sexta-feira, 31 de maio de 2013

Por vezes, a realidade ultrapassa a ficção

Pedro Lomba participou numa acção de pré-campanha do PS à Câmara Municipal de Lisboa (Sol). Terá ido por engano. Acontece aos melhores, obviamente. Fico na dúvida, no entanto. Distraído como é, Lomba sabe que o primeiro-ministro não é Paulo Rangel, certo?

Pois é

O ódio pessoal é muito triste. José Pacheco Pereira é outro.

Todos os partidos

Carlos Zorrinho é uma fonte inesgotável de inspiração: "[O PS quer] uma maioria absoluta, que inclua todos os partidos, da esquerda à direita".
Isto é tão ridículo, tão pouco sério, tão patético, que nem sei o que diga. Um partido que quer uma maioria absoluta que vai do BE ao CDS só pode querer o poder pelo poder. Só pode querer jobs for the boys, independentemente de tudo o resto. Alguém que diz isto não pode ter a mais pequena ideia do que quer fazer, uma vez reconquistado o poder. Esta cobardia política em assumir escolhas, em termos de propostas e parceiros, é detestável.

Flashback

Mais um mês que termina, mais um mês que passa. No PS, para não variar, continua o vazio de propostas alternativas. Não quer austeridade e quer crescimento, mas para além desta banalidade o PS mais não diz. Quer eleições antecipadas porque sim e pronto. Não será de certeza absoluta com o meu voto que as viúvas de Sócrates regressam ao poder à boleia de Seguro.

Sobre o acesso ao espaço público

Como já salientei noutra ocasião, há um conjunto influente de reformados e pensionistas que pululam pelas diversas plataformas da comunicação social portuguesa. A sua visibilidade na defesa dos seus interesses é inquestionável, ainda que não seja ilegítima, evidentemente. Isto, recorde-se, num país em que vergonhosamente diversas das mais altas figuras do Estado optaram pelas reformas em detrimento da remuneração dos respectivos cargos. Que as suas reformas sejam superiores, individualmente ou em acumulação, a uma alta função no Estado seria, por si só, motivo mais do que suficiente para questionar muita coisa. Mas estou a desviar-me do assunto. A visibilidade mediática dos reformados e pensionistas de elite que saltitam pela comunicação social contrasta com esta crescente imensa maioria sobre a qual pouco se fala. Estes 42% dificilmente conseguem ter acesso às colunas de opinião dos jornais e menos ainda ao prime time das rádios e das televisões.

De acordo

Com Teresa Leal Coelho.

Toda a legitimidade

Por vezes é preciso relembrar o óbvio.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Legitimidade burocrática

Fica mal ao PS e a Carlos Zorrinho em particular desvalorizar a legitimidade democrática -- repito, democrática e, adicionalmente, o sufrágio universal, secreto e directo -- desta maneira. É pouco digno de um partido político do arco do poder, este tipo de discurso anti-democrático. O PS tem toda a legitimidade para contestar o Governo e não lhe faltam argumentos potenciais para o fazer. Desvalorizar a legitimidade democrática, por mera conveniência de combate partidário, é ultrapassar uma fronteira perigosa. E uma vez ultrapassada, mais tarde ou mais cedo, fará ricochete.

Listen very carefully, I shall say this only once! [18]

Paulo Gorjão, "Portugal and Georgia: Starting from Scratch" (IPRIS Viewpoints, No. 125, June 2013).

Tão simples como isto

"Se há alguma coisa que seja preciso investigar que se investigue". Doa a quem doer.

Listen very carefully, I shall say this only once! [17]

1. Sean Goforth, "Challenges Await Roberto Azevedo at the World Trade Organization" (IPRIS Viewpoints, No. 124, May 2013).
2. Alex Petriashvili, "Challenges and Perspectives: Georgia after the Election in 2012" (IPRIS Occasional Paper, No. 7, May 2013).

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Azevedo Soares

Lembro-me, de tempos a tempos, de Eduardo Azevedo Soares. Lembrei-me agora mesmo dele e, por coincidência, faz hoje dois anos e cinco meses desde que morreu. Guardo boas recordações das ocasiões em que convivemos e tenho saudades das nossas conversas. Azevedo Soares, infelizmente, deixou-nos demasiado cedo. Não está, todavia, esquecido.

Uma péssima notícia

Se se confirmar.

Em destaque [8]

"já não tenho tempo para ganhar o amor, a glória ou a Abissínia,
talvez me reste um tiro na cabeça,
e é tão cinematográfico e tão sem número o número dos efeitos especiais,
mas não quero complicar coisas tão simples da terra,
bom seria entrar no sono como num saco maior que o teu tamanho,
e que uns dedos inexplicáveis lhe dessem um nó rude,
e eu de dentro o não pudesse desfazer:
um saco sem qualquer explicação,
que ficasse para ali num sítio ele mesmo sítio bem amarrado
-- não um destino à Rimbaud,
apenas longe, sem barras de ouro, sem amputação de pernas,
esquecido de mim mesmo num saco atado cegamente,
num recanto pela idade fora,
e lá dentro os dias eram à noite bem no fundo,
um saco sem qualquer salvação nos armazéns obscuros"
Herberto Helder, Servidões (Assírio & Alvim, 2013), pp. 35-36.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Em destaque [7]

Helder Moura Pereira, Pela Parte que me Toca (Assírio & Alvim, 2013).

Às pinguinhas

Quando não se tem nada de substantivo para criticar inventa-se uma crítica. É preciso criticar sempre qualquer coisa. Afinal, a bicicleta das críticas não pode parar. Sigamos, portanto, as pinguinhas até onde elas nos levem.

Está escrito nas estrelas...

...que as circunstâncias recomendarão. A simples admissão dessa hipótese é muito reveladora.

domingo, 26 de maio de 2013

Patetice da semana [6]

O CDS foi o único partido onde ninguém votou a favor da co-adopção, diz Mota Soares. E abstenções, também foi o único onde não houve nenhuma?
P.S. -- Alguém que informe Mota Soares, se faz favor, que o CDS não expressou oficialmente nenhuma posição porque, convém lembrar, os deputados votaram ao abrigo da liberdade de voto que foi decidida pelo grupo parlamentar, imagino que decidida em articulação com o líder do CDS, Paulo Portas.

Em destaque [6]

Teolinda Gersão, As águas livres: Cadernos II (Sextante Editora, 2013).

De bestial a besta, num abrir e fechar de olhos

"Estamos a fazer uma época excelente. Aconteça o que suceder será sempre uma temporada brilhante, mas será ainda mais se conquistarmos os três títulos em que estamos inseridos. Será uma época boa, mas passará a ser de sonho se ganharmos tudo", disse o treinador do Benfica, Jorge Jesus.
Eis a prova, provada, que os balanços, na política como no futebol, ou na vida em geral, se fazem apenas no final. E no final, o Benfica nada ganhou na "temporada brilhante". A "época boa" traduziu-se numa mão cheia de nada, num pesadelo que Jorge Jesus seguramente nunca imaginou que poderia vir a acontecer.
Enfim pior do que o Benfica só meu Sporting...

sábado, 25 de maio de 2013

A história tem saias ou calças?

