segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Rui Rio: quo vadis?

Rui Rio é o grande ausente/presente no PSD. A alternativa, segundo alguns, à liderança de Pedro Passos Coelho, seguramente com Paulo Rangel a olhar para tudo isto com alguma apreensão. Lendo alguns comentários fica-se com a impressão que assalto ao poder no PSD deverá ocorrer nos próximos dias, porventura sob a batuta de Rio.
Confesso que por vezes não percebo se se trata de wishful thinking ou se as pessoas acreditam mesmo nisso. Vamos por partes e de forma muito sumária. Primeiro: Rio tem de fazer o percurso da carne assada. Parte, pelo menos. Terá, de igual modo, de se projectar para além do Porto, ele que é sobretudo um peso pesado local, não é em exclusivo, mas é sobretudo um líder com implantação no norte e junto de uma parte do PSD. Em suma, há aqui muito terreno para percorrer. Segundo: a minha memória pode estar a falhar, mas desde que Portugal tem um regime democrático consolidado não me recordo de um candidato à liderança do PSD ousar enfrentar um líder do seu partido ainda em funções como primeiro-ministro. Duvido que a coisa fosse bem aceite pelos militantes, aliás.
Rui Rio terá, mais tarde ou mais cedo, o seu momento para disputar a liderança do PSD, se quiser. Momento que ele não quis aproveitar anteriormente, importa lembrar.

Abstenção

A abstenção voltou a ultrapassar valores anteriormente registados. Do ponto de vista do regime democrático isto é muito preocupante. Há um problema estrutural que os partidos políticos persistem em ignorar e que aponta para um descrédito muito difícil de ultrapassar.

As autárquicas, de novo

Algumas notas interessantes de Luís Naves, independente da minha divergência com alguns aspectos da sua análise.
A principal tem que ver com a questão do líder enfraquecido. Pedro Passos Coelho é um líder enfraquecido?
Talvez seja, não sei qual é a verdadeira dimensão do problema, mas isso nada tem que ver com os resultados das autárquicas. É um líder enfraquecido porque as suas políticas não têm produzido os resultados prometidos, nos calendários definidos. Ora, na minha opinião, é isso e nada mais que o está a enfraquecer. Não quero estar sempre a bater no ceguinho, mas o seu gabinete é um desastre. Em consequência, abunda a descoordenação, as declarações contraditórias, a falta de preparação política atempada e, receio, autoridade política. O líder está enfraquecido por isto e não porque perdeu as autárquicas. O que para mim é particularmente preocupante é que não há nenhum sinal de correcção desta sopa, ao mesmo tempo que o relógio continua imparavelmente na sua contagem decrescente.

domingo, 29 de setembro de 2013

Ainda as autárquicas

A ler, Pedro Correia (I e II).
Uma nota final sobre a leitura nacional dos resultados autárquicos, destes ou de outros. Pura e simplesmente, na minha opinião, é um disparate, tanto do ponto de vista do jogo político como da análise política. Um exemplo prático. José Sócrates foi primeiro-ministro entre 2005 e 2011. Nestes seis anos, se a memória não me falha, o secretário-geral do PS perdeu tudo, i.e. autárquicas (2005, 2009), europeias (2009) e presidenciais (2006 e 2011). Perdeu tudo menos as eleições legislativas de 2009, i.e. aquelas que mais directamente lhe interessavam. Nas legislativas de 2009 obteve uma maioria relativa, mas isso não se explica pelas derrotas que obteve nas autárquicas, nas europeias, ou nas presidenciais. De igual modo, o seu pedido de demissão em 2011 não teve qualquer relação com estes resultados eleitorais.
Tudo isto para dizer o óbvio. Os resultados destas eleições autárquicas -- e das europeias do próximo ano -- não terão qualquer influência nas eleições legislativas de 2015. Pedro Passos Coelho perderá ou ganhará essas eleições, assumindo que as disputará, por outros motivos.
(Ainda que a realidade seja muito mais complexa, simplificando diria que estou convencido que as legislativas de 2015 serão determinadas pelo êxito ou pelo fracasso na execução do programa acordado com a troika.)

Rui Moreira

A confirmar-se, grande vitória de Rui Moreira. A vitória será dele e apenas dele.

Autárquicas

As primeiras projecções revelam a possibilidade de o PSD ter uma derrota mais pesada do que previamente esperado. É a vida. Resta assumir a derrota e seguir em frente.

Guiné-Bissau

Um bom artigo de João Manuel Rocha, no Público, com testemunhos muito interessantes e que cobrem diversas facetas dos actuais problemas da Guiné-Bissau. Uma precisão no que se refere às eleições que era suposto realizar em Novembro. Tanto quanto julgo saber, já foi decidido adiá-las para Fevereiro de 2014.
Esperemos que, entretanto, o PAIGC consiga clarificar a sua própria liderança. Útil seria também que o problema António Indjai fosse ultrapassado. A relação entre os militares e o narcotráfico merecia, aliás, um artigo autónomo. Mas, repito, um bom trabalho.

Em destaque [29]

Vale a pena ler a entrevista concedida por José Félix Ribeiro.

sábado, 28 de setembro de 2013

Allez, allez, Sporting allez [6]

O Sporting voltou às exibições que reconciliam os adeptos com a equipa. O puxão de orelhas que Bruno Carvalho deu aos jogadores e que, como não poderia deixar de ser, foi amplamente divulgado pela imprensa, pelos vistos deu resultados práticos. Depois de dois jogos de nível claramente inferior, a equipa hoje voltou a exibir um futebol de grande qualidade, sobretudo na segunda parte. A jogar com menos um elemento desde meados da primeira parte, apesar de perigoso na segunda parte o Braga nunca disputou o jogo de igual para igual. O resultado final até poderia ter sido um empate, visto que apenas na parte final do jogo o Sporting foi capaz de materializar a sua superioridade. Isto dito, a vitória foi inteiramente merecida e peca até por escassa, tal foi a diferença de jogo entre as duas equipas.
Esta é uma daquelas vitórias que vale muito mais do que três pontos. Allez, allez, Sporting allez...
Foto: Miguel Riopa (AFP via Público).

Uma dúvida

Quem no Verão considerou um erro a 'promoção' de Paulo Portas para vice-primeiro-ministro, perante as dificuldades que ele está a encontrar nas negociações com a troika, nesta altura ainda mantém essa opinião?

As saudades...

...que eu já tinha dos recados de fontes centristas e de colaboradores próximos de Portas. Felizmente já terminaram as férias de Filipe Santos Costa. A sua falta foi sentida. O seu regresso é apreciado.

Um segundo resgate?

Desiluda-se quem -- ainda? -- pensa que a troika ignora a componente política e se concentra apenas em aspectos técnicos. Isto, com as suas fontes não identificadas, é 100% político e 0% técnico. As fontes não são identificadas, mas estão por todo o lado as impressões digitais de sectores da Comissão Europeia.
O timing do artigo, cirurgicamente publicado na véspera das eleições autárquicas, não poderia ser, aliás, mais político. No Público, como sempre, a fronteira entre fazer política e informar também tem contornos elásticos. Ironia das ironias: o Público que está farto de malhar e de criticar a troika faz agora descaradamente o seu jogo, ou o jogo de sectores da troika, para ser mais preciso, em prejuízo da estratégia negocial do Governo. Afinal, o inimigo do meu inimigo é meu amigo. No fundo, a malta no Público odeia a troika, mas a verdade é que odeia ainda mais o Governo.
Escrevo ao final da tarde. O artigo da troika via Público continua a merecer o maior destaque possível na página principal online e o desmentido da Comissão e do Governo, em on e sem máscaras, surge apenas com uma referência discreta a remeter para as páginas interiores.
A isto chama-se equilíbrio, isenção e imparcialidade. Bem podem limpar as mãos à parede.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Put your money where your mouth is!

