terça-feira, 27 de novembro de 2012

Uma base militar chinesa nas Lajes?

No início do mês, um analista levantou a hipótese de a China poder estar a equacionar a hipótese de substituir, digamos assim, os EUA nas Lajes. O assunto foi repescado dias depois por uma outra publicação norte-americana. Esta especulação, convém frisar, tal como um castelo de cartas, tem bases pouco sólidas. Uma escala de poucas horas nos Açores em Junho, pelo Primeiro-Ministro chinês Wen Jiabao, é o único facto que a sustenta.
Isto dito, seguramente por falta de assunto, tal não impediu o jornal Público de pegar ontem no tema, sem acrescentar um único facto novo, o que é compreensível, uma vez que não há factos, sejam eles novos ou velhos (Público, 26.11.2012: 9). Mas aquilo que verdadeiramente vale a pena ler é o editorial em que se afirma que "o fantasma chinês (...) surge para Portugal como uma bóia de salvação. E, porque não, como trunfo negocial (Público, 26.11.2012: 43)". Isto é puro delírio, revelador de uma grande falta de bom senso. Alguém consegue imaginar Pedro Passos Coelho ou Paulo Portas, sem factos e informação credível, a chantegear os EUA com um hipotético interesse chinês nas Lajes? Alguém considera razoável a existência de uma base militar chinesa nos Açores, sendo Portugal um Estado membro da NATO?
Nada disto faz sentido, no curto e no médio prazo. Os EUA continuam a ser a potência marítima dominante e as relações transatlânticas mantêm-se como um pilar central da política externa portuguesa.
Pessoalmente até considero que poderemos estar a assistir a uma recomposição da geografia estratégica portuguesa, mas estamos ainda numa fase embrionária desse processo. Acresce que essa reconfiguração, para já (e assumindo que tem pernas para andar), tenderá a manifestar-se sobretudo no domínio económico e, porventura, alguma coisa no campo político. O resto -- e na sempre muito sensível área da defesa -- são cenários especulativos sem qualquer adesão à realidade.