António Indjai, bem como para a CEDEAO/ECOWAS, caso ainda fosse necessário, que é urgente encontrar uma solução de compromisso.
Uma guerra perdida
Pedro Passos Coelho salientou o seu repúdio pela violação do segredo de justiça. Esta prática está tão banalizada que já somos indiferentes a algo que é muito grave. Infelizmente, já não nos choca que haja uns canalhas com acesso às escutas que de tempos a tempos tentam manipular o jogo político. E não nos choca que a nossa comunicação social, ao abrigo do direito de (des)informar e do sempre tão elástico conceito de interesse jornalístico, alinhe acéfala e acriticamente com esta perversão do jogo político e do próprio jornalismo.
sábado, 20 de outubro de 2012
Newshold e Controlinvest: E agora?
Se há sector sobre o qual tenho uma posição proteccionista é a comunicação social. No passado, vi com maus olhos a entrada da Prisa na Media Capital. Na mesma linha, no presente, vejo igualmente com reticências a penetração da Newshold na comunicação social portuguesa, neste caso com resistência acrescida, em nome da transparência, pelo facto de não se conhecer os seus accionistas.
Mas, enfim, as coisas são como são e aparentemente a possibilidade de a Controlinvest ser adquirida pela Newshold está em cima da mesa.
Ora, em 2010, quando a Ongoing esteve para adquirir uma posição dominante na Media Capital, a ERC exigiu -- a meu ver correctamente -- que esta vendesse as acções que detinha na Impresa. A minha dúvida é a seguinte: Seguindo a mesma linha de actuação, de modo a adquirir a Controlinvest, a Newshold vai ter de vender primeiro o semanário Sol, bem como as posições que detém na Cofina e na Impresa?
A contestação social como instrumento negocial
"Não se intimidem [i.e. o Governo] com a contestação social e forcem os credores a serem mais compreensivos com o país. Aproveitem para tentar renegociar" com a troika, aconselhou Luís Amado.
De facto, o receio de que o tão elogiado consenso social possa dar lugar a um crescente número de situações de contestação social pode vir a ser uma mais valia importante do ponto de vista do Governo.
Foi o que aconteceu, aliás, num contexto diferente em Setembro de 1999. Na sequência da consulta popular em Timor-Leste, as milícias timorenses pró-integracionistas espalharam o terror no território. Na altura, uma onda de solidariedade varreu Portugal. Os acontecimentos do "Dia Branco" foram utilizados de forma exímia por António Guterres para pressionar os Estados Unidos. O ex-Primeiro-Ministro do PS utilizou a situação interna portuguesa para transmitir aos EUA a mensagem de que Portugal não poderia continuar a apoiar activamente a intervenção militar no Kosovo se os seus aliados não manifestavam igual solidariedade na questão timorense. Os norte-americanos levaram a posição -- e ameaça -- de Guterres muito a sério. É claro que não foi apenas -- sobretudo? -- por isso que os EUA forçaram a Indonésia a aceitar uma força de manutenção da paz da ONU. Mas o "Dia Branco" deu uma cobertura política preciosa a Guterres no sentido de lhe permitir pressionar de forma mais eficaz os EUA.
Recordo este episódio a propósito da actual situação. O Governo pode e deve utilizar a contestação social como uma arma negocial. A contestação social dá cobertura política ao Governo para tentar convencer a troika a renegociar. Dito de outra maneira, quanto mais difícil for a posição do Governo e quanto maior for o risco de erosão política, maiores serão os incentivos para que a troika repense a sua abordagem. É também por motivos de natureza negocial que considero que deve entrar no debate político a possibilidade de se referendar a continuidade de Portugal no euro. A introdução do tema na agenda política -- não tem de ser Pedro Passos Coelho a dar o tiro de partida -- faria soar vários alarmes, por exemplo em Bruxelas e Berlim, para dar apenas dois exemplos.
Em suma, é preciso criar incentivos que levem a troika a renegociar. A estratégia do Governo português de se apresentar como o bom aluno é uma coisa. Outra, diferente, é a estratégia, por assim dizer, dos portugueses. Até agora também fomos bons alunos como o Governo português. Porém, ao contrário deste, não temos obrigatoriamente de ser bons alunos. O risco de os portugueses passarem de bons a maus alunos é seguramente encarado com preocupação pela troika, e como tal constitui um poderoso incentivo à negociação.
De facto, o receio de que o tão elogiado consenso social possa dar lugar a um crescente número de situações de contestação social pode vir a ser uma mais valia importante do ponto de vista do Governo.
Foi o que aconteceu, aliás, num contexto diferente em Setembro de 1999. Na sequência da consulta popular em Timor-Leste, as milícias timorenses pró-integracionistas espalharam o terror no território. Na altura, uma onda de solidariedade varreu Portugal. Os acontecimentos do "Dia Branco" foram utilizados de forma exímia por António Guterres para pressionar os Estados Unidos. O ex-Primeiro-Ministro do PS utilizou a situação interna portuguesa para transmitir aos EUA a mensagem de que Portugal não poderia continuar a apoiar activamente a intervenção militar no Kosovo se os seus aliados não manifestavam igual solidariedade na questão timorense. Os norte-americanos levaram a posição -- e ameaça -- de Guterres muito a sério. É claro que não foi apenas -- sobretudo? -- por isso que os EUA forçaram a Indonésia a aceitar uma força de manutenção da paz da ONU. Mas o "Dia Branco" deu uma cobertura política preciosa a Guterres no sentido de lhe permitir pressionar de forma mais eficaz os EUA.
Recordo este episódio a propósito da actual situação. O Governo pode e deve utilizar a contestação social como uma arma negocial. A contestação social dá cobertura política ao Governo para tentar convencer a troika a renegociar. Dito de outra maneira, quanto mais difícil for a posição do Governo e quanto maior for o risco de erosão política, maiores serão os incentivos para que a troika repense a sua abordagem. É também por motivos de natureza negocial que considero que deve entrar no debate político a possibilidade de se referendar a continuidade de Portugal no euro. A introdução do tema na agenda política -- não tem de ser Pedro Passos Coelho a dar o tiro de partida -- faria soar vários alarmes, por exemplo em Bruxelas e Berlim, para dar apenas dois exemplos.
Em suma, é preciso criar incentivos que levem a troika a renegociar. A estratégia do Governo português de se apresentar como o bom aluno é uma coisa. Outra, diferente, é a estratégia, por assim dizer, dos portugueses. Até agora também fomos bons alunos como o Governo português. Porém, ao contrário deste, não temos obrigatoriamente de ser bons alunos. O risco de os portugueses passarem de bons a maus alunos é seguramente encarado com preocupação pela troika, e como tal constitui um poderoso incentivo à negociação.
Um milagre [2]
Estamos, portanto, (quase) todos de acordo que o Orçamento do Estado (OE) pretende ganhar tempo. Luís Amado também concorda, tal como narra Teresa de Sousa: "[O OE] resulta da escassa margem de manobra que o país dispõe face à troika de credores. [Amado] considerou-o, por isso, um acto de "voluntarismo político" que pode ser interpretado também como uma forma de ganhar tempo até que a equação europeia se altere num sentido mais favorável aos países sujeitos a programas de ajustamento como Portugal" (Público, 29.10.2012: 15).
Para nosso azar, o 'tempo' da equação europeia não é necessariamente o 'tempo' de Portugal. O sentimento de urgência que se vive nos países sujeitos, ou em vias de estar sujeitos, a programas de ajustamento não é partilhado por Angela Merkel, cada vez mais condicionada internamente pelas eleições para o Parlamento federal alemão que ocorrerão em Setembro de 2013.
Por todas as razões e mais alguma, o próximo ano promete vir a ser de alto risco e impróprio para cardíacos.