Qual é a relevância destas notas de research? Qual é a sua credibilidade? Dito de outra maneira, estas notas devem ser levadas a sério pelos investidores? São levadas a sério? O que perde o analista se as suas previsões não se concretizarem? Ele próprio tem ou não parte das suas poupanças investidas nas acções que recomenda?
Peguei nesta nota do BPI como poderia ter utilizado outra qualquer como exemplo. A minha percepção é que estas notas não são para ser levadas muito a sério. Por uma simples razão. Quem as faz não perde nada se errar. Enfim, pode ter algum custo de reputação pessoal, mas o analista não perde um cêntimo. Perder no sentido literal, ou perder na medida em que fica com o seu capital empatado sem obter grande rentabilidade.
Estas notas, em geral, não passam de ruído. Ruído perigoso, parece-me, para o pequeno investidor pouco informado.

P.S. -- Note-se que utilizo esta nota de research como exemplo, mas poderia ser outra qualquer, de outra instituição ou de outro analista. Era interessante, por exemplo, pegar nas notas de research emitidas em 2012 pelos principais players na área em Portugal, analisar as suas previsões e o que aconteceu na realidade. Uma espécie de exercício de accountability...

Meta-resgate

O Commerzbank considera que é provável um segundo resgate. Talvez sim, talvez não. O que é interessante notar é a alteração da percepção externa que ocorreu com a crise política no Verão e que eventos posteriores -- com especial destaque para as decisões do TC, mas também para o comportamento do Governo e da oposição -- nada fizeram para alterar.
Era interessante fazer um apanhado das notas de research que foram emitidas desde essa altura e comparar os seus diagnósticos e as suas previsões. Era relevante fazer esse exercício agora e depois mais à frente, em retrospectiva.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Se...

Esse é o grande problema. O 'se' que Klaus Regling introduz na sua observação. "Se demonstrarem".  Serão capazes de 'demonstrar'?
Não sei. Já não digo nada.

Assumida a guerra entre Salgado e Sobrinho [2]

Hoje, Correio da Manhã e Jornal de Negócios fazem referência à guerra entre Ricardo Salgado e Álvaro Sobrinho. Os dois jornais são detidos pela Cofina, na qual a Newshold detém 15% do capital. Quanto ao resto (Controlinvest, Impresa [onde a Newshold também tem uma posição de 2%], etc.), do que li, mantém-se o silêncio.

Mais um chumbo do TC

Poucos detalhes, por agora. Aquilo que tenho curiosidade em saber, e que ainda não se sabe, é como votaram os juízes. Em particular, como votaram os juízes do TC propostos pelo PSD e CDS?
Como alguém me dizia recentemente, é extraordinário que PSD e CDS, sabendo as medidas que tinham para aprovar nesta legislatura e que eventualmente uma parte poderia ir ao crivo do TC, de forma politicamente negligente, não se lembraram de indagar qual era o pensamento dos juízes que se preparavam para escolher. Se isto não é uma burrice pegada vou ali e já venho...

Quem quer casar com a carochinha?

Não há fome que não dê em fartura. Paulo Portas quer Woody Allen a realizar um filme em Lisboa. Luís Filipe Menezes -- claro, quem mais poderia ser? -- quer o realizador a filmar no Porto.
Não tarda nada teremos Alberto João Jardim a querer o homem na Madeira e, quem sabe, Maria das Dores Meira a dizer que, se é para filmar por cá, então tem de ser em Setúbal.
A competição, além de ridícula, é feroz. Isto num país onde não há dinheiro para nada e onde aquela coisa das análises de custo/benefício custa a entrar na circulação do sangue. Por vezes fico na dúvida se a troika não deveria ficar por cá por longos e bons anos.

Merkel: uma má notícia para a Europa

Descubra as diferenças entre a reacção do PS através de João Ribeiro e do BE por Marisa Matias. Por extraordinário que possa parecer, a resposta é nenhuma. O Bloco, claro, pode dar-se a esse luxo, mas a reacção do PS, um partido do arco do poder, constitui uma completa irresponsabilidade, aliás como aqui se destaca com refinada ironia.

Listen very carefully, I shall say this only once! [23]

Gerhard Seibert, "São Tomé and Príncipe: The End of the Oil Dream?" (IPRIS Viewpoints, No. 134, September 2013).

Assumida a guerra entre Salgado e Sobrinho (act.)

E eis que, finalmente, a guerra é assumida de forma aberta.
Repito, no entanto, o que já escrevi há alguns dias. Os problemas do Grupo Espírito Santo com Angola não se circunscrevem à sua relação com Álvaro Sobrinho. Era relevante, ou interessante do ponto de vista jornalístico, saber o que é que criou, ou tem vindo a criar, problemas na venda da ESCOM.

[Adenda]
Nota da direcção do i, e mais um artigo.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ricardo Salgado

Nova semana, nova notícia sobre Ricardo Salgado, num dos jornais do costume. O assunto, curiosamente, não desperta a atenção da restante imprensa portuguesa, nomeadamente a económica. De duas uma. Ou tudo não passa de uma enorme especulação e, como se sabe, a nossa imprensa mantém uma conduta rigorosa e intransigente contra a especulação jornalística. Ou então o respeitinho é muito bonito, opção que não faz muito sentido porque, como se sabe também, a nossa comunicação social é marcadamente rebelde e gosta de questionar os poderosos. Tudo não passa, no fundo, de um lapso de concentração. A malta está toda a olhar para o bumbum da outra, isso sim um tema a merecer ampla atenção.


Eleições autárquicas

Um enorme bocejo. O meu desinteresse dificilmente poderia ser maior. Hesito entre votar em branco, a minha opção preferencial, ou votar no PSD, neste caso apenas para contrariar a leitura nacional que o PS quer fazer dos resultados eleitorais. Veremos.

Um terceiro balanço

Além de cortes, cortes, cortes, -- e privatizações -- o que é que foi feito nos últimos dois anos nas áreas da Educação? Ciência? Administração Interna? Justiça? Cultura? Saúde? Agricultura? Ambiente? Economia?
Alguém sabe?
Dão-se alvíssaras a quem souber.

Um segundo balanço

Se alguém me perguntar uma medida, um programa, algo que este Governo tenha feito nos últimos dois anos que vá para além do programa em negociação permanente com a troika, confesso que não sou capaz de dar um único exemplo. Nada.
Não quero com isto desvalorizar o que tem sido feito nesse domínio. Fazer regressar Portugal do poço sem fundo em que se encontrava é algo que merece ser reconhecido e elogiado. Mas, caramba, digamos que é curto, muito curto, em termos de um balanço provisório de governação.

Um primeiro balanço

Desde que Miguel Poires Maduro e Pedro Lomba entraram para o Governo nota-se uma grande diferença na qualidade da comunicação.

Carpe diem [4]


terça-feira, 24 de setembro de 2013

O que será?

