sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Termómetro [8]

1. "Bagão Félix: Discutir o Estado social é fácil porque atinge pessoas sem voz". 2. ""Só vale discutir dentro ou fora do memorando – não no meio"". 3. "Portugal/Cabo Verde: Dois países estão em "sintonia total" - primeiro-ministro cabo-verdiano".

1. "Novo recorde de desemprego: 16,3% em Portugal, 11,7% na zona euro". 2. "Deputados socialistas poderão pedir fiscalização sucessiva do OE".

Irresponsabilidade em acção

Andamos a brincar com assuntos sérios?

Evidentemente, diz Passos Coelho

Vasco Pulido Valente diz o óbvio hoje no Público sobre o facto de, nas palavras do Primeiro-Ministro, Paulo Portas ser o número três na hierarquia do Governo. Confesso que altura julguei ter sido uma inocente gaffe e esperei por uma correcção destas declarações ao longo do dia de ontem. Não aconteceu.
Infelizmente, Passos Coelho e Portas parecem andar entretidos a dar bicadas um ao outro, directamente ou por intermédio de terceiros. João Almeida elabora uma declaração de voto muito crítica do Orçamento do Estado, muito provavelmente em articulação com Paulo Portas. Passos Coelho responde desvalorizando de forma inadmissível Portas e reforçando de forma desastrada a posição de Vítor Gaspar no Governo. Este jogo de pingue-pongue é uma autêntica garotice que tem todos os ingredientes para acabar mal. Pouco interessa quem começou, ou quem é mais responsável. Se o Governo se desmoronar, o eleitorado explicará a um e a outro o que quero dizer.

Portugal e a Palestina [2]

A Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu a Palestina como Estado observador não membro. Ou seja, 138 Estados-membros da ONU votaram a favor, incluindo Portugal, 41 abstiveram-se e apenas nove votaram contra (Israel, EUA, Canadá, República Checa, Panamá, Ilhas Marshall, Nauru, Palau e Micronésia).
A Palestina teve mais votos a favor ou abstenções do que esperado. É um resultado esmagador e o isolamento de Israel -- e dos EUA -- é indisfarçável, nomeadamente a nível europeu. Por exemplo, dos cinco Estados membros da UE que votaram contra a admissão da Palestina na UNESCO, apenas a República Checa manteve a sua posição.
Israel poderá tentar limitar os danos, mas eles são evidentes. Em sentido contrário, a Autoridade Palestiniana que não caia na tentação de ler mais do que aquilo que deve nestes resultados. O melhor, porventura, seria deixar assentar a poeira para depois, com mais calma, tentar perceber melhor o que mudou. Alguma coisa mudou, seguramente.

O regresso do guerreiro

Prossiga, portanto, o processo de selecção natural.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Termómetro [7]

1. "Palestina reconhecida = Israel democrático". 2. "PSD diz que Mário Soares agiu de forma muito semelhante em 1983/85 ao actual Governo". 3. "PS vota a favor na generalidade da proposta do Governo para rever trabalho portuário".

1. "Sindicato: "Os estivadores estão firmes e vão continuar a lutar"". 2. "Controladores aéreos serão os únicos a receber subsídio de férias em 2013". 3. "Paulo Núncio: Mais de 15 mil empresas declararam rendimentos abaixo da faturação".

Os oráculos

É constitucional, sim senhor. Não, não é.
Uma dúvida: E deixar falir o Estado social, é constitucional?

[Adenda]
Jorge Miranda é o dono da bola. Ele é que diz quem joga, caso contrário não há jogo. Se alguém quiser formar as equipas, usurpando o lugar que ele entende ser seu legitimamente, é logo excluído.

[Nova Adenda]
Por mim acabava-se com esta coisa chata das eleições regulares, livres e justas e dos programas eleitorais sufragados pelo voto popular. O governo ficava à guarda de um conselho de sábios não eleitos. O Tribunal Constitucional, por exemplo. Aquilo é que era. Portugal saía da crise num trimestre.

A carta de Soares

Mário Soares, naturalmente, não é homem de enviar um email. O ex-Presidente, claro está, envia a tradicional carta, subscrita pelos personagens do costume. A carta é essencialmente um exercício para consumo interno no PS e para Soares fazer prova de vida política. Acontece que noutros tempos, em vez de 70, esta carta teria sido assinada por 700 personalidades. (Esta coisa das personalidades, refira-se, tem muito que se lhe diga. Fica para uma outra oportunidade.) Soares poderia exigir o realinhamento físico dos planetas no sistema solar por ordem alfabética, ou a redefinição do calendário gregoriano, e ninguém pensaria duas vezes antes de assinar. O que mudou?
Noutros tempos, o faro político de Soares não o deixava ficar mal desta maneira. A sua intuição dir-lhe-ia imediatamente que esta carta é um exercício infeliz, um sinal de fraqueza e não de força. E dir-lhe-ia também que em democracia o voto dos portugueses é soberano, por muito que isso custe a Soares. O actual Governo, goste-se ou não dele, foi eleito para cumprir um mandato e é esse mandato que está a cumprir. Lamento se tal prejudica as conveniências de Soares e de alguns amigos.

Estados de alma

Este Governo não voltará a ter o meu voto. Ocasionalmente leio nas redes sociais frases neste sentido, quase sempre em tom de desabafo. O futuro dirá se muitos dos seus autores terão a mesma opinião no momento de votar. Será verdade nalguns casos. Noutros a decisão será seguramente reconsiderada, por razões diversas. Uns porque a seu tempo o Governo terá resultados palpáveis para mostrar e porque entretanto a memória dos dias mais difíceis se foi tornando menos presente. Outros porque, analisadas as alternativas, entenderão que é a opção menos má.
Não sei qual irá ser o resultado das próximas eleições legislativas. Está tudo em aberto, independentemente dos actuais resultados nas sondagens. Isto dito, o Governo até poderá vir a perder as próximas eleições legislativas. Não seria, aliás, um drama. Mas de uma coisa ninguém poderá acusar Pedro Passos Coelho (e Paulo Portas). Com erros políticos pelo meio, alguns perfeitamente evitáveis, ninguém poderá afirmar que o Governo escolheu o caminho mais fácil, ou que tem sido politicamente irresponsável. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas têm mantido um rumo que resulta de compromissos anteriormente assumidos com a troika e adicionalmente das suas convicções pessoais -- no caso de Passo Coelho, muitas delas, aliás, expressas no seu livro publicado antes das eleições de 2011.
Sejamos claros. No essencial, não se pode dizer que o Primeiro-Ministro poderia, ou deveria, ter governado de forma diferente até ao momento. Infelizmente, como sabemos de forma dolorosa, a sombra do passado pesa muito no presente. E é por isso que, no essencial, temos de continuar neste rumo, de modo a que o passado não nos continue a asfixiar no futuro.
Sabemos que não temos alternativa, por muito que isso nos custe. Confrontados com esta realidade, ir expressando os nossos estados de alma, por mais efémeros que sejam, é uma das poucas formas que nos restam para ir gerindo a nossa frustração política. Ao contrário dos deputados não temos ao nosso alcance a possibilidade de fazer uma declaração de voto. Nós não temos um instrumento que nos permita fazer o que tem de ser feito, ao mesmo tempo que vamos dizendo que não gostamos daquilo que tem de ser feito. Resta-nos ir desabafando. É a vida.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mais uma entrevista de Passos Coelho

Se alguém me perguntar para que serviu a entrevista de hoje de Pedro Passos Coelho tenho de confessar não saber a resposta. Poucos momentos depois, constato que não retive uma proposta, ou uma mensagem central. O Primeiro-Ministro passou o tempo a explicar e a esclarecer assuntos que já estão explicados por natureza. Nada daquilo que disse, absolutamente nada, contribuiu para moldar os corações e as mentes dos portugueses. Tipicamente uma entrevista para uns quantos happy few em circuito fechado.