Talvez deva começar por dizer que não percebo rigorosamente nada de poesia. Como já aqui afirmei noutro contexto, não sou crítico literário, nem tenho competência para isso. Sou apenas um simples leitor. Gosto de ler livros de poesia, ainda que de um ponto de vista literário não seja capaz de diferenciar um bom de um mau livro de poesia. Muito simplesmente, há poemas e autores de que gosto. Por regra, num livro há um ou dois poemas que me agradam particularmente, vários que nem percebo muito bem, e há umas quantas expressões e jogos de palavras que, por motivos de variada ordem, me chamam a atenção.
Vem isto a propósito do mais recente livro de poesia de Golgona Anghel. Repito, como não-crítico poeticamente analfabeto, encontrei diversos trechos cuja formulação me agradou especialmente. Exemplos: "as nossas vidas (...) deviam acontecer sempre no futuro" (p. 14); "funcionários públicos do senso comum" (p. 14); "sejam lordes quando espetam a faca" (p. 27); e, "os abismos andam sobrevalorizados" (p. 59). Mas o trecho de um poema que me chamou mais atenção foi o dos "coronéis e generais" que "levantavam as saias à história" (p. 15). Confesso que nunca tinha pensado na história enquanto algo dotado de género (ainda que os gender studies tenham já de certeza absoluta reflectido sobre o assunto no âmbito do estudo das Relações Internacionais). Mas, depois, pensando melhor, porque não haveria a história de ter género? Mas tendo género, não seria masculino? Não é a guerra ainda hoje um exercício sobretudo masculino, a guerra que é uma componente essencial da história? E não são homens a esmagadora maioria dos líderes políticos, eles que são os grandes players da história? Porque motivo deveria ter saias a história, a não ser que seja um kilt escocês?
Mas a alusão às "saias da história" pode não ter nada que ver com o género, e ser apenas uma alusão à tentação que nos suscita o desconhecido. Enfim, havia aqui pano para mangas. O melhor é "avanç[ar] na leitura como um carniceiro desliza na carne" (p. 62). Até já.

Em destaque [5]

"Plano de Acção
1. Suspensão imediata do AOLP [Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa] nos organismos da administração pública e no sistema de ensino.
2. Revogação automática e prioritária das disposições do AOLP que mereceram reprovação mais generalizada.
3. Abertura de conversações com Angola e Moçambique para avaliação das discrepâncias entre a norma ortográfica do AOLP e a que vigora naqueles países.
4. Nomeação de uma comissão multidisciplinar de peritos para uma revisão profunda do AOLP.
5. Elaboração de um Vocabulário Ortográfico Comum, avalizado pela comissão de peritos.
6. Aprovação de uma moratória de três anos para a entrada em vigor do AOLP, transferindo-a de 2015 para 2018, data em que voltará a ser avaliada a sua aplicação."
Pedro Correia, Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico (Guerra & Paz, 2013), pp. 154-155.

Isto é a República das bananas?

É por causa de afirmações destas e de outras de natureza semelhante que há muito tempo que considero que a directora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa deveria ser substituída e eventualmente alvo de um processo disciplinar. Maria José Morgado não tem nada que andar a proferir afirmações em público com um conteúdo claramente político. Cada macaco no seu galho. O primeiro-ministro, o actual ou outro qualquer, também não se pronuncia, ou deve pronunciar, sobre como Morgado deve dirigir o DIAP de Lisboa. Parece que a isso se chama separação de poderes. Se Morgado quer intervir politicamente, talvez deva começar por abandonar as suas actuais funções e candidatar-se a um lugar no Parlamento.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Em destaque [4]

"Olhe, preciso de dinheiro.
Preciso de muito dinheiro. Quero abrir um negócio.
Algo meu, sabe como é. Estou farto de patrões.
Não posso passar a minha vida atrás de um balcão.
A levar todas as noites com a baba dos perdidos nas trombas.
Já não tenho paciência.
Com esta idade, já viu o que é.
Sujeitar-se a todos os labregos.
Já tentei noutros bancos, sim.
Pedi também aos meus pais, é verdade;
disse-lhes que era para me casar.
Não, não tenho casa, nem automóvel.
Mas, olhe, posso garantir com o meu corpo.
O meu fígado, senhor, tem que ver o meu fígado.
É fígado de motard. Isto parece encolhido e tal,
mas anda a mil.
E adiantado, não pode pagar nada como entrada?
Entrada, não sei.
Só se for o coração."
Golgona Anghel, Como Uma Flor de Plástico na Montra de um Talho (Assírio & Alvim, 2013), p. 38.

Resumo do dia

Pedro Passos Coelho admitiu pela primeira vez que pode vir a pedir uma flexibilização das metas do défice em 2014. Miguel Poiares Maduro fez o enésimo apelo ao consenso, sem o qual a permanência na Zona Euro poderá estar em causa. Vítor Bento afirmou que não precisamos de mais austeridade. Álvaro Santos Pereira defendeu as medidas anunciadas de estímulo ao investimento. E, claro, Miguel Sousa Tavares foi simplesmente ele próprio, i.e. carroceiro até à medula.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Restaurador Olex

"Um preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha não é natural". Os mais crescidos lembram-se deste anúncio, certamente. Lembrei-me disto quando li que Vítor Gaspar afirmou hoje que "chegou o momento do investimento". Ver o ministro das Finanças falar em investimento também não é natural. Afinal, um lobo em pele de cordeiro não deixa de ser um lobo. O ministro das Finanças disfarçado de ministro da Economia não deixa de ser ministro das Finanças, pois não?

Os garotos que não sabem estar à mesa

Como já referi as fugas de informação sobre o que se falou no Conselho de Estado constituem um péssimo sinal. Não começou agora, como também já salientei, e ao contrário do que refere Francisco Seixas da Costa. E, portanto, a explicação para o sucedido não se encontra seguramente numa hipotética subrepresentação no comunicado final.
Mas a cereja no topo do bolo será um ex-Presidente da República -- logo ele que deveria ser aquele que maior sensibilidade política e institucional deveria ter nesta matéria -- admitir publicamente que determinados temas foram discutidos no Conselho de Estado. Tal atitude fica mal a Jorge Sampaio, por todas as razões e mais alguma.
Quanto ao actual Presidente da República, há apenas uma ilacção a retirar. Salvo por obrigação constitucional, o Conselho de Estado deve voltar a ser convocado nas calendas gregas. E sempre que julgue útil, Aníbal Cavaco Silva tem canais informais para ir ouvindo os conselheiros de Estado que entender. É a vida.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Jornalismo de investigação... [2]

...de alto calibre. Uma vez mais É por esta e por outras que vale a pena comprar o Público.

A tradição já não é o que era

Uma vez mais, o que se passou num Conselho de Estado vem hoje descrito nos jornais. Ou seja, confirma-se que o Conselho de Estado perdeu a sua tradicional blindagem perante as fugas de informação, o que é uma péssima notícia.