Neste, como noutros textos similares, constato com alguma surpresa que ninguém admite, nem que seja teoricamente, uma possibilidade que não excluo, i.e. o regresso ao local do crime. Aparentemente ninguém parece levar muito a sério a hipótese de José Sócrates querer voltar a ser primeiro-ministro. Bem sei que ser primeiro-ministro mais do que uma vez tem sido a excepção e não a regra. No período pós-1976, apenas Mário Soares foi primeiro-ministro duas vezes e nos dois casos antes da adesão de Portugal à União Europeia em 1986. Mas não sendo a regra esta é uma possibilidade que no caso de Sócrates não excluo, antes pelo contrário.
José Sócrates é ainda muito novo e tem um currículo que seguramente joga a seu favor. Enfim, descontando o facto de ter levado Portugal ao tapete... Adiante. Ele foi o único secretário-geral do PS que conseguiu obter uma maioria absoluta. Acresce que o ex-líder do PS tem um perfil e uma personalidade que se coaduna muito mais com o cargo de primeiro-ministro do que Presidente. (Refira-se que em todo o caso pode sempre ser Presidente mais tarde.) Voltar a ser primeiro-ministro tem dois desafios que me parecem ser interessantes do seu ponto de vista. Primeiro, conseguir igualar e ir mais longe do que Mário Soares na liderança do PS. Segundo, mais importante, ajustar contas com a História, numa espécie de processo de redenção, se possível com algumas bofetadas de luva branca. Recordo que parte das suas tropas continua muito activa nos planos político e mediático. Tropas, lembre-se, com as quais ele não perdeu o contacto. Outros, estando mais adormecidos, continuam em todo o caso em posições partidárias relevantes. Sócrates apenas precisa de dar tempo ao tempo, refazer a sua imagem e esperar pela oportunidade. Oportunidade que no curto-prazo depende em larga medida de António José Seguro. Dito isto, se o momento certo não surgir, Sócrates poderá sempre reajustar os seus planos. Uma coisa é certa. Politicamente morto é que ele não está. Infelizmente, tenho de acrescentar.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Para memória futura

Sim, se houver um segundo resgate foi porque o Governo falhou. No excuses, please. Se não houver um novo resgate foi porque o Governo teve êxito. Não retirar o mérito, se faz favor. Tão simples como isto.

Os mercados...

...reagiram mal perante a re-eleição de Angela Merkel. Os mercados querem o melhor de dois mundos, i.e. estímulos à economia -- despesa pública, portanto -- e contas públicas controladas. Esquizofrenia, pura e dura.

domingo, 22 de setembro de 2013

Os caça multas

Eis no que está convertida a GNR e a secção de trânsito da PSP. Um autêntico negócio com prémios e dividendos financeiros, e com muita falta de bom senso. Imagino que poucos devem ser hoje os cidadãos que não foram brindados com uma coima, ou mais do que uma, grave ou muito grave. Quem é que considera, como diz o lema, a GNR "uma força humana, próxima e de confiança"? Ou a PSP?
A GNR começou mais uma operação de combate à sinistralidade rodoviária. O excesso de velocidade e a velocidade excessiva serão, como quase sempre acontece, o alvo. É fácil, é barato, e dá literalmente milhões. Pouco importa que excesso de velocidade e velocidade excessiva sejam dois fenómenos muito diferentes. Os radares serão colocados nos sítios do costume, o que significa que apanharão apenas os distraídos ou quem circula pela primeira vez naquele local. Uma coisa, caro leitor, lhe garanto: os radares não serão colocados nos pontos negros de sinistralidade rodoviária, como o bom senso aconselharia. Serão colocados, isso sim, em sítios onde o potencial para facturar é maior. Locais onde facilmente se cai em excesso de velocidade, segundo a sinalização, mas em que a velocidade não é necessariamente excessiva.
Os caça multas da GNR e da PSP estarão apenas a fazer o seu trabalho, alegarão os próprios, não questionando as ordens. Alguns até lhes dará gozo lixar a vida ao cidadão comum. Os agentes da antiga PIDE não fariam melhor.

Curiosidades (act.)

Quem quiser ler notícias, análises e especulações sobre Ricardo Salgado -- e o Grupo Espírito Santo (GES) -- deve ler a imprensa portuguesa de capitais maioritariamente angolanos, ou cuja gestão é controlada por capitais angolanos, como é o caso dos jornais Sol e i.
Apenas nesta semana, dois exemplos:


Num caso e noutro estamos a falar de jornais controlados pela Newshold de Álvaro Sobrinho que no ano passado foi promovido, salvo seja, de CEO a chairman do BESA, e que agora se prepara, pura e simplesmente, para abandonar o cargo. Apesar das juras mútuas de amor é evidente que a relação entre Ricardo Salgado e Álvaro Sobrinho se deteriorou muito nos últimos anos. Não surpreende, por isso, que a Newshold surja como a ponta da lança mediática que tem dado dores de cabeça ao GES em Portugal.
Não gosto muito de teorias da conspiração, mas o processo que começou com a recomposição da estrutura accionista do BESA está ainda por contar. Situações como esta de "problemas de tesouraria" são apenas uma ponta do véu do pouco que se sabe publicamente da deterioração das relações do GES com Angola. "Dificuldades" que se repetem noutras frentes, como é o caso da ESCOM.


[Adenda]
As complicações em diferentes frentes, nomeadamente no BESA e na ESCOM, confirmam que os problemas do GES não se limitam à relação com Álvaro Sobrinho. A questão é mais complexa e mais profunda. Mas mesmo que não fosse, é evidente que o antigo homem forte do BESA não declararia guerra a Ricardo Salgado sem a devida cobertura de instâncias superiores.

sábado, 21 de setembro de 2013

Allez, allez, Sporting allez [5]

Este foi o primeiro jogo desta época que fui ver com o meu filho ao Estádio de Alvalade. O resultado lembra aos mais optimistas que em circunstâncias normais o Sporting não é candidato ao título. Na conferência de imprensa, o treinador Leonardo Jardim -- que muito aprecio -- resumiu bem o que se passou em campo, i.e. a equipa do Sporting revelou a sua imaturidade ao baixar excessivamente a pressão sobre o adversário. Sim, a equipa terá sido prejudicada pela arbitragem, mas isso não é desculpa. No jogo anterior aconteceu o contrário. O Sporting apenas se pode queixar de si próprio pelo empate que obteve. É a vida. Allez, allez, Sporting allez...
Foto: Francisco Leong (AFP via Público).

Surpresas de 2013

Percorridos que estão quase três quartos deste ano, confesso a minha surpresa pela diminuta agitação social. No final de 2012, em parte influenciado pelo que acontecera nesse ano, com o desemprego ainda a subir, esperava que o ano seguinte fosse muito difícil. Não foi o que sucedeu, pelo menos até agora. O descontentamento não se evaporou, como é óbvio, mas de forma orgânica ou espontânea, a verdade é que não se repetiram até ao momento as grandes manifestações de 2012, ou os momentos de tensão. Uma explicação?
Não tenho.

Uma dúvida

Esta história está mesmo bem contada?
Custa-me a acreditar que esteja. Esteja ou não, o Governo tem de a esclarecer. Tal como é narrada, a situação parece demasiado opaca, demasiado anormal. Importa, por isso, clarificar tudo o mais rapidamente possível.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A porta das traseiras?

Curiosa, esta notícia. De duas uma. Ou a jornalista está a valorizar algo que é incerto, ou cujo impacto não será tão significativo como dá a entender. Ou então o Governo não sabe o que anda a fazer. Ocorre-me ainda uma terceira hipótese. O Governo quando aponta para um défice de 4.5% em 2014 nas negociações com a troika na verdade sabe que está a negociar uma margem ainda maior. No meio disto, o leitor que escolha...

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Horror ao vazio

Em política nada fica por preencher por muito tempo, incluindo o lugar do morto. Com ou sem razão para isso, Álvaro Santos Pereira e Vítor Gaspar -- e Miguel Relvas noutro plano -- foram durante muito tempo os bombos -- não confundir com os bobos -- da festa. Com a sua saída do Governo, inevitavelmente quem estava protegido da barragem de fogo passou a estar em campo aberto. Maria Luís Albuquerque e Nuno Crato, mal ou bem, são agora os alvos preferenciais.
Moral da história?
Os seus colegas, se eu estivesse no seu lugar, tudo deveriam fazer para os defender. Afinal, nunca se sabe quem será o próximo a ficar com o lugar do morto...

