O discurso de José Eduardo dos Santos marcará seguramente o curto-prazo na relação diplomática bilateral. Não sei se existem de momento condições políticas para realizar a cimeira entre Lisboa e Luanda em Fevereiro. Um novo adiamento, porventura, não faria mal nenhum.
A tensão política é, a partir de agora, assumida e difícil de disfarçar. No entanto, ainda que a tomando a sério, não ficaria especialmente alarmado com a intervenção do Presidente angolano. Por uma razão muito simples. É que a vaga de investimentos angolanos em Portugal veio equilibrar a relação. Agora os dois países têm muito a perder se o caldo entornar. Antes era apenas Portugal que perdia forte e feio. Agora o impacto vai nos dois sentidos. Acresce que, também devido a outros tabuleiros, Lisboa e Luanda têm muito a ganhar em não deixar a crise escalar. Tudo somado, Portugal e Angola estão obrigados a entender-se, ainda que no plano diplomático possa existir, aqui e ali, momentos de tensão.
P.S. -- Vale a pena tentar perceber como, no curto-prazo, se chegou aqui. Salvo melhor hipótese, julgo que o que se passou na comissão de Negócios Estrangeiros foi o ponto de viragem. Foi a partir desse momento que tudo se precipitou. Nem a visita de Luís Campos Ferreira permitiu serenar os ânimos. Aliás, o SENEC chega a Luanda sabendo de antemão, por decisão de Luanda, que a cimeira seria adiada para 2014. Antes, as declarações de Machete, a intervenção da PGR, e, sobretudo, a decisão do PS de criar um caso político fizeram o resto.