domingo, 1 de dezembro de 2013

Europa: regras, direitos, favores

aqui e aqui tinha feito referência à agitação subterrânea que começa a agitar o PSD -- no PS a situação será igual -- tendo como pano de fundo as próximas eleições europeias. A edição do Expresso desta semana vai mais longe e toca já no dossier relativo à escolha do próximo comissário europeu a designar por Portugal. Como sempre nomes e candidatos não faltam. Na verdade ninguém sabe ainda quem será o escolhido, mas isso pouco importa. Muito possivelmente nem o primeiro-ministro tem ainda a questão resolvida na sua cabeça. Veremos a seu tempo.
Mas a parte mais deliciosa vem na última página do jornal. Para minha surpresa leio que o PS -- sim, caro leitor, leu bem -- quer escolher o próximo comissário europeu. No Governo ou na oposição, o PS mantém a mesma sede em relação a lugares de topo. A argumentação ensaiada é divina. Primeiro, a questão da legislatura. Segundo, o apoio à renovação do mandato de Durão Barroso. Vamos por partes. Alguém em nome do PS, recorrendo ao off do costume, afirma que o próximo comissário europeu ficará no cargo para além desta legislatura e por isso deve ser alguém indicado pelo PS. Naturalmente, primeiro ponto, estamos a partir do pressuposto de que o PS vencerá as próximas eleições legislativas. No fundo, bem vistas as coisas, talvez nem valha a pena perder tempo a consultar os portugueses. Afinal, a vitória do PS são favas contadas. Segundo ponto, não consigo encontrar um argumento válido para sustentar a tese de que um comissário europeu indicado pelo PSD não conseguirá articular com um eventual Governo liderado pelo PS -- e possivelmente em coligação com o PSD -- posições que defendam, na medida do possível, os interesses de Portugal. Por mero acaso António Vitorino apresentou a sua demissão de comissário europeu quando Durão Barroso foi eleito primeiro-ministro por manifesta incapacidade de se articular com um Governo PSD/CDS? Ou será que a incapacidade de articulação diz respeito apenas a comissários indicados pelo PSD? Esta gente acha que os portugueses são todos tolos?
Mas vamos ao segundo argumento. O Governo de José Sócrates apoiou a renovação do mandato de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia e, nessa medida, o PSD deve 'pagar' o favor. Peço desculpa, mas José Sócrates tinha alternativa? Talvez valha a pena lembrar que o PS ainda ensaiou em 2004, sem sucesso, a tentativa de lançar António Vitorino para a Comissão. Falhada essa tentativa, em 2009 o PS não tinha uma alternativa para apresentar. Nessa medida, o apoio de Sócrates era irrelevante. Em suma, cobrar agora esse suposto 'favor' é treta, pura e dura.
Não estão em causa pessoas em concreto. Não faltam destacados militantes do PS que pessoalmente veria com todo o gosto como comissário europeu se o ciclo político fosse outro. Pura e simplesmente, não é, e a regra não escrita define que quem está no Governo escolhe o comissário europeu, ponto final, parágrafo.