Para nosso azar, o 'tempo' da equação europeia não é necessariamente o 'tempo' de Portugal. O sentimento de urgência que se vive nos países sujeitos, ou em vias de estar sujeitos, a programas de ajustamento não é partilhado por Angela Merkel, cada vez mais condicionada internamente pelas eleições para o Parlamento federal alemão que ocorrerão em Setembro de 2013.
Por todas as razões e mais alguma, o próximo ano promete vir a ser de alto risco e impróprio para cardíacos.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Uma dúvida
Quando José Sócrates negociou com a troika o programa de ajustamento económico e financeiro, Manuela Ferreira Leite disse imediatamente que era necessário mais tempo? Na altura a ex-líder do PSD ficou em silêncio ou alertou, no momento oportuno, para os perigos do programa?
Este tipo de intervenções, no momento actual, tem pouca ou nenhuma utilidade. É chover no molhado. Como referi anteriormente: Não basta que as elites digam que o Orçamento do Estado é inexequível. Para isso estou cá eu e os restantes cidadãos anónimos. É preciso apontar soluções e caminhos alternativos. O que é que Manuela Ferreira Leite propõe? Que Portugal não cumpra o programa de ajustamento económico e financeiro? Cumpra, não cumprindo, como a Grécia, com os resultados que são conhecidos? Quais as soluções? Quais as alternativas?
Vai mais uma imperial e um pires de tremoços enquanto mandamos umas bocas? É este o contributo das elites?
Este tipo de intervenções, no momento actual, tem pouca ou nenhuma utilidade. É chover no molhado. Como referi anteriormente: Não basta que as elites digam que o Orçamento do Estado é inexequível. Para isso estou cá eu e os restantes cidadãos anónimos. É preciso apontar soluções e caminhos alternativos. O que é que Manuela Ferreira Leite propõe? Que Portugal não cumpra o programa de ajustamento económico e financeiro? Cumpra, não cumprindo, como a Grécia, com os resultados que são conhecidos? Quais as soluções? Quais as alternativas?
Vai mais uma imperial e um pires de tremoços enquanto mandamos umas bocas? É este o contributo das elites?
Horas de tensão e a Grécia ao virar da esquina
Paulo Portas admitiu que existiram "horas de tensão" durante a discussão da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2013, mas advertiu que "Portugal não pode ter uma crise política" nesta altura. Dito de outra maneira, de modo a evitar uma crise política -- "se Portugal tivesse uma crise política agora ficaria muito perto da situação da Grécia" -- o CDS foi obrigado a aceitar este OE.
Em suma, o CDS mantém a sua estratégia de discordância na concordância. Não vem daqui grande mal ao mundo.
Isto dito, parece-me claro que o CDS não voltará a engolir outro sapo deste tamanho em 2014. Que isso fique registado em acta, assumindo que nessa altura ainda permanece este Governo em funções.
Em suma, o CDS mantém a sua estratégia de discordância na concordância. Não vem daqui grande mal ao mundo.
Isto dito, parece-me claro que o CDS não voltará a engolir outro sapo deste tamanho em 2014. Que isso fique registado em acta, assumindo que nessa altura ainda permanece este Governo em funções.
"Europe Lays the Foundations for Growth"
Getty Images
Olli Rehn: "Of course, there are those who argue that pursuing fiscal consolidation in times of weak or negative growth is counterproductive and that instead, what is needed is fiscal stimulus. Yet what if the countries in question have lost market access, or are struggling to contain rising spreads, precisely because of fears for the sustainability of their debt? What impact would abandoning or reversing their fiscal consolidation policies have on their efforts to restore the confidence of investors? Countries in these positions should be deeply wary of such illusory temptations. Markets do not need to be convinced that a country can boost growth by a few decimal points in a given year through higher spending. They need to be reassured that the country's public finances will be sound in the long-term, which means pursuing prudent fiscal policies, ensuring the sustainability of welfare states and enacting structural reforms that can deliver a lasting improvement in growth and employment. (...) Fiscal consolidation, at a pace appropriate for each country, must remain a core element of economic policy in Europe. It should be borne in mind that the sovereign debt ratio in the European Union has increased to 90% from 60% of GDP in only four years. However, deficits in the euro area have fallen to an average of just over 3% of GDP this year from more than 6% in 2010. As a consequence of fiscal consolidation efforts, public debt is expected to peak next year and then to start to decline as a proportion of GDP. Now is not the time to turn away from the policies that have led to this improvement and that are contributing to a gradual return of confidence in the euro area" (The Wall Street Journal, 13.10.2012).
No País das Maravilhas?
"Um devedor irresponsável tem escassas hipóteses de ser levado a sério. No colete de forças que nos é imposto pelo resgate não há espaço para ânimos fracos, estados de alma e profissionais da desistência, não há lugar para países imaginários", disse Miguel Relvas.
Um bom sound bite, sem dúvida. Regressamos à questão das alternativas -- que a troika não vislumbra -- que ninguém, dentro e fora do Governo, parece capaz de apresentar.
Aguardamos, naturalmente, pelas propostas substantivas do PS. Receio, contudo, que seja em vão. Tal como o CDS, tudo se resumirá a "melhorar aspectos" da proposta de Orçamento do Estado. É a vida.
Um bom sound bite, sem dúvida. Regressamos à questão das alternativas -- que a troika não vislumbra -- que ninguém, dentro e fora do Governo, parece capaz de apresentar.
Aguardamos, naturalmente, pelas propostas substantivas do PS. Receio, contudo, que seja em vão. Tal como o CDS, tudo se resumirá a "melhorar aspectos" da proposta de Orçamento do Estado. É a vida.
Não sai? Quando?
Como diria Eça de Queirós, Vítor Gaspar não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa. Graçolas à parte (e estou a ser injusto com o ministro das Finanças), o título é totalmente especulativo. De facto, provavelmente Vítor Gaspar não sairá na remodelação que se aguarda, previsivelmente após a aprovação do Orçamento do Estado em Novembro. Mas aos primeiros sinais de que a execução orçamental estará a falhar em 2013, assumindo que tal sucederá algures entre Maio e Julho, Gaspar sairá de certeza absoluta.
Soprar uma vela e fazer um desejo
António José Seguro não deseja que "a crise governamental se transforme numa crise política". Nós também não desejamos que isso aconteça, porventura até mais do que o líder do PS. Mas se acontecer, cá estaremos para punir eleitoralmente os seus responsáveis.
Não tem com quem governar
"Se houver crise há eleições -- não há governos minoritários ou de iniciativa presidencial. Isso é ficção. Se houver eleições, provavelmente ganha o PS -- mas não tem com quem governar nem está preparado para governar. Seria um susto. (...) Se houver eleições teremos um novo resgate e mais sacrifícios Senhores da coligação: tenham juízo", disse Marques Mendes.
O PS não tem com quem governar? Diz Marques Mendes o político, ou Marques Mendes o comentador?
Se for o político, percebo. Se for o comentador, fico preocupado com a falta de perspicácia...
O PS não tem com quem governar? Diz Marques Mendes o político, ou Marques Mendes o comentador?
Se for o político, percebo. Se for o comentador, fico preocupado com a falta de perspicácia...
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
A factura da festa
Álvaro Santos Pereira decidiu animar o debate. Parece que houve quem não gostasse do que ouviu. A defesa da honra ficou a cargo de Zorrinho. Espuma. Siga.
Percepção e realidade
O Governo não está para cair, procura tranquilizar Pedro Passos Coelho. Poderia o Primeiro-Ministro dizer outra coisa?
Obviamente que não. Esteja ou não o Governo para cair, a percepção sobrepõe-se à realidade: 52,9% dos portugueses acreditam que o Governo não chegará ao fim da legislatura.
Esta fragilidade governamental, ironia das ironias, resulta não da intervenção da oposição ou de graves tumultos sociais, mas apenas das suas divergências internas.
