"António Costa e Rui Rio nunca foram primeiros-ministros ou, sequer, líderes partidários. Nunca foram postos à prova nesses cargos de elevado desgaste de popularidade, têm estado preservados em funções secundárias. De Rio mal se conhece um pensamento político estruturado e diferenciado. De Costa sabe-se que apoiou a triste governação de Sócrates até ao último minuto.
Há, pois, o sério risco de um preocupante downgrade político nas presidenciais de 2016."
José António Lima (Sol, 31.1.2014: 54).
José Ortega y Gasset: "Yo soy yo y mi circunstancia". Liberdade e destino. A vida é isto, o que não é pouco.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Nuno Moura: Canto Nono
quem é que incendeia a sua própria casa sem estar nas lonas?
a minha casa é um anexo da tua
e a tua é um anexo de outro
viver em altura faz mal
viver defronte do outro é ainda pior
entre olho de pau
de pé olho mau.
a minha casa é um anexo da tua
e a tua é um anexo de outro
viver em altura faz mal
viver defronte do outro é ainda pior
entre olho de pau
de pé olho mau.
Nuno Moura, Canto Nono (Douda Correria, 2013).
José António Saraiva dixit
"Com o aproximar das eleições, em que a tentação da maioria será abrir os cordões à bolsa, o PS deveria assumir-se como o partido da disciplina e denunciar tudo o que cheirasse a eleitoralismo.
Se o fizesse, credibilizava-se.
Mas, pelo que temos visto, fará exactamente o contrário: continuará a criticar a austeridade, que nos salvou da bancarrota, e a exigir mais despesa.
Continuará a prometer o impossível."
José António Saraiva, "Da Europa connosco ao orgulhosamente sós" (Sol, 31.1.2014: 2).
Se o fizesse, credibilizava-se.
Mas, pelo que temos visto, fará exactamente o contrário: continuará a criticar a austeridade, que nos salvou da bancarrota, e a exigir mais despesa.
Continuará a prometer o impossível."
José António Saraiva, "Da Europa connosco ao orgulhosamente sós" (Sol, 31.1.2014: 2).
Fernando Ulrich: saída limpa ou cautelar? [2]
Ulrich esqueceu-se também da inevitável Manuela Ferreira Leite. Ela até já tem as continhas todas feitas. E sabe tudo, nomeadamente as condições -- que ninguém conhece -- em que o cautelar nos será proposto. E sabe também que o cautelar -- que provavelmente terá de ser aprovado por alguns parlamentos nacionais -- passará nessa consulta. Pose e achismo. Santa paciência.
Fernando Ulrich: saída limpa ou cautelar?
Segundo Fernando Ulrich, "qualquer das vias pode ser utilizada com sucesso e de forma positiva para o País". Mas acrescentou que "quem tem informação para tomar essa decisão é o primeiro-ministro, o vice-primeiro-ministro, a ministra das Finanças e o governador do Banco de Portugal. Essa decisão depende também dos nossos credores e dos nossos aliados europeus".
Ulrich, seguramente por lapso, esqueceu-se de incluir Rui Rio, entre outros, no grupo dos informados. Em todo o caso estou certo que a tese de Rui Rio do barquinho a remos não deixará de ser tida em conta nas mais altas instâncias de decisão, nacionais e europeias. E pronto, lá volto eu à questão da pose e do achismo.
Ulrich, seguramente por lapso, esqueceu-se de incluir Rui Rio, entre outros, no grupo dos informados. Em todo o caso estou certo que a tese de Rui Rio do barquinho a remos não deixará de ser tida em conta nas mais altas instâncias de decisão, nacionais e europeias. E pronto, lá volto eu à questão da pose e do achismo.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
BANIF: o atraso [2]
O Tratado Orçamental de António Costa
Pedro Correia citava recentemente um artigo de Viriato Soromenho-Marques em que ele frisava que "são as respostas concretas que alimentam uma liderança. A pose não chega".
A actividade diária na política portuguesa está cheia de pose e de achismo. Actualmente, por exemplo, alguém que tenha algum peso político-partidário tem de ter opinião -- tem de 'achar' alguma coisa -- sobre a saída limpa versus programa cautelar, ainda que não tenha qualquer informação ou conhecimento para sustentar essa posição.
Adiante. Lembrei-me das palavras de Soromenho-Marques enquanto escutava António Costa (ver secção multimédia do Jornal de Negócios). Costa 'acha' que o PS cometeu um erro quando aprovou o Tratado Orçamental (TO) e, nessa medida, espera que tenha sido "o último erro que os socialistas cometeram". Qual era a alternativa, pergunta o jornalista: acha que o PS não devia ter aprovado o TO?
Colocado perante a obrigação de dar uma "resposta concreta", a que aludia Soromenho-Marques, Costa recua e diz que "provavelmente na altura em que aprovámos o TO não havia outra solução senão aprovar o TO". O erro que Costa detectou, afinal, não foi bem um erro porque a verdade é que não havia uma alternativa. A "resposta concreta" ficou para outro dia, pois, resumida a coisa, Costa apenas considera que o TO tem de ser revisto. Conversa sem substância e sem respostas concretas, no fundo. Pose e achismo. É por esta e por outras que estamos na situação em que estamos.
A actividade diária na política portuguesa está cheia de pose e de achismo. Actualmente, por exemplo, alguém que tenha algum peso político-partidário tem de ter opinião -- tem de 'achar' alguma coisa -- sobre a saída limpa versus programa cautelar, ainda que não tenha qualquer informação ou conhecimento para sustentar essa posição.
Adiante. Lembrei-me das palavras de Soromenho-Marques enquanto escutava António Costa (ver secção multimédia do Jornal de Negócios). Costa 'acha' que o PS cometeu um erro quando aprovou o Tratado Orçamental (TO) e, nessa medida, espera que tenha sido "o último erro que os socialistas cometeram". Qual era a alternativa, pergunta o jornalista: acha que o PS não devia ter aprovado o TO?
Colocado perante a obrigação de dar uma "resposta concreta", a que aludia Soromenho-Marques, Costa recua e diz que "provavelmente na altura em que aprovámos o TO não havia outra solução senão aprovar o TO". O erro que Costa detectou, afinal, não foi bem um erro porque a verdade é que não havia uma alternativa. A "resposta concreta" ficou para outro dia, pois, resumida a coisa, Costa apenas considera que o TO tem de ser revisto. Conversa sem substância e sem respostas concretas, no fundo. Pose e achismo. É por esta e por outras que estamos na situação em que estamos.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Rui Moreira: já?
Começam cedo as trapalhadas do menino d'oiro da Foz. Veremos quanto tempo dura a boa imprensa.
Cavaco Silva: co-adopção [2]
Ei-los, rapidamente a saír da toca. Agora já queriam decisões políticas, independentemente da constitucionalidade.
