Nove meses consecutivos a descer a taxa de desemprego tem seguramente alguma leitura. Não vejo outra explicação que não seja que a economia portuguesa já deu mesmo a volta. Vivemos ainda dias de enorme fragilidade política, económica e social, mas o pior já passou. Consequentemente, apesar da enorme carga fiscal, directa e indirecta, as pessoas começam a sentir -- e os factos parecem confirmá-lo -- que a nossa situação está a melhorar. Não é muito ainda, naturalmente, mas o suficiente para incutir alguma esperança.
É por essa e por outras razões -- as sondagens, a potencial reacção negativa dos mercados, a discussão e aprovação de um novo Orçamento do Estado, a interpretação Cavaco Silva dos poderes presidenciais, entre outras -- que a leitura política de Nuno Morais Sarmento me parece não ter muito sentido. Mais. Como ainda ontem se verificou, o Presidente encara com muita preocupação o pós-troika. Nessa medida, a última coisa que Cavaco Silva quereria ser era um factor de instabilidade política.
Acresce que o Presidente da República não precisa de se precipitar provocando crises políticas absurdas. O acordo entre PS, PSD e CDS, que Cavaco Silva foi incapaz de mediar em 2013, estará ao seu alcance depois das eleições legislativas de 2015. De forma muito simples, aliás: o Presidente necessita apenas de exigir ao partido mais votado (eventualmente à coligação), seja ele PS ou PSD (ou PSD-CDS), uma solução governativa que inclua os dois maiores partidos e garanta uma maioria absoluta, caso contrário não dará posse a um novo governo. Na ausência de um entendimento, Cavaco Silva apenas tem de ameaçar que convocará novas eleições se necessário. Aposto que ninguém estaria muito interessado nisso.
Regresso ao desemprego. Não sei se os novos empregos que estão a ser gerados são 'piores' -- i.e. mais trabalho precário, com remunerações inferiores, etc. -- do que aqueles que se perderam. Admito que possa ser. Mas há um ano nem isso a nossa economia era capaz de gerar em número suficiente para fazer descer a taxa de desemprego. A notícia, por isso, não pode deixar de ser encarada com satisfação.