Obviamente que não. Esteja ou não o Governo para cair, a percepção sobrepõe-se à realidade: 52,9% dos portugueses acreditam que o Governo não chegará ao fim da legislatura.
Esta fragilidade governamental, ironia das ironias, resulta não da intervenção da oposição ou de graves tumultos sociais, mas apenas das suas divergências internas.
O não-comentador político
Fernando Ulrich começou por esclarer que não é comentador político. Fez bem em esclarecer. Por vezes parece. Há, aliás, comentadores políticos que comentam menos do que ele, que não é comentador político. Adiante. Tendo esclarecido que não era comentador político, Ulrich de seguida comentou que Portugal deveria ir a votos em Maio de 2013 e que em "situações tão pressionantes como esta" as eleições legislativas deveriam ocorrer de dois em dois anos. Talvez se perceba, afinal, os motivos que o levam a não ser comentador político, embora gostasse, refira-se. Eleições de dois em dois anos era meio caminho andado para estarmos em permanente campanha eleitoral. E ao contrário do que parece pensar Ulrich, ciclos políticos tão curtos dificultariam mais ainda a tomada de decisões difíceis, retirando assim qualquer utilidade à renovada legitimidade oriunda do voto. Talvez seja por isso que nenhum Estado adoptou esta solução?
Bom, eu que não sou comentador político, nem CEO de um banco, confesso que também tenho umas ideias para optimizar a gestão do BPI. Talvez convide Ulrich um dia destes para almoçar, de modo a que possamos trocar impressões sobre o assunto.
Bom, eu que não sou comentador político, nem CEO de um banco, confesso que também tenho umas ideias para optimizar a gestão do BPI. Talvez convide Ulrich um dia destes para almoçar, de modo a que possamos trocar impressões sobre o assunto.
Merkel quer poder de veto europeu...
...a orçamentos nacionais. Em princípio, nada contra, desde que essa medida esteja englobada num conjunto de decisões que apontem para o aprofundamento do projecto europeu e que envolva contrapartidas como as eurobonds, entre outras.
A vida custa a todos
Ao CDS também, como é óbvio. Estar no Governo implica, por vezes, engolir sapos.
Mas há um dado interessante que gostava de saber. Os ministérios que o CDS controla, em termos comparativos, cortaram mais despesa do que os do PSD?
Mas há um dado interessante que gostava de saber. Os ministérios que o CDS controla, em termos comparativos, cortaram mais despesa do que os do PSD?
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Qual é a alternativa?
A lista de erros nas últimas seis semanas é extensa. Pedro Passos Coelho é responsável pessoal e politicamente por muitos deles. Muitos desses erros teriam sido possíveis de evitar se o Primeiro-Ministro não sofresse, ao fim de tão poucos meses de Governo, do clássico Síndroma da Redoma.
Estou satisfeito com o curso dos acontecimentos?
Obviamente que não. Este Orçamento do Estado é inexequível e representa um esforço, em larga medida, inglório. Esta semana tem sido uma espécie de catarse colectiva, envolvendo os cidadãos anónimos e as elites. Todos expressamos em tom de desabafo a nossa frustração por ter de trilhar um caminho que nos vai custar muito e de muitas formas, sem que haja aparentemente uma luz ao fim do túnel.
Se a frustração é compreensível, sobretudo entre os cidadãos anónimos, entre os quais me incluo, às elites -- políticas, empresariais, jornalísticas, opinion-makers, entre outros -- pede-se e exige-se um pouco mais do que um exercício de catarse colectiva. Não basta que as elites digam que o Orçamento do Estado é inexequível. Para isso estou cá eu e os restantes cidadãos anónimos. É preciso apontar soluções e caminhos alternativos.
O que é que, substantivamente, o Governo poderia e deveria fazer de diferente, no imediato, com o espaço de manobra político e financeiro que tem ao seu alcance?
Esta é a questão que vale um milhão de euros, mas à qual ninguém responde de forma consistente e realista.
A possibilidade de se referendar a permanência de Portugal no euro obrigaria a um debate sério e realista. Não haveria, para o bem ou para o mal, como fugir às ilacções a retirar dos seus resultados.
Tirar consequências [2]
Por falar em tirar as devidas consequências, Berta Cabral já anunciou a sua demissão?
Para memória futura
No dia 17 de Outubro de 2012, o jornal Público noticia que a revisão dos cálculos do FMI aos efeitos da austeridade na economia sugere
que o PIB pode recuar entre 2,8% e 5,3% em 2013 por
força das medidas fiscais, mas o Governo insiste na previsão de uma queda do PIB de 1%.
Depois falamos.
[Adenda]
Universidade Católica prevê recessão que pode ir de 1,4% a 2,6% e desemprego de 16,7% em 2013.
Tirar consequências [1]
É tão fácil exigir nos editoriais que terceiros retirem as devidas consequências de determinadas situações. Já quando nos toca a nós, o caso muda radicalmente de figura. Subitamente, o que importa é resistir. Ainda que a votação do conselho de redacção seja demolidora para a direcção do jornal Público, Bárbara Reis recusa retirar consequências de exercícios "provocatórios e abusivos". Pois, percebo.
Reajustar o ajustamento, sff
A estratégia do Governo alemão parece ser a de reunir todos os casos (Espanha, Chipre, eventualmente Eslovénia e alterações ao programa da Grécia) e submete-los em "pacote" ao seu parlamento, numa "grande operação de salvamento do euro". O propósito será o de evitar o risco de um empréstimo a um "grande", como a Espanha, ficar pelo caminho, ou de ser chumbado o pedido de um "repetente", como a Grécia (Jornal de Negócios).
Portugal tem de seguir este processo com muita atenção. O Governo português tem de tirar partido desta discussão com o intuito de viabilizar a revisão do seu pacote de austeridade. Julgo que Pedro Passos Coelho e Angela Merkel estarão em Bruxelas antes da visita da chanceler alemã a Lisboa em Novembro. Portugal tem de tirar partido desta janela de oportunidade, forçar a discussão e a tomada de decisões sobre o seu programa de ajustamento. Se não o fizer, ninguém o fará por si.
Portugal tem de seguir este processo com muita atenção. O Governo português tem de tirar partido desta discussão com o intuito de viabilizar a revisão do seu pacote de austeridade. Julgo que Pedro Passos Coelho e Angela Merkel estarão em Bruxelas antes da visita da chanceler alemã a Lisboa em Novembro. Portugal tem de tirar partido desta janela de oportunidade, forçar a discussão e a tomada de decisões sobre o seu programa de ajustamento. Se não o fizer, ninguém o fará por si.
É preciso discutir a possibilidade de referendar a continuidade de Portugal no euro
Com a erosão acelerada do consenso nacional à volta do programa de ajustamento, é urgente que o Primeiro-Ministro reconquiste a iniciativa política. Julgo que a previsível remodelação governamental após a aprovação do Orçamento do Estado poderá não ser suficiente. Só vejo uma solução. Pedro Passos Coelho tem de colocar em cima da mesa a hipótese de se avançar com um referendo sobre a manutenção de Portugal no euro. É necessário abrir esta discussão no plano interno, mas também no plano externo, junto dos nossos parceiros europeus.
Alguma coisa tem de mudar. Se a Comissão Europeia, o BCE e o FMI não abrem espaço político a uma revisão estrutural no programa de ajustamento em curso em Portugal, nesse caso o Primeiro-Ministro tem de relegitimar o caminho que estamos a trilhar. Não vejo outra forma de o fazer, sem se abrir a porta à possibilidade -- repito, à possibilidade -- de se realizar um referendo.
Ver e ouvir...
...os vídeos com as intervenções de Manuela Ferreira Leite, Vieira da Silva, Vítor Bento e Bagão Félix.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
O silêncio [5]
Pires de Lima diz não ser exigível ao CDS que melhore substancialmente OE: "Portugal não se pode dar ao luxo de somar à crise económica e financeira que tem uma crise política", referiu Pires de Lima. Traduzido: CDS aprova OE, mas de seguida sai do Governo?