A cereja no topo do bolo

O que agora nos estava a fazer falta era a possibilidade de a ministra das Finanças ter de se demitir. Mas parece-me óbvio e evidente que temos aqui um problema.

O regresso aos mercados [5]

Na linha do que escrevi, veja-se como os juros flutuam em função de variáveis externas e não apenas em resposta a factores de ordem interna. Repito -- repita comigo, caro leitor, mil vezes se necessário -- dívida igual a fragilidade.

A maldita falta de memória

Na passada Primavera a atmosfera que se respirava era francamente optimista. O regresso aos mercados era uma hipótese que se discutia abertamente e a próxima frente de batalha passava por conseguir que o rating de Portugal fosse revisto em alta. Repito o que já escrevi anteriormente. Confesso que pensei que tinha sido demasiado pessimista, que me tinha enganado, ainda que para mim fosse cristalino que haveria crise política da grossa algures em 2013.
Tudo isto são agora memórias, uma nota de rodapé na história futura destes dias. Hoje o regresso aos mercados é uma hipótese remota no curto e médio prazo, e o rating não só não melhorará tão depressa como ainda por cima poderá piorar.
O Governo é a entidade que mais informação possui para decidir qual o melhor caminho a trilhar. Visto de fora, a mim parece-me que ontem, com a decisão da S&P, a tentativa de rever em alta as metas do défice para o próximo ano sofreu um duro e pesado revés. No mínimo talvez fosse melhor ter alguma contenção nas declarações públicas.
Lamento, lamento mesmo muito, que tenhamos uma memória curta e que o tempo dilua a memória dos dias que temos vindo a viver desde que fomos obrigados a pedir auxílio externo. Os portugueses -- por portugueses leia-se opinião pública em geral, mas também políticos, empresários, reguladores, banqueiros -- que tanto gostam de tatuar o corpo deveriam ter obrigatoriamente um tattoo na testa, para que fossem permanentemente confrontados com isso e em momento algum o esquecessem, a dizer que um Estado endividado até ao tutano é um Estado miseravelmente frágil. Um Estado que gasta o que não tem mais tarde ou mais cedo está metido num grande sarilho.

P.S. -- Entretanto, o sujeito que nos enfiou neste buraco sem fim parece que vai lançar um livro. É assim a política. O responsável pelo atoleiro em que nos encontramos faz a sua vidinha na boa como se nada fosse com ele. Isto diz mais sobre nós do que sobre ele.

[Adenda]
Sobre a contenção verbal, eis o pedido de silêncio. Isto dito, não deveria ter sido o líder do PSD e primeiro-ministro a fazer essa intervenção?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Carpe diem [3]


O défice de 2014

Na semana passada ficou claro, assumindo que o não era, a guerra que vai ser para conseguir convencer a troika no sentido de autorizar, em vez da meta actual de 4%, um défice de 4.5% em 2014. Com o realismo que o caracteriza, António José Seguro propõe pelo menos 5%. Se conseguir 4.5% já é difícil imagine-se 5% ou mais...
Ainda que não seja essa a sua intenção, o líder do PS acaba de prestar um grande favor ao Governo. Perante tal proposta, abstenho-me de a caracterizar como politicamente absurda, daquele que é potencialmente o partido político que dirigirá um executivo futuro, a posição do actual Governo até passa a parecer mais razoável e mais moderada.
Se a isto juntarmos as divergências no interior da troika, com o FMI claramente a correr numa pista diferente da do BCE e da Comissão, então diria que a revisão da meta do défice para 2014 não é inalcançável. Não vai ser fácil, mas não é impossível. Uma coisa é certa: sem tentar não se consegue de certeza absoluta.

O regresso aos mercados [4]

Juros da dívida persistem acima de 7% e ameaçam programa cautelar. Este era o título ontem de uma notícia no Público. Não foi há muito tempo que Vítor Gaspar dizia, em mais um dos seus muitos erros de previsão, que Portugal regressaria agora aos mercados. Em Janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa chegou a vaticinar que até poderia ser antes de Setembro.
Em Dezembro de 2012, escrevi o seguinte (p. 42): "It is therefore not surprising that rumors over the possibility of a second bailout or an additional extension of the deadline of the first have circulated. In any case, although it is not impossible, it will be difficult for Portugal to regain market access anytime soon, let alone in 2013, as the troika program and government predicted."
Devo dizer que no primeiro semestre deste ano cheguei a pensar que me tinha enganado e que teria sido demasiado pessimista. Porém, pelos vistos, a realidade é outra: enganei-me ao pensar que me tinha enganado.
O que explica o (novo) erro de previsão?
Alguns analistas apontam o dedo à demissão de Vítor Gaspar, à crise política posterior com a demissão irrevogável de Paulo Portas, bem como às decisões do Tribunal Constitucional (TC). Será seguramente parte de explicação. Mas será toda a explicação, ou mesmo a sua parte essencial?
Dito de outra maneira, vamos partir do pressuposto que não teria existido a crise política, ou até que o TC teria decidido de outra forma. Os juros da dívida seriam muito diferentes do que são hoje?
Provavelmente não, o que significa que, muito possivelmente, a explicação é outra.
Regresso ao que escrevi em Dezembro de 2012: "Although Portugal is implementing the measures agreed with international lenders, there is a growing sense that a stable economic outlook is not entirely in Portuguese hands, but rather depends on developments at the European level."
Na minha opinião, a chave para perceber a actual subida nos juros da dívida não se encontra nos acontecimentos do Verão passado, ou nas decisões do TC. Encontra-se, isso sim, no tabuleiro europeu. Os juros estão a subir em resposta aos comentários de Jeroen Dijsselbloem e à indefinição instalada até Novembro. O Governo tem responsabilidade na matéria apenas na medida em que assumiu publicamente a divergência com o Eurogrupo.
Não haja ilusões. Com ou sem crise política, com ou sem chumbos do TC, muito provavelmente a realidade actual seria muito semelhante. Na verdade, o regresso aos mercados em Setembro de 2013 foi sempre uma previsão arriscada. Importa, porventura, lembrar que o BCE ainda não considerou que Portugal poderia beneficiar das famosas OMT. Com ou sem crise política é provável que de qualquer modo não o tivesse feito. Note-se que a Irlanda não teve crise política e o BCE ainda não disse que preenchia os requisitos para beneficiar do programa.
Não sei como irão evoluir os juros da dívida nas próximas semanas, mas algo me diz que a existir alguma variação relevante será para pior. Antes de Novembro -- e do fecho das oitava e nona rondas de avaliação da troika -- a situação dificilmente melhorará. O regresso aos mercados, na melhor das hipóteses só acontecerá em 2014 e sob a guarida de um programa cautelar. É a vida.

Em destaque [28]

Um blogue: o Fragmentário, editado por Luís Naves e João Villalobos. É uma das minhas leituras assíduas. Sendo um leitor regular de jornais, constato com curiosidade que o grosso dos textos de comentário que leio são publicados em blogues. Nos jornais, todos somados, julgo que não leio nem 10% da opinião publicada.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Em destaque [27]

Sim, caro leitor, confesso que gosto de filminhos da treta. No seu segmento, este nem é mau. Mas espere só até ver o outro que ainda vou ver esta semana...

Programa cautelar ou segundo resgate?

Subitamente desatou toda agente a discutir se vamos ter um programa cautelar ou um segundo resgate. Na verdade ninguém sabe. Isto dito, uma coisa é a designação e outra a substância. Vai na volta teremos um programa cautelar em larga medida semelhante a um segundo resgate. No prato não falta quem confunda gato com lebre.

