João Cardoso Rosas pede mais honestidade intelectual ao que designa de nova direita, entidade essa que aparentemente está no poder. Intelectualmente honesto, Rosas não refere um único nome dessa nova direita que possamos ter como referência para perceber de que direita se trata, se realmente está mesmo no poder, e se é minimamente representativa. Como refutar, em última instância, uma acusação que não identifica o alvo?
Naturalmente, por uma questão de honestidade intelectual, Rosas não se cansa de lembrar que faz parte do conselho coordenador do Laboratório de Ideias do PS. Faz bem, em nome dessa transparência e desses altos padrões que defende. Adiante. Rosas entende que a tal nova direita sem rosto apresenta argumentos empíricos duvidosos, por exemplo em relação ao salário mínimo. Confesso que essa não é a minha praia. Leio, por isso, sempre com muita atenção o que escreve Luís Aguiar-Conraria. Atendendo ao que já aprendi com ele -- o que escreveu sobre o salário mínimo leva-me, no mínimo, a suspeitar de que fará parte dessa tal nova direita --, nesta como noutras matérias, só posso dar o meu tempo por bem empregue. E uma das coisas que aprendi com ele é que, no domínio do salário mínimo, por exemplo, as questões são um pouco mais complexas do que se possa pensar à primeira vista, e que as simplificações poderão ser úteis para o combate político, mas para um debate intelectualmente honesto ajudam pouco.
Mas por falar em ajuda, como se imagina, a nova direita sem rosto não está no poder para ajudar ninguém. O seu objectivo é um e um apenas: reduzir drasticamente o Estado social e vender isto tudo aos grandes interesses económicos por tuta e meia. Isto é tão evidente que quem disser o contrário é intelectualmente desonesto.