Cavaco Silva: co-adopção
Sem surpresas, portanto. Aposto que alguma Esquerda que nos últimos dois anos, por tudo e por nada, tem pedido ao Presidente para pedir a fiscalização da constitucionalidade de tudo e mais alguma coisa, em coerência, agora está radiante com esta decisão.
A implosão da Esquerda?
De facto, há qualquer coisa de inexplicável no ar. E o resultado pode ser este.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Com as eleições europeias...
...à vista, altura para os partidos políticos voltarem a redescobrir o encanto das redes sociais?
Sondagem: boas notícias? mas para quem?
Quase que custa a acreditar nos valores desta sondagem. A esta distância, com uma abstenção muito elevada e sem se conhecerem ainda os cabeças de lista, a minha reacção imediata vai no sentido de a desvalorizar. Mas assumindo que poderia ser este o resultado nas eleições europeias, este triunfo do PSD e do CDS poderia vir a ser uma vitória de Pirro. António José Seguro seria liquidado no dia seguinte, assumindo que ele próprio não se demitiria na noite eleitoral. Ora, numa perspectiva puramente táctica e de interesse partidário, esse não é um resultado que interesse de certeza absoluta ao PSD ou ao CDS.
Mas seria do nosso interesse comum?
Não sei, porque não sei o que viria a seguir no PS, se um posicionamento menos demagógico e mais de centro-esquerda, se uma deriva a favor da ala esquerda mais radical.
Uma coisa tenho a certeza. Pedro Passos Coelho conseguirá acomodar uma derrota política nas eleições europeias, mesmo que ela seja pesada. António José Seguro não resistirá a uma derrota, por mais suave que ela seja.
Esta sondagem pode valer pouco, mas mesmo assim aposto que deixou muita gente nervosa.
Mas seria do nosso interesse comum?
Não sei, porque não sei o que viria a seguir no PS, se um posicionamento menos demagógico e mais de centro-esquerda, se uma deriva a favor da ala esquerda mais radical.
Uma coisa tenho a certeza. Pedro Passos Coelho conseguirá acomodar uma derrota política nas eleições europeias, mesmo que ela seja pesada. António José Seguro não resistirá a uma derrota, por mais suave que ela seja.
Esta sondagem pode valer pouco, mas mesmo assim aposto que deixou muita gente nervosa.
domingo, 26 de janeiro de 2014
Rui Caeiro: Um Gato no Inferno
Refastelado no veludo negro
do inferno, um gato
espera por mim
Não haverá muitos gatos
nos desvãos do inferno
Mas um há que eu tinha
e que espera por mim lá
No inferno procurar bem
para além de pulgas e de baratas
há-de haver um gato
Rui Caeiro, Um Gato no Inferno (Edição do Autor, 2013).
Match do dia: Vitória de Setúbal vs. Pinhalnovense
Numa partida muito disputada, que decorreu esta manhã na Academia de Formação do Futebol Clube Barreirense, o Vitória Futebol Clube derrotou o Clube Desportivo Pinhalnovense por um esmagador um a zero. Com um dispositivo táctico eficaz e num jogo muito disputado a meio-campo, o Vitória de Setúbal anulou quase sempre os ataques do Pinhalnovense. Com o decorrer da partida, fruto da boa circulação da bola e com a pressão alta feita pela equipa, acabou por ser uma questão de tempo até que o controlo da partida por parte do Vitória de Setúbal se concretizasse em golos. Conquistada a vantagem no marcador, o Vitória de Setúbal passou a controlar o jogo de forma inteligente, podendo até ter dilatado a vantagem, o que não aconteceu por mero capricho da trave. O futebol é uma caixinha de surpresas e em contraciclo o Pinhalnovense até poderia ter igualado na fase final da partida, através de uma grande penalidade, mas a justiça no resultado acabou por prevalecer quando o Pinhalnovense desperdiçou essa oportunidade soberana.
O treinador do Vitória de Setúbal revelou uma grande leitura táctica do jogo, procedendo a um conjunto de substituições que se revelaram sempre acertadas no tempo, dessa forma contribuindo para a eficácia da equipa, o que se revelou crucial para o resultado final. Em suma, o resultado é inteiramente justo e em nada sou influenciado nesta análise pelo facto do meu filho mais novo ser um dos jogadores em campo do grande Vitória de Setúbal.
Para a semana há mais. Carpe diem.
sábado, 25 de janeiro de 2014
Allez, allez, Sporting allez [22]
Há vitórias com sabor amargo. Esta foi uma delas.
Allez, allez, Sporting allez!
[Publicado também aqui.]
Allez, allez, Sporting allez!
[Publicado também aqui.]
Foto: Francisco Leong (AFP).
Ter de ter opinião todos os dias
Lembro-me frequentemente de Manuel António Pina. Esta resposta, por exemplo. Ao contrário dele não tenho opinião uma vez por ano, mas também não tenho todos os dias. O mais frequente, diria, é não ter opinião. Um potencial problema quando se tem um blogue onde é suposto ter opinião...
Há assuntos sobre os quais me sinto um pouco como um animal em vias de extinção, um dos últimos espécimes que ainda não tem opinião, pasme-se, sobre um determinado tema.
Eu com tão pouca opinião e outros com opinião tão frequente e segura. A opinião está muito mal distribuída, é o que é.
Há assuntos sobre os quais me sinto um pouco como um animal em vias de extinção, um dos últimos espécimes que ainda não tem opinião, pasme-se, sobre um determinado tema.
Eu com tão pouca opinião e outros com opinião tão frequente e segura. A opinião está muito mal distribuída, é o que é.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Miguel-Manso: Supremo 16/70
IIII
paraste numa rua decaída
como o Sol
o abatimento de bengala tornando
devagar a caminho de casa
única cedência da alegria:
o perfume das laranjeiras o complô
acriançado dos pássaros o branco fabuloso
desses muros -- se afastasses da ideia
o aperto que arquitectam --
alguém te chamou, olhaste
saudou-te com um entusiasmo forçado e no fim
trocou o teu nome pelo nome do teu pai
(eu só te conheci a mãe)
não corrigiste esse nem nenhum
outro desacerto
(o mais premente e perturbador de todos
visto assim não tem cura)
e seguiste à sombra do teu morto
ainda mais calado
Miguel-Manso, Supremo 16/70 (Artefacto, 2013).
Nouriel Roubini: prognósticos com precisão variável
"O pior da crise já passou em termos de riscos financeiros", afirmou Nouriel Roubini.
Roubini vive dos louros de ter antecipado a crise do subprime nos EUA. Na verdade, até um relógio parado está certo duas vezes por dia. O problema é o resto do tempo. Exemplos?
Aqui. Aqui. Aqui. Aqui. Devo continuar?
