domingo, 28 de julho de 2013

A traição das palavras

O líder do PS, o actual ou outro, pode dizer que "ninguém leva a sério" o primeiro-ministro, o actual ou outro, e ninguém questiona a dureza das suas palavras. Em contrapartida, se fosse ao contrário, não faltaria quem criticasse a dureza e o tipo de linguagem utilizada pelo primeiro-ministro.
Como explicar esta aparente duplicidade de critérios?
Julgo que ao líder de um Governo não toleramos uma liberdade na linguagem, digamos, pouco institucional. Em contrapartida, ao líder do principal partido da oposição, consoante os ciclos políticos, toleramos uma linguagem mais agressiva e menos cordial. No fundo, incorporamos na nossa duplicidade de critérios o desequilíbrio de poder que percepcionamos existir entre o primeiro-ministro e o líder do principal partido da oposição.
Mas não somos só nós que o fazemos. Curiosamente, os próprios actores políticos também incorporam essa assimetria. O primeiro-ministro tem a noção de que não deve e não precisa de ser excessivamente agressivo com o líder do principal partido da oposição, comportamento que muito provavelmente se altera com o aproximar de novos ciclos eleitorais. E o líder do principal partido da oposição, em contrapartida, tendo por base a sua fraqueza política, sente a necessidade de utilizar uma agressividade política que não utilizaria se fosse primeiro-ministro.
No fundo, António José Seguro acusa o primeiro-ministro de ninguém o levar a sério porque é ele e não Pedro Passos Coelho quem tem um défice de credibilidade. A ironia é que, ao criticar o primeiro-ministros nesses termos, na prática está a chamar a atenção para o facto de ser a si que ninguém leva muito a sério.