Ainda a estratégia negocial

O debate político em Portugal é muito interessante. Manuela Ferreira Leite quer o Governo a gritar nas reuniões com a troika. Está implícito nas suas declarações que o Governo aceita tudo aquilo que a troika lhe impõe e que pouco ou nada negoceia com sucesso. O PS, por sua vez (e em sentido contrário), afirma que o actual memorando já pouco ou nada tem que ver com o documento original. O que significa que, no caso do PS, o Governo é responsabilizado por renegociar o documento seguindo uma orientação com a qual não concorda. O PS não afirma que a responsabilidade pelas alterações no memorando é da troika, mas sim do Governo.
Em que ficamos, afinal?
É um segredo público que a última ronda de negociações com a troika não foi fácil. A conclusão da sétima avaliação foi quase um milagre, segundo o Presidente da República. Sabemos também que em ocasiões anteriores Portugal conseguiu rever as taxas de juro. Enfim, os exemplos poderiam continuar.
Moral da história?
O Governo não andará aos berros nas reuniões com a troika, como desejaria Ferreira Leite, mas parece-me óbvio que a negociação tem sido um traço evidente. Poderia ter negociado mais e melhor?
Admito que sim, não sei. Ninguém sabe, na verdade. Mas, isto dito, não tenho nenhuma razão para pensar que o Governo não está a desempenhar a sua função. Se outra razão não existisse porque é do seu interesse que assim seja.

A eficácia da gritaria enquanto estratégia negocial

"Às vezes perguntam-me o que é que eu faria se lá estivesse [nas negociações com a troika]. No mínimo, gritava, para alguém ouvir. Não ficava calada de certeza absoluta", afirmou Manuela Ferreira Leite.
Leio isto e fico na dúvida se valerá a pena comentar uma afirmação tão ridícula. Ferreira Leite não só parte do pressuposto de que o Governo é um mau negociador -- baseado em que factos? -- como ainda por cima propõe como estratégia negocial andar aos berros, ainda que seja, sejamos simpáticos, num sentido figurado.
Isto é tão primário e tão patético que não sei o que diga. Triste sorte a de um país que tem elites deste calibre.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Uma dúvida

Saída do euro levaria a mais emprego, mas com salários mais baixos, diz Daniel Bessa. Admito que seja verdade. Só há um problema. Daniel Bessa está a expressar uma mera opinião que não tem por base qualquer estudo prévio, ou um exemplo histórico de natureza semelhante. Estamos perante pura conversa de café.

Mas que último recurso?

Ou há um jogo de palavras e uma intenção que me escapa, ou então Miguel Poiares Maduro -- e o primeiro-ministro? -- não estão a ver bem o filme. Não há nenhum último recurso. Se Pedro Passos Coelho avançar com a taxa, no mínimo dos mínimos, Paulo Portas sai do Governo, o que significa que na primeira oportunidade o CDS colocará um ponto final no Executivo. Tão certo como dois e dois são quatro.

Listen very carefully, I shall say this only once! [16]

Noureddine Jebnoun, "Tunisia's Security Syndrome" (IPRIS Viewpoints, No. 123, May 2013).

Um dado curioso...

...sobre este tipo de anúncio é que ninguém faz posteriormente qualquer tipo de acompanhamento da sua execução. Governo após governo, os diversos ministros podem avançar com os números que quiserem porque o assunto, esgotada a declaração inicial, desaparece do radar. Podem, portanto, multiplicar-se os anúncios de muitos milhões porque ninguém verificará em devido tempo se, de facto, assim foi. A qualidade da democracia também se avalia nestes pequenos detalhes.

Quadratura do círculo: adeus austeridade

Leio a meio de uma notícia que foi defendido no Conselho de Estado "um equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à actividade económica". Pelos vistos, estamos todos de acordo. Querem maior consenso? Ainda dizem que não há espaço para consensos...
Confesso que fiquei com água na boca. Os senhores conselheiros, na sua longa maratona de reflexão, descobriram a fórmula que permitirá o tão desejado equilíbrio. Eureka, companheiros...!
Continuo a ler a notícia, agora num estado de agitação evidente. A austeridade tem os dias contados. Repito, os conselheiros de Estado, fruto da sua reflexão colectiva, colocaram um ponto final na austeridade. Hasta la vista, troika non grata...
A união faz a força e, como diz o povo, várias cabeças no seu conjunto pensam sempre melhor do que uma individualmente. Entretanto, por mim mandava já amanhã os conselheiros de Estado renegociar o programa de assistência com a troika. É pegar ou largar. Se não quiserem a malta vai em frente pelo nosso pé, agora que descobrimos o grande equilíbrio. My friends, a austeridade morreu em Lisboa nas instalações da Presidência da República. E havia por aí uns caramelos que não queriam o Conselho a discutir o pós-troika. Diziam que isso era uma fuga em frente. Deixem estar, ainda nos vão agradecer depois de engolirem o sapo que neste momento têm atravessado nas goelas.
Adiante. Prossigo com a minha leitura da notícia e a fórmula da quadratura do círculo nunca mais aparece. Começo a ficar nervoso. Faltam-me poucos parágrafos para terminar a leitura do texto e nada. Os detalhes, por favor! O equilíbrio milagroso, senhores, como é afinal? Estou aqui em pulgas para ler os pormenores da coisa.
Bom, talvez o jornalista, recorrendo a técnicas de escrita criativa e de suspense em particular, tenha deixado a solução milagrosa para o final? Deve ser isso, a grande apoteose estará no último parágrafo. Na última frase? Na última linha?
Continuando. Em frente, vamos à última frase. É agora, malta...
Inspirar. Expirar. Frustração, muita frustração. Um grande suspiro de frustração. Não é que o jornalista, por lapso, por distração, ou por outra razão qualquer, se esqueceu de referir como é que se consegue o equilíbrio? Os senhores conselheiros de Estado descobrem a fórmula perfeita, o maior furo do século, e o jornalista foi comer qualquer coisa na hora agá?
Sim, a culpa é de certeza absoluta do jornalista. Só pode ser dele, uma vez que a responsabilidade não é de certeza absoluta dos senhores conselheiros de Estado. Tanta massa cinzenta junta, numa sala da Presidência durante tantas horas, não se limitaria a proferir umas banalidades num comunicado final. No way!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Reformados indignados

Lembram-se do manifesto apresentado por Filipe Pinhal?
Pinhal cometeu a imprudência de assumir de forma directa ao que vinha, i.e. a defesa dos seus interesses directos. Obviamente, a coisa correu mal, como não poderia deixar de ser. Outros há, mais inteligentes e mais 'perigosos', que fazem exactamente a mesma coisa, mas sem nunca o assumir de forma clara.
Em Dezembro, Pedro Passos Coelho afirmou que os reformados com maiores rendimentos se queixam "de lhes estarmos a pedir um esforço muito grande e dizem que estão apenas a receber o que descontaram. Não é verdade. Descontaram para ter reformas, mas não as reformas [que hoje recebem]", disse o primeiro-ministro, adiantando ainda que estes pensionistas estão "a receber mais do que descontaram", pagos "por quem está hoje a trabalhar". É esta rapaziada que salta de meio de informação em meio de informação defendendo com unhas e dentes as suas rendas. Falam sobre o tema como se o mesmo não tivesse repercussões directas e imediatas nas suas reformas e nas suas pensões. São presença assídua na comunicação social, mas nunca fazem a devida declaração de interesses. E falam do pequeno reformado/pensionista como se a causa de uns e de outros fosse apenas uma. Pinhal ao pé destes meninos era um menino de coro.

