sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A sociedade civil e a Praia da Figueirinha [1]

Niall Ferguson conta, em The Great Degeneration (quarto capítulo: Civil and Uncivil Societies, pp. 111-114), uma pequena história que gostaria aqui de repetir resumidamente. Há cerca de 10 anos, Ferguson comprou uma casa na costa de Gales do Sul (South Wales). Muito rapidamente constatou que a costa junto ao mar estava cheia de lixo. Muito plástico, muita lata, muito vidro, em suma. Ferguson rapidamente constatou o óbvio. Nenhum organismo público tratava da limpeza da costa. Em resposta ao descuido público, cada vez que dava um passeio junto à costa, Ferguson começou a andar com um saco e a apanhar os detritos que conseguia, tendo rapidamente constatado que a tarefa era impossível de realizar apenas por uma pessoa. Perante esta realidade, ele procurou mobilizar voluntários para o ajudarem na tarefa. Na primeira vez a mobilização foi diminuta. Na segunda, entrou em campo o ramo do Lions Club local e o exercício assumiu uma escala totalmente diferente, num exemplo daquilo que a sociedade civil pode fazer através do voluntariado.
Onde quero chegar com esta história, pergunta o leitor. Bom, lembrei-me deste exemplo porque passei hoje à tarde pela Praia da Figueirinha, na Serra da Arrábida. A época balnear terminou recentemente, mas como acontece todos os anos, o areal junto ao mar começa a acumular o lixo que o mar devolve. Talvez seja preconceito meu, mas a minha experiência diz-me que as pessoas que trabalham no mar -- do pequeno pescador ao barco de grande dimensão -- são uma fauna particularmente javarda. Todos os anos, as praias, entre o Outono e a Primavera, acumulam todo o tipo de porcaria que o mar rejeita. Quem já caminhou junto ao mar numa praia nesta altura sabe do que estou a falar. Um breve passeio e encontramos muito plástico, muita lata, muita embalagem cartonada de leite e sumo, e muito vidro. Um pouco como Ferguson, hoje decidi -- aliás, não é a primeira vez -- deitar mãos à obra. Em vez de ficar à espera do Estado, em cerca de 5 a 10 minutos recolhi o que se pode ver na imagem. Como -- ainda? -- lá estão os contentores de selecção de lixo que foram colocados no Verão no passeio junto aos parques de estacionamento, tal quer dizer que até se pode separar de imediato o que se apanhou. Naturalmente, muito mais ficou por apanhar. Pela minha parte, que quase todos os fins de semana vou até à Serra da Arrábida ler os jornais e beber um café, voltarei seguramente a fazer o mesmo. Quem quiser seguir o exemplo será seguramente bem vindo em nome do interesse comum. Bem sei que a nossa sociedade civil é mais do tipo de criticar tudo e todos a partir do sofá. Altura, talvez, para começar a mudar?