Doutrina presidencial dos impedimentos selectivos

O Público noticia que o nosso aposentado de Belém se recusou a fazer comentários sobre os cortes de 10% nas pensões da Caixa Geral de Aposentações anunciados pelo Governo, argumentando que o diploma ainda nem sequer entrou na Assembleia da República. "Nós não conhecemos neste momento a versão final" da proposta, defendeu Aníbal Cavaco Silva, lembrando que só depois de aprovado o diploma é que será submetido ao Presidente, e só nessa altura o deverá comentar.
Até aqui tudo bem. O nosso aposentado de Belém, numa abordagem razoável, afirma algo óbvio, i.e. que não pode comentar o que não conhece. Mas subitamente tudo se complica. Não podendo comentar, tal não quer dizer que não possa rotular o que desconhece. E sem mais demoras, o nosso aposentado de Belém classifica como "um novo imposto extraordinário" o tal diploma que ainda não chegou ao Parlamento. Confuso, caro leitor?
Passo a explicar a doutrina presidencial dos impedimentos selectivos: não se pode comentar o que não se conhece, mas isso não impede que se possa colocar desde já um rótulo valorativo nesse mesmo desconhecido.
Às duas por três, no meio desta intricada teia de impedimentos não-lineares, fiquei sem perceber se o nosso aposentado de Belém defende a primazia da prudência imprudente, ou da imprudência prudente. Uma coisa é certa: a vidinha custa a todos e Cavaco Silva, como se sabe, há meses em que tem dificuldade em esticar o dinheiro para fazer face às despesas. Ora, com um novo imposto, o Presidente correria o risco de poder passar fome.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Carrossel [18]

Correio da Manhã (16.9.2013).

Prova de vida

Jorge Moreira da Silva -- já nem me lembrava que agora fazia parte do Governo -- decidiu fazer prova de vida. Como?
Fazendo um exercício público de autoridade utilizando para o efeito a China Three Gorges (CTG). Evidentemente, o ministro sabe muito bem que a CTG está a cumprir aquilo que foi acordado quando se tornou a maior accionista EDP. Mas isso pouco interessa. Moreira da Silva queria apenas um palco. Terminada a cena, tudo continuará tal como estava. Com uma única excepção. O ministro mostrou que existia.

domingo, 15 de setembro de 2013

Allez, allez, Sporting allez [4]

Mais um jogo, mais uma vitória. Este talvez tenha sido no campeonato o jogo do Sporting menos interessante, ou menos conseguido, até ao momento. A equipa, porém, teve a sorte do jogo do seu lado. E marcados que estavam os dois golos na segunda parte da partida, o Sporting retirou o pé do acelerador, gerindo a partir dessa altura o resultado à medida que o tempo passava. No final, mais três pontos. Allez, allez, Sporting allez...
Foto: Francisco Leong (AFP via Público).

sábado, 14 de setembro de 2013

Uma recaída isolacionista

Tal como Vasco Pulido Valente, José Manuel Fernandes (JMF) também detectou uma "uma nova recaída isolacionista", ou muito simplesmente "uma recaída isolacionista" (Público de ontem). Os EUA, escreve JMF, parecem "querer regressar aos limites da sua concha". JMF termina o seu artigo com uma citação de Timothy Garton Ash sobre o decrescente intervencionismo militar de Washington.
Vamos por partes, tendo como ponto de partida o que já referi em relação ao artigo de Vasco Pulido Valente. Primeiro ponto: JMF compara o que não é comparável, i.e. os EUA de Obama com os EUA de Woodrow Wilson. Dito de outra maneira, JMF compara e tira ilacções de situações cujas variáveis não são constantes. A diferença mais óbvia é que os EUA de Wilson não eram a potência hegemónica no sistema internacional, ao contrário do que acontece hoje em dia.
Segundo ponto: eu gostava que JMF sustentasse com factos a sua afirmação de que os EUA -- quais EUA? Obama? Congressistas? Opinião pública? -- querem regressar aos "limites da sua concha". Mais. Que limites são esses? Qual é a concha? Como é que isso se conjuga com os documentos oficiais que são conhecidos -- tanto do State Department como do DoD -- que apontam precisamente para a manutenção da hegemonia político-diplomática, militar e económica dos EUA? (E a discussão do alegado isolacionismo poderia ser feita em maior detalhe em cada uma destas três vertentes.)
Terceiro ponto: de certo modo, JMF usa, ou refere, isolacionismo e intervencionismo quase como se fossem sinónimos. A recaída isolacionista de Washington, no fundo, corresponde a uma suposta diminuição na vontade de intervir militarmente onde e quando tal seja necessário. Enfim, seria interessante, uma vez mais, discutir se tal é verdade. (Ainda recentemente um artigo de opinião no Público referia diversas das inúmeras intervenções militares dos EUA no pós-Guerra Fria.) Mais importante, importa frisar que uma eventual redução nas intervenções militares e no intervencionismo não significa, como é óbvio, que se está a seguir uma orientação isolacionista.
Mas regressemos ao princípio. A realidade é que uma intervenção militar contra a Síria -- e esta em particular que parece ter sido desenhada com os pés --, ainda que limitada na sua escala, não assentaria em pressupostos estratégicos claros. Mais. Tal corresponderia a uma desfocagem em relação ao que é essencial para os EUA, i.e. China e Rússia num quadro macro e Irão no tabuleiro regional. Na verdade, por muito que isso custe a aceitar (e muito francamente não sei porque custa a aceitar), a guerra civil na Síria tem relevância periférica no grande quadro dos interesses geoestratégicos dos EUA. E assim sendo, é óbvio que uma intervenção militar na Síria não poderia deixar de ter opositores, tanto entre os norte-americanos como junto dos seus aliados.

É impressão minha...

...ou a liderança do PS está mais que arrependida de ter pedido uma leitura nacional dos resultados das eleições autárquicas? Em contrapartida, os críticos de António José Seguro nunca desejaram tanto como agora essa leitura nacional?
As voltas que a vida (política) dá...

Decidam-se, se faz favor

Por um lado, a opinião pública -- ou talvez mais a publicada -- queixa-se que o Governo não faz o suficiente nas negociações com a troika para conseguir metas menos exigentes. Porém, quando o Governo adopta uma estratégia nesse sentido, a dita opinião treme com as reacções de Jeroen Dijsselbloem ou de Olli Rehn. Decidam-se, pá. Se querem metas menos exigentes há que lutar por elas, eventualmente ouvir o que não se queria. Achavam que era só dizer o que se queria e que nos era servido numa bandeja de prata?
Obviamente que não. É claro que a primeira reacção será sempre negativa. Mas este é um jogo que exige paciência, muita paciência, muito jogo de cintura e muito trabalho de bastidores. Não é nos primeiros 500 metros que se define o resultado de uma maratona. Não se assustem com as palavras de Dijsselbloem e de Rehn, até porque não são eles quem detém as cartas principais do baralho.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Uma forma atenuada de isolacionismo

Como se sabe, Vasco Pulido Valente é um grande conhecedor da História de Portugal, sobretudo nos séculos XVIII e XIX. De política internacional percebe muito menos, ou muito pouco. Dizer, como diz hoje no Público, que os EUA poderão voltar  a "uma forma atenuada de isolacionismo" é um total disparate, mesmo tendo em conta a fórmula vaga que utiliza. Por uma razão muito simples. Esse é um luxo de que Washington não dispõe sob pena de perder a sua posição hegemónica. Nada, aliás, no pós-Guerra Fria e no comportamento dos EUA em particular aponta nesse sentido. Mais. A História não nos revela qualquer exemplo relevante de um Estado dominante que se tenha retraído e abdicado do controlo de que dispunha no sistema internacional.
Sim, claro, os EUA gostariam de manter a sua posição hegemónica sem suportar os custos daí decorrentes. Pois. E eu gostaria de ganhar o Euromilhões.

Consultório sentimental

Você ama ela, cara? E ela gosta de você?
(Ler tendo como pano de fundo uma daquelas canções de Roberto Carlos. Também serve Julio Iglesias.)