Totalmente de acordo...

...com o CDS nesta matéria. Em termos de princípio, pelo menos.

Jornalismo de investigação...

...de alto calibre. É por esta e por outras que vale a pena comprar o Público.

Será que a discussão...

...no Conselho de Estado do período pós-troika é inconstitucional?
Já não digo nada. Ou melhor, até digo uma coisa: como se constata, a fronteira entre o constitucionalista e o comentador é ténue. Ou seja, não há interpretações neutras e assépticas da constituição. Sobre as implicações disto, não preciso de fazer um desenho, pois não?

Capacidade de financiamento

Evidentemente. Daí a necessidade de ter acesso ao programa de compra de obrigações (OMT), por um lado, e por outro a urgência na revisão do rating. O acesso pleno aos mercados é crucial. Ora, tal teria sido impossível sem cumprir minimamente o programa acordado com a troika. Bem sei que a política vive de simplificações e de dicotomias, mas a realidade é sempre um pouco mais complexa.

Na agenda [2]

"Desafios e perspectivas: a Geórgia depois das eleições de 2012". Este é o tema da intervenção de Alex Petriashvili, secretário de Estado para a Integração Europeia e Euro-Atlântica da Geórgia, no âmbito da conferência que terá lugar no próximo dia 23 de Maio, entre as 14.30 e as 17 horas, no auditório 3 da Universidade Lusíada em Lisboa. Organizada conjuntamente pelo IPRIS e pela Universidade Lusíada, a entrada na conferência é livre mediante confirmação de presença para o email ipris@ipris.org. O programa detalhado da conferência pode ser consultado aqui.

domingo, 19 de maio de 2013

Em destaque [3]

Ulrich Beck, German Europe (Polity Press, 2013).

Crise de regime

António José Seguro receia que possamos estar próximo de uma crise de regime. Pouco importa se tem razão ou não. O que é dramático é que, perante uma potencial crise de regime, o que o PS tem para nos oferecer é mais do mesmo.

sábado, 18 de maio de 2013

FLAD no epicentro de jogos de poder

Luís Amado na FLAD, refere o Expresso na primeira página. Nas páginas interiores, o ex-MNE arruma o assunto como "mera especulação". Lida a notícia na íntegra -- esta e uma outra anterior -- e encontra-se pouca ou nenhuma substância concreta. Há, no entanto, recados bem claros e que, pura e simplesmente, pretendem limitar o espaço de manobra do primeiro-ministro. O primeiro vem dos norte-americanos que esperam ser consultados sobre a escolha. Não é a primeira vez que esta questão se coloca. Na verdade, os norte-americanos apenas devem ser informados e não consultados. A competência é do primeiro-ministro português e os EUA não têm qualquer tipo de direito de veto. O segundo recado vem do PS que lembra, uma suposta regra não escrita, segundo a qual um primeiro-ministro do PSD deve escolher alguém do PS. A regra, a existir, esquece convenientemente que Maria de Lurdes Rodrigues foi escolhida por José Sócrates.
Não sei quem será o escolhido por Pedro Passos Coelho. Algo me diz que sei tanto como a jornalista, i.e. absolutamente nada. Amado seria seguramente uma excelente escolha, assumindo que estaria disponível para aceitar o cargo nesta fase. Isto dito, o primeiro-ministro tem toda a liberdade para escolher quem entender, seja no PSD ou fora dele, e os norte-americanos serão informados da decisão no momento oportuno. Quem não gostar que coloque na borda do prato.

Lava mais branco

Em dois anos, fruto da sua fraqueza política que disfarça como força, António José Seguro vai reabilitando as figuras de primeira e segunda linha que sustentaram o Governo de José Sócrates. O pior Governo de que há memória desde 1976. A coisa está a atingir tais proporções que até já começa a ser difícil distinguir a era Sócrates da de Seguro. Uma alternativa real e efectiva, como se percebe.

Carrossel [16]

Correio da Manhã (18.05.2013).

Carrossel [15]

Expresso (11.5.2013).

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Em destaque [2]

Keith B. Brown, Down The Line

O primeiro-ministro terá estado...

...muito próximo de se demitir, revela hoje o jornal Sol. Pedro Passos Coelho já tinha alertado que consigo não haverá pântano e só ele saberá a situação em que se encontra o Governo. Isto dito, visto de fora, fica-se com a percepção, correcta ou não, de que há uma enorme irresponsabilidade na forma como se comportam os líderes do PSD e do CDS. Sejamos claros. Os portugueses estão muito pouco interessados nas dinâmicas internas no seio dos dois partidos e do Governo. A pergunta que a opinião pública coloca é muito simples: como é que um Governo que nos tem pedido todo o tipo de sacrifícios tem a suprema lata de ele próprio não fazer o esforço de se entender? Como é que o Governo, como que por capricho e por questões menores, se arrisca a deitar para o lixo o esforço pedido aos portugueses nos últimos dois anos?
Se Passos Coelho e Paulo Portas conseguirem responder eficazmente a estas perguntas salvam o pescoço. Caso contrário arriscam-se a oferecer uma nova maioria absoluta ao PS, por incrível que possa parecer. É bom que meditem sobre isso.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Comecemos, de imediato, a preparar...

...a oitava avaliação da troika. A minha mulher já me disse que não quer surpresas desagradáveis durante as férias.

Desculpe?

"Tenhamos esperança num novo Governo [do PS] escolhido pelos portugueses", disse Basílo Horta.
Esperança? Esperança no quê? No regresso da tralha de José Sócrates com a qual António José Seguro não foi capaz de cortar? Na ascensão ao poder das viúvas de Sócrates? Devo ter a esperança -- a.k.a. a ilusão -- de que aqueles que levaram Portugal à bancarrota, e que nunca fizeram qualquer tipo de mea culpa, não voltarão a fazer exactamente a mesma coisa? Basílio Horta quer um cheque em branco depois de tudo aquilo que se passou? Estamos a brincar, ou ele acha que não temos absolutamente nenhuma memória?

Na agenda [1]

A sessão de lançamento do livro de Pedro Correia terá lugar na próxima terça-feira, dia 21 de Maio, a partir das 18.30, na Bertrand do Picoas Plaza em Lisboa. A não faltar, claro.

Não será o fim dos problemas

Não há nenhuma novidade, portanto.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Cantando e rindo

Brecht, com as devidas adaptações, sempre actual: mude-se o povo europeu que tão más estatísticas está a apresentar às elites.

