quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A maldita falta de memória

Na passada Primavera a atmosfera que se respirava era francamente optimista. O regresso aos mercados era uma hipótese que se discutia abertamente e a próxima frente de batalha passava por conseguir que o rating de Portugal fosse revisto em alta. Repito o que já escrevi anteriormente. Confesso que pensei que tinha sido demasiado pessimista, que me tinha enganado, ainda que para mim fosse cristalino que haveria crise política da grossa algures em 2013.
Tudo isto são agora memórias, uma nota de rodapé na história futura destes dias. Hoje o regresso aos mercados é uma hipótese remota no curto e médio prazo, e o rating não só não melhorará tão depressa como ainda por cima poderá piorar.
O Governo é a entidade que mais informação possui para decidir qual o melhor caminho a trilhar. Visto de fora, a mim parece-me que ontem, com a decisão da S&P, a tentativa de rever em alta as metas do défice para o próximo ano sofreu um duro e pesado revés. No mínimo talvez fosse melhor ter alguma contenção nas declarações públicas.
Lamento, lamento mesmo muito, que tenhamos uma memória curta e que o tempo dilua a memória dos dias que temos vindo a viver desde que fomos obrigados a pedir auxílio externo. Os portugueses -- por portugueses leia-se opinião pública em geral, mas também políticos, empresários, reguladores, banqueiros -- que tanto gostam de tatuar o corpo deveriam ter obrigatoriamente um tattoo na testa, para que fossem permanentemente confrontados com isso e em momento algum o esquecessem, a dizer que um Estado endividado até ao tutano é um Estado miseravelmente frágil. Um Estado que gasta o que não tem mais tarde ou mais cedo está metido num grande sarilho.

P.S. -- Entretanto, o sujeito que nos enfiou neste buraco sem fim parece que vai lançar um livro. É assim a política. O responsável pelo atoleiro em que nos encontramos faz a sua vidinha na boa como se nada fosse com ele. Isto diz mais sobre nós do que sobre ele.

[Adenda]
Sobre a contenção verbal, eis o pedido de silêncio. Isto dito, não deveria ter sido o líder do PSD e primeiro-ministro a fazer essa intervenção?