quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Sobre o pagamento de conteúdos digitais

Posso estar enganado, mas julgo que a opção do Público vai ser um tremendo fiasco. Por várias razões. Em primeiro lugar, uma grande parte dos artigos, a esmagadora maioria, não acrescenta muito valor acrescentado ao leitor. O que significa que muitos migrarão para outras plataformas. É certo que uma parte significativa nunca estaria disposta a pagar os conteúdos aos quais têm acesso. Mas há outros que eventualmente poderiam estar se reconhecessem, de facto, ao jornalismo do Público valor acrescentado, o que em muitas circunstâncias não é o caso. O Público perderá tráfego, receitas e influência, sem que, julgo, o volume de negócio gerado por esta nova estratégia compense o que se perde. Haverá, obviamente, quem adira à nova opção, imagino que em larga maioria quem viva fora de Portugal, mas, repito, parece-me que será uma adesão marginal.
Em segundo lugar, tenho dificuldade em perceber como é que esta nova opção não colide com a estratégia anterior. Mais do que acrescentar receita, esta opção arrisca-se a canibalizar a receita oriunda das assinaturas digitais e em papel, bem como das vendas diárias em papel.
Em terceiro lugar, o Público não é propriamente o New York Times ou o Financial Times. A marca Público não me parece ser suficientemente forte para sustentar uma estratégia desta natureza, nem o universo de potenciais leitores é suficiente vasto para permitir este exercício.
Por tudo isto, julgo que a nova estratégia vai ser um flop. Veremos.

[Adenda]
António Granado manifesta igualmente reticências sobre esta opção.