"A vida é uma viagem de barco em que o vamos consertando ao longo da travessia" [Onésimo Teotónio Almeida e João Maurício Brás, Utopias em Dói Menor: Conversas transatlânticas com Onésimo (Lisboa: Gradiva, 2012), p. 172]. Aqui está uma definição possível da vida, com a qual me identifico. Onésimo define-se, citando Romain Rolland, como "um pessimista do intelecto e um optimista da vontade". A vida, tal como a encara, apesar das dificuldades que exigem consertos contínuos, tem um rumo. Há uma travessia que, apesar das tormentas, terá êxito. Onésimo conhece o seu porto -- "há um conjunto de valores e comportamentos que se mantêm constantes na minha vida" [p. 172] -- e não há conserto que não seja exequível para um optimista da vontade como ele. Tudo isto isto, naturalmente, reflecte a sua mundividência e o seu percurso de vida.
Utopias em Dói Menor lê-se num abrir e fechar de olhos. Fiel a si própio e tendo também em conta o público para quem está a escrever, Onésimo procura tratar de forma o mais simples possível temas que são complexos. O livro é uma extensa entrevista de 274 páginas, estrutura que ajuda a que a leitura seja mais fácil, mérito ao que também não será alheia a competência do entrevistador, João Maurício Brás. Tal como acontece de vez em quando a Onésimo, de certa maneira ao leitor também saiu uma terminação choruda. Utopias em Dói Menor é uma leitura estimulante. Estamos perante um livro com diferentes tempos de leitura, a merecer ser lido e relido ao longo da travessia de barco.
P.S. -- Defensor da simplicidade, Onésimo viola a sua regra apenas numa questão: dispensavam-se, na boa tradição portuguesa, os prefácios e os posfácios que, com o devido respeito, nada acrescentam.