O primeiro-ministro de Timor-Leste, José Alexandre 'Xanana' Gusmão, afirmou que a CPLP é incapaz de ir além de questões como a história ou a língua, reclamando um "cariz mais económico" para a organização.
Vamos por partes. A ser verdade -- e é... -- tal resulta da própria vontade dos Estados-membros, por acção ou por omissão. A CPLP não tem progredido como se desejaria porque não existe um consenso quanto a isso. Xanana quer um cariz mais económico. Certo. Mas querem todos? Em que termos, com que custos e benefícios, e com que repartição?
Escrevi em Junho de 2012 precisamente sobre o facto de a CPLP não ter uma estratégia global. Não tinha na altura e continua a não ter agora. O maior exemplo actual disso é todo o processo à volta da eventual adesão da Guiné-Equatorial à CPLP. É certo que há responsabilidades partilhadas no arrastar do processo. Mas a ausência de uma estratégia global e de um rumo para a CPLP complica tudo.
Em 2014 Timor-Leste terá no colo a batata quente da Guiné-Equatorial. Será a terceira cimeira consecutiva de chefes de Estado e de governo em que a questão será discutida (Luanda 2010, Maputo, 2012 e Díli 2014). Espera-se que, desta vez, haja maior capacidade política para gerir o assunto. Portugal não pode e não deve ser uma vez mais percepcionado como o grande obstáculo à sua adesão. A Guiné Equatorial não pode ser humilhada diplomaticamente uma terceira vez. E a Guiné Equatorial, já agora e de uma vez por todas, tem de cumprir o caderno de encargos com que se comprometeu.
Regresso às declarações de Xanana. Não basta falar. Que caminho propõe? Por onde se começa? Qual a estratégia a adoptar?
Não basta dizer o que se quer. É preciso actuar de modo a concretizar aquilo que se quer. O que é que Xanana já fez até ao momento para assegurar aquilo que defende?