O silêncio [4]
"CDS deve chumbar OE e tirar todas as consequências políticas", José Manuel Rodrigues.
Leituras
1. Pedro Santos Guerreiro, "O que vai fazer o resto da sua vida?" (Jornal de Negócios, 16.10.2012).
O silêncio [3]
Nuno Magalhães desmente que o CDS tenha discutido saída do Governo.
Começa a ser difícil seguir o enredo desta novela política...
Começa a ser difícil seguir o enredo desta novela política...
Um milagre [1]
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que o Orçamento do Estado para 2013 é um "teste muito forte à coligação" e que, dentro de seis meses, ver-se-á se o ministro das Finanças "tinha razão".
Pessoalmente estou absolutamnte convencido que Vítor Gaspar sabe que o OE será impossível de cumprir. O ministro das Finanças sabe isso e quer, pura simplesmente, ganhar tempo. Gaspar quer ganhar tempo na esperança de que nessa janela de oportunidade seja possível reajustar o programa de austeridade. Não encontro outra explicação racional.
Não há, contudo, um plano B. Se a troika não der a mão ao Governo português ele baterá com toda a força na parede. E nós com ele.
[Adenda]
Nem de propósito, Fernando Ulrich diz exactamente o mesmo: "Percebo algumas das medidas que estamos a tomar, que são para ganhar tempo, para não saltar fora da carruagem e vir a beneficiar de possíveis alterações" na gestão da crise europeia.
Pessoalmente estou absolutamnte convencido que Vítor Gaspar sabe que o OE será impossível de cumprir. O ministro das Finanças sabe isso e quer, pura simplesmente, ganhar tempo. Gaspar quer ganhar tempo na esperança de que nessa janela de oportunidade seja possível reajustar o programa de austeridade. Não encontro outra explicação racional.
Não há, contudo, um plano B. Se a troika não der a mão ao Governo português ele baterá com toda a força na parede. E nós com ele.
[Adenda]
Nem de propósito, Fernando Ulrich diz exactamente o mesmo: "Percebo algumas das medidas que estamos a tomar, que são para ganhar tempo, para não saltar fora da carruagem e vir a beneficiar de possíveis alterações" na gestão da crise europeia.
Um feito notável
Como foi possível, em tão pouco tempo, deixar desmoronar a coligação governamental, entrar em rota de colisão com o PS, colocar em perigo a relação com o Presidente da República, já para não falar de tudo o resto?
É certo que a culpa não é apenas do Governo. Tal como é verdade que as diversas intervenções de pessoas próximas do Presidente, de antigos Presidentes da República, entre outros, embora correctas no conteúdo, no momento em que são proferidas pouco contribuem para encontrar qualquer tipo de alternativa.
Isto dito, em última instância e no essencial, a responsabilidade é sempre do Primeiro-Ministro. Espanta-me que Pedro Passos Coelho não perceba isto.
Repito o que já aqui escrevi noutras ocasiões, nada está ainda perdido, mas a verdade é que o caminho é cada vez mais estreito.
É certo que a culpa não é apenas do Governo. Tal como é verdade que as diversas intervenções de pessoas próximas do Presidente, de antigos Presidentes da República, entre outros, embora correctas no conteúdo, no momento em que são proferidas pouco contribuem para encontrar qualquer tipo de alternativa.
Isto dito, em última instância e no essencial, a responsabilidade é sempre do Primeiro-Ministro. Espanta-me que Pedro Passos Coelho não perceba isto.
Repito o que já aqui escrevi noutras ocasiões, nada está ainda perdido, mas a verdade é que o caminho é cada vez mais estreito.
Metas inviáveis
Exceptuando Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar e Carlos Moedas (e, claro, António Borges), há alguém que as considere viáveis?
O silêncio [2]
O CDS reuniu de emergência esta noite e discutiu cenários possíveis, incluindo ruptura da coligação.
Os portugueses saíram à rua
Houve dezenas de viaturas danificadas e uma detenção. Esta detenção é uma injustiça, seguramente, perante a brutalidade policial que não deixou que os portugueses que saíram à rua -- e aquele português em particular -- manifestassem a sua indignação com total liberdade de expressão e de actuação.
Os portugueses saíram à rua, expressando a sua indignação, brindaram o corpo policial com pedras e garrafas, arrancaram alguns ecopontos do chão, mas os fascistas repressores não perceberam a natureza simbólica do acto. Grunhos.
Agora temos de convocar, via Facebook, uma manifestação de apoio ao cidadão e patriota injustamente detido pelo aparelho de repressão do Estado. É preciso que os portugueses continuem a okupar a rua em protesto. Não faltam viaturas para danificar e montras de lojas para partir. Os proprietários que depois as mandem reparar, se tiverem dinheiro para isso. Se não têm, a culpa é do Governo de fantoches ao serviço da Merkel.
P.S. -- É preciso abrir um processo de averiguação para saber se não houve brutalidade policial. Houve, quase de certeza absoluta, uma vez que um manifestante ficou ferido. (Dez polícias ficaram também feridos, mas isso foi seguramente por culpa deles.)
Os portugueses saíram à rua, expressando a sua indignação, brindaram o corpo policial com pedras e garrafas, arrancaram alguns ecopontos do chão, mas os fascistas repressores não perceberam a natureza simbólica do acto. Grunhos.
Agora temos de convocar, via Facebook, uma manifestação de apoio ao cidadão e patriota injustamente detido pelo aparelho de repressão do Estado. É preciso que os portugueses continuem a okupar a rua em protesto. Não faltam viaturas para danificar e montras de lojas para partir. Os proprietários que depois as mandem reparar, se tiverem dinheiro para isso. Se não têm, a culpa é do Governo de fantoches ao serviço da Merkel.
P.S. -- É preciso abrir um processo de averiguação para saber se não houve brutalidade policial. Houve, quase de certeza absoluta, uma vez que um manifestante ficou ferido. (Dez polícias ficaram também feridos, mas isso foi seguramente por culpa deles.)
O silêncio [1]
Os deputados do CDS, João Almeida e Adolfo Mesquita Nunes, contrariaram Vítor Gaspar e insistiram que Orçamento de Estado tem margem para ser alterado. Esta posição, note-se, surge após sucessivas reuniões do conselho de ministros, autênticas maratonas negociais, em que PSD e CDS discutiram e aprovaram o documento que ontem foi entregue no Parlamento.
Como interpretar a posição do CDS?
José Ribeiro e Castro disse o óbvio: "É fundamental [que Paulo Portas fale]. Não pode existir a mais pequena dúvida de que é ou não é o Orçamento do Estado proposto pelo partido".
Será que o CDS, na ressaca dos resultados eleitorais nos Açores, está a equacionar, uma vez mais, a possibilidade de um acordo de incidência parlamentar?
Ribeiro e Castro, em Setembro, considerava essa hipótese um disparate. Será?
Não sei. O que sei é que Ribeiro e Castro, ao contrário de Almeida e Mesquita Nunes, não faz parte do círculo político mais próximo de Portas. Se o líder do CDS estiver a pensar nessa possibilidade Ribeiro e Castro provavelmente será um dos últimos a saber.
Independentemente de toda a especulação que se possa fazer, uma coisa é certa: Portas tem de assumir responsavelmente que este é o Orçamento do Estado que conta com o apoio do CDS. Pode não ser o ideal, mas foi aquele que o CDS negociou e validou em conselho de ministros. Tão simples como isto.
Como interpretar a posição do CDS?
José Ribeiro e Castro disse o óbvio: "É fundamental [que Paulo Portas fale]. Não pode existir a mais pequena dúvida de que é ou não é o Orçamento do Estado proposto pelo partido".
Será que o CDS, na ressaca dos resultados eleitorais nos Açores, está a equacionar, uma vez mais, a possibilidade de um acordo de incidência parlamentar?