Crónica de um fim anunciado

O Parlamento de São Tomé e Príncipe derrubou hoje o Governo de Patrice Trovoada, numa sessão em que a ADI do Primeiro-Ministro faltou aos trabalhos. Tudo muito previsível. Aliás, o que aconteceu hoje estava escrito nas estrelas desde o início em Agosto de 2010. De certo modo, a eleição presidencial de Manuel Pinto da Costa, em Agosto de 2011, foi a cereja que veio colocar um ponto final no período de vigência deste Governo. Faltava formalizar o acto.
Desenganem-se, porém, aqueles que começaram imediatamente -- e de forma precipitada -- a escrever o óbito político de Patrice Trovoada. Mais tarde ou mais cedo, he'll be back.

Termómetro [6]

1. "França e Espanha juntam-se a Portugal para votar "sim" ao reconhecimento palestiniano na ONU". 2. "Passos Coelho escreve ao Presidente palestiniano sobre apoio português na ONU".

1. "Líder da oposição cabo-verdiana lamenta ausência de encontro com Passos". 2. "Memorando original "não ajuda" ao investimento".

O diabo está sempre...

...nos detalhes. Detalhes e mais detalhes...

Listen very carefully, I shall say this only once!

1. Manuel Marcelo Curto, "Europe -- a Promethean partnership -- against the odds" (IPRIS Occasional Paper, No. 6, November 2012).
2. Bruno Oliveira Martins, "The Operation "Pillar of Defense" and the Reshaping of the Middle East" (IPRIS Viewpoints, No. 110, November 2012).

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O efeito medicinal da declaração de voto

Será, porventura, um dos exercícios mais estéreis e mais inconsequentes na actividade política. Um deputado cumpre a disciplina de voto a que está obrigado numa matéria em que discorda, seja na forma ou no conteúdo, em maior ou menor dimensão, e depois apresenta uma declaração de voto.
No fundo, a declaração funciona como uma espécie de placebo que minora psicologicamente o impacto do acto político. Estamos, naturalmente, no domínio da psicologia e não da política. O que, bem vistas as coisas, nem é nada de muito estranho. Não falta quem queira prosseguir a actividade política no plano judicial. Como diria o outro, isto anda tudo ligado.

Termómetro [5]

1. "Seguro garante que continuará a lutar no "terreno político" contra orçamento". 2. "Portugal terá juros mais baixos e prazos mais longos nos empréstimos europeus". 3. "Constitucionalistas defendem que deve ser Cavaco a enviar OE para Tribunal Constitucional". 4. "Passos Coelho visita Cabo Verde para cimeira de cooperação".

1. "OCDE: Metas do défice para 2013 e 2014 exigem medidas adicionais". 2. "Isabel Moreira promete levar de novo OE ao Tribunal Constitucional".

Sem negociar nada

Portugal e o ninho do cuco.

[Adenda]
Afinal, imitar a Grécia não vale a pena porque é possível obter as suas vantagens sem ter os seus inconvenientes. O Governo deveria lembrá-lo, se outra razão não existisse, porque esta decisão mostra que a estratégia do bom aluno produz resultados.

Uma base militar chinesa nas Lajes?

No início do mês, um analista levantou a hipótese de a China poder estar a equacionar a hipótese de substituir, digamos assim, os EUA nas Lajes. O assunto foi repescado dias depois por uma outra publicação norte-americana. Esta especulação, convém frisar, tal como um castelo de cartas, tem bases pouco sólidas. Uma escala de poucas horas nos Açores em Junho, pelo Primeiro-Ministro chinês Wen Jiabao, é o único facto que a sustenta.
Isto dito, seguramente por falta de assunto, tal não impediu o jornal Público de pegar ontem no tema, sem acrescentar um único facto novo, o que é compreensível, uma vez que não há factos, sejam eles novos ou velhos (Público, 26.11.2012: 9). Mas aquilo que verdadeiramente vale a pena ler é o editorial em que se afirma que "o fantasma chinês (...) surge para Portugal como uma bóia de salvação. E, porque não, como trunfo negocial (Público, 26.11.2012: 43)". Isto é puro delírio, revelador de uma grande falta de bom senso. Alguém consegue imaginar Pedro Passos Coelho ou Paulo Portas, sem factos e informação credível, a chantegear os EUA com um hipotético interesse chinês nas Lajes? Alguém considera razoável a existência de uma base militar chinesa nos Açores, sendo Portugal um Estado membro da NATO?
Nada disto faz sentido, no curto e no médio prazo. Os EUA continuam a ser a potência marítima dominante e as relações transatlânticas mantêm-se como um pilar central da política externa portuguesa.
Pessoalmente até considero que poderemos estar a assistir a uma recomposição da geografia estratégica portuguesa, mas estamos ainda numa fase embrionária desse processo. Acresce que essa reconfiguração, para já (e assumindo que tem pernas para andar), tenderá a manifestar-se sobretudo no domínio económico e, porventura, alguma coisa no campo político. O resto -- e na sempre muito sensível área da defesa -- são cenários especulativos sem qualquer adesão à realidade.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Termómetro [4]

1. "Défice até Outubro está a mais de 1.400 milhões de euros do limite da troika". 2. "70,2% dos portugueses rejeitam eleições antecipadas". 3. "Portugal precisa de um "choque de competitividade"".

1. "Greve nos portos prolongada até 17 de Dezembro". 2. "João Ferreira do Amaral: Segundo resgate é "inevitável"".

A venda ainda se mantém?

Lembram-se da venda da Controlinveste?
Foi notícia há quase um mês e meio. Uma notícia nunca confirmada, nem desmentida. António Costa, director do Diário Económico, que na altura assinou o artigo com essa informação, talvez nos pudesse actualizar sobre o estado do suposto negócio.

Realismo e bom senso

Segundo um estudo de opinião para o jornal i, ainda que profundamente descontentes com o Governo, 70,2% dos portugueses rejeitam eleições antecipadas. Vejo duas leituras possíveis e eventualmente complementares. A primeira leitura aponta para a clara noção de que, ainda que insatisfeitos, os portugueses sabem que no essencial -- e descontadas algumas brincadeiras de natureza semântica -- não existe alternativa ao actual rumo de austeridade.
Uma segunda leitura salienta que os portugueses rejeitam eleições antecipadas porque não vislumbram uma alternativa em termos de projecto partidário. Por muito descontentes que estejam com o desempenho de Pedro Passos Coelho enquanto Primeiro-Ministro, ainda que admitam um caminho político alternativo, i.e. uma alternativa à austeridade, na verdade não confiam em António José Seguro para os levar a bom porto. Falta um protagonista que personifique a mudança.
Independentemente de qual seja a interpretação mais correcta, as duas dão tempo ao Primeiro-Ministro para apresentar resultados. Dito de outra maneira, apesar das sondagens, o destino do Governo continua única e exclusivamente nas suas mãos.

domingo, 25 de novembro de 2012

Termómetro [3]

1. "Passos Coelho escusa-se a revelar pormenores sobre o cheque extra de mil milhões".

Faz o que eu digo, não faças o que eu faço

O que o Público não diria se uma empresa privada, ou um serviço tutelado pelo Governo, inaugurasse o seu novo site com as falhas e a impreparação que tem sido notória nos últimos dias no caso do próprio jornal. No mínimo, por esta altura, já teria sido escrito um editorial a salientar a incompetência dos responsáveis, a pedir responsabilidades e a exigir cabeças. Porém, a actual direcção editorial, entende que no seu caso um pedido de desculpas é suficiente e deve funcionar como uma esponja para o que está a acontecer. Até quando o accionista vai fechar os olhos ao que se está a passar com o jornal?

