domingo, 13 de outubro de 2013

A falácia

Ciclicamente, o PS abre a porta a um entendimento pós-eleitoral com o PSD. Não com 'este' PSD 'liberal', diz Álvaro Beleza, mas com o 'outro' PSD de cariz 'social-democrata'. A intenção de abrir a porta a um futuro entendimento com o PSD é evidente, ainda que para tal se tenha de construir uma ficção sem qualquer adesão à realidade. Evidentemente, em caso de derrota nas próximas eleições legislativas, Pedro Passos Coelho nunca integrará um Governo liderado por António José Seguro, pelo que o PSD será sempre 'outro'. O PS poderá sempre argumentar que se coligou com o 'outro' PSD 'social-democrata'. Tretas, portanto.
A realidade, no entanto, de modo algum sustenta a tese de que vigora actualmente em Portugal um Governo de cariz liberal. Não há absolutamente nenhuma coerência na acção do Governo desse ponto de vista. (A única coerência, o único fio condutor, é o cumprimento do programa de resgate, custe o que custar.) A preocupação com a coerência programática terá existido em parte na formulação do programa com que o partido se apresentou nas eleições legislativas de 2011, porventura terá estado presente no programa de Governo, mas rapidamente a realidade ultrapassou qualquer preocupação de teor doutrinário. (Veja-se as voltas que a RTP já deu nas mãos deste Governo.) Os ministros que integraram o Governo em 2011, ou aqueles que o integram hoje -- e nem vale a pena falar dos do CDS -- foram escolhidos à luz dos mais diversos critérios, mas a consonância com um perfil liberal não foi seguramente um deles.
O PS precisa de dourar a pílula. Compreendo. É a vida. Mas, por favor, à força de repetir estas balelas não acreditem que são mesmo verdade.