Este é o tipo de notícia...

...que me interessa muito pouco. Absolutamente nada, na verdade. Não dou para o peditório da inveja social, ainda que de José Sócrates tenha a pior das impressões. Foi o pior primeiro-ministro desde o 25 de Abril. E esse é o debate e o exercício de memória que importa fazer sempre que necessário. O resto é espuma.

Sobre a lucidez grisalha

"A geração grisalha não pode estar a asfixiar a geração nova da maneira como tem feito até aqui. Não pode ser. Eu sou pensionista, sou da geração grisalha, quem me dera a mim que não toquem nas reformas, mas tocam, vão tocar e eu acho muito bem. Não há outro remédio", defende Silva Lopes.
Uma estalada de luva branca nalguns grisalhos e noutros que nem tanto. Há quem persista em recusar reconhecer que alguma coisa terá que mudar. Mudará, de uma de duas formas. Ou de forma planeada e atempada, evitando males maiores; ou mudará num contexto de ruptura, sem margem de manobra para acomodar o que quer que seja.

É preciso fazer um desenho para perceberem?

Meio século depois da constituição do projecto europeu e o 'federador externo' de vez em quando ainda tem que exercer a sua função:

1. "The Obama administration (...) publicly signalled its growing concern about a possible British exit from the EU, just days before David Cameron sets out plans for a referendum on the issue. US diplomats have privately warned for months that Mr Cameron risked setting Britain on a path to exit with his plan to renegotiate Britain's EU membership terms and put the 'new settlement' to a referendum. But Washington has now taken the unusual step of publicly briefing British journalists that it firmly believes the 'special relationship' is best served by the UK remaining at the heart of Europe. Philip Gordon, assistant secretary for European affairs, made it clear that there would be consequences for Britain if it either left the EU or played a lesser role in Brussels. 'We have a growing relationship with the EU as an institution, which has an increasing voice in the world, and we want to see a strong British voice in that EU,' he said. 'That is in America’s interests. We welcome an outward-looking EU with Britain in it.'"
Jim Pickard, George Parker e Richard McGregor, "Stay at heart of Europe, US tells Britain" (Financial Times [online], 10.1.2013).

2. "Barack Obama yesterday warned Britain that it could lose international influence and clout in Washington if it pulled out of the EU, after senior UK cabinet ministers openly discussed a possible exit for the first time. The US president said that Britain's EU membership was 'an expression of its influence and its role in the world' and urged David Cameron, UK prime minister, to work to 'fix what's broken in a very important relationship' before breaking it off."
Jim Pickard e George Packer, "Leaving EU would reduce UK influence, warns Obama" (Financial Times, 14.5.2013: 4).

Isto parece-me tão evidente que até um cego seria capaz de o ver sem grande esforço. Se era já evidente há muito tempo -- uma vez que a 'special relationship' sempre foi um instrumento de influência que o Reino Unido utilizou eficazmente em Washington, Bruxelas, Berlim, Paris, bem como noutras capitais -- com a decisão de se avançar para a constituição de uma Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento tornou-se ainda mais óbvio, se é que isso é possível.
A eventual saída do Reino Unido da União Europeia seria um dos maiores tiros nos pés de que tenho memória.

Em Destaque [1]

Anthony Everitt, The Rise of Rome: The Making of the World's Greatest Empire (Random House, 2012).

terça-feira, 14 de maio de 2013

O silêncio é a forma de ter...

...mais influência sobre as decisões, explicou em tempos o Presidente da República.
Aníbal Cavaco Silva, pelos vistos, esqueceu-se de como importante é o silêncio em política. É que, além de fonte de influência, o silêncio evita o disparate. Ora, a última coisa de que Portugal necessita é de um Presidente a afirmar que só por milagre é que os intervenientes políticos conseguem alcançar soluções que protegem o interesse nacional.

From Setúbal

De regresso. Constato que por cá tudo está na mesma. Vou beber um café que estou a precisar.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Há alturas em que dá vontade...

...de atirar a toalha ao chão e desistir. Tantos erros. Tanta inconsistência. Tantas coisas mal explicadas e/ou pensadas e executadas. Inspirar. Expirar. Inspirar. Expirar. Suspiro. Já passa. Até já.

Efeito Marques Mendes

O Presidente da República teve de fazer um compasso de espera de uma semana para não confirmar de imediato o anúncio em primeira mão do ex-líder do PSD?
Houston, we have a problem...

domingo, 12 de maio de 2013

Em suma...

...muito spin desde a última semana e muito comentário desinformado. E, sobretudo, uma intervenção precipitada de Paulo Portas no passado fim de semana. Parece que, afinal, a dicotomia entre a televisão a cores e a televisão a preto e branco não é de confiança e que o profissional talvez tenha alguma coisa a aprender com o amador...

Reunião de emergência

A sétima avaliação da troika está a dar muitas dores da cabeça. Mais do que imaginamos, aparentemente.

sábado, 11 de maio de 2013

From Doha

No âmbito de uma conferência estou em Doha por alguns dias. Não terei muito tempo livre e por isso first things first, i.e. o Museu de Arte Islâmica, visita que valeu realmente a pena. O edifício do museu por si só justificaria a visita, mas o seu conteúdo foi igualmente motivo mais do que suficiente para dar o tempo por bem empregue. 
Para não variar já encontrei uma portuguesa, no caso a estagiar no hotel. Não há país onde não haja sempre pelo menos um português. E pelo que me disseram na Embaixada do Qatar em Lisboa, o número de pedidos de vistos está a aumentar consideravelmente, uns à procura de oportunidades de negócio, outros de emprego.
Infelizmente não terei a oportunidade de conhecer o embaixador português em Doha. Seguramente fruto das suas mil e uma solicitações -- será a diplomacia económica? --, ao meu segundo email a insistir num eventual encontro respondeu um outro elemento da embaixada portuguesa a informar secamente que o senhor embaixador não se encontraria em Doha na data referida. Azar o meu, digamos.
Gruas por todo o lado, Doha parece um imenso estaleiro. Imagino que quem visita regularmente a cidade (quase) ficará com a impressão que é a primeira vez que se desloca a Doha. Os sinais de riqueza são evidentes por todo o lado. It's oil, stupid. Realmente, só à custa de muito petróleo é possível suportar o calor e sem ar condicionado não se sobrevive. A garrafa de água, por sua vez, é companhia constante.
O meu primeiro espresso foi um desastre. There's no place like home. Mais alguns dias e estou de regresso. Sobre a conferência falaremos depois, se se justificar. Até já.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

O paradoxo

"Presidents and prime ministers are discovering that the old levers of power no longer work. Promises are broken not through malign intent but because the capacity of individual nations to act has been constrained. The connection here is not with the weakness of democracy; nor with the EU or immigrants. The culprit, if you can call it that, is globalisation. The political mega-trend of recent decades has been the diffusion of power – from states to other actors and from old elites to citizens. Economic interdependence and borderless communications leave governments to compete with multinationals, with a proliferation of non-state organisations, and with religious and ethnic identities that have no respect for national borders. Closer to home, the digital revolution gives a louder voice to those once shut out of political debate. This is fertile ground for the politics of grievance. It explains the paradox of the rise of nationalism in a world where nations are weaker. The appeal of the populists lies in their dishonest promise to stop the world and jump off."
Philip Stephens, "Do not blame democracy for the rise of the populists" (Financial Times [online], 9.5.2013).