Uma leitura política

"[Álvaro] Santos Pereira libertou-se de Vítor Gaspar e isso tem de ser saudado", refere Luís Mira Amaral (Expresso, 24.11.2012: 11).
Talvez. Mas há uma outra leitura a fazer. Erraram aqueles que, como eu, pensaram que o ministro era um erro de casting. O que por sua vez levanta uma outra questão: o ministro demorou muito tempo a adaptar-se à pasta, ou houve precipitação no juízo de valor que fomos fazendo sobre si?

sábado, 24 de novembro de 2012

Perspectiva financeiras: Uma proposta melhor

Se bem percebo, mesmo que ficasse na actual forma, neste caso Pedro Passos Coelho já não bloquearia a proposta tal como está. Dito de outro modo, a ameaça de veto está ultrapassada. O jogo continua daqui a algumas semanas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Termómetro [1]

1. "Parlamento Europeu quer que o presidente da Comissão Europeia seja eleito pelos cidadãos". 2. "CNE estabelece que lei de limitação de mandatos só se aplica na mesma autarquia". 3. "Santos Pereira: "Não podemos aceitar" diminuição dos incentivos disponíveis para Portugal". 4. "Exportações devem pesar 50% do PIB em 2020".

Parte do problema ou da solução?

Há intervenções públicas do Presidente da República que, muito francamente, não entendo. Aníbal Cavaco Silva tem plena consciência que o Governo tem prazos apertados para cumprir e sabe igualmente o quão importante é o seu cumprimento. Nessa medida, o Presidente tem a obrigação de saber que esta intervenção apenas dificulta a vida ao Governo sem que dela alguém retire, tanto quanto sou capaz de perceber, qualquer contributo positivo.
Cavaco Silva sabe melhor do que ninguém que a sua influência e eficácia política resulta em larga medida do seu trabalho discreto de bastidores. Ora, esta intervenção não só dificulta a vida ao Governo, como lhe retira a si próprio espaço de manobra. Assim sendo, não teria sido preferível fazer conhecer a sua posição apenas em conversas privadas?

Perspectivas financeiras: Uma proposta inaceitável

"Estamos conscientes de que a proposta que começaremos a debater amanhã [hoje] não é equilibrada e, mais do que isso, contém elementos que são inaceitáveis", frisou Pedro Passos Coelho, que acrescentou que "a proposta formulada pela presidência do Conselho Europeu [a cargo de Chipre] é a todos os títulos inaceitável para Portugal. Bloquearia essa proposta tal como está". O Primeiro-Ministro reafirma, deste modo, a posição assumida publicamente por Paulo Portas esta semana.
Portugal junta-se à longa lista de países que, por uma ou por outra razão, ameaça bloquear a actual solução. É claro que já vimos este filme, por diversas vezes, no passado. Passos Coelho, manda o bom senso, não traçou uma linha vermelha a partir da qual não recuará. A sua posição, apesar da aparente clareza, encerra uma dose saudável de ambiguidade. Naturalmente, a cimeira extraordinária que decorre hoje e amanhã promete ser um exercício negocial politicamente muito duro, não sendo de todo seguro que no final haja fumo branco. Isto dito, não há, na actual situação, nenhuma surpresa ou algo de novo. Como escrevi em Setembro de 2011: "The negotiations underway are likely to last at least until the end of 2012. Hopefully, the Danish Presidency, which will take place in the first semester of 2012, will bear the bulk of the bargaining, and the Cypriot Presidency, in the second semester of 2012, will be able to reach a final agreement. However, if one bears in mind what happened in previous negotiating cycles, then one should not rule out that the bickering might take longer, with a prolonged give and take exercise beyond 2012. With or without delays in reaching a political compromise, the fact is that the ongoing MFF negotiations will be one of the most important matters that will be dealt with by Portuguese diplomacy in the coming months. If the previous negotiations regarding Financial Perspectives 2007-2013 were tough, the current ones promise to be even more difficult."
Em suma, faites vos jeux...

Uma dúvida

Nicolau Santos é jornalista, ou é político, ainda por cima da ala mais populista?
Se é político, nada a dizer. Se é jornalista, mesmo numa coluna de opinião, por uma questão de credibilidade, ficam-lhe mal exercícios demagógicos desta natureza.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cantas bem...

...mas não me enganas. And you too...

O regresso da GNR de Timor-Leste

Com os prós e contras que lhe estão associados, a mim pessoalmente incomoda-me que se debata pouco no espaço público matérias relacionadas com a política externa portuguesa. Um exemplo: Foi decidido que, terminada a missão da ONU em Timor-Leste, o contingente da GNR deveria regressar a Portugal. Não me recordo, em devido tempo, desta matéria ter tido a devida atenção da comunicação social e da sociedade civil. Deveria ter regressado? Portugal poderia e deveria, em termos a definir, ter mantido a sua presença em Timor-Leste? Não? Sim, mas em que condições?
Nada se debateu. Sobre nada disto se reflectiu. Paciência.

Um novo contrato social

O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, pede um "novo consenso social". Vítor Bento, conselheiro de Estado e presidente da SIBS, advoga um novo "contrato social". Não serão seguramente os únicos. Com estas ou com outras palavras, haverá certamente outros intervenientes, com maior ou menor visibilidade mediática, cujo pensamento vai na mesma linha.
A minha dúvida é a seguinte: Há nesta fase o consenso necessário para se caminhar nesse sentido? Esta é a prioridade das prioridades do Presidente da República? Estarão o Governo e PS disponíveis para as cedências que serão necessárias?
Não sei. O que sei é que António Vitorino tem razão quando afirma que os momentos de crise são também janelas de oportunidade para gerar os consensos necessários que permitam fazer reformas estruturais. Em suma, as crises permitem desbloquear impasses e refundar os contratos sociais. Seremos suficientes maduros, enquanto regime democrático e como sociedade, ao ponto de conseguir aproveitar o momento para ultrapassar os bloqueios que nos conduziram à actual situação?
Enfim, também sou um pessimista aberto à esperança...

Portugal e a Palestina

Não posso deixar de fazer referência e de saudar a posição assumida por Paulo Portas. Depois da recente visita de Ryiad al-Maliki a Lisboa, o ministro dos Negócios Estrangeiros revelou que Portugal votará favoravelmente a concessão à Autoridade Palestiniana do estatuto de Estado observador não-membro da ONU, votação que terá lugar na próxima semana.
Há um ano, pelos motivos que aqui referi (e que continuam válidos), entendi que Portugal errou ao votar contra a adesão da Autoridade Palestiniana à UNESCO. Um ano depois, Paulo Portas corrige agora a rota da diplomacia portuguesa na Assembleia Geral da ONU. Boas notícias, portanto.

Baixar os juros

O Governo poderá vir a baixar os juros cobrados ao BPI e BCP, uma vez que os mesmos estarão a limitar a sua capacidade de financiar a economia a custos mais baixos (Público, 20.11.2012: 2). Trata-se, naturalmente, de uma boa medida, mais ainda se se assumir que os resultados serão aqueles que o Governo apresenta para a justificar. Mas independentemente disso, a partir do momento em que os próprios juros que a troika cobra ao Estado português têm vindo a baixar, para um leigo desinformado como eu a impressão geral com que fico é que não faria sentido continuar a cobrar às instituições bancárias juros tão pesados. Se outra razão não existisse, não vejo motivo nenhum para que o Estado funcione como um travão à recuperação da banca portuguesa.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Milagre da multiplicação dos pães

Uma única tranche do programa de ajustamento, uma vez aprovada, multiplica-se em, pelo menos, três comunicados e/ou conferências de imprensa. Isto para não falar de um conjunto de declarações avulsas. Estamos perante um autêntico segmento especializado no âmbito das indústrias culturais...

Delírio

O artigo de José Vítor Malheiros -- mais um... -- na edição de hoje do Público é delirante. Não sei o que é mais triste: um jornal supostamente de referência publicar aquilo, ou alguém escrever aquele chorrilho de patetices.
Uma coisa é certa, no final de Dezembro a minha assinatura do Público não será renovada.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Leituras

1. Pedro Correia, "Que se lixe o quê?" (Delito de Opinião, 19.11.2012). Uma nota adicional. Sim, este debate vale a pena ser travado e não creio que, apesar dos riscos, haja melhor instrumento para o travar do que um referendo. Não creio que o Primeiro-Ministro queira travar essa batalha nesse terreno, mas seria precisamente nesse plano que pessoalmente a travaria.