Pequenas nuances diplomáticas

Tradicionalmente, quando toma posse um novo governo e/ou um novo ministro dos Negócios Estrangeiros uma das suas primeiras deslocações é a Madrid. Espanha retribui na mesma moeda, i.e. Marrocos e Portugal estão entre os primeiros destinos de visitas bilaterais dos seus novos ministros das Relações Exteriores.
Sem nunca apresentar publicamente uma explicação, Paulo Portas violou essa regra. Ultrapassou, aliás, o limite do razoável. Tendo tomado posse em Junho de 2011, só em Fevereiro de 2013 é que, se a memória não me falha, Portas visitou pela primeira vez a capital espanhola.
Rui Machete volta à linha anterior e uma das suas primeiras deslocações no plano bilateral foi a Madrid. Totalmente de acordo. Segue-se o Magrebe, se faz favor?

Em destaque [26]

Um desempenho notável de Cate Blanchett. Não se trata propriamente de um dos melhores trabalhos de realização de Woody Allen, mas em bom rigor também não desilude.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Small is beautiful

Será cada vez mais um problema. A escala destas grandes empresas torna o risco mil vezes maior. E um dia vamos ter um problema muito grave. É inevitável.

Uma dúvida

O que leva uma editora a publicar um livro que se limita a pouco mais do que coligir um conjunto de textos publicados anteriormente num jornal?
Eu percebo em parte o interesse do autor, mas já tenho muita dificuldade em perceber o que tem a ganhar a editora. As vendas serão seguramente um fiasco e, por conseguinte, a edição dificilmente será rentável. A não ser, claro, que o autor se comprometa a comprar umas centenas de exemplares.

Estupidez ou ignorância?

O Bloco de Esquerda, pela voz de Cecília Honório, acusou Nuno Crato de apartheid escolar. Fico na dúvida se se trata apenas de uma simplificação estúpida, ou se é ignorância pura e dura. É ofensivo de uma maneira ou de outra, e é no que dá utilizar expressões sem medir bem o seu alcance e as suas implicações, apenas para lançar um soundbite.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Onde é que os foram buscar?

Confesso que há dias em que desespero com tanto disparate. Os exemplos de amadorismo abundam, infelizmente. Miguel Poiares Maduro hoje lembrou-se de acenar com a ameaça de um eventual aumento de impostos. Percebo. Por um lado, o Governo opta por não divulgar a sua proposta de Orçamento do Estado antes das eleições autárquicas. Por outro, a cerca de quinze dias do acto eleitoral, Poiares Maduro dá-lhe para falar de aumentos de impostos virtuais. E é nisto que andamos. Noutras circunstâncias o telemóvel do primeiro-ministro hoje não teria parado de tocar, com candidato atrás de candidato autárquico a queixar-se do sentido de oportunidade de Poiares Maduro. Feliz ou infelizmente a verdade é que ninguém (julgo eu) levou a sério o que disse o ministro adjunto. Por uma simples razão. O próprio Pedro Passos Coelho, muito recentemente, disse que esse não era o caminho. E nem falo do CDS que, seguramente, olha para tudo isto entre o divertido e o desesperado.
Sejamos clarinhos como água: não vale a pena Poiares Maduro encenar uma dramatização, ainda por cima de uma forma tão pouco credível e tão pouco oportuna.
Raios e coriscos. Quando não se tem nada para dizer não seria preferível estar calado?

Guiné-Bissau: sempre a caminho do abismo

Na minha modesta opinião, este episódio demonstra bem como a Guiné-Bissau corre graves riscos de regressar a um clima de violência se se realizarem as eleições em Novembro. Não discuto se o chumbo da amnistia foi ou não uma boa decisão. Apenas destaco o barril de pólvora que está no meio da loja de cristais.

Bom senso

"No Público respeitaremos a lei na medida do possível e não é nossa intenção discriminar ninguém. Mas não trataremos por igual o que, em política, não é igual."

Aderência à realidade

Pedro Passos Coelho apela a "aderência à realidade" no PS. Certo. Talvez seja melhor esperar sentado...

Carpe diem [2]


Em destaque [25]

Uma dúvida

Estando Portugal limitado no exercício da sua soberania, a partir de 2011 a qualidade da governação piorou ou melhorou? Tal deve-se a factores de ordem interna ou externa?
Por outro lado, Portugal não estava limitado na sua soberania antes 2011?
Estamos apenas perante uma diferença de grau, ou é algo mais?

Será falta de assunto?

Juro que por vezes ainda me espanta os assuntos com que os jornalistas gastam tempo e espaço. Será que a promoção de uma pessoa na equipa do primeiro-ministro merece ser notícia? Não haverá nada mais importante?
Haja pachorra.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Ilhas Selvagens

Esta é uma daquelas questões em que a visibilidade mediática é prejudicial.

Em destaque [24]

Kaiser Chiefs, Off With Their Heads

Ainda a Síria

Assumindo que a cedência da Síria é genuína -- e não esquecendo que o diabo está sempre nos detalhes -- há questões que estavam no ar e que ganham acrescida relevância. Não é conhecido ainda o relatório dos inspectores da ONU, pelo que a autoria da utilização das armas químicas não está ainda devidamente esclarecida. Mas assumindo que foram as Forças Armadas sírias as responsáveis pelo ataque, a pergunta que se coloca é se tal teve o aval de Assad.
A facilidade com que Assad aceitou a proposta russa parece dar força à leitura que talvez possa não ter autorizado e que, nesse sentido, é ele o primeiro a querer ver-se livre delas.
Não estou com isto a querer desculpabilizá-lo, longe disso. Vai na volta até pode estar directamente envolvido. Mas, isto dito, nunca foi claro o que ganhava Assad com a sua utilização.

PS a cair e Passos Coelho a subir

Não me surpreende absolutamente nada.

Carpe diem [1]

Aproxima-se a passos largos o fim do Verão. Aproveite-se, portanto, estes últimos dias. Nós, refiro-me aos portugueses, por vezes não damos o devido valor ao excelente clima e às boas praias que temos. Nem que seja ao final da tarde, por uma horinha, não há nada melhor para recarregar as baterias do que ir até à praia.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Rússia e Síria: cheque ao rei

A Rússia tem uma das melhores diplomacias do mundo, como se sabe. A proposta de Moscovo mata diversos coelhos com um só tiro: [a] obriga, no mínimo, os EUA a ter de adiar o ataque militar à Síria e, eventualmente, a ter de aceitar uma alternativa diplomática que não corresponde ao seu cenário preferencial; [b] abre uma janela de oportunidade que permitirá à Síria evitar, à última hora, um ataque militar dos EUA; ou, em alternativa, ter de assumir uma rota de colisão com os EUA, mas também com a Rússia; [c] confere à Rússia o papel diplomático central no processo, numa altura em que tudo se começava a desmoronar; em última instância, o êxito ou o fracasso desta iniciativa dá à Rússia, interna e externamente, espaço de manobra para, em teoria e se quiser, reajustar a sua própria posição diplomática. Em suma, esta proposta apenas oferece ganhos potenciais sem risco de perdas para os russos. Flawless.

O refém

No ano passado, o líder do PS recusou pronunciar-se sobre o Orçamento do Estado antes de o conhecer. A sua posição tinha toda a lógica, mas o líder do PS, para não variar, apanhou um grande susto quando percebeu que a sua bancada parlamentar se poderia partir ao meio. Este ano, ainda antes de conhecer a proposta do Governo para o novo OE, e contrariamente ao que aconteceu no ano anterior, António José Seguro antecipa o sentido de voto do PS. Este ano Seguro joga pelo seguro e manda a lógica às urtigas. Este ano o líder do PS nem precisa de ver o documento para saber como votará o seu partido. Afinal, ele não tem qualquer espaço de manobra para votar de outra maneira que não seja contra. Contra o que quer que seja o conteúdo do OE. Caso contrário, como se viu nas negociações promovidas pelo Presidente da República durante a crise do Verão, Seguro perde de uma vez por todas o controlo do PS.