Ainda não...

...mas está quase. Sinal do seu fracasso e do seu sucesso.

Concorde-se ou não...

...com ela, esta crítica tem sentido. Ao contrário da anterior que não passa de um mero ajuste de contas pessoal. Patético, diga-se de passagem.

Apesar dos enormes...

...avanços na ciência e na investigação em particular, infelizmente ainda não se encontrou uma cura para a dor de cotovelo. É a vida.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Caro Pedro...

...e quando e onde será o lançamento?

O pós-troika

Nada como preparar, em devido tempo, o acesso aos mercados. Falta-nos, nesta frente, um último suplemento de confiança -- com todas as consequências positivas que daí decorrerão -- e que é a alteração da notação por uma ou mais das três grandes agências de rating. O presidente do IGCP, João Moreira Rato, em declarações anteriores à comunicação social já se queixou da lentidão com que as agências de rating estão a responder às medidas e às reformas introduzidas pelo Governo português. Independentemente de ter ou não razão, se o Governo mantiver o rumo -- e nada leva a crer que possa acontecer o contrário -- será uma questão de tempo, porventura de meses.

O lado negro...

...da austeridade. Com os cumprimentos de José Sócrates. Não é o único, mas é o grande responsável pelo buraco no qual ainda estamos, apesar de alguma luz ao fim do túnel.

A questão por responder

"Germany is reshaping the European economy in its own image. It is using its position as the largest economy and dominant creditor country to turn members of the eurozone into small replicas of itself -- and the eurozone as a whole into a bigger one. This strategy will fail. The Berlin consensus is in favour of stability-oriented policies: monetary policy should aim at price stability in the medium term; fiscal policy should aim at a balanced budget and low public debt. No whiff of Keynesian macroeconomic stabilisation should be admitted: that is the way to perdition. (...) The implications of the attempt to force the eurozone to mimic the path to adjustment taken by Germany in the 2000s are profound. For the eurozone it makes prolonged stagnation, particularly in the crisis-hit countries, highly likely. Moreover, if it starts to work, the euro is likely to move upwards, so increasing risks of deflation. (...) The eurozone is not a small and open economy, but the second-largest in the world. It is too big and the external competitiveness of its weaker countries too frail to make big shifts in the external accounts a workable post-crisis strategy for economic adjustment and growth. The eurozone cannot hope to build a solid recovery on this, as Germany did in the buoyant 2000s. Once this is understood, the internal political pressures for a change in approach will surely become overwhelming. Europe will not become a bigger Germany. It is foolish to believe it ever could. The eurozone will either achieve a better-balanced resolution of its difficulties or break up. Which of the two will it be? That remains the big unanswered question."
Martin Wolf, "The German model is not for export" (Financial Times [online], 7.5.2013).

A Alemanha e os países do azeite

"Germans are less and less interested in Southern Europe as a market for exports. The driver of German exports abroad are emerging markets (and the United States, to a lesser degree). Italy is only the seventh-largest importer of German goods, and Greece, Spain and Portugal are even further down the list. Nonwithstanding a collapse of German exports to the 'olive oil countries' (a definition I picked up some days ago in Germany), global German exports have remained steady. Berlin has to thank Beijing. (...) Austerity is a slam dunk for Germany. It guarantees that debts are paid, it avoids that international competitors emerge, keeps the euro low, keeps energy prices low, keeps savings in Germany and attracts funds from abroad. The German choice to sacrifice Southern Europe for the sake of exports to China is based on the belief that European markets are beyond maturity, and that it should be Germany’s priority to establish a reliable presence in the emerging BRICS. Giving up austerity would allow the re-emergence of markets, in Spain and Greece, that have always been secondary for Germany. Berlin prefers a slow decline or a stagnation of the PIGS if it means that Germany can proficiently enter China and other booming markets. (...) A new 'first world' is on the rise, and it will include Germany, China and the US. The Mediterranean quadrant will be out of the game. Germany is pursuing -- with merit -- a 'Victorian Strategy' that entails the sacrifice of the continent for the benefit of Asian commercial routes."
Stefano Casertano, "Germany Has Won the Euro War" (The European, 8.5.2013).

quarta-feira, 8 de maio de 2013

UE: a ausência de uma ambição global

"Europe's lack of global ambitions makes for excessive reliance on America and makes the American public more skeptical of Europe. Once the center of global innovation and economic dynamism, today Europe lags behind not only America, but also Asia. The absence of a wider vision of Europe’s global role -- not to mention the widely shared European view that assuring global security is largely an American obligation -- intensifies narrow aspirations for privileged status for some states, and complacent expectations by self-indulging states of generous bailouts from the more disciplined members of the Union."
Zbigniew Brzezinski, "Keynote at Globsec 2013" (28.4.2013).

terça-feira, 7 de maio de 2013

Euforia

É evidente a satisfação que o "grande êxito" gerou no seio do Governo, ao ponto de se interpretar o sucedido como a "confirmação" de que o programa de resgate terminará no prazo definido. O entusiasmo é compreensível, mas, uma vez ultrapassada a euforia e com um pouco mais de distanciamento, o próprio Governo acabará por reconhecer que ainda falta partir muita pedra. A  Fitch e a Moody's, como não poderia deixar de ser, têm uma leitura menos peremptória do "grande êxito" e da "confirmação".
Naquilo que depende de nós, importa manter o rumo e avançar com as reformas estruturais. A seu tempo era importante conseguir uma revisão da notação por uma das três grandes agências de rating.
Por outro lado, era igualmente relevante conhecer a composição dos interessados nas obrigações do tesouro. Trata-se, uma vez mais, na sua maioria, de investidores especulativos, ou desta vez a dívida portuguesa recolheu o interesse de investidores com outro tipo de perfil?
Enfim, não sou especialista nesta matéria e haverá seguramente outras questões pertinentes. Naturalmente, congratulo-me com o êxito desta operação e não posso deixar de salientar que este era, de facto, um passo importante. Mas falta ainda muito caminho para percorrer e parte dele, como sempre, nem depende de nós.

[Adenda]
Sobre a composição dos interessados nas obrigações do tesouro, o perfil de investidor foi mais diversificado, o que é uma boa notícia.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Notícias do eixo franco-alemão

"Also drawing some attention, Oskar Lafontaine, former German finance minister who was in office when the euro was introduced in 1999, said austerity in the euro zone is 'finished' and the euro may need to be broken up to allow southern Europe to recover. Over the weekend, French Finance Minister Pierre Moscovici declared that the era of austerity in Europe is over in an interview with Europe 1 radio."

Um prejuízo...