Mais outro artista com muitas opiniões

A situação não poderia ser mais simples. Se Alberto da Ponte, depois das declarações de hoje, se mantiver à frente da RTP, tal significa que Miguel Relvas muito provavelmente pré-negociou com ele o futuro da RTP antes de tomar posse. A não ser verdade, nesse caso o ministro está numa situação complicada. Complicada ou não, pessoalmente não hesitava um segundo. Ainda hoje convidaria Alberto da Ponte a recuar nas declarações que proferiu, caso contrário comunicar-lhe-ia que esperava imediatamente pela sua carta de demissão.

domingo, 18 de novembro de 2012

Sem a assinatura do PS, nada feito

"Sempre que há qualquer ajustamento do memorando, devia ser a própria troika a exigir a assinatura do PS. Então não era o Seguro que andava a dizer que o seu programa alternativo era ter mais um ano? Aí o tem. Também penso que a troika não devia libertar novas tranches para o nosso o país sem a assinatura do Partido Socialista", disse Eduardo Catroga (Expresso, 17.11.2012: 10).
Realmente, a experiência de vida (e política) é um posto. O facto de o PSD ter sido originalmente 'obrigado' a validar o programa de ajustamento fornecia a base para a reivindicação formulada por Catroga. Porém, como não foi essa a prática seguida desde o início, neste momento a questão é puramente teórica. Por outro lado, resta igualmente saber se a troika estaria disponível para desempenhar esse papel, o que não me parece de todo garantido. É claro que essa exigência facilitava muito a vida ao Governo, ainda que o obrigasse a um esforço negocial que tem estado ausente. Mas, repito, nada disto é exequível neste momento. Fica, eventualmente, a lição para futuros programas de ajustamento e não mais do que isso.

O maior aumento de impostos da história

"O Governo apresenta uma proposta de Orçamento de Estado que é a proposta que mais aumenta os impostos desde o 25 de Abril", salientou António José Seguro.
Não sou fiscalista, mas provavelmente o líder do PS tem razão. Faltou apenas acrescentar que, provavelmente fazendo também história desde o 25 de Abril, nos últimos seis anos de Governo do PS de José Sócrates -- enquanto Seguro geria o seu silêncio na última fila da bancada do PS -- a dívida pública duplicou. Não tivesse o PS duplicado a dívida, com o silêncio conivente de Seguro, e hoje não estaríamos a falar de aumentos históricos de impostos.

A prioridade bianual

No mesmo dia em que o Presidente da República e o Primeiro-Ministro reafirmam que a América Latina é uma prioridade para a política externa portuguesa, a que propósito é que Pedro Passos Coelho defende a passagem das cimeiras Ibero-Americanas de uma periodicidade anual para bianual?
Bem sei que a questão dos custos e a sua repartição não é um detalhe menor. Nada a dizer nesse capítulo. Mas sugerir uma frequência bianual é pouco consentâneo com a prioridade declarada, na medida em que transmite uma percepção de desinvestimento na relação, exactamente o oposto da imagem que Portugal quer transmitir. É, aliás, um erro, independentemente da prioridade.

Mistérios do Triângulo das Bermudas [1]

Há algumas semanas atrás não se falava de outra coisa. Agora, pura e simplesmente, desapareceu do radar político. Será que, por razões que desconheço, a remodelação governamental deixou de fazer sentido? Tornou-se menos urgente por algum motivo que não é do domínio público? Foram os jornalistas e comentadores que se enganaram na sua análise política? O que mudou?

sábado, 17 de novembro de 2012

Grupo de trabalho

O Governo vai criar um grupo de trabalho para reavaliar regime fiscal dos restaurantes. Curioso, quando o Governo decidiu subir o IVA na restauração de 13% para 23% não me lembro de ter sido necessário criar um grupo de trabalho.

Brincar com as palavras

"Nunca me ouvirá dizer que, se assumisse as funções de Primeiro-Ministro, a austeridade não teria de ser aplicada. Não seria era uma prioridade, mas sim uma necessidade", declarou António José Seguro.
Em suma, fumará, mas não inalará. A austeridade seria uma necessidade não prioritária. Dito de outra maneira, seria uma realidade, mas utilizando uma retórica diferente. Eis a prova, mais uma vez, que Seguro não tem uma alternativa. Sem alternativa, resta-lhe brincar com as palavras e com as necessidades que não são prioridades.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Carrossel [4]

Igualmente na edição do Expresso desta semana.

Carrossel [3]

Sondagem do Expresso desta semana.

Porto de abrigo [2]

Mais um artigo da revista Rubra. Este é especialmente infeliz. Uma vergonha, aliás. Mais um.
A minha assinatura do Público termina em Dezembro. Não será renovada. Chegou a hora de marcar um ponto final. A malta da Rubra que o compre porque o jornal é feito a pensar neles. Só pode.

O fim que não é propriamente o fim

Vítor Gaspar sublinhou que "o fim do programa de ajustamento não marca o fim do ajustamento" e que, após o fim da vigência do memorando de entendimento, Portugal terá de "continuar o esforço de ajustamento" e ser capaz de "criar as instituições que garantam a prazo a sustentabilidade das finanças públicas" (DE, 16.11.2012: 12).
Deve ter sido inspirado em Portugal que Dante elaborou os círculos do Inferno...

Lamento e condeno

"Lamento e condeno os actos de violência que ali se passaram. Parece-me que a polícia agiu de forma adequada", afirmou António José Seguro.
O líder do PS não poderia ter sido mais claro nas suas palavras.
Aguardo com interesse pelas declarações da liderança bicéfala do BE. Aposto que serão incapazes de condenar os actos de violência, assumindo que o farão -- farão, certo? --, sem acrescentar um 'mas' qualquer.

O poeta aborrecido

E de repente o vazio
o ennui
o aborrecimento
sem causa nem efeito
as horas não obedecem
ao ponteiro do relógio
e este,
falhado o seu destino,
entra em desgoverno
e mata-se
no fundo da gaveta

O homem sentado a ler
não sabe nada das horas
nem do relógio
e ainda menos da gaveta
e do grande desgoverno
se lhe falassem disso
diria que era treta
ele já se perdeu do tempo
do presente e do passado
o entretém são as letras
elas são o seu relógio
são as horas
e o ponteiro
são o último dos últimos
e para sempre
o primeiro
[Yvette Centeno]

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Porto de abrigo [1]

O que seria de nós sem o Público, na sua atitude militante, funcionando como caixa de ressonânciasem distanciamento e sem equilíbrio? Que tal também um artigo sobre os polícias que nessa noite receberam assistência médica? Ou colocar em lugar de destaque este vídeo? O Público agora concorre com a Rubra?

Propostas placebo

Vamos lá ver se percebi bem. O PS votou contra o Orçamento do Estado para 2013. Porém, aquilo que tem para apresentar é um conjunto disperso e muito limitado de propostas que não passam de um placebo, incluindo no caso das PPP?

Passaram mais quinze dias...

...e nada.

Os faits-divers...

...sempre os faits-divers. Como poderíamos viver sem os faits-divers?

É isto mesmo, sem tirar nem por uma vírgula

Robert Picard: "To survive, news organizations need to move away from information that is readily available elsewhere; they need to use journalists’ time to seek out the kinds of information less available and to spend time writing stories that put events into context, explain how and why they happened, and prepare the public for future developments. These value-added journalism approaches are critical to the economic future of news organizations and journalists themselves."

