Muito já se escreveu e se disse sobre a mensagem de ano novo de Cavaco Silva e muito mais ainda se irá escrever e se irá dizer nos próximos dias. Ao recordar o que li até ao momento sobre o discurso -- e evidentemente não li tudo -- diria que importa realçar um aspecto. O texto não foi escrito apenas para consumo interno. Cavaco Silva sabe que as suas palavras serão escrutinadas para além de Badajoz. Julgo que as referências do Presidente de apoio ao programa de assistência, mas ao mesmo tempo de alerta para o impacto da austeridade devem também -- e sobretudo? -- ser lidas no plano europeu. A posição crítica de Cavaco Silva em relação à abordagem europeia da crise financeira não é nova. Nesse sentido, mais do que criticar o Governo sobre a espiral recessiva, diria que o Presidente está a criticar sobretudo a abordagem europeia e a reforçar a posição daqueles que entendem que a estratégia europeia necessita de ser recalibrada.
José Ortega y Gasset: "Yo soy yo y mi circunstancia". Liberdade e destino. A vida é isto, o que não é pouco.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Mensagem de ano novo do Presidente [5]
A mensagem de ano novo do Presidente é, de facto, bem construída. O texto possui um bom equilíbrio entre o concreto e o abstracto, o que permite uma maior latitude interpretativa. Há um equilíbrio interessante entre aquilo que é expressamente dito e aquilo que fica subentendido nas entrelinhas. Acresce que o discurso tem diversos destinatários, muitos deles fáceis de identificar. Um pouco como no caso de um livro, o leitor encontra no texto significados em que o autor não tinha originalmente pensado e com os quais não tem necessariamente de concordar. Pouco interessa. Uma vez colocada no espaço público a mensagem assume vida própria. Em parte, pelo menos.