...de 152 milhões de euros pode ser uma boa notícia?
Sim, se comparado com o trimestre anterior. Mas este ainda vai ser um ano muito difícil para o BCP. Isto dito, começa a vislumbrar-se alguma luz ao fim do túnel. Finalmente.

Portugal e a Turquia

Isto e isto é música celestial para Ancara. A Turquia tem insistido para que os seus aliados sejam mais afirmativos na defesa da adesão turca à União Europeia e disso tem dado conta nas diversas capitais europeias.
Sobre as relações bilaterais nada de novo a acrescentar ao que já escrevi e que está aqui na coluna ao lado.

A UE deve intervir num Estado-membro para salvaguardar a democracia?

"Could there be a dictatorship inside the European Union? If such a spectre appeared, should Brussels somehow step in to shore up democracy? Or would this constitute an illegitimate form of meddling in the domestic affairs of countries which, after all, have delegated only specific powers to Europe – and not empowered Brussels to be a policeman for liberal democracy across the European continent, or even just to lecture Europeans from Lapland to Lampedusa on how popular rule is correctly understood? All these are no longer theoretical questions: recent developments in Hungary and Romania have put such challenges squarely on the agenda of European politics – even if concerns about a possible slide towards illiberal democracy in both countries have been largely overshadowed by the eurocrisis."
Jan-Werner Muller, "Should Brussels intervene in EU member states?" (Eurozine, 3.5.2013).

A Alemanha e o euro

"There is little doubt that Germany is exerting greater power on the European stage than in the past. The fast-moving crisis has seen the rise of crisis summitry and late-night deals at inter-governmental level where the size of population and economy have a more direct influence on decision-making than was the case in the EU’s traditional, if slower, commission-led decision-making process. But is current German influence part of a long-term strategy to dictate the internal politics and social character of other EU states or a short-term opportunity? An imperial play or an economic and political accident? (...) The German hegemony argument tends to overlook how much ground Berlin has already conceded. Initial Berlin resistance to bailouts gave way to conditional aid and then agreement to break the link between sovereign and private debt and to allowing bank recapitalisations from the ESM bailout fund. (...) The idea of German hegemony overlooks how Berlin enjoys varying levels of support in the crisis from Finland, the Netherlands and Austria. Regular backing has come, too, from Sweden, Poland and Denmark -- admittedly none of which are euro zone members. (...) Berlin officials know that the window for austerity may be closing. Far from hegemonic ambitions, their crisis ambition has been to secure as much sugar as possible to coat the bitter pill of mutual liability German voters will eventually have to swallow to preserve the euro zone."
Derek Scally, "Germany would have much to lose from euro zone failure" (The Irish Times [online], 5.5.2013).

A oposição governamental e a parlamentar

Paulo Portas parece acreditar que uma certa dose de ambiguidade favorece a sua posição aos olhos da opinião pública. Nessa medida, nos momentos difíceis, o CDS aparece sempre com um pé fora e outro dentro do Governo. Uma espécie de oposição dentro do próprio Governo que pretende complementar -- substituir? -- a oposição com assento parlamentar.
Aqueles, como eu, que defendem que Paulo Portas deveria passar a vice-PM ficam numa posição difícil. Os jogos florentinos que o líder do CDS tanto aprecia minam a confiança entre os dois partidos e dão argumentos de bandeja aos seus inimigos. A fábula do sapo e do escorpião é um clássico, não é verdade?

A austeridade que veio para ficar

"If the eurozone were serious about a U-turn on austerity, the only effective way to accomplish this would be for the creditor countries to expand their fiscal positions during the recession. The opposite is happening. Germany, a country with a lot more fiscal space than Italy, undertook a fiscal adjustment of almost similar scale. (...) There is no way that Germany in particular will accept a fiscal stimulus for the sake of the southern European countries. This is because Germany restrained itself by passing a balanced budget law that requires the government to run near-zero structural deficits indefinitely. (...) So if you want austerity to end, you need to start by repealing the fiscal pact and amending some of the secondary legislation governing fiscal policy co-ordination. I do not think this is going to happen. My conclusion is that austerity is here to stay, but will simply be presented with warmer words. And it will last for as long as the euro exists."
Wolfgang Munchau, "Italy’s change from austerity is all talk" (Financial Times [online], 5.5.2013).

domingo, 5 de maio de 2013

Se ainda tivesse dúvidas...

...e pelo que já aqui escrevi julgo que é claro que não tinha, esta semana ficou claro que a posição de Vítor Gaspar no seio do Governo é insustentável. Seria uma teimosia sem sentido manter o ministro das Finanças por muito mais tempo. Dificilmente Gaspar manterá a pasta das Finanças até ao final de 2013.

Dois anos de atraso

Não tenho lido outra coisa. Desde que Pedro Passos Coelho anunciou na passada sexta-feira as medidas de corte na despesa parece que subitamente emergiu um consenso entre os analistas e a opinião pública que as mesmas chegam com dois anos de atraso. Na verdade, não sei se chegam ou não com atraso -- embora também esteja inclinado a pensar que sim --, mas a questão relevante e interessante não é essa. Evidentemente, o Primeiro-Ministro também sabia que as medidas agora anunciadas teriam sido mais fáceis de digerir há dois anos. Faz parte do bê-à-bá político básico que as medidas duras e difíceis são tomadas o mais rapidamente possível. Assim sendo, qual a explicação para a demora?
Isso é que eu gostaria de saber. Houve oposição interna dentro do Governo? De quem? Ou a explicação é outra e, nesse caso, qual é?
Depois há uma outra questão. Estas medidas teriam sido possíveis de tomar sem a recente deliberação do Tribunal Constitucional?
Não sei. Aliás, tenho muito poucas ou nenhumas respostas. Mas há seguramente uma explicação para a alegada demora que eu, certamente como outras pessoas, gostaria de conhecer.

sábado, 4 de maio de 2013

Colocar a carroça à frente dos bois

Percebo, em parte, a intenção. Mas será apenas impressão minha, ou é algo um bocadinho ridículo? Tem um ministro das Finanças, mas não diz o nome? Se não diz o nome o que é que isso interessa?
Por outro lado, a que propósito, a esta distância das eleições legislativas, anda o líder do PS a falar da composição de um eventual governo? Ele que ainda não apresentou nada parecido com um programa eleitoral e respectivas propostas? Ele que ainda ninguém o mandatou para coisa alguma?
Por outro lado, registo a continuidade. Os restantes ministros não interessam. António José Seguro reconhece, sem querer, que caso formasse governo consigo continuaria a primazia do Ministério das Finanças. Em suma, mudaria o primeiro-ministro, poderia mudar o estilo e algumas bandeiras para marcar a diferença, mas no essencial as políticas em curso seriam para prosseguir sob a inevitável tutela das Finanças.
Tanta preocupação com o emprego e o crescimento -- curiosamente nada disse sobre o seu ministro da Economia... --, mas a verdade é que os números não podem ser ignorados, não é verdade?

Com um simples vestido preto, nunca me comprometo

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Eleições perdidas?