Jornada de luta

Apesar das declarações oficiais em sentido contrário, a verdade é que a greve geral não correu bem à CGTP. O "alerta vermelho" ao Governo, nas palavras de Arménio Carlos, em larga medida foi engolido pelo ruído comunicacional decorrente dos confrontos violentos.
A CGTP vai ter que repensar o formato de organização da próxima greve geral se não quiser voltar a perder o controlo dos acontecimentos e da própria agenda mediática.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Os novos tigres latino-americanos em Lisboa

Portugal, na América Latina, "atribu[i] prioridade ao Brasil, Colômbia, México, Venezuela e Chile", referiu hoje o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, durante a conferência de imprensa conjunta com o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. A omissão do Peru foi seguramente um lapso, uma vez que se trata também de um alvo prioritário da atenção diplomática portuguesa. Aliás, o Presidente peruano, Ollanta Humala, estará em Lisboa na próxima semana, no regresso da XXII Cimeira Ibero-Americana, que decorrerá em Cádiz.
Colômbia e Peru são os novos tigres da América Latina, nos quais se centram actualmente as atenções dos investidores internacionais, em larga medida atraídos pelo crescimento significativo do seu PIB. A diplomacia e os empresários portugueses, como não poderia deixar de ser, seguem com atenção estes dois países na expectativa de encontrar ou criar eventuais oportunidades. Na semana passada, por exemplo, foi notícia o plano de negócios da REN e a possibilidade de entrar em mercados como o Chile, a Colômbia e o Peru. Em sentido contrário, é conhecido o interesse do empresário colombiano, Germán Efromovich -- que integra a comitiva empresarial que acompanha o Presidente Juan Manuel Santos --, em adquirir a TAP. A lista de exemplos, independentemente da sua escala, poderia continuar.
Fruto dos tempos, é a economia -- e não a política -- que lidera o processo. É a diplomacia económica que fornece as 'lentes' com que olhamos hoje em dia para a América Latina. Nada contra, com a ressalva que nos faltam, em complemento, outros pares de óculos. Políticos, por exemplo. São necessárias 'lentes' complementares. Necessitamos de olhar para a América Latina de forma integrada, procurando maximizar e potenciar os laços económicos, mas também políticos e culturais. Caso contrário teremos um tripé diplomático desequilibrado, com as consequências negativas que daí decorrerão, incluindo para a própria diplomacia económica.

Pessimismo excessivo

"[N]ão podemos cair num pessimismo excessivo", alerta Pedro Passos Coelho, numa altura em que as más notícias se sucedem, oriundas dos mais diversos e respeitáveis oráculos (Banco de Portugal e INE, por exemplo). Na realidade, há poucas razões para não estar pessimista, excessivamente ou não. O Primeiro-Ministro bem pode ir desvalorizando as notícias dizendo que a queda do PIB e o aumento do desemprego está "bastante em linha com as previsões do Governo". Infelizmente, há outros dados que não estão em linha com as previsões do Governo, facto que alimenta o pessimismo, excessivo ou não. Pessimismo, excessivo ou não, que é igualmente alimentado pelo facto, como reconhece o Primeiro-Ministro, de a "Europa [ser] um bocadinho mais lenta do que precisamos" para Portugal sair da situação actual. É verdade que a "Europa [já] mostr[ou] que está na retaguarda" e que "ajudará desde que cumpramos a nossa parte". Mas, ainda que assim seja, esta ausência de alternativa, de que falava Luís Amado, é motivo mais do que suficiente para nos deixar pessimistas, excessivamente ou não. Todos sabemos que "[h]á outras opções de governo mas não há outro caminho. O outro caminho é o de saída do euro". Assim, resta-nos continuar a trilhar este caminho de pedras, naturalmente com o pessimismo que daí advém, excessivo ou não. Aliás, o cidadão Passos Coelho, se não fosse Primeiro-Ministro, não nos faria companhia no pessimismo?

Leituras

1. Vítor Bento, "Dissonância cognitiva" (Diário Económico, 14.11.2012). Cito o ponto essencial: "[T]alvez fosse útil que o Governo desse mais atenção à frente interna, porque senão arrisca-se a ganhar no exterior, perdendo o País". Exactamente.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

"Amigos da Coesão" [2]

Decorreu hoje mais um encontro dos "Amigos da Coesão" (I e II). Lamento que a imprensa portuguesa siga de uma forma pouco atenta estas reuniões cruciais para Portugal. É por esta e por outras que para mim os jornais em Portugal dificilmente valem o seu preço de capa.

Uma recessão que cresce todos os dias

Hoje chegou a vez de o Banco de Portugal rever em baixa as suas previsōes para a economia nacional, antecipando uma contracção de 1,6% em 2013, um valor claramente acima do 1% previsto pelo Governo.
Vítor Gaspar é cada vez mais um homem isolado. Ninguém, ou quase ninguém, acredita nas suas previsões para 2013. Mesmo tendo em conta a "elevada incerteza" é evidente que os seus números pecam por um optimismo excessivo.

Carrossel [2]

Os mesmos dados, mas segundo a apresentação do Correio da Manhã.

Amazing mind reader...

...reveals his 'gift'.

Merkel em Lisboa [2]

Helena Garrido no Jornal de Negócios: "O que se ouve no espaço mediático e nas redes sociais como opinião dominante parece não representar a maioria dos portugueses. (...) [H]á uma maioria silenciosa que tem bom senso e apenas deseja que os problemas do país sejam resolvidos o mais depressa possível. Uma lição também para o governo e a oposição. (...) Angela Merkel veio a Lisboa com uma comitiva de empresários e gestores. (...) Que líder europeu veio até hoje a Portugal acompanhado por gestores de topo das suas grandes empresas, para desta forma abrir caminhos de investimento e parcerias?"
Esta última pergunta é muito interessante e deve ser colocada em especial a António José Seguro. Quando é que François Hollande vem a Lisboa, acompanhado pelos seus grandes empresários e gestores?

Carrossel [1]

O PS reúne a maior intenção de voto legislativo, ainda assim com uma percentagem abaixo da obtida em Outubro, que foi de 33,7%. O PSD, que no mês passado se ficava pelos 24,9% subiu para 26,3%. Em suma, é mais ou menos isto.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Merkel em Lisboa [1]

Muita cobertura mediática à visita de Angela Merkel a Lisboa, muita atenção ao circo, mas para já pouca ou nenhuma informação sobre a substância das reuniões. Tantos jornais, rádios e televisões e, no final, tão pouco sumo.

Leituras

1. Francisco Seixas da Costa, "Nós e a senhora Merkel" (Duas ou Três Coisas, 12.11.2012).

Uma dúvida

Ao utilizar parte deste mural na sua primeira página, tal significa que o Público subscreve a mensagem política nele contida, mas evita afirmá-lo perante o leitor de forma transparente e explícita?

domingo, 11 de novembro de 2012

A prioridade...

...da nova liderança do BE é derrubar o Governo. Ou seja, o BE define como prioridade algo que no actual ciclo parlamentar não pode concretizar. O Bloco podia ter definido como prioridade pintar a Lua de amarelo que era exactamente a mesma coisa.
Os bicéfalos começam bem.

As elites, sempre as elites...

Adriano Moreira considera que na sua vida "nunca vi[u] uma situação tão severa na vida portuguesa como hoje". Será seguramente falta de memória, fruto da sua vida "tão comprida". Ou então estamos num registo de conversa de taxista em que no tempo de Salazar é que era bom.
Um pouco de parcimómia na palavra, aliás, não lhe teria ficado mal. Comentar a eliminação do "Estado social"? Mas isso está em cima da mesa, ou Adriano Moreira, depois de uma vida "tão comprida", agora anda no negócio do comentário virtual em busca de protagonismo?

Leituras

1. Pedro Correia, "Vamos brincar à demagogiazinha" (Delito de Opinião, 10.11.2012).

sábado, 10 de novembro de 2012

Perdido no seu labirinto

É impressionante como o líder do PS não tem nada, rigorosamente nada, em concreto, para nos dizer. Tudo se resume a frases feitas, a lugares comuns, a declarações vagas. Nada, absolutamente nada, nos dá qualquer sinal que António José Seguro tenha uma alternativa política válida. Ao contrário do que afirmam alguns observadores, não me parece nada claro, como se existisse uma contagem decrescente, que o tempo político esteja a jogar a seu favor. Os tempos são seguramente de alguma incerteza para o Governo, mas ela não é menor para o líder do principal partido da oposição.

Com o zelo do burocrata...

