domingo, 27 de outubro de 2013

E agora, Geórgia?

Afirmar, como aqui se faz, que, com a vitória de Giorgi Margvelashvili nas eleições presidenciais de hoje na Geórgia, se encerra um capítulo nas relações privilegiadas de Tbilisi com o Ocidente e que se vai assistir à normalização das relações com a Rússia, é uma leitura grosseira e simplista. Errónea, na verdade.
Sim, é claro que continua o processo de reequilíbrio na política externa da Geórgia, que começou, aliás, com a eleição do primeiro-ministro Bidzina Ivanishvili em Outubro de 2011. Ivanishvili foi, de facto, muito claro na sua intenção de melhorar as relações com a Rússia. O aprofundamento das relações da Geórgia com a União Europeia e a NATO manteve-se, no entanto, como as duas principais prioridades de Tbilisi. A primeira deslocação ao estrangeiro de Ivanishvili foi, importa lembrar, a Bruxelas. Nada, absolutamente nada, do que aconteceu nos últimos dois anos aponta para o encerrar de "um capítulo nas relações privilegiadas com o Ocidente". Mais. A Geórgia não é um Estado-membro da UE ou da NATO porque, precisamente, uma e outra não lhe abrem a porta da adesão. É, por isso, perfeitamente compreensível que a Geórgia procure normalizar as suas relações com Moscovo, ou não?
Last but not the least, a Rússia não manifestou nos últimos dois anos qualquer pressa em normalizar as relações com a Geórgia, precisamente porque não houve até ao momento da parte de Tbilisi um virar de costas ao Ocidente, ou uma decisão no sentido de integrar única e exclusivamente a sua esfera de influência. A eleição de Giorgi Margvelashvili, do ponto de vista da política externa da Geórgia, traduz uma linha de continuidade em relação ao processo de reequilíbrio, perfeitamente legítimo e natural, que se iniciou em Outubro de 2011. Nada mais. A ter algum impacto, o resultado das eleições presidenciais de hoje situa-se exclusivamente no domínio da política interna e representa, tanto quanto é possível antecipar, a consolidação do poder de Ivanishvili. Tão simples como isto.