Roubini vive dos louros de ter antecipado a crise do subprime nos EUA. Na verdade, até um relógio parado está certo duas vezes por dia. O problema é o resto do tempo. Exemplos?
Aqui. Aqui. Aqui. Aqui. Devo continuar?
Luís Marques Guedes: sem margem
Repetir, se faz favor, as vezes que for necessário: como Luís Marques Guedes frisou com todo o sentido de oportunidade, "o Estado continua a gastar mais 7.151 milhões de euros do que aquilo que arrecada em receita". Tão simples como isto.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Luís Montenegro: Panteão
Aqui está um exemplo de uma reflexão que tem apenas uma finalidade: empurrar com a barriga.
Frederico Pedreira: Doze Passos Atrás [2]
ESTÁTUAS
Desde criança que cumprimento o meu pai
e todos os meus tios com um beijo na cara.
Desde criança que me recordo do odor acre
das suas bocas, vindo do peru do Natal,
dos lagos de vinho tinto, do excesso de beijos.
É isto que sobretudo recordo: o excesso de beijos.
Não me parece agora justo pedir-lhes que
voltem alegremente ao que eram, ao teatro onde
faziam tilintar os talheres, as facas de trinchar,
aos seus modos de afagarem as barrigas,
à sua insistência em conversarem.
Por vezes, temo-os: são gestos apontando o vazio,
indefinidos no ar raro em que os deixei, debaixo
de uma chuva de gravilha. Mostram um sorriso
largo no rosto sem ter onde desembocar e aquele
doce modo de desacelerar a vida, permitindo-a
morrer devagarinho, como deve ser, em paz.
Frederico Pedreira, Doze Passos Atrás (Artefacto, 2013), p 53.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Frederico Pedreira: Doze Passos Atrás
A ESPERA
Éramos ainda tão novos quando aprendemos
a fingir os movimentos do volante e das mudanças,
a disfarçar a ansiedade da espera
nos cliques da regulação dos faróis.
O som oco dos pedais pressionados
pelos nossos pés minúsculos,
tudo a mover-se a uma velocidade inabitável.
Eu e o meu irmão, de madrugada,
imitando o ruído do motor com os lábios,
apontados para a fachada daquela cervejaria
que nos retinha sem razão, conduzindo
numa quilometragem de medos,
dali para fora.
Frederico Pedreira, Doze Passos Atrás (Artefacto, 2013), p 38.
4700 condutores...
...a uma infracção de ficarem sem carta. Esta é a notícia central hoje na capa do Diário de Notícias. O número é impressionante. Ainda sem ler a notícia, quase que apostaria que a esmagadora maioria são contra-ordenações por excesso de velocidade. A maioria das operações de controlo de velocidade, como o leitor sabe, são pura caça à multa, sem qualquer outro critério que não seja facturar. Quem conduza 30 a 40 mil quilómetros por ano dificilmente escapa sem ter tido uma, ou várias, contra-ordenações graves e muito graves.
Juntou-se a fome à vontade de comer, i.e. um legislador com mão pesada e agentes da lei com uma enorme vontade de mostrar serviço. O resultado está à vista.
Altura, talvez, para decretar uma amnistia geral?
Juntou-se a fome à vontade de comer, i.e. um legislador com mão pesada e agentes da lei com uma enorme vontade de mostrar serviço. O resultado está à vista.
Altura, talvez, para decretar uma amnistia geral?
Trichet: será Portugal a decidir sobre cautelar
Como não poderia deixar de ser. Apesar das evidentes condicionantes existentes à nossa autonomia de decisão, em todo o caso ainda somos um Estado soberano. Nesta matéria Pedro Passos Coelho parece-me ter uma posição inatacável. Como o caso irlandês demonstra, não temos de tomar nenhuma decisão até ao final da semana. Ainda há muito tempo à nossa frente até ao final do programa da troika.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Rehn: "reacção nacional tardia"
Há quem insista desesperadamente em re-escrever a História. José Sócrates, por exemplo, fá-lo todas as semanas no canal público de televisão, ainda que poucos se disponham a ouvir historietas de adormecer. A verdade, porém, por mais que se procure confundir, insiste em vir ao de cima.
Mais uma barreira...
...psicológica que foi ultrapassada. Bem sei, vale o que vale, mas não deixa de ser mais um passo na direcção que nos interessa.
Teixeira da Silva: O Lugar que Muda o Lugar
O LUGAR QUE MUDA O LUGAR
Dias e dias em que olhamos as margens
a simbólica, real escorrência
e trazes no sopro do ar, neste exacto ar
os versos que vêm e vão de oriente a oriente
Assim batam nos olhos as coisas literais
o lugar em que o lugar muda o lugar
e explica o mar maresias de si para si
o peso do sol e o peso da lua
A água na distinta água arrasta
os conhecidos seixinhos, róseos detritos
carcaças de aves e petróleo que cheira
como cheiram alegorias do mal
Dias para alcançar o fim da terra
ver aparecer, ver desaparecer
essa impecável figura peregrina
e os nomes próximos de areias e rochedos
cabedelo, pedra davra, samagaio
perdida evidência entre marés
José Manuel Teixeira da Silva, O Lugar que Muda o Lugar (Língua Morta, 2013), p. 13.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Cali: King of the Dancefloor
Tenho uma enorme admiração por todas as pessoas que se dedicam às diferentes formas de criação artística. Mais ainda no caso de Cali por se tratar de um ex-aluno meu. Não posso, por isso, deixar de fazer referência ao seu CD a solo, King of the Dancefloor, onde ele mistura sonoridades que vão do Hip Hop, House, Kuduro ao R&B.
O resultado final?
Cinco estrelas.
Quem será o candidato presidencial do PSD? [2]
Pedro Passos Coelho afirmou estar surpreendido com a reacção de Marcelo Rebelo de Sousa. Não sei se é o caso, mas a dissimulação faz parte das regras do jogo político. Como era óbvio, o primeiro-ministro dificilmente iria assumir, ou personalizar, o perfil traçado na moção de estratégia. Mas, evidentemente, também não negou que o ex-líder do PSD possa estar no lote dos excluídos.
Adiante. Esta polémica tem muito pouco sentido a esta distância das eleições presidenciais. Como é óbvio, ainda vai correr muita água por debaixo das pontes até 2015.
Adiante. Esta polémica tem muito pouco sentido a esta distância das eleições presidenciais. Como é óbvio, ainda vai correr muita água por debaixo das pontes até 2015.
Quem será o candidato presidencial do PSD?
Eis como uma moção de candidatura, em poucas linhas, pode condicionar a agenda política e mediática. Segundo a interpretação geral, Passos Coelho recusa apoiar Marcelo Rebelo de Sousa. No perfil que se desenha, o que se critica, no fundo, é a sua suposta falta de credibilidade, mas a discussão posterior tem vindo a abordar também a interpretação dos poderes presidenciais pelo candidato.