...que teme pecar por missão -- citando Maria do Céu Fialho e Teresa Carvalho, as organizadoras desta antologia que se propõe homenagear os 50 anos de vida literária de Vasco Graça Moura -- cito um dos poemas, com todo o cuidado:
Poucos são os que desceram ao Inferno
e sobreviveram Nem que tenha sido
por um instante Nem que o Inferno
tenha sido o de Dante
[Jorge Sousa Braga]

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Um pessimista aberto à esperança

E, contudo, não há muitos motivos para ter esperança...

Bullying

Tanto dinheiro para comunicação e marketing e a Portugal Telecom (PT), liderada por Zeinal Bava, parece não ter ainda aprendido uma regra básica. Os portugueses detestam ver grandes empresas, como a PT, a utilizar técnicas de bullying contra os pequenos, como todos nós, numa atitude intimidatória e que põe em causa não só a liberdade de expressão, como também a liberdade envolvente à própria investigação académica. A PT ainda não aprendeu -- vamos ajudá-la a aprender? -- que o bullying tem resultados péssimos e o ricochete é inevitável. É por isso nossa obrigação fazer chegar ao maior número de pessoas o trabalho académico que tanto incomoda a PT (conclusão aqui e trabalho na íntegra aqui, via LAC).
Caro leitor, se tem blogue, conta de twitter ou facebook, divulgue o trabalho académico em causa. A PT tem que aprender que o bullying não compensa e que em Portugal lutamos com unhas e dentes pela defesa da nossa liberdade de expressão e por uma investigação académica sem constrangimentos, por muito que isso incomode a PT. Vamos a isto?

P.S. -- Lembram-se do 'caso' Ensitel?
Se a PT persistir em dirimir esta questão em tribunal, pela minha parte terei muito gosto em contribuir com um donativo. O autor do trabalho académico, Sérgio Denicoli, que abra uma conta bancária para o efeito que cá estaremos seguramente para o ajudar naquilo que for possível.

O banqueiro comentador

Did you miss me?

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Guiné-Bissau: Mundos e fundos

A CEDEAO/ECOWAS assinou ontem um acordo segundo o qual irá disponibilizar 49,2 milhões de euros para que o Governo de transição da Guiné-Bissau proceda à reforma das forças de Defesa e Segurança. O presidente da comissão da CEDEAO/ECOWAS, Kadré Désiré Ouedraogo, foi parco em pormenores. Convenhamos que não estamos propriamente a falar de uma verba pequena. Onde é que a CEDEAO/ECOWAS pretende angariar esta verba? Quem procederá à implementação da SSR? Qual o calendário relativo à sua execução?
É claro que, a ser verdade, teoricamente estamos perante uma boa notícia. Porém, este filme não é novo. Há muito que se arrasta na comunidade internacional a questão do financiamento da SSR na Guiné-Bissau. E tanto quanto julgo saber havia, neste momento, outros players precisamente a procurar garantir o financiamento da SSR. Subitamente, a CEDEAO/ECOWAS arranjou 49,2 milhões de euros?
Quando a fartura é muita, o pobre desconfia...

Os maiores investidores

Brasil e Portugal foram os maiores investidores estrangeiros este ano em Moçambique. Naturalmente, uma andorinha, por si só, não faz Verão e, nesse sentido, é preciso ver se o investimento português se mantém nos primeiros lugares nos próximos anos. Há factores que apontam nesse sentido, replicando o processo que se passou com Angola na última década. As realidades angola e moçambicana são distintas, mas em todo o caso a língua e a história comum jogam aqui uma cartada importante a favor de Portugal e dos restantes países de língua portuguesa.
Por mera coincidência, foi igualmente anunciado esta semana o nome do próximo embaixador de Portugal para Moçambique. José Augusto Duarte é um trabalhador incansável, conhece bem a realidade moçambicana, uma vez que recentemente coordenou a direcção de serviços da África Subsariana no MNE. Na parte que lhe diz respeito, as relações bilaterais nos planos político, diplomático, económico e cultural estarão seguramente em boas mãos.

[Adenda]
Tal como referia anteriormente quanto ao facto de se estar a replicar o que se passou com Angola: Portugueses, sul-africanos e chineses lideram 11.800 pedidos para trabalhar em Moçambique.

Sem margem de manobra

O Conselho de Finanças Públicas (CFP), liderado por Teodora Cardoso, considera que não há qualquer margem para aliviar a trajectória de redução de défices acordada entre o Governo e a troika. O facto de ser Teodora Cardoso a afirmá-lo seguramente deixará indisposta muito boa gente no PS. O CFP, porém, dispara em todas as direcções. Não há margem para aliviar a austeridade, mas esta podia e devia ser aplicada de modo diferente, refere também o CFP, neste caso para indisposição do Governo. Executivo que, ainda segundo o CFP, está a estimar um impacto negativo demasiado leve das medidas de austeridade. Pura e simplesmente, estamos tramados e nada há a fazer. Não há um refúgio, por minúsculo que seja, que nos abrigue da catástrofe em curso. É a vida.

Refundação [7]

"Nós aceitamos que o PS não queira comprometer-se com esse exercício, temos pena que seja assim, mas o Governo não deixará até Fevereiro do próximo ano de avançar com as medidas", esclareceu Pedro Passos Coelho.
Naturalmente, o Governo não faz mais do que a sua obrigação. Tudo muito previsível, até agora.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma nódoa [2]

Como era inevitável, o Governo português não poderia deixar de tomar uma posição.

Rigor e contenção [2]

Esta notícia é um verdadeiro caso de estudo, pelas piores razões. Afinal, em vez do ministro, o jornalista terá tentado agredir o segurança de Miguel Relvas. As fontes, sempre as fontes... Adiante. Ministro ou segurança, o jornalista desmente qualquer agressão. O Ministério Público, porém, abriu um inquérito. Por outro lado, o jornalista, cuja identidade o Público numa primeira abordagem corporativa procurou proteger, hoje acabou por ser identificado. O que mudou, entretanto? Ontem sabiam quem era, mas não o identificaram. Hoje, fruto das reacções ou de qualquer outra razão, mudaram de abordagem. Por último, mas não em último, a notícia que era inicialmente assinada por Tolentino de Nóbrega e Luciano Alvarez, pelo caminho perdeu a identificação dos seus autores. Confirma-se, portanto, que tanto na política como no jornalismo, muita coisa pode mudar em 24 horas.

Em suma, estamos tramados... [2]

Outra coisa, as previsões da Comissão Europeia sobre o crescimento do PIB em 2014 também são menos optimistas se se comparar com o recente relatório do FMI.

Em suma, estamos tramados...[1]

As novas previsões de Bruxelas não mexem nos números do défice, mas são acompanhadas de fortes advertências de que a crise em Espanha e a consolidação orçamental, agora fortemente assente na receita fiscal, arriscam furar as metas assumidas com a troika (ver original, pp. 97-98).
Portanto, ninguém, absolutamente ninguém, acredita na execução do Orçamento do Estado para 2013. Nem a própria Comissão Europeia.

Rigor e contenção [1]

Infelizmente, o rigor e a contenção, pura e simplesmente, resultam de uma mera reacção corporativa. Se fosse um cidadão anónimo, um político, alguém da maçonaria ou da Opus Dei, neste momento até a cor das cuecas já era do conhecimento público. Sendo um jornalista, bom, nesse caso não se escreve "tentou", mas "terá tentado", e muito menos se refere a identidade do camarada de redacção.

Todas as forças políticas

Um debate aprofundado sobre as funções do Estado, como aquele para que Pedro Passos Coelho desafiou António José Seguro, deve ser feito por todas as forças políticas, defende Aníbal Cavaco Silva.
O Presidente da República, como não poderia deixar de ser, não legitima a posição do líder socialista. Os problemas do Governo são os problemas do país, ao contrário do que pensa o PS.