Ribeiro e Castro, em Setembro, considerava essa hipótese um disparate. Será?
Não sei. O que sei é que Ribeiro e Castro, ao contrário de Almeida e Mesquita Nunes, não faz parte do círculo político mais próximo de Portas. Se o líder do CDS estiver a pensar nessa possibilidade Ribeiro e Castro provavelmente será um dos últimos a saber.
Independentemente de toda a especulação que se possa fazer, uma coisa é certa: Portas tem de assumir responsavelmente que este é o Orçamento do Estado que conta com o apoio do CDS. Pode não ser o ideal, mas foi aquele que o CDS negociou e validou em conselho de ministros. Tão simples como isto.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Uma dúvida
O jornal Público está a tentar assegurar que Miguel Relvas não será um dos ministros substituídos na remodelação governamental?
Leituras
1. Pedro Correia, "Açores: dez apontamentos eleitorais" (Delito de Opinião, 15.10.2012).
2. Pedro Santos Guerreiro, "(Não digam a ninguém, mas..." (Jornal de Negócios, 15.10.2012).
2. Pedro Santos Guerreiro, "(Não digam a ninguém, mas..." (Jornal de Negócios, 15.10.2012).
O calvário e a confiança
O calvário do Orçamento do Estado para 2013 continua hoje com a entrega formal no Parlamento da versão não sei quantos, revista e aprofundada, supostamente a versão final para debate. O processo de condução e elaboração do OE foi penoso, para não dizer muito mais. Entretanto, enquanto a anarquia política que parece vigorar no seio do Governo vai fazendo estragos, muitos estragos, o moral das tropas começa a ressentir-se, como não poderia deixar de acontecer.
Nada disto é ainda irreparável, por agora, mas se Passos Coelho não inverter muito rapidamente a espiral suicida que se instalou nas últimas semanas, mostrar de uma vez por todas liderança e autoridade, competência, conhecimento e controlo dos processos de decisão, receio que o Governo não chegue ao final de 2013.
As sondagens, nesta altura, interessam-me pouco. Este quadro, publicado na edição do jornal Expresso desta semana, porém, interessa-me muito.
Nada disto é ainda irreparável, por agora, mas se Passos Coelho não inverter muito rapidamente a espiral suicida que se instalou nas últimas semanas, mostrar de uma vez por todas liderança e autoridade, competência, conhecimento e controlo dos processos de decisão, receio que o Governo não chegue ao final de 2013.
As sondagens, nesta altura, interessam-me pouco. Este quadro, publicado na edição do jornal Expresso desta semana, porém, interessa-me muito.
O Primeiro-Ministro devia tirar uma cópia e afixá-la algures no seu gabinete. Vale o que vale, bem sei, mas parece-me altamente preocupante que 69,4% dos inquiridos não confiem no Governo. Em parte, julgo que o sentido das restantes respostas decorre desta profunda desconfiança. Restaurar a confiança é, portanto, a prioridade das prioridades. Enfim, não me vou repetir. O diagnóstico está feito e é conhecido.
domingo, 14 de outubro de 2012
Açores
Os eleitores têm sempre -- sempre -- razão. Pedro Passos Coelho disse o que havia para dizer institucionalmente. Amanhã é outro dia.
Sim, renegociar
Jorge Sampaio considera necessário um consenso alargado para conseguir renegociar as condições do empréstimo com a troika.
Regressamos sempre ao défice de política neste Governo. Desde o final de Agosto que começou a ser perceptível que alguma coisa estava a correr mal com a estratégia do Governo e que era necessário ajustar a narrativa oficial. Entretanto passou um mês e meio e o Governo nada fez nesse sentido. Pelo meio a troika concedeu mais um ano a Portugal, mas ninguém ficou com a noção de que tal tenha sido solicitado pelo Governo português, ou fruto da sua estratégia. No mesmo sentido, não tenho conhecimento público de uma única intervenção de membros do Governo que aponte para a tentativa de redução dos custos de financiamento, tal como o PS defende, refira-se.
Se o Governo tem feito alguma coisa junto da troika no sentido de atenuar a austeridade, torná-la sustentável e exequível, tal não é do conhecimento público. Pelo contrário. O Governo aparece sempre como o fiel executor do programa imposto pela troika. Ora, parece-me evidente que isto é um suicídio político.
O Governo tem de reconquistar a iniciativa política, rever a narrativa e o rumo. De caminho e nesse âmbito, Pedro Passos Coelho tem aqui uma oportunidade para voltar a incluir o PS de novo num consenso mais alargado. Caso contrário, com uma base de apoio cada vez mais diminuta, este é um caminho político sem retorno.
Regressamos sempre ao défice de política neste Governo. Desde o final de Agosto que começou a ser perceptível que alguma coisa estava a correr mal com a estratégia do Governo e que era necessário ajustar a narrativa oficial. Entretanto passou um mês e meio e o Governo nada fez nesse sentido. Pelo meio a troika concedeu mais um ano a Portugal, mas ninguém ficou com a noção de que tal tenha sido solicitado pelo Governo português, ou fruto da sua estratégia. No mesmo sentido, não tenho conhecimento público de uma única intervenção de membros do Governo que aponte para a tentativa de redução dos custos de financiamento, tal como o PS defende, refira-se.
Se o Governo tem feito alguma coisa junto da troika no sentido de atenuar a austeridade, torná-la sustentável e exequível, tal não é do conhecimento público. Pelo contrário. O Governo aparece sempre como o fiel executor do programa imposto pela troika. Ora, parece-me evidente que isto é um suicídio político.
O Governo tem de reconquistar a iniciativa política, rever a narrativa e o rumo. De caminho e nesse âmbito, Pedro Passos Coelho tem aqui uma oportunidade para voltar a incluir o PS de novo num consenso mais alargado. Caso contrário, com uma base de apoio cada vez mais diminuta, este é um caminho político sem retorno.
sábado, 13 de outubro de 2012
À caça de gambozinos [2]
Caramba, tantos gambozinos no espaço de uma semana é quase matematicamente impossível. No entanto, improvável ou não, estão a ver outro escondido no meio dos pixels do vosso monitor?
Na mouche
Aníbal Cavaco Silva, uma vez mais.
[Adenda]
Mais uma observação a retirar pelo Governo e que, refira-se, não é uma novidade. O Presidente da República não dará cobertura ao Governo se persistir com um programa de austeridade irracional. Dito de outra maneira, Cavaco Silva não cooperará com o Governo se este persistir com o discurso 'cego' da "raça de homens".
[Adenda]
Mais uma observação a retirar pelo Governo e que, refira-se, não é uma novidade. O Presidente da República não dará cobertura ao Governo se persistir com um programa de austeridade irracional. Dito de outra maneira, Cavaco Silva não cooperará com o Governo se este persistir com o discurso 'cego' da "raça de homens".
Quando o próprio FMI...
...coloca em causa os efeitos dos programas de austeridade, torna-se incompreensível que o Governo continue a trilhar exactamente o mesmo caminho sem qualquer reacção ou ajuste ao que se passa à sua volta. No mínimo, exige-se ao Primeiro-Ministro que explique porque motivo o Governo ignora, pelo menos para já, as observações do FMI.
P.S. -- E ao FMI exige-se que seja coerente entre as palavras e os actos no âmbito da troika.
P.S. -- E ao FMI exige-se que seja coerente entre as palavras e os actos no âmbito da troika.
Gestão do tempo político e das expectativas
A percepção de que o Governo está a prazo cresce todos os dias. Logo, cada dia que passa dificulta cada vez mais a remodelação governamental. Por outro lado, cada dia que passa sem que se faça a remodelação aumenta as expectativas sobre a mesma. Consequentemente, cada dia que passa sem que ocorra a remodelação governamental contribui para que no final a mesma constitua uma desilusão.
