Lembra-se disto, caro leitor? Na altura esta frase deu que falar e não faltaram manifestações de grande indignação. O tempo, como sempre, encarregou-se de enterrar a polémica na secção do arquivo morto.
Curiosamente, esta prosa de Nicolau Santos -- sempre ele -- tem sido injustamente ignorada. Se o seu apelido fosse Espírito Santo tinha atenção garantida, mas como é o Santos da Impresa pode dizer o que quiser que já ninguém liga. E, no entanto, o conteúdo não anda muito longe da frase (mais directa e expontânea) de Cristina Espírito Santo.
Nicolau foi de férias, pelo que se percebe. Esteve num autêntico paraíso. Não havia stress. Não havia bancos. Não havia luz eléctrica pública. Não havia estradas alcatroadas. Não havia engarrafamentos, uma vez que quase que não havia carros. A malta, em geral, ganhava apenas o salário mínimo -- metade do nosso, vejam lá os mãos largas. Em suma, a rapaziada vivia com pouco e aparentemente sem grandes luxos. Pobrezinhos, no fundo. Um encanto. Ao fim de dez longos dias de brincadeira, uma vida de observação como se percebe, Nicolau conclui que "não [lh]e pareceu que os habitantes do local fossem mais infelizes do que nós". O leitor repare bem: o mesmo Nicolau que se farta de zurzir o Governo por nos estar a tornar todos mais pobres faz neste artigo a apologia de "outras maneiras de viver", no fundo com cheta e meia. Infelizmente, os dez dias não deram para brincar em todos os escorregas do paraíso e ficou por dizer uma palavra sobre o sistema de saúde, o ensino, ou a segurança social, mas estou certo que serão também um espectáculo. Como se sabe, os pobres fazem milagres com o salário mínimo.