Pelos vistos, de parte a parte, há quem não aprecie devidamente os dividendos da paz em Moçambique. RENAMO e FRELIMO recriminam-se mutuamente e, na verdade, as duas forças políticas provavelmente têm motivos para se queixar uma da outra. Raramente a realidade é simplesmente a preto e branco. Em última instância, a decadência política da RENAMO, que se tem vindo a acelerar, é o que mais me preocupa. Pessoas desesperadas cometem actos desesperados. A FRELIMO, dona e senhora do panorama político e por consequência do Estado, não teve até agora o golpe de rins necessário e a magnanimidade dos vencedores para ajudar a RENAMO na sua própria evolução e renovação interna.
A escalada na degradação da situação interna em Moçambique atingiu agora um ponto de alto risco. O regresso à guerra civil não é uma opção racional, mas, repito, pessoas desesperadas cometem actos desesperados. Isto dito, ainda há espaço para que prevaleça o bom senso.
Numa daquelas partidas que a História nos prega, a CPLP não poderia estar em piores condições para mediar o que quer que seja em Moçambique. Actualmente, o secretário-executivo da CPLP é moçambicano. Murade Murargy é um diplomata -- pouco diplomático e um tagarela com propensão a esticar-se na conversa -- que foi durante vários anos secretário-geral da Presidência da República de Moçambique. Pela sua proximidade à FRELIMO, ou pelas declarações críticas que fez em relação à RENAMO, Murargy não tem condições nenhumas para ter um papel relevante. Aos Estados-membros da CPLP resta, se tanto, intervir por canais bilaterais. Com um pouco de sorte, como no passado, será a Igreja quem encontrará a via para uma solução que sirva as duas partes e, sobretudo, os moçambicanos.