Passos Coelho teve muito provavelmente duas, ou mais, intenções. Mostrar, em primeiro lugar, que uma vitória nas legislativas está ao seu alcance, daí a discussão das presidenciais. Em segundo, definir um perfil pessoal de candidato, sobretudo pela negativa, i.e. excluindo, porventura, Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros.
Duvido que, ao contrário do que está a ser dito e escrito, Passos Coelho queira condicionar a escolha do futuro Presidente em função da sua interpretação dos poderes presidenciais. Por uma razão muito simples. Naturalmente, qualquer primeiro-ministro quer um Presidente o menos interventivo possível, mas Passos Coelho sabe também que no dia da eleição o Presidente 'autonomiza-se', por assim dizer, do partido que o apoiou.
Sim, Passos Coelho quererá que o PSD apoie um candidato credível e não apenas com popularidade, mas não creio que o veto a Marcelo Rebelo de Sousa tenha alguma coisa que ver com a sua interpretação dos poderes presidenciais.
Passos Coelho teve muito provavelmente duas, ou mais, intenções. Mostrar, em primeiro lugar, que uma vitória nas legislativas está ao seu alcance, daí a discussão das presidenciais. Em segundo, definir um perfil pessoal de candidato, sobretudo pela negativa, i.e. excluindo, porventura, Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros.
Duvido que, ao contrário do que está a ser dito e escrito, Passos Coelho queira condicionar a escolha do futuro Presidente em função da sua interpretação dos poderes presidenciais. Por uma razão muito simples. Naturalmente, qualquer primeiro-ministro quer um Presidente o menos interventivo possível, mas Passos Coelho sabe também que no dia da eleição o Presidente 'autonomiza-se', por assim dizer, do partido que o apoiou.
Sim, Passos Coelho quererá que o PSD apoie um candidato credível e não apenas com popularidade, mas não creio que o veto a Marcelo Rebelo de Sousa tenha alguma coisa que ver com a sua interpretação dos poderes presidenciais.
Nunes da Rocha: Óculos Sujos, Fígado Gordo
A vida não é mesa posta
Ou lâmpada fundida.
Pode também ser um medo
De vidro, quando
A garrafa retorna sem notícia
E as mãos regressam aos bolsos --
Constelação maior
De uma biografia distraída.
Deixa-me neste cais de nuvens
(Óculos sujos,
Fígado gordo);
Varrendo os barcos de papel,
Cotão dos dias,
No tapete da entrada.
Nunes da Rocha, Óculos Sujos, Fígado Gordo (&etc), p. 37.
domingo, 19 de janeiro de 2014
António José Seguro: perdido e desnorteado
A melhor defesa é o ataque, diz a sabedoria popular. Perdido e sem estratégia, algo absolutamente evidente, o líder do PS inverte a situação e acusa o primeiro-ministro de estar "perdido e desnorteado". Quase que parece um número de stand-up comedy...
Sondagem: mais do mesmo
O PS não consegue descolar do PSD num contexto político em que tudo, ou quase tudo, joga a seu favor. O PSD, aliás, para desespero de José Pacheco Pereira, António Capucho e Manuela Ferreira Leite, apesar das circunstâncias adversas consegue a notável proeza de obter 30% das intenções de voto.
Moral da história?
Pedro Passos Coelho está muito menos isolado politicamente do que alguns querem fazer crer. A sua legitimidade, para voltar a um tema que esteve artificialmente em causa há alguns meses atrás, continua intacta e é indiscutível. É a vida.
Moral da história?
Pedro Passos Coelho está muito menos isolado politicamente do que alguns querem fazer crer. A sua legitimidade, para voltar a um tema que esteve artificialmente em causa há alguns meses atrás, continua intacta e é indiscutível. É a vida.
AAVV: Quarto de Hóspedes [2]
POEMA ENCOMENDADA [Rui Caeiro]
No quarto, nem sequer de hóspedes, no quarto
escuro das arrumações, fui dar com a minha
vida, e em que lindo estado. No meio de uma
inqualificável tralha, lá estava ela, ao fundo,
a minha vida, encore bien que je te trouve!,
mas tão desconchavada a pobre, tão anémica
que metia dó. Que situação tão constrangedora,
pensei, sem lho dar a entender. Que posso
eu fazer por ti que não seja fugir depressa
daqui ou enfiar-me logo pelo chão abaixo?
E tu, minha vida, vá, deixa-te ficar, tant mal
que bien, e olha que o quarto também não é tão
mau assim. E desacompanhada não ficas nunca
(seria aliás difícil, com toda a tralha em volta...)
e olha que nestas coisas é como no demais, é como
em certos casamentos: NÃO DEU NÃO DEU, adiante.
AAVV, Quarto de Hóspedes (Língua Morta, 2013), p. 79.
sábado, 18 de janeiro de 2014
AAVV: Quarto de Hóspedes
CAMEL BLUE [José Carlos Soares]
No pequeno cemitério
comovente
ninguém, a não ser
o latido de algum
cão, o canto
de um galo
vermelho, a tosse
de um pequeno deus
desempregado. Também
pude reparar
como saía
de uma velha campa
abandonada
um exército de formigas
sob um intenso
céu azul
que nada respondia.
AAVV, Quarto de Hóspedes (Língua Morta, 2013), p. 45.
Ongoing vs. Impresa: The End
Sem surpresa. Quando no ano passado a Ongoing desistiu de todos os processos que tinha em curso contra a Impresa tornou-se evidente que se procurava uma solução nos bastidores e que seria uma questão de tempo até que a Ongoing vendesse as acções que detinha da Impresa. Não demorou muito tempo, como agora se constata.
Moral da história?
A Impresa mantém a sua posição dominante no panorama da comunicação social portuguesa e a Ongoing vira-se cada vez mais para o Brasil. Nuno Vasconcellos, aliás, há alguns anos que passa mais tempo no Brasil do que em Portugal. Afinal, salvo algum imprevisto, o futuro da Portugal Telecom -- empresa onde a Ongoing detém uma participação relevante -- está traçado e Lisboa é cada vez mais uma realidade distante.
Moral da história?
A Impresa mantém a sua posição dominante no panorama da comunicação social portuguesa e a Ongoing vira-se cada vez mais para o Brasil. Nuno Vasconcellos, aliás, há alguns anos que passa mais tempo no Brasil do que em Portugal. Afinal, salvo algum imprevisto, o futuro da Portugal Telecom -- empresa onde a Ongoing detém uma participação relevante -- está traçado e Lisboa é cada vez mais uma realidade distante.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
S&P: depois logo se vê...
