O Bloco de Esquerda não se limita a denunciar um eventual conflito de interesses. Vai mais longe e acusa António Lobo Xavier de "representar os interesses que não são os do país, os de todos os contribuintes, os interesses do Estado". Em suma, acusa-o -- existe outra interpretação? -- de falta de seriedade. Eis um julgamento sumário, sem direito a defesa, na praça pública. O Bloco não esperou para ver os resultados do futuro estudo. Muito antes ainda de existir um estudo, Lobo Xavier foi imediatamente condenado assim que se soube que seria o coordenador dos trabalhos. De nada interessa se Lobo Xavier é um especialista na matéria em causa. Aquilo que interessa é que Lobo Xavier está ao serviço do grande capital. E quem está nos conselhos de administração das grandes empresas, já se sabe, na perspectiva do Bloco é gente que em circunstância alguma defenderá os interesses do Estado e o bem comum.
O Bloco, evidentemente, está também a criticar o Governo pela sua escolha. Mais. Está a partir do pressuposto de que o Governo receberia o estudo das mãos de Lobo Xavier sem qualquer capacidade crítica ou de escrutínio. No fundo, no fundo, o Governo também estará feito com o grande capital.
No meio disto, surge-me uma dúvida: se o objectivo consistia, por acção ou por omissão, em beneficiar os "grandes grupos empresariais", não teria sido mais inteligente fazer a coisa de forma discreta?