sábado, 25 de maio de 2013

A história tem saias ou calças?

Talvez deva começar por dizer que não percebo rigorosamente nada de poesia. Como já aqui afirmei noutro contexto, não sou crítico literário, nem tenho competência para isso. Sou apenas um simples leitor. Gosto de ler livros de poesia, ainda que de um ponto de vista literário não seja capaz de diferenciar um bom de um mau livro de poesia. Muito simplesmente, há poemas e autores de que gosto. Por regra, num livro há um ou dois poemas que me agradam particularmente, vários que nem percebo muito bem, e há umas quantas expressões e jogos de palavras que, por motivos de variada ordem, me chamam a atenção.
Vem isto a propósito do mais recente livro de poesia de Golgona Anghel. Repito, como não-crítico poeticamente analfabeto, encontrei diversos trechos cuja formulação me agradou especialmente. Exemplos: "as nossas vidas (...) deviam acontecer sempre no futuro" (p. 14); "funcionários públicos do senso comum" (p. 14); "sejam lordes quando espetam a faca" (p. 27); e, "os abismos andam sobrevalorizados" (p. 59). Mas o trecho de um poema que me chamou mais atenção foi o dos "coronéis e generais" que "levantavam as saias à história" (p. 15). Confesso que nunca tinha pensado na história enquanto algo dotado de género (ainda que os gender studies tenham já de certeza absoluta reflectido sobre o assunto no âmbito do estudo das Relações Internacionais). Mas, depois, pensando melhor, porque não haveria a história de ter género? Mas tendo género, não seria masculino? Não é a guerra ainda hoje um exercício sobretudo masculino, a guerra que é uma componente essencial da história? E não são homens a esmagadora maioria dos líderes políticos, eles que são os grandes players da história? Porque motivo deveria ter saias a história, a não ser que seja um kilt escocês?
Mas a alusão às "saias da história" pode não ter nada que ver com o género, e ser apenas uma alusão à tentação que nos suscita o desconhecido. Enfim, havia aqui pano para mangas. O melhor é "avanç[ar] na leitura como um carniceiro desliza na carne" (p. 62). Até já.