Sem surpresas, portanto. De forma conservadora, espera-se por decisões sobre o pós-troika.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Allez, allez, Sporting allez [20]
O Sporting quebrou hoje a sequência de três jogos sem marcar golos e manteve o ciclo de jogos sem sofrer qualquer golo. Leonardo Jardim aproveitou a Taça da Liga para rodar alguns jogadores, refrescar a equipa e dar uma oportunidade a jogadores que por regra não são titulares. Boeck, Dier, Mané, Slimani e Vítor alinharam de início e todos responderam muito positivamente à chamada. Boeck foi o homem do jogo, negando ao Marítimo três ou quatro golos, defendeu tudo o que havia para defender, mesmo o que parecia impossível. Se o Marítimo não marcou pelo menos um golo, a ele se deve a inviolabilidade da baliza do Sporting. Mané foi o homem que descobriu o caminho para a baliza do Marítimo, ele que marcou o primeiro golo e que esteve em grande plano, sobretudo na primeira parte. Slimani foi, depois de Boeck, o jogador que mais se destacou nesta partida. O argelino correu quilómetros, foi incansável a ir buscar jogo e a servir os colegas em jogadas ofensivas. No final falhou um golo que bem merecia nesta partida. Dier tremeu num lance ou dois, mas no resto deu boa conta do recado. Vítor marcou o segundo golo -- o terceiro foi de Rojo -- e correu quilómetros em campo. Em suma, quem disse que o Sporting não tinha banco?
Quanto aos restantes, William Carvalho, Rojo, Jefferson, Adrien e Cédric estiveram ao seu nível do costume. Capel foi talvez o jogador menos eficaz na sua posição, ainda que, como sempre, tenha tido um empenho acima de qualquer dúvida.
Esta partida foi importante para restabelecer os níveis de confiança depois de três jogos consecutivos sem marcar. E se Slimani não marcou, em todo o caso o Sporting mostrou ter diversas opções para marcar golos.
Este foi o jogo desta época em que, tanto quanto me recordo, estiveram menos espectadores no Estádio de Alvalade, pouco mais de onze mil. Poucos, mas bons...
Uma última palavra para a arbitragem que, no essencial, mereceu nota positiva.
Segue-se o Arouca. Allez, allez, Sporting allez!
Foto: Manuel de Almeida (Lusa via Correio da Manhã).
Ballon d'Or: Ronaldo
Estava a ver a listagem com as votações e, às tantas, lembrei-me do Festival da Eurovisão. Não é bem a mesma coisa, mas anda lá perto...
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Vítor Gaspar: ser e parecer
Havia apenas duas ou três instituições para as quais, em nome do bom senso, Vítor Gaspar não deveria ter ido depois de ter sido ministro das Finanças. A saber, FMI, BCE e Comissão Europeia.
Vítor Gaspar evitou sempre qualquer conflito com a troika ao ponto de, por vezes, não se perceber qual era o seu lado da barricada. Ele que uma vez chegou a referir-se no Parlamento aos "vossos eleitores" -- não os dele, aos quais aparentemente não tinha de prestar contas -- perante os deputados do PSD e do CDS. Pois bem. É precisamente no FMI que ele aterra menos de um ano depois de ter sido ministro.
Vítor Gaspar evitou sempre qualquer conflito com a troika ao ponto de, por vezes, não se perceber qual era o seu lado da barricada. Ele que uma vez chegou a referir-se no Parlamento aos "vossos eleitores" -- não os dele, aos quais aparentemente não tinha de prestar contas -- perante os deputados do PSD e do CDS. Pois bem. É precisamente no FMI que ele aterra menos de um ano depois de ter sido ministro.
Portugal e o investimento chinês
De acordo. Se é angolano é porque é angolano. Se é chinês é porque é chinês. Pelos vistos, alguns puristas só querem investimento oriundo do Vaticano. E mesmo esse...
domingo, 12 de janeiro de 2014
CDS: congresso poderia ter sido diferente?
Evidentemente que não. Um congresso a meio de uma legislatura e quando esse partido está no poder é sempre um acontecimento norte-coreano. Paulo Portas tinha uma obrigação e uma preocupação. A obrigação era ter que regressar à crise de Julho de 2013. Como era esperado, passou pelos pingos da chuva sem se molhar. A sua explicação não convenceu ninguém, evidentemente, mas esta era uma formalidade a cumprir. A preocupação dizia respeito aos equilíbrios de poder e à estabilidade interna. De novo, Portas resolveu a coisa com a maior facilidade.
Quanto à oposição interna, com limitações óbvias, cumpriu o seu papel, restando-lhe aguardar por melhores dias.
A realidade segue dentro de momentos.
Quanto à oposição interna, com limitações óbvias, cumpriu o seu papel, restando-lhe aguardar por melhores dias.
A realidade segue dentro de momentos.
sábado, 11 de janeiro de 2014
Allez, allez, Sporting allez [19]
Infelizmente o Sporting não conseguiu vencer o Estoril e o empate a zero é inteiramente justo. Num jogo sem muitas oportunidades de golo, muito táctico e muito disputado no meio-campo, faltou ao Sporting uma pontinha de sorte para garantir outro resultado. Este era um daqueles jogos em que um lance de inspiração individual faria toda a diferença, mas a verdade é que ele não existiu.
Dito isto, o empate não é propriamente um mau resultado e o Sporting termina a primeira volta muito acima das expectativas de qualquer sportinguista no início da época. Nada a dizer, portanto. Ou melhor, há a dizer: allez, allez, Sporting allez...
Foto: Pedro Rocha (Global Imagens via DN).
Observador [2]
Nicolau Santos, sempre ele. As coisas que ele já sabe de antemão sobre o Observador. De forma resumida, o escriba avança desde já que será um canal de intervenção ideológica que servirá possivelmente para "dar exposição e bons cargos públicos a alguns dos seus membros". Por isso este projecto deve ser, desde já, encarado com a máxima suspeita. Afinal, "tantos investidores privados" dispostos "alegremente a perder dinheiro durante vários anos" é uma coisa nunca vista. O Público, por exemplo, é um jornal que desde a sua fundação está farto de dar lucro à Sonae. A própria Impresa tem resultados financeiros magníficos para mostrar. Seria, naturalmente, um projecto fascinante e sério se fosse dirigido pelos Baptistas da Silva que tanto o encantam. Não sendo o caso, é um projecto com toda a legitimidade -- porra, o que lhe custou admitir isto -- mas seguramente vinculado a agendas obscuras.
Em defesa dos centros de decisão?
Já dei, em tempos, para esse peditório. É um tema para o qual tenho alguma simpatia, cada vez menos, tenho de confessar. Ainda me lembro de Diogo Vaz Guedes defender empenhadamente a manutenção dos centros de decisão nacional e depois vender a Somague à espanhola Sacyr. Nesse dia, a minha simpatia pela 'causa' começou a diminuir significativamente.