É sempre assim...
"O Dr. [António] Borges e eu coincidimos na comissão política da Dra. Manuela Ferreira Leite. Registo que o Dr. Borges encontra hoje muito mais qualidades no nosso PM do que nessa altura encontrava. É uma evolução natural. Podemos ficar a conhecer melhor as pessoas e a admirá-las.
Os leitores não podem ouvir o tom com que o diz.
Demasiado irónico?
Cínico.
É absolutamente cínico. (...) O José Pedro Aguiar-Branco, o António Borges, um conjunto de pessoas que faziam parte desse lado [Manuela Ferreira Leite/Paulo Rangel] (...) quando o PSD mudou de direcção, encontrou na nova direcção qualidades que até à eleição eles não tinham. Mas é sempre assim", José Eduardo Martins (Jornal de Negócios/supl. Weekend, 12.10.2012: 7).
Esta passagem espelha bem o sentimento de uma parte do PSD -- adversários e apoiantes de Passos Coelho -- em relação aos, digamos, cristão-novos que mudaram de campo após a derrota de Paulo Rangel.
Naturalmente, também conheço alguns dos actuais colaboradores do Governo de Passos Coelho que no passado disseram dele o que Maomé não disse do toucinho. Alguns, hoje em dia, até serão mais 'Passistas' do que eu...
Mas como diz José Eduardo Martins, as coisas são mesmo assim. Ainda bem que são assim, acrescento, e ainda bem que Passos Coelho assumiu uma postura inclusiva e não sectária. Desde que a sua colaboração seja leal e útil no presente, pouco importa quem apoiou quem no passado. Não sei, aliás, o que é 'pior', se encontrar novas qualidades na nova direcção quando a realidade se impõe, ou se persistir numa oposição cega de trincheira. Seja como for, pouco importa. Uns e outros têm toda a legitimidade para fazer as suas escolhas.
Os leitores não podem ouvir o tom com que o diz.
Demasiado irónico?
Cínico.
É absolutamente cínico. (...) O José Pedro Aguiar-Branco, o António Borges, um conjunto de pessoas que faziam parte desse lado [Manuela Ferreira Leite/Paulo Rangel] (...) quando o PSD mudou de direcção, encontrou na nova direcção qualidades que até à eleição eles não tinham. Mas é sempre assim", José Eduardo Martins (Jornal de Negócios/supl. Weekend, 12.10.2012: 7).
Esta passagem espelha bem o sentimento de uma parte do PSD -- adversários e apoiantes de Passos Coelho -- em relação aos, digamos, cristão-novos que mudaram de campo após a derrota de Paulo Rangel.
Naturalmente, também conheço alguns dos actuais colaboradores do Governo de Passos Coelho que no passado disseram dele o que Maomé não disse do toucinho. Alguns, hoje em dia, até serão mais 'Passistas' do que eu...
Mas como diz José Eduardo Martins, as coisas são mesmo assim. Ainda bem que são assim, acrescento, e ainda bem que Passos Coelho assumiu uma postura inclusiva e não sectária. Desde que a sua colaboração seja leal e útil no presente, pouco importa quem apoiou quem no passado. Não sei, aliás, o que é 'pior', se encontrar novas qualidades na nova direcção quando a realidade se impõe, ou se persistir numa oposição cega de trincheira. Seja como for, pouco importa. Uns e outros têm toda a legitimidade para fazer as suas escolhas.
Leituras
1. Paulo Pedroso, "Cair nas sondagens e ter condições para governar" (Banco Corrido, 12.10.2012).
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Nobel da Paz para a UE
De facto, trata-se de uma mensagem moral e política, para utilizar as palavras de Jacques Delors, e acrescentaria que tem grande significado simbólico. Numa altura de algum desencanto com o processo de construção europeia, o Nobel da Paz reafirma a importância e a relevância da União Europeia. Criada na década de 1950 num contexto de Guerra Fria, hoje, numa conjuntura mundial totalmente diferente, o Nobel da Paz relembra, caso fosse necessário -- e talvez fosse... -- que continuam a existir razões de fundo que justificam a aposta na manutenção e no aprofundamento do projecto europeu. Esquecidos que estamos do que é o flagelo da guerra, acabamos por não dar o devido valor à paz e à prosperidade que a UE garantiu aos Estados europeus no último meio século.
Uma dúvida
António José Seguro encontrou-se esta semana com François Hollande em Paris. No meio do ruído, fiquei sem saber quais foram os resultados concretos desse encontro. O Presidente francês ficou sensibilizado com os seus argumentos? Hollande vai empenhar-se pessoalmente na luta política pela redução dos custos de financiamento de Portugal? Que garantias deu Hollande a Seguro, alguém sabe? Ou será que tudo não passou de uma photo opportunity sem resultados substantivos?
O culminar de uma estratégia bem sucedida
Vejam o título principal da edição desta semana do jornal Sol. Confirma-se, portanto, que vai suceder o que era óbvio. Paulo Portas, se quiser, até poderá estender a mão ao PSD, de forma graciosa, dizendo que o mérito na solução encontrada para o Orçamento do Estado de 2013 é do Governo no seu todo e não apenas do CDS. Contudo, a percepção de que o CDS teve nos bastidores um papel liderante no corte da despesa e na contenção dos aumentos dos impostos está instalada e dificilmente a narrativa poderá vir a ser outra. Watch and learn my friends...
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Sentido de oportunidade
Três deputados do PS -- António Serrano, Miguel Freitas e Jorge Fão -- requereram à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, com carácter de urgência, informações detalhadas sobre despesas dos gabinetes ministeriais em hotéis, restaurantes, telemóveis e cartões de crédito.
Aqui está uma excelente iniciativa. Aliás, com muito sentido de oportunidade, tendo em conta as notícias de hoje sobre a aquisição de automóveis pela bancada socialista. Serrano, Freitas e Fão, uma vez que ligaram a ventoínha, poderiam igualmente requerer ao líder da sua bancada, também com carácter de urgência, um pedido de explicações sobre a aquisição de novos veículos. Poderiam, por exemplo, solicitar informações detalhadas sobre os motivos que levaram a sua bancada parlamentar a adquirir em regime de renting um Audi A5 e de três VW Passat. Vai na volta, Carlos Zorrinho era capaz de lhes dizer que relativamente às despesas, estas ou as dos gabinetes ministeriais, "quem quer uma democracia sem custos, o que verdadeiramente deseja é uma não democracia. Sem democracia os custos são ainda mais elevados mas ninguém sabe". Mas, claro, podemos sempre discutir a despesa parcela a parcela. Por exemplo, poderemos querer saber porque motivo o ministro A gasta X em telemóveis, ou porque motivo, numa altura tão difícil para Portugal e para os contribuintes, a bancada parlamentar do PS tem de ter um Audi A5 e três VW Passat em vez de menos viaturas e mais baratas. Estou certo que o trio Serrano, Freitas e Fão está ansioso, aliás como qualquer cidadão, em saber as respostas, sem olhar à origem partidária das despesas. Ou será que, pensando melhor, seria uma atitude mais responsável não atirar lama para a ventoínha?
Aqui está uma excelente iniciativa. Aliás, com muito sentido de oportunidade, tendo em conta as notícias de hoje sobre a aquisição de automóveis pela bancada socialista. Serrano, Freitas e Fão, uma vez que ligaram a ventoínha, poderiam igualmente requerer ao líder da sua bancada, também com carácter de urgência, um pedido de explicações sobre a aquisição de novos veículos. Poderiam, por exemplo, solicitar informações detalhadas sobre os motivos que levaram a sua bancada parlamentar a adquirir em regime de renting um Audi A5 e de três VW Passat. Vai na volta, Carlos Zorrinho era capaz de lhes dizer que relativamente às despesas, estas ou as dos gabinetes ministeriais, "quem quer uma democracia sem custos, o que verdadeiramente deseja é uma não democracia. Sem democracia os custos são ainda mais elevados mas ninguém sabe". Mas, claro, podemos sempre discutir a despesa parcela a parcela. Por exemplo, poderemos querer saber porque motivo o ministro A gasta X em telemóveis, ou porque motivo, numa altura tão difícil para Portugal e para os contribuintes, a bancada parlamentar do PS tem de ter um Audi A5 e três VW Passat em vez de menos viaturas e mais baratas. Estou certo que o trio Serrano, Freitas e Fão está ansioso, aliás como qualquer cidadão, em saber as respostas, sem olhar à origem partidária das despesas. Ou será que, pensando melhor, seria uma atitude mais responsável não atirar lama para a ventoínha?
