Considero inteiramente legítima e compreensível a indignação do cidadão comum em relação aos jobs for the boys quando manifestamente o currículo é escasso e a remuneração exagerada em função da experiência profissional. Repito, a indignação é legítima e compreensível. Nada a dizer. Mas já tenho alguma coisa a dizer quando essa indignação é manifestamente hipócrita e expressa por pessoas que participaram no Governo de José Sócrates, onde o fenómeno dos jobs for the boys foi igual ou, muito provavelmente, pior. Esses, se tivessem um pingo de vergonha na cara estavam caladinhos em vez de procurar explorar, demagogicamente e sem um pingo de moral, o pulsar legítimo e compreensível do cidadão comum.
Isto dito, há muito tempo que defendo que os salários no Governo deveriam ter um plafond mínimo e máximo e que deveriam igualmente ter uma fórmula de cálculo baseada, por exemplo, na declaração de IRS dos últimos três ou cinco anos. Esta proposta poderia não resolver por completo o problema, mas no mínimo introduzia alguma racionalidade e moralidade nas remunerações.
Naturalmente, pode haver outras soluções, eventualmente até melhores do que esta que aqui proponho (julgo que Santana Lopes foi a primeira pessoa a sugerir algo semelhante). Manter tudo tal como está é que não me parece uma abordagem razoável.