Desiluda-se quem -- ainda? -- pensa que a troika ignora a componente política e se concentra apenas em aspectos técnicos. Isto, com as suas fontes não identificadas, é 100% político e 0% técnico. As fontes não são identificadas, mas estão por todo o lado as impressões digitais de sectores da Comissão Europeia.
O timing do artigo, cirurgicamente publicado na véspera das eleições autárquicas, não poderia ser, aliás, mais político. No Público, como sempre, a fronteira entre fazer política e informar também tem contornos elásticos. Ironia das ironias: o Público que está farto de malhar e de criticar a troika faz agora descaradamente o seu jogo, ou o jogo de sectores da troika, para ser mais preciso, em prejuízo da estratégia negocial do Governo. Afinal, o inimigo do meu inimigo é meu amigo. No fundo, a malta no Público odeia a troika, mas a verdade é que odeia ainda mais o Governo.
Escrevo ao final da tarde. O artigo da troika via Público continua a merecer o maior destaque possível na página principal online e o desmentido da Comissão e do Governo, em on e sem máscaras, surge apenas com uma referência discreta a remeter para as páginas interiores.
A isto chama-se equilíbrio, isenção e imparcialidade. Bem podem limpar as mãos à parede.