No Expresso lamenta-se, com a mais recente vaga de privatizações, a perda de controlo nacional de um conjunto de centros de decisão. Inevitavelmente, a culpa é atribuída ao Estado e a este Governo em particular. Os nossos empresários -- sem estratégia, incapazes de se associar, sempre disponíveis para fazer mais-valias na primeira oportunidade -- são, no essencial, ilibados de qualquer responsabilidade. O Estado tem a 'obrigação' de preservar os centros de decisão nacional. Já as elites empresariais -- por regra apenas interessadas em comprar ao preço da uva mijona -- não têm responsabilidade absolutamente nenhuma. Haja pachorra.
No Expresso lamenta-se, com a mais recente vaga de privatizações, a perda de controlo nacional de um conjunto de centros de decisão. Inevitavelmente, a culpa é atribuída ao Estado e a este Governo em particular. Os nossos empresários -- sem estratégia, incapazes de se associar, sempre disponíveis para fazer mais-valias na primeira oportunidade -- são, no essencial, ilibados de qualquer responsabilidade. O Estado tem a 'obrigação' de preservar os centros de decisão nacional. Já as elites empresariais -- por regra apenas interessadas em comprar ao preço da uva mijona -- não têm responsabilidade absolutamente nenhuma. Haja pachorra.
Moody's: not in the mood for an outlook upgrade?
É impressão minha, ou ontem era suposto ter sido divulgada uma análise da Moody's ao risco de crédito de Portugal? A agência de notação mudou de ideias? O que é que se passou para ter sido adiada, ou cancelada, a sua publicação?
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Vital Moreira dixit
"Depois da crise não voltamos ao estado anterior, em que tínhamos o recurso dos impostos, o endividamento e o dinheiro da União Europeia. O tempo do endividamento acabou. A partir de agora, provavelmente temos é de ter saldos positivos para diminuir a dívida acumulada. Vamos ter de ser muito austeros e imaginativos se quisermos manter o Estado Social. É um desafio para o PS, quando voltar ao Governo. (...) A convenção Novo Rumo será o pontapé de saída e temos um ano e meio para construir essa alternativa, até às legislativas. Ela é necessária e ainda não existe. Eu insisto: um partido de governo não lhe basta fazer boa oposição, tem de dizer porque quer ser Governo. (Sol, 10.1.2014: 6-7.)"
Oliveira Martins: trocando por miúdos
Estamos perante uma intervenção sem qualquer conteúdo, ou trata-se de um recado dirigido sobretudo ao PS?
Como me custa a acreditar que seja o segundo caso, depreendo que o presidente do Tribunal de Contas se limitou a encher chouriços.
Como me custa a acreditar que seja o segundo caso, depreendo que o presidente do Tribunal de Contas se limitou a encher chouriços.
Luís Quintais: Depois da Música
TOTENBUCH
Com horror
haveríamos de encontrar o círculo negro da história,
o arquivo inabitável, irrespirável.
É amoral o gesto de quem regista,
assinala óbitos, assepsias, extermínios.
Um forno não é um forno
e um chuveiro não é mais um chuveiro.
O funcionário que regista tem
por dedos lâminas rombas.
Desenha com método. Anota com desvelo.
Luís Quintais, Depois da Música (Tinta da China, 2013), p. 28.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Fosun: mais um passo na nova geografia estratégica?
O Governo decidiu vender a Caixa Seguros à Fosun. Na conferência de imprensa após o Conselho de Ministros, o secretário de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues, afirmou que os chineses apresentaram a "proposta de maior mérito" do ponto de vista financeiro, estratégico e jurídico.
Depois da EDP e da REN, estamos perante mais uma privatização que consolida a entrada de capitais chineses em Portugal, facto que considero muito positivo e que, como já referi em 2012, está a abrir as portas a uma recomposição potencial, ainda que parcelar, da própria política externa portuguesa.
Depois da EDP e da REN, estamos perante mais uma privatização que consolida a entrada de capitais chineses em Portugal, facto que considero muito positivo e que, como já referi em 2012, está a abrir as portas a uma recomposição potencial, ainda que parcelar, da própria política externa portuguesa.
Euro: crise superada? [2]
Tal com eu, mas seguramente com muito mais conhecimento do que está a falar, Mario Draghi também lhe parece prematuro estar a decretar o fim da crise. Naturalmente, a "confiança regressou", frisou o presidente do BCE, e isso é um facto crucial. Portugal, aliás, tem beneficiado muito deste clima de confiança interno e externo. Hoje, por exemplo, houve uma mão cheia de boas notícias: o regresso aos mercados foi um sucesso, ainda que em ambiente controlado, por assim dizer; as yields continuam a descer; as exportações continuam a crescer; e, last but not the least, mais uma etapa no processo de privatizações que se encerrou com êxito.
Nada disto, todavia, quer dizer que este ano não seja ainda muito difícil. Hoje, por exemplo, na sequência do chumbo do Tribunal Constitucional, o Governo anunciou os novos cortes nas pensões e o novo agravamento das contribuições para a ADSE. Mas, repito, como disse Draghi, a verdade é que apesar das condições difíceis a confiança regressou. Sem ela não há novos investimentos e consequentemente novos empregos. E isso é fundamental para sairmos do buraco em que nos encontramos. Em suma, começa a ver-se uma pequena luz ao fim do túnel. Finalmente.
Nada disto, todavia, quer dizer que este ano não seja ainda muito difícil. Hoje, por exemplo, na sequência do chumbo do Tribunal Constitucional, o Governo anunciou os novos cortes nas pensões e o novo agravamento das contribuições para a ADSE. Mas, repito, como disse Draghi, a verdade é que apesar das condições difíceis a confiança regressou. Sem ela não há novos investimentos e consequentemente novos empregos. E isso é fundamental para sairmos do buraco em que nos encontramos. Em suma, começa a ver-se uma pequena luz ao fim do túnel. Finalmente.
Euro: crise superada?
Ao contrário de Durão Barroso, não sei se a crise do euro está ultrapassada. Talvez. Espero que sim, mas não me parece ainda absolutamente seguro. Adiante. É curioso observar como o debate e a discussão pública em Portugal tem uma faceta aleatória, por vezes difícil de perceber. Um exemplo: Portugal deixou de estar interessado nas famosas OMT de Mario Draghi?
Há alguns meses atrás não se falava de outra coisa. Porém, a crise política originada pela demissão irrevogável de Paulo Portas foi um duro golpe na estratégia do Governo -- em particular das Finanças -- para que Portugal cumprisse os requisitos, pouco claros, que lhe permitiriam beneficiar dessa ajuda do BCE. O assunto, entretanto, quase que desapareceu do radar mediático.
Entretanto, Portugal volta hoje aos mercados. No meio do ruído sobre saídas limpas e programas cautelares, e independentemente da descida das yields, o que aconteceu ao nosso interesse nas OMT? Esfumou-se?
