A Filosofia Clássica
Por algum tempo acreditei nas virtudes da doutrina
platónica. Pude entrar no interior da caverna, e ver por dentro
o destino dos homens, com o seu peso de sabedoria e
ignorância. Uns subiam o caminho das ideias, e muitos ficaram
a meio, sem saber o que estava no fim; outros, nem pensavam,
e as suas conversas tratavam do vazio que pode encher
muitas vidas. Entre uns e outros, não optei. Para quê pensar
demasiado, se o que sabemos é sempre menos do que
tudo o que nunca saberemos? E porquê esquecer os problemas
como se, um dia, não tivéssemos de os enfrentar? Assim,
pus Platão de parte -- e saí da caverna, trazendo comigo a procissão
dos morcegos, o mofo das profundezas e a minha própria sombra (p. 43).
Nuno Júdice, Navegação de acaso (D. Quixote, 2013).