Faz amanhã dois anos que Pedro Passos Coelho foi escolhido pelos portugueses para primeiro-ministro. O que veio a seguir só terá sido uma surpresa para os mais distraídos. Era óbvio que nos aguardava, com as devidas distâncias, um período de sangue, suor e lágrimas. Assim foi e assim continuará a ser até Junho de 2014. Num texto que foi publicado em Dezembro de 2012, mas que no essencial foi escrito em Junho e Julho de 2012 (com algumas actualizações nos dados até à sua posterior publicação), procurei descrever o que se passara desde que Portugal assinara o memorando com a troika e o que ainda nos aguardava (está aí na coluna ao lado, em inglês, páginas 41 a 47). Não se pode dizer que, no essencial, tenham existido até ao momento grandes surpresas. Tudo tem sido mais ou menos previsível. Porventura, a única excepção terá sido, em parte, o (semi-)regresso aos mercados que, mesmo com uma conjuntura europeia favorável, me parecia altamente improvável. De resto, repito, tudo dentro dos parâmetros do expectável.
A avaliação que faço do Governo, por isso, não pode deixar de ser positiva, dadas as circunstâncias e apesar de alguns erros pelo meio (e algumas ilusões anteriores à eleição). Não acredito que um primeiro-ministro diferente, fosse do PSD ou do PS, no essencial (descontada a retórica e uns pózinhos para marcar a 'diferença'), fizesse algo de muito distinto nestes últimos dois anos. Se fizesse seria seguramente mau sinal, uma vez que significaria que estaríamos muito mais próximos do desastre grego.
É certo que hoje existe uma alternativa que -- felizmente -- não se chama José Sócrates, mas continua a não existir uma alternativa que proponha um rumo político diferente e credível. Por outro lado, Pedro Passos Coelho -- apesar de alguns erros de percurso cometidos ao longo destes últimos dois anos, alguns deles absolutamente incompreensíveis -- ainda assim nada fez para deixar de merecer a minha confiança enquanto cidadão e eleitor.
Sim, os últimos dois anos foram muito difíceis. Sim, o Governo cometeu erros, alguns de uma estupidez inacreditável. Mas a verdade é que, no essencial (e confrontado com a realidade), Passos Coelho tem feito aquilo que era suposto fazer dadas as circunstâncias.
Pela minha parte, se as eleições fossem hoje teria de novo o meu voto.