Os juros

António José Seguro defendeu que caso fosse Primeiro-Ministro, a sua primeira medida seria bater-se por mais um ano e juros mais favoráveis.
Vale a pena confrontar a primeira medida de Seguro, com esta intervenção de Adolfo Mesquita Nunes: Os juros que Portugal paga pelo financiamento dos credores externos representa, neste momento, apenas 30% dos encargos do Estado com a dívida pública. "Os outros 70% são da responsabilidade dos Governos anteriores, que deixaram acumular dívida", lembrou o deputado. "É uma farsa dizer que, com a redução das taxas de juro, seria possível reduzir o problema da despesa", concluiu Adolfo Mesquita Nunes, recordando que os custos que o Estado tem com os empréstimos da troika foram já renegociados pelo actual Governo no ano passado. Mesmo que as taxas de juro dos empréstimos fossem reduzidas para metade, segundo o deputado do CDS-PP, o Estado apenas pouparia mil milhões de euros. Ou seja, um montante insuficiente para compensar os cortes estruturais de quatro mil milhões que o Governo tem de fazer na despesa.
Em suma, a prioridade do líder do PS é uma mão cheia de nada?

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Seixas da Costa

Uma excelente notícia.

Miguel Relvas...

...procurando apertar o cerco ao PS.

A prioridade

"A prioridade do país é saír desta crise, promovendo o emprego e o crescimento económico", refere António José Seguro.
Mas de que forma? Como? Com que medidas em concreto?

A diplomacia de Salazar

Não é um período da política externa portuguesa que conheça de forma aprofundada e por isso abstenho-me de fazer muitos comentários. Como leigo e mero leitor posso apenas dizer que me parece um livro de divulgação da História contemporânea portuguesa muito bem conseguido. Leitura recomendada, portanto.

Previsões

"Como num barco no meio duma tempestade, é crucial manter o sentido do rumo, independentemente de a viagem ocorrer [ou não] no calendário previsto", disse Vítor Gaspar. "Nada depende do grau de precisão das previsões. O sucesso do ajustamento não tem a ver com o grau com que as previsões se cumprem", acrescentou o ministro das Finanças.
Perdi-me algures. Qual é, no meio disto, a finalidade e a utilidade das previsões?
Se a precisão e o cumprimento das previsões tem relevância secundária, nesse caso perdemos tempo a elaborar previsões exactamente para quê?

Os portugueses que paguem a crise?

É mais ou menos isto. Daí ter a impressão que António José Seguro poderá ter cometido o seu primeiro grande erro. A dicotomia "Problema do Governo" vs. "Problema do País" é completamente artificial. Os problemas do Governo são também os problemas do país, ponto. Os problemas do Governo, em última instância, são sempre problemas dos portugueses e dos contribuintes.
Aquilo que o líder do PS se propõe fazer é, pura e simplesmente, castigar os portugueses e os contribuintes com o propósito de atingir o Governo. Admito que não fosse essa a intenção original, mas poderá ser esse o resultado final.

Estado high cost

José Ribeiro e Castro disse esperar que "o PS não seja irresponsável e que não seja o destruidor do Estado social como foi o coveiro de facto do Estado social".
"Nos últimos seis anos de Governo do PS a dívida pública duplicou: passámos de uma dívida de um pouco mais de 80.000 milhões de euros para uma dívida acima dos 170.000 milhões de euros em apenas seis anos. Isso dá a dimensão da insustentabilidade em que o PS colocou o país", acusou o deputado do CDS-PP.
António José Seguro, recorde-se, entende que o PS não tem nada a ver com isto e que se trata de um problema do Governo e não do país. Questões de semântica à parte, o problema é nosso que o vamos ter de resolver com os nossos impostos, mas isso interessa pouco, aparentemente, ao líder do PS.

Um erro colossal?

Suspeito, não tenho a certeza, que António José Seguro (AJS) cometeu o primeiro grande erro desde que é líder do PS. Contrariamente ao que possa parecer à primeira vista, a sua recusa em dialogar com o Governo sobre uma refundação do memorando de entendimento tem todos os ingredientes para correr mal. Ao colocar-se à margem das soluções, AJS escolhe para si próprio um papel marginal, com as vantagens e os inconvenientes que daí decorrem. Não me parece nada garantido que os portugueses compreendam esta opção.
O PS, refira-se, tem claramente a noção de que o terreno não lhe é favorável. E é por isso que procura recentrar a agenda.

Um reformista sem propostas reformistas

E assim resta a demagogia e a conversa vazia de conteúdo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Outro tudólogo

Enquanto se bebem duas minis e se comem uns tremoços, mandam-se umas bocas sobre Portugal e o euro e discutem-se os resultados da bola do fim de semana. Excelentes elites.

O PS agora é um mero partido de protesto?

Segundo António José Seguro, o que o Primeiro-Ministro fez na reunião foi propor um "debate sobre o modo de cortar 4 mil milhões de euros". A resposta do líder do PS foi que a "responsabilidade do corte de 4 mil milhões era integralmente do Governo e da troika". E, por isso, "deve ser o Governo e a troika a encontrar a solução para o problema que criaram".
Ou seja, dito de outro modo, muito simples: O PS é um partido do arco da governabilidade, mas comporta-se como se fosse um mero partido de protesto. O PS recusa, pura e simplesmente, entrar num debate de interesse nacional. O Bloco de Esquerda não faria melhor.

Seguro no Facebook ou no Público, a mesma coisa?

O jornal Público agora serve para republicar na íntegra, sem qualquer tratamento editorial, as mensagens que António José Seguro publica na sua página no Facebook? O Público abdicou de fazer jornalismo e agora é uma simples correia de transmissão dos argumentos políticos e da propaganda do PS? Um link inserido porventura noutro texto sobre o líder do PS não era suficiente? A directora do Público quer que lhe explique por que motivo o jornal vende cada vez menos?
A partir de agora vamos passar a ler na íntegra no Público as mensagens de todos os líderes partidários com assento parlamentar publicadas nas redes sociais?

domingo, 4 de novembro de 2012

Um problema do Governo

No Largo da Rato, a convicção é que "os 4.000 milhões são um problema do Governo e não do país" (Expresso, 3.11.2012: 4).
Valerá a pena comentar esta afirmação? Trata-se de um problema do Governo, mas não do país?
Isto não é uma questão de mera cegueira. É a mais completa irresponsabilidade.

O preconceito

"Desengane-se o Primeiro-Ministro se espera que o PS seja cúmplice da criação em Portugal de um Estado estilo 'low cost' para portugueses", referiu António José Seguro (AJS).
O líder do PS é um mãos largas e o custo é uma preocupação menor. Esta intervenção é uma re-edição de uma outra em que AJS se insurgia com extinções por uns míseros euros. Devo dizer que, contrariamente ao líder do PS, nada tenho, por princípio ou por preconceito, contra o conceito de low cost. Não vejo, portanto, nenhum problema filosófico se tivermos um Estado low cost. Evidentemente, teremos de encontrar um equilíbrio entre custo e qualidade. Mas como os recursos não são ilimitados, tal quer dizer que, inevitalmente, o custo do Estado terá de ser tido em conta.
AJS afirma que não quer um Estado low cost, como se isso fosse um sinónimo de peste. Vamos assumir que o Estado low cost é, de facto, indesejável. Nesse caso, como é que o líder do PS financia o Estado high cost?
AJS anda há meses a fugir de uma discussão séria dos problemas e continua a fazer oposição de acordo com os padrões do passado, esperando que o Governo, mais tarde ou mais cedo, acabe por se desmoronar. Na ausência de um pacto reformista e de um entendimento sério entre PS e PSD, o líder socialista parece esquecer-se que os problemas que agora empurra para a esfera exclusiva do Governo estarão à sua espera mais à frente se não forem agora resolvidos. Nessa altura será a vez de o PSD, num círculo vicioso e nada virtuoso, retribuir a demagogia. Uma demagogia high cost e sem qualquer qualidade.

[Adenda]
Exactamente. Comece já!