Há alguns meses atrás não se falava de outra coisa. Porém, a crise política originada pela demissão irrevogável de Paulo Portas foi um duro golpe na estratégia do Governo -- em particular das Finanças -- para que Portugal cumprisse os requisitos, pouco claros, que lhe permitiriam beneficiar dessa ajuda do BCE. O assunto, entretanto, quase que desapareceu do radar mediático.
Entretanto, Portugal volta hoje aos mercados. No meio do ruído sobre saídas limpas e programas cautelares, e independentemente da descida das yields, o que aconteceu ao nosso interesse nas OMT? Esfumou-se?
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
PS: qual a alternativa?
Teixeira dos Santos teria preferido aumentar o IVA. Concorde-se ou não com esta opção, ela é seguramente melhor do que defender um aumento do défice, como fez António José Seguro. O líder do PS, como sempre acontece, nunca dá más notícias e, por regra, o pouco que propõe consiste sempre em manter ou aumentar a despesa pública. António José Seguro encaixa na perfeição no diagnóstico geral feito pelo insuspeito Luís Amado, na Visão, de uma Esquerda que não consegue apresentar propostas credíveis para a redefinição do papel do Estado e que demora em perceber o efeito nefasto do endividamento excessivo.
Com a excepção do acordo com o Governo sobre a reforma do IRC, julgo não ser má vontade da minha parte se disser que o consulado de Seguro na liderança do PS se resume a uma mão cheia de nada. Mesmo sabendo que a vida de um líder do PS, ou do PSD, na oposição não é nada fácil, aquilo que Seguro tem para apresentar é manifestamente pouco para ter credibilidade enquanto alternativa.
Com a excepção do acordo com o Governo sobre a reforma do IRC, julgo não ser má vontade da minha parte se disser que o consulado de Seguro na liderança do PS se resume a uma mão cheia de nada. Mesmo sabendo que a vida de um líder do PS, ou do PSD, na oposição não é nada fácil, aquilo que Seguro tem para apresentar é manifestamente pouco para ter credibilidade enquanto alternativa.
Desemprego: o pior já passou?
Nove meses consecutivos a descer a taxa de desemprego tem seguramente alguma leitura. Não vejo outra explicação que não seja que a economia portuguesa já deu mesmo a volta. Vivemos ainda dias de enorme fragilidade política, económica e social, mas o pior já passou. Consequentemente, apesar da enorme carga fiscal, directa e indirecta, as pessoas começam a sentir -- e os factos parecem confirmá-lo -- que a nossa situação está a melhorar. Não é muito ainda, naturalmente, mas o suficiente para incutir alguma esperança.
É por essa e por outras razões -- as sondagens, a potencial reacção negativa dos mercados, a discussão e aprovação de um novo Orçamento do Estado, a interpretação Cavaco Silva dos poderes presidenciais, entre outras -- que a leitura política de Nuno Morais Sarmento me parece não ter muito sentido. Mais. Como ainda ontem se verificou, o Presidente encara com muita preocupação o pós-troika. Nessa medida, a última coisa que Cavaco Silva quereria ser era um factor de instabilidade política.
Acresce que o Presidente da República não precisa de se precipitar provocando crises políticas absurdas. O acordo entre PS, PSD e CDS, que Cavaco Silva foi incapaz de mediar em 2013, estará ao seu alcance depois das eleições legislativas de 2015. De forma muito simples, aliás: o Presidente necessita apenas de exigir ao partido mais votado (eventualmente à coligação), seja ele PS ou PSD (ou PSD-CDS), uma solução governativa que inclua os dois maiores partidos e garanta uma maioria absoluta, caso contrário não dará posse a um novo governo. Na ausência de um entendimento, Cavaco Silva apenas tem de ameaçar que convocará novas eleições se necessário. Aposto que ninguém estaria muito interessado nisso.
Regresso ao desemprego. Não sei se os novos empregos que estão a ser gerados são 'piores' -- i.e. mais trabalho precário, com remunerações inferiores, etc. -- do que aqueles que se perderam. Admito que possa ser. Mas há um ano nem isso a nossa economia era capaz de gerar em número suficiente para fazer descer a taxa de desemprego. A notícia, por isso, não pode deixar de ser encarada com satisfação.
É por essa e por outras razões -- as sondagens, a potencial reacção negativa dos mercados, a discussão e aprovação de um novo Orçamento do Estado, a interpretação Cavaco Silva dos poderes presidenciais, entre outras -- que a leitura política de Nuno Morais Sarmento me parece não ter muito sentido. Mais. Como ainda ontem se verificou, o Presidente encara com muita preocupação o pós-troika. Nessa medida, a última coisa que Cavaco Silva quereria ser era um factor de instabilidade política.
Acresce que o Presidente da República não precisa de se precipitar provocando crises políticas absurdas. O acordo entre PS, PSD e CDS, que Cavaco Silva foi incapaz de mediar em 2013, estará ao seu alcance depois das eleições legislativas de 2015. De forma muito simples, aliás: o Presidente necessita apenas de exigir ao partido mais votado (eventualmente à coligação), seja ele PS ou PSD (ou PSD-CDS), uma solução governativa que inclua os dois maiores partidos e garanta uma maioria absoluta, caso contrário não dará posse a um novo governo. Na ausência de um entendimento, Cavaco Silva apenas tem de ameaçar que convocará novas eleições se necessário. Aposto que ninguém estaria muito interessado nisso.
Regresso ao desemprego. Não sei se os novos empregos que estão a ser gerados são 'piores' -- i.e. mais trabalho precário, com remunerações inferiores, etc. -- do que aqueles que se perderam. Admito que possa ser. Mas há um ano nem isso a nossa economia era capaz de gerar em número suficiente para fazer descer a taxa de desemprego. A notícia, por isso, não pode deixar de ser encarada com satisfação.
Cavaco Silva: o regresso limpinho
Ao contrário do PS, o Presidente da República não quer um regresso aos mercados de forma limpa.
O PS quer porque não acredita que seja possível. O Presidente não quer porque receia que seja possível?
O PS quer porque não acredita que seja possível. O Presidente não quer porque receia que seja possível?
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Vermes: Ele Está de Volta
E se Hitler não tivesse morrido? E se regressasse à política alemã? Adolf Hitler acorda em Berlim em 2011. Este é o ponto de partida de Timur Vermes que ao longo de 300 páginas vai descrever as peripécias à volta da tentativa de re-ascensão política de Hitler.
Recorrendo ao humor, este livro faz uma crítica ao peso da comunicação social nas sociedades democráticas. Não se trata propriamente de uma originalidade. Karl Popper publicou um pequeno livro sobre o tema na primeira metade da década de 1990. Mas Timur Vermes não tem, todavia, pretensões filosóficas ou académicas, e limita-se a proporcionar algumas horas de entretenimento. De facto, o autor consegue criar situações de humor tendo por base o facto de Hitler acordar 66 anos depois da II Guerra Mundial, sem qualquer conhecimento do que se passou durante este período. O mesmo se passa com as novas tecnologias, uma absoluta novidade para Hitler.
