O Público noticia que o nosso aposentado de Belém se recusou a fazer comentários sobre os cortes de 10% nas pensões da Caixa Geral de Aposentações anunciados pelo Governo, argumentando que o diploma ainda nem sequer entrou na Assembleia da República. "Nós não conhecemos neste momento a versão final" da proposta, defendeu Aníbal Cavaco Silva, lembrando que só depois de aprovado o diploma é que será submetido ao Presidente, e só nessa altura o deverá comentar.
Até aqui tudo bem. O nosso aposentado de Belém, numa abordagem razoável, afirma algo óbvio, i.e. que não pode comentar o que não conhece. Mas subitamente tudo se complica. Não podendo comentar, tal não quer dizer que não possa rotular o que desconhece. E sem mais demoras, o nosso aposentado de Belém classifica como "um novo imposto extraordinário" o tal diploma que ainda não chegou ao Parlamento. Confuso, caro leitor?
Passo a explicar a doutrina presidencial dos impedimentos selectivos: não se pode comentar o que não se conhece, mas isso não impede que se possa colocar desde já um rótulo valorativo nesse mesmo desconhecido.
Às duas por três, no meio desta intricada teia de impedimentos não-lineares, fiquei sem perceber se o nosso aposentado de Belém defende a primazia da prudência imprudente, ou da imprudência prudente. Uma coisa é certa: a vidinha custa a todos e Cavaco Silva, como se sabe, há meses em que tem dificuldade em esticar o dinheiro para fazer face às despesas. Ora, com um novo imposto, o Presidente correria o risco de poder passar fome.