Vejo, repetidamente, alguns observadores afirmar -- hoje, por exemplo -- que Pedro Passos Coelho nunca ganhará as eleições legislativas de 2015. Futurologia sem sentido. Estamos ainda a uma longa distância e nada permite antecipar qual será o resultado futuro.
Mas admitamos que sim, i.e. que o PSD vai perder as eleições de 2015. Pela minha parte só posso elogiar o primeiro-ministro por manter um rumo e uma linha de governação centrada na defesa do interesse nacional. Estou farto de políticos que não se preocupavam com outra coisa que não fosse as próximas eleições legislativas. É em parte por isso que estamos como estamos.
Quanto às eleições de 2015, as contas e os balanços fazem-se no final, não é a meio do percurso.

Comunicação ao país às 20 horas

P.S. -- Não esquecer o guarda-chuva.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Treinadores de bancada

Já não há paciência para ouvir José Manuel Durão Barroso, Herman Van Rompuy, Christine Lagarde e outros que tais a procurar fazer a quadratura do círculo para inglês ver. Nos dias ímpares elogiam as medidas associadas às políticas de austeridade. Nos dias pares apelam à adopção de medidas a favor do crescimento, ou alertam para a fadiga/limite da austeridade. Todos querem estar bem com Deus e com o diabo. Todos expõem com as suas simplificações estereotipadas uma de duas coisas: a sua hipocrisia, ou a sua incapacidade para influenciar os processos de decisão. Ou as duas, pensando melhor.

Questões de ângulo

O tema principal na capa do Público é que o Governo lança em 2014 o maior corte na despesa social de que há registo. A redução pensada para 2014, refere o jornal, ronda os 1300 milhões de euros nas prestações sociais.
Ficamos, por vezes, com a impressão que os cortes vão bater sempre à porta dos mesmos e o Governo, nesta fase, não se esforça o suficiente para combater essa percepção. No entanto, Pedro Passos Coelho tinha matéria para o fazer: corte de 300 milhões nas PPP está iminente; perdas potenciais com swaps reduzidas em 500 milhões. Ou seja, em apenas dois exemplos recentes, cuja divulgação surgiu de forma perfeitamente desenquadrada, o Governo poupou aos contribuintes um esforço adicional que poderia rondar os 800 milhões de euros. São, se quiser, menos 800 milhões de euros de cortes nas prestações sociais. Visto deste ângulo, o esforço que o Governo nos pede parece mais equitativo e mais justo, ou não?

Alemanha: 'In' ou 'Out'? [4]

A propósito do que aqui escrevi, António Horta Osório aponta no mesmo sentido, ainda que não necessariamente pelas mesmas razões: "Esta crise demonstra que a União Europeia chegou a uma encruzilhada. Ou integramos mais ou perdemos a UE. Não existe um percurso intermédio e precisamos de uma liderança forte na Europa para atravessar este percurso conturbado".

Mario Draghi...

...deixa, uma vez mais, a Alemanha a torcer o nariz. É a vida. E são pequenas decisões como esta que ajudam a combater a percepção de que as diversas instituições europeias obedecem todas apenas a um único interesse nacional.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Emprego, emprego, emprego

Um objectivo estratégico, afirma António José Seguro. Pois. Falar é fácil, mas como, como, como?
Mais funcionários públicos?
Não me parece.
Estimulando a criação de emprego no sector privado?
Como?
Através da fórmula do costume, i.e. linhas de crédito para as empresas contratarem trabalhadores que, na prática, é o Estado/contribuintes que pagam e que não passam de paliativos?
Outra solução? Qual? Baixando os custos de contexto para estimular e atrair investimento, interno e externo?
Como? Como? Como?

O mesmo filme, pela enésima vez

A Eslovénia, entretanto, continua a sua lenta mas imparável descida para o inferno. Longe vão os tempos em que tudo se resumia aos PIGS...

O desemprego enquanto tema político europeu

Público (1.5.2013).
Este simples quadro, publicado hoje pelo jornal Público, vale por mil palavras para explicar as assimetrias europeias no domínio do desemprego e a forma como o tema é, ou não, tratado na agenda política europeia.
É óbvio que o desemprego não é um tema na agenda política interna da Alemanha, Àustria, Holanda e Luxemburgo. E é óbvio igualmente que, em sentido contrário, o tema não pode deixar de estar em cima da mesa na Grécia, Espanha e Portugal.
A única boa notícia, salvo seja, é que a Itália e a França têm uma taxa de desemprego acima da média dos 27 Estados da União Europeia, o que significa que Roma e Paris têm forçosamente maior sensibilidade política para o tema do que a Alemanha.
Veremos se é suficiente para, a seu tempo, fazer evoluir o debate europeu e a posição alemã.

[Adenda]
O valor do desemprego na Áustria é de 4.7% e não de 5.4% como se refere.

[Nova adenda]
Notícia de hoje no Financial Times: "Slovakia’s prime minister has called for an end to 'completely counter-productive' austerity policies and for governments to focus instead on reigniting growth, as his small but very open economy is pummelled by the slump in the eurozone. Robert Fico said he was part of a growing group of anti-austerity government leaders. 'It is not possible at the same to consolidate, to cut public finances and to expect that the government will have enough resources to support economic growth and fight the unemployment rate', he said."
Basta olhar para o gráfico para perceber esta intervenção.

Alemanha: 'In' ou 'Out'? [3]

Deve a Alemanha abandonar o euro?
Não sei. Não tenho uma posição definida sobre essa questão. Depende, de certa forma. Julgo, aliás, que alguns dos defensores da saída da Alemanha do euro, na verdade, apenas o advogam para pressionar Berlim a mudar de orientação.
A minha reacção instintiva é contra a saída da Alemanha do euro, na medida em que me parece que tal poderia abrir uma Caixa de Pandora. Isto dito, uma coisa me parece certa, i.e. tal como está o actual statu quo europeu é insustentável. Dito de outro modo, o actual momento unipolar da Alemanha é impossível de manter, sem que isso gere o aparecimento de uma coligação adversa. Ou, de facto, a Alemanha sai do euro, um desfecho com repercussões difíceis de prever; ou então temos de avançar rapidamente para a partilha de mais poderes no plano europeu, com as devidas contrapartidas da Alemanha.
A História ensina-nos que uma Europa alemã dificilmente ficará sem resposta, o que implica, mais tarde ou mais cedo, a ruptura do projecto europeu. Logo, o caminho para assegurar a paz e a estabilidade na Europa passa por uma Alemanha europeia e isso impõe que Berlim aceite soluções que, de momento, recusa.
Quando discutimos a actual crise do euro, na verdade estamos a abordar muito mais do que isso. É este o impasse que, mais tarde ou mais cedo, terá de ser resolvido. O eventual fracasso na sua resolução não augura nada de bom.

Alemanha: 'In' ou 'Out'? [2]

Ler o artigo de Pedro Braz Teixeira.

Intervenção pedagógica

Descrever a situação, explicar os factos. Assim, sim.

Trocos

Uns meros cêntimos...

Motivo de orgulho

Um belo legado para as gerações futuras.