Timur Vermes não simpatiza seguramente com Angela Merkel, não desperdiçando por isso a oportunidade para, recorrendo a Hitler, deixar aqui e ali alguns comentários muito pouco simpáticos em relação à chanceler e a alguns membros do seu Governo.
Isto dito, à medida que a acção se desenrola, o livro vai perdendo parte da sua força. Inicialmente parecia prometer mais, mas a determinada altura cai num registo puramente descritivo, em detrimento de um argumento mais elaborado.
Vale a pena ler, de qualquer forma?
Diria que sim, ainda que não fosse a minha primeira recomendação.
Recorrendo ao humor, este livro faz uma crítica ao peso da comunicação social nas sociedades democráticas. Não se trata propriamente de uma originalidade. Karl Popper publicou um pequeno livro sobre o tema na primeira metade da década de 1990. Mas Timur Vermes não tem, todavia, pretensões filosóficas ou académicas, e limita-se a proporcionar algumas horas de entretenimento. De facto, o autor consegue criar situações de humor tendo por base o facto de Hitler acordar 66 anos depois da II Guerra Mundial, sem qualquer conhecimento do que se passou durante este período. O mesmo se passa com as novas tecnologias, uma absoluta novidade para Hitler.
Timur Vermes não simpatiza seguramente com Angela Merkel, não desperdiçando por isso a oportunidade para, recorrendo a Hitler, deixar aqui e ali alguns comentários muito pouco simpáticos em relação à chanceler e a alguns membros do seu Governo.
Isto dito, à medida que a acção se desenrola, o livro vai perdendo parte da sua força. Inicialmente parecia prometer mais, mas a determinada altura cai num registo puramente descritivo, em detrimento de um argumento mais elaborado.
Vale a pena ler, de qualquer forma?
Diria que sim, ainda que não fosse a minha primeira recomendação.
Quotidiano
Hoje esteve um excelente dia de praia no final da tarde. Apenas dois ou três carros no parque de estacionamento. Uma única pessoa -- moi -- a passear no areal, tendo como pano de fundo o som das ondas e uma ligeira brisa. Tudo com os cumprimentos do tempo de chuva, que fez uma pausa respeitosa perante a minha presença. Não se pode pedir mais, pois não? Carpe diem.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Machete: em alta
Rui Machete conseguiu ter uma intervenção cujo conteúdo não se tornou um problema. Por Toutátis, um progresso assinalável a começar o ano!
Sobre a racionalidade
Eis a prova, provada, over and over again, que um bom gestor não é necessariamente um bom político. Seguir a Irlanda não é totalmente racional, afirma António Simões. Talvez. Mas do ponto de vista político não é a mesma coisa. A política não se resume a um exercício técnico, ou 'meros' cálculos de racionalidade. Governar um país não é a mesma coisa que governar uma empresa, pormenor que muitos gestores parecem frequentemente esquecer.
PS: o regresso limpinho [2]
O título poderia ser, aliás, a metamorfose. Longe vão os tempos -- na verdade nem vão assim tão longe... -- em que António José Seguro defendia mais tempo e menos juros. A "forma suja", digamos assim. Agora, o PS já não quer mais tempo, nem mais dinheiro, antes exigindo um regresso aos mercados de forma limpa.
Perante um sucesso do Governo que se começa a adivinhar, tal como um náufrago, o PS agarra-se ao que pode para tentar sobreviver. O PSD e o CDS se estivessem na oposição muito provavelmente fariam o mesmo, que isso fique bem claro.
António José Seguro sabe que o vento não sopra a seu favor, independentemente do que digam, por agora, as sondagens. O líder do PS sabe que o tempo político entrou em contagem decrescente. Porém, tal como a vitória nas autárquicas, um êxito eleitoral nas próximas eleições europeias não resolve o seu problema central, i.e. não acelera o calendário político. Ora, sem eleições legislativas antecipadas, a vitória do PS não é garantida. Já aqui escrevi em inúmeras ocasiões que não excluo a possibilidade de Pedro Passos Coelho ganhar as eleições legislativas em 2015. Não é um resultado garantido, evidentemente, mas também não é impossível, ao contrário do que pensam, por agora, muitos observadores.
Voltamos sempre ao momento em que, perante circunstâncias muito complicadas, Seguro possivelmente cometeu o erro estratégico que definiu o seu futuro político. A cada dia que passa, o líder do PS sente que o chão lhe está a fugir. Seguro está completamente perdido e sem estratégia. A exigência legítima, mas politicamente inconsequente, de um regresso aos mercados de forma limpa é apenas um primeiro sintoma visível desse desnorte.
Perante um sucesso do Governo que se começa a adivinhar, tal como um náufrago, o PS agarra-se ao que pode para tentar sobreviver. O PSD e o CDS se estivessem na oposição muito provavelmente fariam o mesmo, que isso fique bem claro.
António José Seguro sabe que o vento não sopra a seu favor, independentemente do que digam, por agora, as sondagens. O líder do PS sabe que o tempo político entrou em contagem decrescente. Porém, tal como a vitória nas autárquicas, um êxito eleitoral nas próximas eleições europeias não resolve o seu problema central, i.e. não acelera o calendário político. Ora, sem eleições legislativas antecipadas, a vitória do PS não é garantida. Já aqui escrevi em inúmeras ocasiões que não excluo a possibilidade de Pedro Passos Coelho ganhar as eleições legislativas em 2015. Não é um resultado garantido, evidentemente, mas também não é impossível, ao contrário do que pensam, por agora, muitos observadores.
Voltamos sempre ao momento em que, perante circunstâncias muito complicadas, Seguro possivelmente cometeu o erro estratégico que definiu o seu futuro político. A cada dia que passa, o líder do PS sente que o chão lhe está a fugir. Seguro está completamente perdido e sem estratégia. A exigência legítima, mas politicamente inconsequente, de um regresso aos mercados de forma limpa é apenas um primeiro sintoma visível desse desnorte.
domingo, 5 de janeiro de 2014
A melhor notícia da semana?
É esta. Sem uma descida significativa dos juros não há regresso limpo aos mercados, nem qualquer hipótese de, em teoria pelo menos, prescindir de um programa cautelar.
P.S. -- Há gafes muito informativas, como certamente todos nos recordamos.
P.S. -- Há gafes muito informativas, como certamente todos nos recordamos.
PS: o regresso limpinho
O PS quer que Portugal regresse aos mercados "de forma limpa". Curiosamente, o mesmo PS está contra toda e qualquer medida que permita esse regresso 'limpo'. Isto dito, o PS terá de nos explicar como é que o resvalar do défice para 4.2% contribui para esse objectivo.
sábado, 4 de janeiro de 2014
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