terça-feira, 21 de maio de 2013

Quadratura do círculo: adeus austeridade

Leio a meio de uma notícia que foi defendido no Conselho de Estado "um equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à actividade económica". Pelos vistos, estamos todos de acordo. Querem maior consenso? Ainda dizem que não há espaço para consensos...
Confesso que fiquei com água na boca. Os senhores conselheiros, na sua longa maratona de reflexão, descobriram a fórmula que permitirá o tão desejado equilíbrio. Eureka, companheiros...!
Continuo a ler a notícia, agora num estado de agitação evidente. A austeridade tem os dias contados. Repito, os conselheiros de Estado, fruto da sua reflexão colectiva, colocaram um ponto final na austeridade. Hasta la vista, troika non grata...
A união faz a força e, como diz o povo, várias cabeças no seu conjunto pensam sempre melhor do que uma individualmente. Entretanto, por mim mandava já amanhã os conselheiros de Estado renegociar o programa de assistência com a troika. É pegar ou largar. Se não quiserem a malta vai em frente pelo nosso pé, agora que descobrimos o grande equilíbrio. My friends, a austeridade morreu em Lisboa nas instalações da Presidência da República. E havia por aí uns caramelos que não queriam o Conselho a discutir o pós-troika. Diziam que isso era uma fuga em frente. Deixem estar, ainda nos vão agradecer depois de engolirem o sapo que neste momento têm atravessado nas goelas.
Adiante. Prossigo com a minha leitura da notícia e a fórmula da quadratura do círculo nunca mais aparece. Começo a ficar nervoso. Faltam-me poucos parágrafos para terminar a leitura do texto e nada. Os detalhes, por favor! O equilíbrio milagroso, senhores, como é afinal? Estou aqui em pulgas para ler os pormenores da coisa.
Bom, talvez o jornalista, recorrendo a técnicas de escrita criativa e de suspense em particular, tenha deixado a solução milagrosa para o final? Deve ser isso, a grande apoteose estará no último parágrafo. Na última frase? Na última linha?
Continuando. Em frente, vamos à última frase. É agora, malta...
Inspirar. Expirar. Frustração, muita frustração. Um grande suspiro de frustração. Não é que o jornalista, por lapso, por distração, ou por outra razão qualquer, se esqueceu de referir como é que se consegue o equilíbrio? Os senhores conselheiros de Estado descobrem a fórmula perfeita, o maior furo do século, e o jornalista foi comer qualquer coisa na hora agá?
Sim, a culpa é de certeza absoluta do jornalista. Só pode ser dele, uma vez que a responsabilidade não é de certeza absoluta dos senhores conselheiros de Estado. Tanta massa cinzenta junta, numa sala da Presidência durante tantas horas, não se limitaria a proferir umas banalidades num comunicado final. No way!