Pequenos raios de luz

Que se vão acumulando. E outro.

domingo, 8 de setembro de 2013

Torre de controlo

Paulo Portas tem pelo menos um dossier em cima da mesa na sua torre de controlo. Aparentemente, a DHL há um ano que espera luz verde para avançar com a sua plataforma logística no aeroporto de Lisboa (Público). O processo evolui lentamente, queixa-se o director de operações da empresa, Roy Hughes. Talvez porque os ministérios funcionem como mini-governos, um dado que até o senhor aqui da mercearia da esquina sabe, mas que Pedro Lomba desconhecia?
Pouco importa. O que interessa é que, tal como Liedson, Portas resolve. E assim que Filipe Santos Costa regressar de férias -- deve estar de férias porque esta semana não houve press release da torre de controlo -- saberemos as novidades todas no Expresso.

Comunicar o vazio

Mais uma entrevista de Pedro Lomba. Além de discutir os briefings pela octogésima vez, qual era mesmo o intuito da entrevista? Qual era a mensagem que se queria passar?

As notícias da minha morte...

Enésima entrevista de António José Seguro. Igual às anteriores, variando entre o fraco e o fraquinho. A quem no PSD anda já a sonhar alto com o pós-Passismo aconselha-se que respire fundo e tenha calma. É que Passos Coelho ainda se arrisca a ganhar as eleições de 2015, aliás como sempre tenho dito. É a vida.

sábado, 7 de setembro de 2013

Canal memória

Quando se tornou evidente que Pedro Passos Coelho poderia ascender à liderança do PSD, e que um dia seria eventualmente primeiro-ministro, os seus críticos dentro e fora do PSD -- alguns estão hoje no Governo... -- diziam para o diminuir que ele era uma criação de Ângelo Correia. Adicionalmente, de forma mais ou menos directa, esses mesmos críticos davam a entender que Passos Coelho seria o meio através do qual Ângelo Correia iria promover os seus interesses políticos e, sobretudo, empresariais.
Obviamente, essa tese não tinha pés nem cabeça. Se dúvidas ainda existissem, Ângelo Correia encarrega-se ciclicamente de as dissipar.

Os EUA e a Síria

Pat Buchanan, na mouche.

[Adenda]
A UE, claro, dividiu-se. Como quase sempre acontece, a linguagem vaga dos comunicados finais muito provavelmente acomodará formalmente as divergências.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Listen very carefully, I shall say this only once! [22]

Sean Goforth, "In Defense of Benign Neglect" (IPRIS Viewpoints, No. 133, September 2013).

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Luz verde

Tal como me parecia óbvio, a lei visa o território e não a pessoa.

P.S. -- Desta vez o PSD não contesta a interpretação dos juízes do Tribunal Constitucional...

Será verdade...

...que a falta de lisura de alguns clubes foi um factor valorizado e tido em linha de conta por Bruno de Carvalho?
Não sei. O que sei é que o presidente do Sporting tem sido uma agradável surpresa.

Chill out

Calma. Ler, ou reler, a moção que Pires de Lima iria apresentar no congresso do CDS. Está lá tudo aquilo que Portas, agora que é vice-primeiro-ministro, fará nos próximos tempos. Estou seguro que a partir da sua torre de controlo, o líder do CDS vai redefinir e redesenhar as orientações seguidas por Vítor Gaspar. Calma, portanto. Portas, como se sabe, obedece à sua consciência e mais não pode fazer. Calma, caro leitor.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um jornal de causas

Como se sabe, não tenho qualquer simpatia política por Luís Filipe Menezes. Não votaria nele, seguramente.  Isto dito, também não sou militante anti-Menezes, como é o Público e em particular Margarida Gomes. O mais leve sussurrar contra Menezes tem garantido destaque no Público, na esmagadora maioria das vezes pela mão da dita jornalista. Tudo o que é demais enjoa.

Não queriam...

...mais nada. Continuem a sonhar...

A Gaiola Dourada

Oui, je suis allé au cinéma pour voir la Cage Dorée. Gostei?
Sim, superou as minhas expectativas. Um pequena nota pessoal. Vivi algum tempo em Leuven, uma cidade flamenga a cerca de 30 quilómetros de Bruxelas. Não fui propriamente um imigrante, na medida em que não estava integrado no mundo do trabalho na Bélgica. Não vivi algo próximo do que se narra no filme, a começar pelo facto de não haver uma comunidade portuguesa em Leuven. Os portugueses contavam-se pelos dedos de uma mão. Mas à medida que via o filme ia reconhecendo na minha própria experiência pessoal ou naquilo que conhecia da de terceiros alguns dos clichés a que se faz referência. Enquanto estive na Bélgica visitava a família em Portugal quatro a seis vezes por ano. Inevitavelmente, confesso, na mala levei por diversas vezes bacalhau. Okay, admito, bacalhau e não só... (No filme só faltou, tanto quanto percebi, fazer referência à bica e aos enchidos em geral...) Mais. Lembro-me de fazer semanalmente 60 quilómetros (ida e volta a Bruxelas) para ir comprar jornais portugueses. Lembro-me também de ir ao Luxemburgo e beber com uma satisfação estúpida uma Sagres ou uma Super Bock. E uma bica, claro, o que eu não dava por um café como deve ser...
Sobretudo nos últimos meses, viver em Leuven tornou-se num sacrifício próximo do insuportável. O tempo, os dias cinzentos, a determinada altura não suportava mais aquilo. Admito, posso passar os dias a praguejar com a estirpe tuga (um e dois), mas é aqui que gosto de viver.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Um ranking cheio de perus?

O Jornal de Negócios, na lista a que fiz anteriormente referência, considera Paulo Portas o 4º mais poderoso da economia portuguesa. Mais poderoso do que Pedro Passos Coelho, note-se. A que se deve o seu poder?
Bem, porque "Portas provou, no último ano, que a sua presença é fundamental para a subsistência do Governo. Bloqueou por duas vezes a TSU e demitiu-se depois de Vítor Gaspar". Em suma, fez aquilo que Passos Coelho não fez, em particular a ameaça de demissão. (Um à parte: a presença de Passos Coelho no Governo, pelos vistos, é menos importante para a sua sobrevivência do que a de Paulo Portas...) Um pouco a despropósito, em certa medida, lembrei-me de uma pequena história contada por Nicholas Taleb no seu último livro:

"A turkey is fed for a thousand days by a butcher; every day confirms to its staff of analysts that butchers love turkeys 'with increased statistical confidence'. The butcher will keep feeding the turkey until a few days before Thanksgiving. Then comes that day when it is really not a very good idea to be a turkey. So with the butcher surprising it, the turkey will have a revision of belief -- right when its confidence in the statement that the butcher loves turkeys is maximal and 'it is very quiet' and soothingly predictable in the life of the turkey. This example builds on an adaptation of a metaphor by Bertrand Russell. The key here is that such a surprise will be a Black Swan event; but just for the turkey, not for the butcher.
We can also see from the turkey story the mother of all harmful mistakes: mistaking absence of evidence (of harm) for evidence of absence, a mistake that we will see tends to prevail in intellectual circles and one that is grounded in the social sciences" (cap. 5).

Em certa medida, o Negócios valoriza a exposição pública de poder e confunde falta de poder com a ausência do seu exercício. Só assim Portas pode ser considerado mais poderoso do que Passos Coelho. Cuidado, portanto: a lista do Negócios provavelmente tem diversos perus. Políticos e não só.