Quem define as prioridades?
"Não é um tema prioritário, prioritário é o Orçamento do Estado e os problemas dos portugueses", referiu Carlos Zorrinho, líder parlamentar socialista, desvalorizando deste modo a proposta feita pelo seu secretário-geral, António José Seguro, sobre a reforma do sistema político que apontava para a redução do número de deputados.
É claro que Seguro dirá que a posição de Zorrinho não entra em contradição com a sua. O recuo, todavia, parece estar em curso, no que constituirá uma desautorização indisfarçável do secretário-geral do PS.
Isto dito, alguém se esqueceu de avisar o porta-voz do secretariado nacional do PS, João Assunção Ribeiro, que o tema não é prioritário...
Quem define as prioridades no PS, afinal?
Não sei. Apenas sei que não parece ser António José Seguro.
[Adenda]
O PSD, claro, não desperdiçou a oportunidade...
É claro que Seguro dirá que a posição de Zorrinho não entra em contradição com a sua. O recuo, todavia, parece estar em curso, no que constituirá uma desautorização indisfarçável do secretário-geral do PS.
Isto dito, alguém se esqueceu de avisar o porta-voz do secretariado nacional do PS, João Assunção Ribeiro, que o tema não é prioritário...
Quem define as prioridades no PS, afinal?
Não sei. Apenas sei que não parece ser António José Seguro.
[Adenda]
O PSD, claro, não desperdiçou a oportunidade...
À caça de gambozinos [1]
Se repararem, com toda a atenção, no canto superior esquerdo -- ou será direito? -- do vosso écran, está um gambozino escondido nos pixels. Não o estão a ver?
Reparem com um pouco de mais atenção.
Ainda não o viram?
Façam lá mais um esforço.
Desta vez já o conseguiram vislumbrar?
É um exemplar adulto, perfeitamente saudável.
É magnífico, não é?
Aproveitem a oportunidade porque, terminado o Verão, é possível que não voltem a ver outro tão depressa. O jornal Público, mérito seu seguramente, conseguiu avistar dois esta semana. Ironia das ironias, estamos meses a fio sem ver um único gambozino e subitamente, sorte a nossa, numa semana conseguimos ver dois belos exemplares. É por esta e por outras -- e mais outras, entre outras -- que considero que o Público vale todos os cêntimos que custa aos seus leitores.
Reparem com um pouco de mais atenção.
Ainda não o viram?
Façam lá mais um esforço.
Desta vez já o conseguiram vislumbrar?
É um exemplar adulto, perfeitamente saudável.
É magnífico, não é?
Aproveitem a oportunidade porque, terminado o Verão, é possível que não voltem a ver outro tão depressa. O jornal Público, mérito seu seguramente, conseguiu avistar dois esta semana. Ironia das ironias, estamos meses a fio sem ver um único gambozino e subitamente, sorte a nossa, numa semana conseguimos ver dois belos exemplares. É por esta e por outras -- e mais outras, entre outras -- que considero que o Público vale todos os cêntimos que custa aos seus leitores.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Talvez não fosse uma má ideia...
...colocar um travão na especulação que vai crescendo sobre "grupos de sábios" e "governos não eleitos". O Presidente da República tem o dever político de publicamente cortar pela raíz este tipo de especulação, sem outra utilidade que não seja a de minar a autoridade do Governo. Como imagino que Aníbal Cavaco Silva está longe de querer uma crise política nesta altura, caso contrário não teria tido recentemente o papel crucial que teve nos bastidores, talvez fosse boa ideia lembrar o que diz a Constituição e qual o seu entendimento dos poderes presidenciais. Tão simples como isto.
Mas se o Presidente falhar por omissão nesta clarificação, o que seria péssimo sinal, nesse caso o próprio Primeiro-Ministro poderá e deverá lembrar que tem plena legitimidade democrática, decorrente de um mandato conferido através de eleições livres e justas. Again, tão simples como isto. Manobras de secretaria não são dignas de uma democracia consolidada como a nossa. Como alguém diria, quem tem medo de se submeter a eleições -- a forma por excelência de o Povo expressar a sua posição (talvez valha a pena lembrar isto a alguns personagens que andam sempre com a boca cheia de 'Povo') -- que compre um cão.
Mas se o Presidente falhar por omissão nesta clarificação, o que seria péssimo sinal, nesse caso o próprio Primeiro-Ministro poderá e deverá lembrar que tem plena legitimidade democrática, decorrente de um mandato conferido através de eleições livres e justas. Again, tão simples como isto. Manobras de secretaria não são dignas de uma democracia consolidada como a nossa. Como alguém diria, quem tem medo de se submeter a eleições -- a forma por excelência de o Povo expressar a sua posição (talvez valha a pena lembrar isto a alguns personagens que andam sempre com a boca cheia de 'Povo') -- que compre um cão.
Duas páginas
Que o Público, que pretende posicionar-se como uma publicação de referência, dedique na sua edição de ontem duas páginas inteiras -- repito, duas páginas na sua totalidade -- a um livro que "ensina como fazer o curso [superior] 'na maior'", diz muito sobre o estado do jornal na actualidade. Estamos a falar, por mera curiosidade, de um jornal que quase arrancou o cabelo num transe de indignação com o caso da licenciatura de Miguel Relvas, mas que no lead do artigo em causa destaca, validando e/ou legitimando a tese dos autores, que "não é preciso andar sempre agarrado aos livros para se ter boas notas no ensino superior (...) muitos professores são chatos. Quase todos os alunos copiam". Extraordinário. As mesmas virgens jornalísticas que se horrorizaram com as facilidades concedidas a Miguel Relvas na obtenção da sua licenciatura convivem bem com um artigo de duas páginas que faz a apologia do facilitismo no ensino superior.
Moral da história?
O Público é hoje uma sombra do jornal que foi no passado. Lamento.
Moral da história?
O Público é hoje uma sombra do jornal que foi no passado. Lamento.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Há críticas e críticas, mas algumas são justas
Alguns analistas criticam o PSD por, uma vez eleito, ter deixado pelo caminho algumas das suas bandeiras de campanha eleitoral. A revisão das funções do Estado, por exemplo. Esta crítica tem um lado injusto, na medida em que esquece que o PSD não teve maioria absoluta. Ora, sem maioria absoluta parte da sua agenda reformista tornou-se impraticável. Isto dito, é verdade que o PSD, no Governo, tem revelado uma inexplicável dificuldade -- tanto mais incompreensível porque o PSD não explica o que se passa, i.e. a que se deve a sua inoperância --, por exemplo, em cortar nas famosas gorduras do Estado. Mais. Pouco ou nada tem dito precisamente sobre a revisão das funções do Estado, ou sobre a tão necessária revisão constitucional. Este é o lado justo da crítica e que ganha acrescida relevância uma vez que o Governo pede esforços adicionais aos contribuintes, precisamente aquilo que o PSD e o CDS criticaram no Governo anterior. Regressamos sempre ao ponto de origem: O défice de política é mais do que óbvio.
Julgo que seria um exercício esclarecedor...
