António José Seguro acusa o Governo de "falta de isenção" na marcação das eleições autárquicas. O líder do PS faz o seu papel, evidentemente, defendendo o calendário eleitoral que entendia ser mais conveniente para si e não propriamente para essa entidade abstracta que são os portugueses. Deixemo-nos de tretas: Seguro, nesta como noutras matérias, é tão isento como Pedro Passos Coelho.
No entanto, fica uma dúvida no ar: por que motivo entendeu o legislador conferir ao Governo -- e não ao Presidente, por exemplo -- o poder de decidir a data das eleições autárquicas? O legislador não soube antecipar o risco potencial de uma eventual falta de isenção?
Obviamente, o legislador estava ciente do alegado risco de quebra de isenção e muito provavelmente quis, de forma propositada, conferir essa vantagem ao Governo. Ora, se assim foi, o argumento da falta de isenção cai por terra em três segundos. Mas, enfim, no meio de tanto barro atirado à parede, há sempre algum que por lá fica. Nada a perder, portanto. Afinal, importa não esquecer que Seguro está no negócio da política e não propriamente no do rigor académico.