O LUGAR QUE MUDA O LUGAR
Dias e dias em que olhamos as margens
a simbólica, real escorrência
e trazes no sopro do ar, neste exacto ar
os versos que vêm e vão de oriente a oriente
Assim batam nos olhos as coisas literais
o lugar em que o lugar muda o lugar
e explica o mar maresias de si para si
o peso do sol e o peso da lua
A água na distinta água arrasta
os conhecidos seixinhos, róseos detritos
carcaças de aves e petróleo que cheira
como cheiram alegorias do mal
Dias para alcançar o fim da terra
ver aparecer, ver desaparecer
essa impecável figura peregrina
e os nomes próximos de areias e rochedos
cabedelo, pedra davra, samagaio
perdida evidência entre marés
José Manuel Teixeira da Silva, O Lugar que Muda o Lugar (Língua Morta, 2013), p. 13.