O estado da arte do jornalismo político

"O que impressiona não é que ele [i.e. Luís Marques Mendes] a tenha e a procure, mas que a classe jornalística não chegue primeiro às informações, muitas vezes públicas e muito relevantes e que ele divulga", refere Eduardo Cintra Torres (ECT).
Há diversas razões que explicarão o problema referido por ECT no Correio da Manhã. Seguramente serão todas relevantes, mas há uma que julgo ser essencial e fundamental. Os jornalistas não chegam primeiro à informação (alguma, pelo menos) porque a relação entre políticos e jornalistas é marcada pela desconfiança, por vezes mútua.
O caso de Marques Mendes é diferente. Não só não é jornalista, como ainda por cima faz parte da tribo política e, por conseguinte, tem relações cordiais com diversos membros do Governo. O seu estatuto permite-lhe ter acesso a informação que os membros do Governo não partilhariam com os jornalistas (e com alguns políticos). Acresce que, ao contrário de diversos jornalistas, Marques Mendes não anda à espreita de uma oportunidade para fazer rolar cabeças. Dito de outra maneira, o ex-líder do PSD não se assume como um watchdog, mas sim como um analista e divulgador de informação. Isto faz toda a diferença.

O tudólogo

"Tenho muitos convites, tanto falo de Jesus Cristo como dos problemas do financiamento português..."
Querem melhor retrato das elites portuguesas do que este, longe de ser o único, de Paulo Rangel em entrevista ao Expresso?
Tanto fala de Jesus Cristo como dos problemas do financiamento português, imagino que com semelhante superficialidade. Igualmente importante, há quem esteja interessado em o ouvir falar de Jesus Cristo ou, tanto faz, dos problemas do financiamento português.
Como é que nós, com elites destas, poderíamos estar noutra situação que não aquela em que nos encontramos?

sábado, 3 de novembro de 2012

Vamos insistir no disparate?

Manuel Ferreira Leite confirma que acredita mesmo naquilo que disse e que tanta polémica gerou em 2009, salvo erro. Os seus intérpretes oficiais e autorizados terão, uma vez mais, a cara de pau de defender que as suas palavras foram mal interpretadas, ou retiradas do contexto?
Uma vez mais, o problema sobrepõe-se à solução. Winston Churchill terá dito um dia que a democracia é a pior forma de governo, à excepção de todas as outras que já foram experimentadas no passado. Dito de outra forma, apesar das suas imperfeições e dos seus limites, a democracia é a melhor forma de governo. Ora, se a democracia não conseguir fazer face a "situações de extrema complexidade", gerando para o efeito os consensos necessários e formulando respostas cuja legitimidade permita encontrar soluções, que tipo de regime o conseguirá fazer de forma mais eficaz?
Ferreira Leite acredita mesmo que a solução passa por mecanismos não democráticos, ainda que temporários? Acha que isso é exequível e aconselhável? Não será irresponsável da sua parte este tipo de devaneio estéril e gratuito?
Haja paciência.

Shawshank

Condenados a prisão perpétua.

Refundação [6]

Ao colocar agora em cima da mesa a proposta de refundação do programa de austeridade, o Governo conseguiu que a discussão sobre o Orçamento do Estado para 2013 desaparecesse do radar. Dito de outra maneira, subitamente passou a discutir-se aquilo que não se conhece em detrimento daquilo que é uma realidade. Poderia o Governo querer outra coisa?

Falta uma diplomacia europeia a Paulo Portas?

Alguns críticos salientam que Paulo Portas tem vindo a pecar por defeito na frente europeia. O ministro dos Negócios Estrangeiros, dizem, não tem um discurso europeu. A minha dúvida é a seguinte: Quais foram os resultados inviabilizados pelo suposto afastamento de Portas das questões europeias? O que é que se deixou de fazer e em consequência o que é que se perdeu na frente europeia?
Pergunto isto porque, tanto quanto sei, Portugal tem marcado presença nos tabuleiros que nos interessa, como seja os "Amigos da Coesão" ou o "Grupo do Futuro".
Não vejo, no essencial, qual seja a diplomacia europeia que esteja em falta. Como quase sempre acontece, as críticas não são complementadas com a apresentação de alternativas. Eis a eterna questão da discussão do problema em vez da solução. O que é que deveria ser diferente e como é que deveria ser diferente? O que é que seria essencial ou substantivamente importante?

Leituras

1. Pedro Correia, "Perplexidade" (Delito de Opinião, 3.11.2012).

Uma vitória com...

...um fortíssimo travo a derrota. Uma enorme surpresa. Com um pouco mais de sorte teria sido um dia histórico. Mais histórico ainda.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Estado social

A defesa do Estado social é um tema que continua a ser alvo de todo o tipo de demagogia. A percepção que o PS transmite que o PSD é um inimigo do Estado social é um total disparate, mas o líder socialista não tem qualquer problema em explorar esse filão.
O pior de tudo, no meio disto, é a confirmação pela milionésima vez de como é pobre e superficial o debate político. A discussão política em Portugal está cheia de frases feitas, de chavões e desprovida de qualquer substância. Não temos emenda.

A independência estará em vias de prescrever?

Só me ocorre uma palavra para descrever este choradinho: Patético.

Não é um problema

"Os portugueses conhecem a minha posição e as posições do PS há mais de um ano. O défice não é problema mas, antes, o fraco crescimento económico", reafirma António José Seguro.
Os portugueses, claro, conhecem a posição de Seguro e do PS na oposição. O défice até pode nem ser um problema em termos absolutos. Mas como não é esse o entendimento que vigora na União Europeia, consequentemente o défice é um problema. Também seria um problema para o líder do PS se fosse Primeiro-Ministro.
É claro que Seguro procura diferenciar-se de Pedro Passos Coelho e a sua posição deve ser entendida nesse contexto. Se o líder do PS fosse actualmente Primeiro-Ministro seria ele que andaria desesperadamente à procura de uma forma de cortar quatro mil milhões de euros de despesa. É a vida.

Fitch acredita...

...num segundo resgate financeiro de Portugal:
"Our view is that the sovereign Portugal will receive further official support before it returns to the market. We believe this is still some time away. While countries exiting programmes are eligible for ECB bond buying, the weak economic outlook in Portugal, the size of the fiscal adjustment and fragile nature of the eurozone sovereign debt market means there would need to be a significant improvement in sentiment for it to return to the market in full next year."
Mais matéria para Fernando Ulrich comentar assim que possível.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Mário Soares leu um livro

Como a vida está difícil para todos, Soares fez um choradinho tal que lhe ofereceram o raio do livro.
Leu 169 páginas, mas, atenção, informa-nos que isso inclui índices, gráficos e anexos, não vá alguém pensar que a leitura era pesada. Soares não revela quantos dias demorou a ler o dito livro, mas esclarece que não conhece o autor. Geralmente, pelos vistos, se o autor for desconhecido não passa na selecção prévia de Soares. O que o salvou foi o prefácio, esse sim, escrito por uma pessoa amiga. Graças ao prefácio, mesmo não conhecendo o autor, Soares abriu uma excepção e aventurou-se na leitura do calhamaço, decisão em nada influenciada pelo facto de o livro ter sido adquirido de borla. E a capa, como é que Soares podia ignorar a capa com a horrorosa palavra austeridade?
Bom, quanto ao conteúdo, Soares é parco em palavras, mas, bem vistas as coisas, até se compreende que omita alguns detalhes menores. Afinal, também não disse o que comeu ao almoço, pois não?

Saturação [2]

Entretanto, o PS está indignado. Os socialistas necessitam, pelos vistos, de ler o livro na coluna da direita para reavivar a memória. Passa logo a indignação.

Saturação [1]

Enfim, nem sei o que diga. O que seria de nós sem a ajuda preciosa dos técnicos do FMI? O que seria de nós sem as (in)confidências de Luís Marques Mendes?

A democracia consolidada é irreversível?

Se através de eleições regulares, livres e justas não se consegue controlar o Parlamento, dito de outra maneira, se o povo português insiste, eleição após eleição, em não dar ao BE e PCP mais do que uma minoria dos votos, nesse caso contorne-se a democracia representativa em benefício da rua e da expressão 'directa' da vontade do povo.
Uma vez que não se pode dissolver o povo, pelo menos pode-se ignorar a expressão parlamentar da sua vontade. Ou seja, aposte-se na legitimidade da rua em detrimento da legitimidade parlamentar. A democracia representativa, por vezes, é muito incómoda.