...se se fizesse um apanhado das intervenções públicas de Pedro Passos Coelho -- entrevistas de fundo, discursos, questões de ocasião colocadas pelos jornalistas, etc. --, de modo a identificar o peso dos diversos temas. Tenho a certeza absoluta que seria evidente o 'excesso' de finanças e o défice de política.
Outra dúvida
"The failure of US and eurozone policy makers to tackle their fiscal woes is threatening an already “slow and bumpy” global economic recovery, the International Monetary Fund has warned.
In its World Economic Outlook, the IMF downgraded its forecasts for global growth next year and provided ammunition to critics of austerity, concluding that governments had systematically underestimated the damage done to growth by tax rises and spending cuts. (...) The fund points to new analysis showing that governments’ assumptions about the trade-off between fiscal consolidation and growth had been too favourable, and cutbacks would do more damage to output than their economic forecasts predicted" [Claire Jones, "IMF cuts global growth forecastcuts global growth forecasts" (Financial Times)].
A pergunta que vale um milhão de euros: Nas negociações do Governo português com a troika, e já lá vão cinco avaliações intercalares, os representantes do FMI têm assumido posições consistentes com os mais recentes estudos que apontam para o efeito negativo da austeridade? Dito de outra maneira, na troika, o FMI tem sido uma 'pomba', ou tem assumido também o papel de 'falcão', apesar dos tais estudos?
Receio que saiba a resposta...
A pergunta que vale um milhão de euros: Nas negociações do Governo português com a troika, e já lá vão cinco avaliações intercalares, os representantes do FMI têm assumido posições consistentes com os mais recentes estudos que apontam para o efeito negativo da austeridade? Dito de outra maneira, na troika, o FMI tem sido uma 'pomba', ou tem assumido também o papel de 'falcão', apesar dos tais estudos?
Receio que saiba a resposta...
Uma dúvida
"A nossa premissa é de que a crise europeia não se vai aprofundar e que portanto os nossos parceiros comerciais -- dado que serão as exportações a liderar este caminho de crescimento da economia -- não irão ter a sua situação mais degradada de que aquilo que hoje, quando fazemos as previsões, temos em linha de conta", disse ontem o Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho.
Ora, o World Economic Outlook do FMI, que se ficou a conhecer ontem também, parece apontar precisamente para um aprofundamento da crise europeia, na medida em que prevê menos crescimento global e uma fraca recuperação na zona euro em 2013.
A minha dúvida é muito simples: Os pressupostos em que assenta o Orçamento do Estado (OE) para 2013 estão em linha com as previsões do FMI, ou o Governo partiu de premissas mais optimistas para a sua elaboração?
Dito de outra maneira, o OE corre um risco sério de estar desactualizado nas suas previsões ainda antes da sua submissão formal à Assembleia da República?
Ora, o World Economic Outlook do FMI, que se ficou a conhecer ontem também, parece apontar precisamente para um aprofundamento da crise europeia, na medida em que prevê menos crescimento global e uma fraca recuperação na zona euro em 2013.
A minha dúvida é muito simples: Os pressupostos em que assenta o Orçamento do Estado (OE) para 2013 estão em linha com as previsões do FMI, ou o Governo partiu de premissas mais optimistas para a sua elaboração?
Dito de outra maneira, o OE corre um risco sério de estar desactualizado nas suas previsões ainda antes da sua submissão formal à Assembleia da República?
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
É de medidas tímidas e isoladas que precisamos? [2]
Limitar o número de deputados não tem como consequência obrigatória a limitação da voz de outras forças políticas, tal como afirma André Couto. Como não poderia deixar de ser, se o PS e o PSD quiserem há mecanismos para salvaguardar a proporcionalidade e a pluralidade.
Mas estará o PS verdadeiramente interessado em fazer reformas políticas de fundo? Duvido, como já referi. Cá estaremos para o confirmar. Uma coisa é certa, se o PS se limitou a introduzir este tema no debate no âmbito de uma jogada política para criar conflitos entre o PSD e o CDS, nesse caso é possível que o tiro lhe saia pela culatra.
Mas estará o PS verdadeiramente interessado em fazer reformas políticas de fundo? Duvido, como já referi. Cá estaremos para o confirmar. Uma coisa é certa, se o PS se limitou a introduzir este tema no debate no âmbito de uma jogada política para criar conflitos entre o PSD e o CDS, nesse caso é possível que o tiro lhe saia pela culatra.
PGR
Então não era Cândida Almeida?
Curioso, igualmente, que o nome de Joana Marques Vidal não constasse, em momento algum (tanto quanto me apercebi), da extensa lista de potenciais sucessores de Pinto Monteiro que, ao longo de semanas, a comunicação social foi atirando ao ar.
Entretanto, com a eventual remodelação governamental, começamos a assistir exactamente ao mesmo filme. Não faltam ministros remodelados e eventuais novos ministros. Os jornalistas persistem em confundir especulação com jornalismo.
Curioso, igualmente, que o nome de Joana Marques Vidal não constasse, em momento algum (tanto quanto me apercebi), da extensa lista de potenciais sucessores de Pinto Monteiro que, ao longo de semanas, a comunicação social foi atirando ao ar.
Entretanto, com a eventual remodelação governamental, começamos a assistir exactamente ao mesmo filme. Não faltam ministros remodelados e eventuais novos ministros. Os jornalistas persistem em confundir especulação com jornalismo.
Não mata, mas mói...
Pedro Passos Coelho não é frontal e directamente acusado de ter sido beneficiado, ou de ter cometido alguma ilegalidade. Mas fica implícito que alguma coisa não bate certo. Como é que alguém se defende de uma acusação que no fundo não é formulada?
É assim com a Grécia...
...e será assim com Espanha, ou com Portugal. Wolfgang Munchau, "Relentless austerity will only deepen Greek woes" (Financial Times):
"We have reached a point where the policies adopted to resolve the eurozone debt crisis are causing more damage than whatever may have caused the problems in the first place. This is painfully obvious in Greece and increasingly so in Spain. (...) Spain is not quite there yet but it is heading in the same direction. (...) As a member of the troika in Greece, the IMF is part of this self-defeating approach. One wonders sometimes whether this is the same IMF that in its latest World Economic Outlook produced a very thoughtful analysis of past debt crises. It came to the conclusion that deficit reduction programmes can function only under certain auspicious conditions and must not be pursued in a blind, mechanistic sort of way. "The first lesson is that fiscal consolidation efforts need to be complemented by measures that support growth: structural issues need to be addressed and monetary conditions need to be as supportive as possible," it says. (...) European policy makers have always clung to the hope that a subsequent recovery would take care of all the problems. They chronically underestimated the effect of austerity on growth, especially if other countries in the region pursue the same policies. (...) My conclusion is that present policy is not consistent with these two countries' survival in the eurozone. This is not a prediction that they have no choice but to leave. It is merely a statement of policy choices."
"We have reached a point where the policies adopted to resolve the eurozone debt crisis are causing more damage than whatever may have caused the problems in the first place. This is painfully obvious in Greece and increasingly so in Spain. (...) Spain is not quite there yet but it is heading in the same direction. (...) As a member of the troika in Greece, the IMF is part of this self-defeating approach. One wonders sometimes whether this is the same IMF that in its latest World Economic Outlook produced a very thoughtful analysis of past debt crises. It came to the conclusion that deficit reduction programmes can function only under certain auspicious conditions and must not be pursued in a blind, mechanistic sort of way. "The first lesson is that fiscal consolidation efforts need to be complemented by measures that support growth: structural issues need to be addressed and monetary conditions need to be as supportive as possible," it says. (...) European policy makers have always clung to the hope that a subsequent recovery would take care of all the problems. They chronically underestimated the effect of austerity on growth, especially if other countries in the region pursue the same policies. (...) My conclusion is that present policy is not consistent with these two countries' survival in the eurozone. This is not a prediction that they have no choice but to leave. It is merely a statement of policy choices."
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