Vistos gold

Surpreendentemente, há alguém na Guiné-Bissau que preenche os requisitos dos chamados vistos gold. Angola, China, Rússia lideram o ranking, o que não surpreende. Curiosa a geopolítica dos vistos gold, com 'clientes' anormais tendo em conta as nossas relações diplomáticas e ausências igualmente curiosas -- Argélia, Marrocos, Moçambique, Venezuela, Médio Oriente e Ásia em geral.
Somos mesmo um país de brandos costumes. É curioso que estes vistos gold não tenham gerado a mais leve polémica. Ora, no mínimo, poderia ter lugar uma discussão sobre a sua natureza ética. Devo dizer que não tenho uma posição definida sobre o assunto, mas é óbvio que aqui se ultrapassou uma determinada linha. Deveria?

Portugal e Angola

Pedro Passos Coelho vai a Angola em Outubro, altura em que decorrerá a primeira cimeira bilateral. Portugal já tem cimeiras bilaterais regulares com Cabo Verde e Moçambique, pelo que não fazia muito sentido que Angola ficasse de fora deste mecanismo de encontros regulares. Isto, claro, assumindo que as duas partes tinham interesse nisso, o que demorou, segundo julgo saber, algum tempo a clarificar.
Por falar em Angola, acabei ontem de ler o livro O Poder Angolano em Portugal, escrito por Celso Filipe, subdirector do Jornal de Negócios e, por coincidência, autor da notícia acima citada.
Por regra, por razões óbvias, não escrevo sobre livros que entendo que não vale a pena ler, ou que tenho dúvidas que valha a pena ler. Isto dito, diria que este livro até poderia ser francamente melhor, no mínimo dos mínimos se tivesse tido alguém na equipa da editora Planeta que tivesse feito um trabalho editorial minimamente cuidado, revisto o manuscrito e sugerido um conjunto mínimo de alterações formais. Enfim, não vou ser exaustivo, até porque este texto não é uma recensão, mas apenas um conjunto de notas soltas. Alguns exemplos. O livro tem uma bibliografia recomendada à luz de um critério desconhecido. Não só a mesma é profundamente incompleta, rudimentar mesmo, não incluindo até -- o mínimo que se poderia esperar -- algumas obras que se citam no próprio livro (José Freire Antunes, Alcides Sakala, Rafael Marques, entre outros). Por falar em citações, dois problemas adicionais. As poucas notas inseridas confirmam que o autor não as sabe apresentar (a nota na p. 22, por exemplo, remete para uma pesquisa no Google, em vez de dirigir o leitor directamente para a obra que se queria referir). Depois, ao longo livro, há dezenas citações que o autor não detalha devidamente, impedindo assim o leitor, se quiser, de consultar a fonte. Siglas que não se refere o significado (PALOP), siglas que se refere o significado mais de uma vez (MPLA, UNITA), siglas que se refere o significado posteriormente à sua primeira utilização, enfim, a lista poderia continuar.
Celso Filipe é apresentado na badana do livro como "um dos poucos especialistas nacionais em África de língua oficial portuguesa" -- enfim, água benta, cada um toma a que quer -- e no texto refere com um desdém implícito a "chusma de especialistas em assuntos africanos" que emergiu em Portugal a partir de 2002 (p. 14). Admitamos que sim, i.e. que o autor é um dos happy few no clube de elite de especialistas em África lusófona. Nada contra. No meu caso faço parte da chusma de curiosos que segue os países de língua portuguesa, sem o selo de qualidade autorgado pelo autor. É a vida. Ignore-se, portanto, o que tenho escrito sobre Portugal e Angola, curiosamente até sobre o assunto que é o tema central deste livro. O facto de o autor ser um dos poucos especialistas sobre África lusófona em Portugal explica, porventura, o número limitadíssimo de fontes que cita, as poucas entrevistas que realizou, e o uso e abuso de citações de Xavier de Figueiredo e respectiva Africa Monitor. Afinal, o resto é paisagem...
Mas não queria que este texto fosse marcadamente negativo, como receio que esteja a ser. Tenho muito respeito por quem escreve e investe nesse esforço dezenas e dezenas de horas. Para terminar numa nota mais positiva, diria que o grosso da informação contida é do conhecimento público e por isso acrescenta pouco a quem conheça o assunto. Mas para quem não conheça, diria que se trata de um bom ponto de partida. Uma espécie de manual para iniciantes.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Uma dúvida

Respeitando, evidentemente, o princípio da separação de poderes, existe alguma razão válida que impeça o Governo de estabelecer contactos prévios e informais com alguns membros do Tribunal Constitucional para aferir qual é a sua leitura de uma determinada matéria?

Em destaque [23]

domingo, 1 de setembro de 2013

Um mau momento

"Já alguém se lembrou de perguntar aos 900 mil desempregados de que lhe valeu a Constituição até hoje?"
É,  muito provavelmente, a frase mais infeliz de Pedro Passos Coelho desde que é primeiro-ministro. Custos do improviso. Bem pode vir dizer que não era bem aquilo que queria dizer, ou que estão a distorcer o sentido das suas palavras. O mal está feito e vai levar muita pancada à custa desta pergunta. É a vida.

Questões de ADN [2]

Ainda a estirpe de tuga. Levar o cão para a praia, claro, de preferência sem trela ou açaimo. Quem está mal que se mude. Ou que fique em casa. E quem tem filhos pequenos que tome conta deles. Os putos estão a incomodar-me o cão.

Continua o desacerto? [2]

Esta intervenção leva a lado nenhum. Sejamos claros. A decisão foi tomada por unanimidade. Repito, por unanimidade, i.e. incluindo dois juízes próximos do PSD. O Governo apenas se pode queixar de si próprio. Corrija aquilo que tiver de ser corrigido e siga em frente.

Gás natural em Angola

Uma nota complementar ao artigo de Luís Villalobos no Público sobre o início da exportação de gás natural liquefeito (GNL) angolano. Sim, trata-se de uma nova fonte de receitas a adicionar ao petróleo. Luís Villalobos não o diz explicitamente, mas percebe-se que o GNL vem redefinir o mix de exportações energéticas e com isso vem alterar as fontes de receita. Importa, todavia, ir um pouco mais longe sobre o alcance estratégico desta aposta de Luanda. Aparentemente, com os dados que hoje se conhecem (algo que pode mudar), Angola terá reservas de crude para extrair durante mais duas décadas. Assim, o GNL que agora surge como uma fonte de receita complementar, a longo-prazo poderá ser a alternativa possível. Faltou, julgo, vincar este ponto relevante.

Em destaque [22]

Teresa Cid, Teresa Alves, Irene Blayer e Francisco Fagundes (coord.s), Portugal Pelo Mundo Disperso (Tinta da China, 2013).

Continua o desacerto?

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, na sequência da decisão do Tribunal Constitucional (TC), coloca a possibilidade de um segundo resgate a Portugal. O ministro-adjunto Miguel Poiares Maduro considera que a interpretação da Constituição feita pelos juízes do TC pode condicionar os direitos das gerações futuras.
No alto da sua "torre de controlo", Paulo Portas ignora o registo de dramatização seguido por Passos Coelho e Poiares Maduro e opta exactamente pela via contrária, frisando que o Governo será capaz de encontrar uma solução para o chumbo do TC ao novo regime de mobilidade na função pública.
Moral da história?
Um Governo, dois partidos, duas estratégias distintas na reacção ao TC. Em suma, continua o desacerto. Pessoalmente julgo que o caminho que Passos Coelho está a seguir é, uma vez mais, errado. Persistir numa espécie de confronto com o TC, dando a entender que o Governo está de mãos atadas, não garante uma solução, não contribui para tranquilizar a opinião pública, nem reforça a confiança no Governo. Nada.